domingo, 28 de julho de 2013

O PORTO DE CAMOCIM E A MIGRAÇÃO PARA A AMAZÔNIA

Já enfocamos neste espaço a busca do eldorado de camocinenses na Amazônia na esteira das levas de imigração patrocinadas pelo Governo Federal na mobilização que ficou conhecida como “Borracha para a Vitória”, dentro do chamado esforço de guerra durante a II Guerra Mundial. Nos arquivos do Fórum de Camocim uma simples ação declaratória impetrada pela irmã de Gerardo Fontenele Lima em 1986, mostra o indício das motivações que levaram o jovem camocinense a "se mandar" para a Amazônia.



Porto de Camocim. Arquivo do Blog.
O rapaz em questão é tio dos amigos Paulo do Veré, Eliana, Elenita e Salvelina. [1]. 
No entanto, esse fragmento junta-se a muitos outros que as pesquisas sobre imigração vão revelando. É o caso da Tese de Doutorado de Franciane Gomes Lacerda, intitulada: Migrantes cearenses no Pará: faces da sobrevivência.(1889-1916) defendida em 2006 na Universidade de São Paulo - USP.
Neste trabalho, podemos verificar que a migração para a Amazônia, no entanto, não se dá somente no período da Segunda Guerra Mundial. Com efeito, nos momentos de seca esse fênomeno também acontece. A autora relata as partidas de cearenses do Porto de Camocim em 1889 e 1910, assim como dos pedidos destes trabalhadores junto ao Governo de recursos para trazerem suas famílias para junto de si. Buscar quem foram estes migrantes, quem foram estas famílias, quantos voltaram, quem ficou por lá, é uma possibilidade enorme de pesquisa. Quem se habilita?

[1] Ação declaratória – Nº 2526. Autora: Angelita Ferreira Fontenele, fl. 2, Ano: 1986. Cx: 114.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O PRIMEIRO POSTO METEOROLÓGICO DE CAMOCIM

Encontro nosso amigo Luís Gonzaga, pesquisador e "profeta" da chuva que me diz as últimas precipitações em Camocim não são mais de inverno, mas correntes do leste africano que interferem na quadra invernosa entre a Natal e Salvador. Hoje os dados informados pela FUNCEME são coletados na estação particular do Luís Gonzaga localizada na Rua José de Alencar com Humaitá. No tempo em que trabalhava na EMATERCE tinha por lá um pluviômetro que era monitorado pelo amigos Osmar Chaves e Ozenard Sousa que informavam os milímetros chovidos para o Escritório Regional em Sobral. Não sei mais se existe. Mas, fuçando o Banco de Teses da USP me deparo com um trabalho que trata da questão ambiental e o trabalho dos engenheiros na Baixada Fluminense, durante o período imperial. Investigando a atuação do engenheiro de tráfego Moraes Rego, a autora Simone Fadel acaba por nos dar um dado importante: a instalação de um posto meteorológico na Estação Ferroviária de Camocim e outro na de Sobral, entre 1881 e 1883. O mesmo era encarregado de fornecer os dados para a imprensa de Sobral e Fortaleza que eram coletados quatro vezes por dia, consistindo na "determinação da temperatura,pressão, estado higronométrico do ar, quantidade de chuva, intensidade dos ventos e aspecto do céu".(p.36).
Estação Ferroviária de Camocim. Arquivo do Blog.
Maiores detalhes sobre esse posto não é mais dado pela autora. Contudo, o Luís continua realizando de outra forma o trabalho de Moraes Rego.

Fonte: FADEL,Simone. Meio Ambiente, Saneamento e Engenharia no período do Império à Primeira República:Fábio Hostílio de Moraes Rego e a Comissão Federal de Saneamento na Baixada Fluminense.USP.2006.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

CAMOCIM - A CIDADE EM CHAMAS

Quiosque da Praça da Rodoviária. Fonte: Camocim Online
Camocim Park Hotel. Fonte: camocimpolicia24h.
Em abril de 2012, portanto há mais de um ano atrás, postei matéria neste blog enfocando o histórico de grandes e pequenos incêndios na cidade. Disse até da vontade de escrever um livro com o seguinte título:"Cidade em Chamas - a história dos incêndios em Camocim" . Pois é, se assim tivesse feito, teria que acrescentar pelo menos uns três capítulos, melhor dizendo, uns três 
Loja BV Modas. Fonte: camocimpolicia24h.
sinistros ocorridos desde então:
Camocim Park Hotel, Loja BV Modas e agora sábado último (dia 30 de junho) enquanto se desenrolava a Procissão de São Pedro, chamas consumiam um quiosque da Praça da Rodoviária. Como se não bastasse, as artimanhas de Hefestos atingiu até uma topic de Camocim em Sobral na última quarta-feira, 26 de junho. Estes eventos piromaníacos, portanto, vão se tornando uma constante em Camocim e enquanto o fogo arde, não sabemos quando teremos uma brigada de incêndio ou mesmo um quartel do Corpo de Bombeiros, o que seria interessante para nós, até para reiterar nossa tradição em sediar um batalhão de polícia e as representações das Forças Armadas. Enquanto observamos estes fatos, os mesmos vão se juntando ao incêndio do Sport Club, da fábrica de sabão e óleos do Sr. João Baptista Gizzi, do Posto San Carlo, do Café Du Port... Vai faltar é tempo por escritor relatar tudo isso.


domingo, 23 de junho de 2013

CAMOCIM E AS FAMOSAS "GOTTAS ARTHUR DE CARVALHO"

Anúncio em jornal das Gottas Arthur de Carvalho. Fonte: ceara.pro.br


Quem já não teve problemas intestinais? Mas, como você caro leitor resolve esses problemas? Recorre aos chás conhecidos, toma um remédio de farmácia ou recorre a uma rezadeira? São alternativas, mas quando a coisa aperta, você certamente recorrerá ao remédio mais próximo. Nesta postagem vamos recuperar a história de um desses remédios tidos como milagroso e que os mais velhos já identificaram com a imagem acima, mas que ainda é oferecido nas redes de farmácias do Brasil. Trata-se das famosas Gottas de Arthur de Carvalho, que ao lado das Pílulas de Mattos e do Asseptol, fizeram parte daquilo que o historiador Geraldo Nobre chamou de "farmácia oficinal", atuante até os idos da década de 1940, considerada uma das  “atividades em que os cearenses se mostraram imaginativos e inovadores" se inspirando no "aproveitamento de propriedades medicamentosas pelos aborígenes”. (Jornal da FIEC, 26 de maio de 2010). 
Mas, qual a relação desse remédio que serve para combater problemas intestinais, prisão de ventre e dor de barriga com Camocim? É que é um remédio tipicamente cearense, descoberto e industrializado inicialmente por Joaquim Arthur de Carvalho, natural de Granja-CE e que no início do século XX era vendido e manipulado em sua botica  em Camocim e distribuído para todo o país, depois se transferindo para Fortaleza, onde passou a produzir o remédio na Farmácia Artur de Carvalho, fundada por eles e seus filhos José Artur de Carvalho e Francisco Humberto de Carvalho (Betinho), ambos farmacêuticos. Posteriormente, ainda no rol das coincidências do remédio com a município de Camocim, a patente do mesmo foi comprada pelo industrial camocinense Raimundo Viana, que junto com o Castanhodo iniciou suas atividades no ramo da indústria farmacêutica  na capital do estado.(Jornal Diário do Nordeste, 23 de setembro de 1999). 
Portanto, da próxima vez que você for a farmácia comprar um remédio para desarranjos digestivos e optar pelas Gottas Amargas de Arthur de Carvalho, compre e tome sabendo das suas ligações históricas com Camocim. Portanto, melhoras!
Fontes:
http://www.diariodonordeste.com.br


sábado, 15 de junho de 2013

O TEATRO EM CAMOCIM

Peça "Paixão de Cristo". Cristo (Evanmar) sendo tentado pelo Diabo (Prof, Totó). Foto: Arquivo Evanmar Moreira.
Pode parecer bairrismo, mas, a cada dia me convenço mais de que Camocim é uma destas cidades que não foi  apenas bafejada pelas belezas naturais não! A criatividade e talento dos camocinenses tem quer ser vista como um capital cultural a ser protegido e incentivado. Os jovens cinquentões camocinenses sabem do que estou falando e muitos deles, fizeram do teatro em suas apresentações ocasionais seu divertimento e lazer, mas também da sua formação. Ainda quando adolescente, presenciei essa arte inata que todos nós carregamos, sistematizadas em peças, seja em locais públicos e privados - estes, especialmente nas escolas, já que não dispomos de teatros, na verdadeira acepção da palavra. Portanto, apresentações no Instituto São José, Colégio Estadual, João Ramos, ou na marquise da Padaria e Confeitaria Litorânea e até nas ruas da cidade, foram momentos vividos e assistidos pelos camocinenses na década de 1980 principalmente, onde pontificavam no Grupo de Teatro Amador Pinto Martins, jovens atores como Evanmar Moreira, Inácio Santos, Marcelo Marques, Girleide, Itamar Araújo, só para citar estes, comandados pelo onipresente Antonio Alberto da Paz, o Prof. Totó. Quem não se lembra das "Paixões de Cristo", "Médico à força", dentre outras peças? Tudo isso me veio à mente como um turbilhão quando assisti no último dia 06 de junho a apresentação do relatório final de pós-doutorado no Rio de Janeiro do professor de teatro e ator Paulo Sérgio Brito sobre o ator espontâneo, isto é, a partir de um grupo de Fortaleza que faz um curso de teatro, não para serem atores profissionais, mas de utilizá-lo para ser pessoas melhores, cidadãs, e curar seus males. A performance do professor e ator referido, que é também camocinense, me transportou para um tempo em que meninas e meninos brincavam alegremente nas ruas teatralizando suas brincadeiras, assistindo aos "dramas" improvisados nas casas de família, aos "espetáculos"
Paixão de Cristo. ISJ. Foto: Arquivo Evanmar Moreira
nos quintais à moda de um circo, ou mesmo na descoberta dos corpos e da sexualidade brincando de médico e paciente. Está faltando teatro prá essa mocidade e , mais de uma vez já conclamamos daqui deste espaço este equipamento para a cultura camocinense.

domingo, 26 de maio de 2013

FRANCISCO OLIVAR - DE CAMOCIM PARA O MUNDO DOS LIVROS

Invariavelmente, Francisco Olivar, nosso amigo Vavá, aparece em nossas postagens por sua relação de amor à cidade de Camocim, à cultura e os livros. Hoje vamos destacá-lo como alguém que teria inspirado o poeta Castro Alves se tivesse vivido à sua época, quando cunhou estes versos: "Oh! Bendito o que semeia / Livros... Livros à mão cheia...". Quem o conhece sabe que ele respira livros. Não somente como um especialista na venda, mas, como alguém que semeia livros por onde passa. De tanto agir desta maneira, nosso conterrâneo é uma figura conhecidíssima nos meios intelectuais do Rio de Janeiro e se tornou um dos maiores estudiosos no Brasil sobre Monteiro Lobato. Pois bem, de tanto viver seu cotidiano com os livros e seus leitores, Vavá se tornou verbete de alentada obra recém lançada intitulada "História das Livrarias Cariocas" (Edusp, 2012) de Ubiratan Machado, que pretende contar a história do Rio de Janeiro por suas livrarias. Destaca o autor sobre Francisco Olivar:
Francisco Olivar (Vavá). Fonte: "História das Livrarias Cariocas", p.388.

"A pequena Rua Bittencourt da Silva, diante da boca de entrada da estação Carioca do metrô, torna-se um ponto de venda de livros, espalhados no chão ou em banquetas. Mais tarde, são montados pequenos estandes. O vendedor mais solicitado é o cearense Francisco Olivar, ex-gerente da Entrelivros, simpático, inteligente e bom conversador. Interessa-se pelo livro não apenas como mercadoria, mas como fonte de conhecimento e prazer espiritual. Apaixonado por Monteiro Lobato, cuja vida e obra conhece bem. Talvez por influência do espírito do escritor paulista, escreveu um pequeno livro de literatura infantil, Risadinha. (p.387).

Nosso reconhecimento ao camocinense que faz história longe de sua terra.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

CAMOCIM NAS LIÇÕES DE GEOGRAFIA

Página 120 do Livro "Lições de Chorographia do Brasil".
Um dos presentes que ganhei de Francisco Olivar, o Vavá quando estive no Rio de Janeiro recentemente foi uma raridade. Trata-se do livro Lições de Chorographia do Brasil de Horacio Scrosoppi, editado em 1922 em sua quarta edição. Tal livro era nada mais, nada menos do que o adotado na área de Geografia do então famoso Collegio Pedro II. A Geografia como qualquer outra ciência reflete o seu tempo e é neste quesito que podemos aquilatar a importância que Camocim tinha nos anos 1920. À esta época a cidade era uma das mais importantes do Estado do Ceará, estando entre as dez em qualquer seleção que se fizesse. Até mesmo numa seleção didática de um livro de Geografia com caráter nacional, estava lá Camocim. No livro em questão vem até antes de Sobral, coisa impensável nos dias de hoje. Vejamos como o autor descreve nossa cidade:

Camocim - 10.000 hs., no littoral, à esquerda da foz do Camocim, com excellente porto e optimo ancoradouro, o melhor do Estado. Ponto inicial da E. F. de Sobral, sua estação apresenta magnífica e mais importante apparencia que a da Capital.
Possue diversas ruas largas e praças espaçosas, sobresahindo a rua da Boa Vista, onde se veem casas de esplendida construcção. Centro importante de exportação e importação, offerece a cidade agradavel impressão ao viajante, tanto pelo movimento do pôvo nas ruas e affluencia de passageiros como pela animação das transacções commerciaes.

Fonte: Livro "Lições de Chorographia do Brasil. Quarta edição. S. Paulo. Casa Duprat, 1922.

domingo, 12 de maio de 2013

UM CAMOCINENSE NO RIO DE JANEIRO

Praia de Botafogo. Rio de Janeiro. Fonte:cotidianoantologico.blogspot.


Não é costume escrever sobre nós neste blog, afinal de contas esse espaço é para a História de Camocim. No entanto, minha última visita ao Rio de Janeiro foi tão rica de encontros e coincidências que merecem um registro. Para começar encontro no Aeroporto Pinto Martins (nosso mais famoso camocinense) o Paulinho (lembro dele como jogador do Cruzeiro e da Seleção de Camocim), irmão do Sinázio e do Deca em mais uma viagem de trabalho. Assim como os estivadores e portuários foram buscar trabalho em outros portos nas décadas de 60 em diante, uma boa parcela de jovens camocinenses buscam emprego atualmente em empresas terceirizadas que prestam serviços à Petrobrás na região de Macaé-RJ. A viagem se tornou mais interessante pois nada melhor do que compartilhar com um conterrâneo um dedo de prosa. Chego ao Rio e busco refúgio num albergue próximo de onde vou iniciar minhas atividades de estudo no estágio pós-doutoral (PACC/UFRJ). No quarto em que fico, denominado de "Flamengo-Botafogo", divido o espaço com dois estudantes alemães e um brasileiro que nem desconfiam que sou botafoguense campeão arrastão 2013. Para almoçar escolho um restaurante simples, daqueles onde os trabalhadores da área se aglomeram disputando os pratos feitos do dia. No balcão um atendente com a camisa do Ceará Sporting Clube denuncia sua origem. Ao final do almoço tento um diálogo com ele, mas as constantes solicitações impedem isso, mas saio sabendo que ele é de Santa Quitéria e que conheceu o Monsenhor Ximenes, nosso camocinense que fez ali sua história de fé e marcada pelo gosto de colecionar tudo sobre trens. Vou para a atividade de estudo e sou solicitado a me apresentar aos outros colegas e dizer um pouco da minha pesquisa - impossível não falar de Camocim. No intervalo, um dos presentes me aborda. - Quer dizer que vocè é de Camocim?! Digo que sim e vem a surpresa: Minha família também é de lá. Quando você disse que era de Camocim não acreditei - Trata-se de Paulo Sérgio Brito, professor de teatro e de nome artístico Paulo Ess, filho de um ex-ferroviário de nome Manoel Frutuoso de Brito. Numa boa meia-hora atualizo a história da cidade e conto sobre nossas potencialidades e problemas. No dia seguinte vou a procura de Francisco Olivar, nosso amigo Vavá, embaixador de Camocim no Rio de Janeiro. Assim que saio do metrô na Estação Carioca me deparo com Vavá de cachecol a vender seus livros. Passada a surpresa do contato inicial, Vavá me convida a dar um pequeno passeio na área central. Numa barraca de camelô me presenteia com duas faixas do Botafogo Campeão de 2013. Depois fomos à Confeitaria Colombo tomar um café onde nomes seculares como Olavo Bilac, Machado de Assis, José de Alencar e outros tantos, comiam, bebiam, discutiam política e literatura. Entra numa livraria e noutra e mais um presente: um livro sobre as livrarias cariocas, onde Olivar é verbete. Depois destacaremos esta obra neste espaço. Almoço com Vavá e retorno ao Ceará. Na espera do ônibus para Sobral resolvo jantar na Rodoviária. A certa altura o garçom me pergunta se meu nome é Carlos Augusto. Digo que sim e pergunto o porquê da pergunta. Ele me diz que era para satisfazer um pedido de um outro freguês e me aponta o cara. Trata-se de Gouveia Neto, assíduo leitor do Camocim Online e deste blog, irmão de "cabeça" do Tadeu Nogueira.Conversa vai e conversa vem fico sabendo do projeto dele de escrever um livro sobre a História de Barroquinha e de retornar a Camocim, dentre outros assuntos, que me fez concluir tratar-se de um bom papo, encerrando esta série de encontros felizes que tivemos nestes dois dias. Junho voltarei novamente ao Rio: o que me espera? O que encontrarei? Mas isso já é outra história...


Balaustrada de Camocim. Foto:facebook,com