sábado, 10 de agosto de 2024

PELAS RUAS DE CAMOCIM... MEMÓRIAS SENSORIAIS

Fachada do Colégio Estadual Professor Ivan Pereira de Carvalho. Camocim-CE.


    O trajeto de hoje foi pelas ruas Marechal Floriano, D. Pedro II, Riachuelo, Perimetral, Santos Dumont, Tiradentes e 24 de Maio. Se fosse trabalhar o território percorrido pela nomenclatura, a ligação é evidente com a história do panteão histórico do país. Contudo, as nossas vivências por essas ruas se misturam com as cenas que percebemos no momento em que trafegamos por elas.

    Daí, passar pela Rua Pedro II é tentar identificar a casa em que funcionou a antiga cadeia pública (próximo das seis bocas cortada pela rua Humaitá) na próxima esquina, onde pontifica a Pousada Tropical, minha memória olfativa me lembra do cheiro forte de tinta e cimento de uma fábrica de mosaicos que ali funcionou na década de 1970. Por ali eu passava para estudar no velho CEPA - Colégio Estadual Padre Anchieta. 

    Entro na Riachuelo e o hoje CEPI- Colégio Estadual Professor Ivan me remete ao CEPA de 1978 onde cursei a então 8ª série ginasial. Onde estarão os sobreviventes desta época?

    Duas quadras depois, na esquina do antigo Centro Social Urbano (CSU), Tinildo, envergando uma camisa vermelha berrante, (não deu tempo tomar a benção a ele dessa vez) se posta impassível diante do movimento das pessoas que passam para lá e pra cá em busca das delícias da Padaria do Zé Fonteles. Impossível não lembrar dele e sua carroça vendendo o pão vespertino de cada dia pelas ruas da cidade em tempos idos.

Já quase chegando às Quatro Esquinas me lembro da Senzala, uma casa noturna que funcionou por pouco tempo e hoje é um lava-jato. Na esquina seguinte, retalhos da minha infância, da segunda casa onde moramos, defronte do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e vizinho do Zé Guilherme. Quantas histórias e memórias numa rua só. Mais adiante, a casa de Pedro Rufino ainda resiste como ícone de uma lembrança militante comunista. Antes da confluência com a Perimetral, vamos encontrar o sapateiro Paulo Açúcar, absorto na costura de um "pisante" de algum freguês...

Até outro dia...

Foto: https://www.google.com/search?

FAROL DO TRAPIÁ - A ORIGEM

Farol do Trapiá. Camocim. Foto: Nilson Filho (Sobralonline).

    Chegamos na temporada dos ventos. Cada vez mais Camocim se insere num destino para os esportes náuticos que tem o vento como motor. E a Praia do Farol é o ponto que agrega todos os desportistas, turistas e as condições para a prática esportiva.

    Mas, e o Farol? Ah, o nosso Farol do Trapiá enquanto balizador dos rumos terrestres para os navegantes não existe mais. Ou melhor, não como era, não como foi  inaugurado há 129 anos. O último farol foi demolido em 24 de janeiro de 2024 e no local se instalou um "farol temporário, até a construção de um novo farol no local."

Antigo Farol do Trapiá. Fonte:  Marinha do Brasil. CAMR-Centro de Sinalização Náutica Almirante Moraes Rego.

    Para os navegantes da história, trago informações sobre o PRIMEIRO FAROL, direto da redação do jornal camocinense FOLHA DO LITTORAL, de 1918, quando se comemorou os 23 anos de existência do equipamento. Mantivemos a escrita da época:

O pharol de nossa barra que serve de mira aos navegantes está situado na ponta do “Trapiá”, na seguinte posição: latitude 2º 51'30" Sul e longitude 40º 42' 50" a Oeste do meridiano de Greenwich, na Inglaterra. É de luz branca, fixa, com lampejos de 30 em 30 segundos. , o Dioptrico de 5ª ordem. Visível a 12 milhas. 

Está acima do solo 10m.50. Acima da préa-mar 13 m.80. Tem a forma de uma colunna de ferro. 

Foi inaugurado no dia 15 de Novembro de 1895. Foram seus primeiros pharoleiros Constantino Lourenço Gomes (que exonerou-se por motivo de doença dose annos depois) e Joaquim Jacob Ramalho, segundo e terceiro pharoleiros respectivamente. Exerceram os cargos ainda de 2º pharoleiro as seguintes pessoas: Francisco de Paula Correia de Mello, Raymundo Gomes de Oliveira Filho e José Olympio dos Santos. O 3º pharoleiro Joaquim Jacob Ramalho, foi ha dois anos removido para o Aracaty. sendo substituído por Claudionor Moreira do Carmo.

Completaram-se ante-hontem, 23 annos que foi inaugurado o pharól da barra de Camocim. 

    Aguardemos, portanto, não somente os ventos, mas um novo farol, já que não preservaram os antigos.


Fontes para o texto: Camocim Online e Folha do Littoral, 1918.

Fontes das imagens: Marinha do Brasil e  Nilson Filho/Sobral Online

sexta-feira, 26 de julho de 2024

PELAS RUAS DE CAMOCIM... NOSTALGIA E HISTÓRIA


Chácara na confluencia das ruas Dr, João Thomé com Humaitá. 2024. Foto: Arquivo do CPH.

Marechal Floriano, Humaitá, Tiradentes, 24 de Maio... Na caminhada de hoje, os nomes das placas das ruas me remetem à história do Brasil Colônia através de Tiradentes, ao Brasil Império pela Guerra do Paraguai, ao Brasil República via Floriano. Embora entre nós, essas temáticas estão um pouco distantes.

Entro pela rua Humaitá e dou de cara com a antiga sede do Sindicato dos Portuários, agora esmaecida na cor e sem o ambiente associativo de outrora, do tempo em que ainda tínhamos porto. Mais à frente, o prédio do INSS, evoca em minha lembrança as tensões das antigas contagens eleitorais que duravam dias, com o povaréu nas calçadas adjacentes esperando os resultados das urnas com radinhos de pilha colados aos ouvidos, sintonizados nas rádios União e Pinto Martins.

Dois quarteirões depois, dá gosto contemplar a quadra verde da chácara que funciona como o "pulmão" do centro da cidade, resistindo às intempéries e à especulação imobiliária.

Dobro na Tiradentes e novamente na 24 de Maio onde fica a casa da mamãe, ponto de descanso para um bom papo e assistir com ela a novela Alma Gêmea.

Neste trajeto, poderia escrever sobre a azáfama de uma oficina, o olhar perdido do Beata, a moça bonita de outrora que enverga o peso do tempo, de militares aposentados que jogam conversa fora num bar. Mas, para isso eu precisaria ser um escritor. Fiquem com a narrativa do historiador.

sexta-feira, 19 de julho de 2024

A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA NO BRASIL E A CÂMARA MUNICIPAL DE CAMOCIM

Ofício da Câmara Municipal de Camocim ao Presidente da Província. 1888. 
Fonte: Portal da História do Ceará.

    Já escrevemos algumas matérias neste espaço, enfocando a presença de escravos em Camocim, seja em ações de alforria;  nosso porto sendo parte de uma rota de liberdade escrava ou mesmo objeto da legislação no Código de Postura da então Villa de Camocim. 

    Mas, com relação a famosa Lei Áurea, quais foram as repercussões em nosso meio? Um ofício da Câmara Municipal enviado ao Presidente da Província, expressam bem o sentimento dos munícipes, embora saibamos que este tipo de documento era uma formalidade burocrática para atender a lei maior. Contudo, é um registro importante para a nossa história.

          Segue abaixo a transcrição:


Villa de Camocim 

Paço da Câmara Municipal em Sessão Ordinária de 20 de maio de 1888.

Ilmo.Exmo. Snr 


A Câmara Municipal desta Villa, reunida em sessão ordinaria de hoje, tem a honra de communicar ao Exmo. que em nome de seus municipes saúda jubilosa na pessoa de V. Execia, a Excelsa Princesa Imperial Regente e ao immortal Gabinete de 19 de Março, do qual é V.Excia. mui digno Delegado, pela promulgação da áurea lei nº 3.353, authentico testemunho das virtudes que innobrecem o magnannimo coração da Redemptora dos captivos, e a grande confiança que merece a Nação do invicto Gabinete.

Deus guarde a V. Execia.

Ilmo.Exmo. Snr. Antônio Caio da Silva Prado.

M. D. Presidente da Província 

Serafim Manoel de Freitas - P.

Sergio Gomes de Lima

Francisco Freire Napoleão 

Antônio Nogueira de Carvalho.

Fonte: Arquivo Câmara Municipal de Camocim - 1º. Livro de Ofícios Expedidos - 1885-1908.

quarta-feira, 17 de julho de 2024

PATRIMONIOS DE CAMOCIM... MAIS DESTRUÍDOS DO QUE PERSERVADOS

Casa demolida na Rua Alcindo Rocha. Camocim. 2024. Foto: Marcelo Marques.


    Reza a lenda que nós só damos aquilo que temos. 

    Eu, por meu turno,  já perdi a esperança de querer influenciar (para usar o verbo da moda) as consciências das pessoas de que a preservação da nossa história é algo importante para a construção da nossa identidade e que pode até se lucrar com isso. Talvez, educando as crianças desde tenra idade em casa e na escola, elas possam no futuro conservar o que se está construindo no presente. Toda vez que se bota abaixo um patrimônio de pedra e cal, alguns lastimam, outros aplaudem. Isto é da compreensão de cada um.

    A instituição de uma política pública de feição preservacionista quem o pode fazer é o Estado, intervindo, inclusive nos interesses privados. 

    Em Camocim, o poder público tem até uma lei aprovada neste sentido. Mas, não adianta legislar sem ter o aparato jurídico para executar a lei, implementar as condições para definir áreas e patrimônios a serem tombados. Deste modo, os herdeiros destes patrimônios sentem-se a vontade para demolir seus velhos casarões, no sentido de varrê-los da face da terra e incorporá-los como novos espaços no mercado imobiliário. 

    Há uma outra questão a ser resolvida: o quê e quem determina algo como histórico? Será que somente as duas casas demolidas na rua Alcindo Rocha recentemente, por terem algum resquício arquitetônico eram patrimônios históricos? Ninguém chorou pelas demais, casas simples, quando o quarteirão era eminentemente residencial e se tornou comercial.

    Vivemos, portanto, a era preconizada lá atrás por Caetano Veloso da "força da grana que ergue e destrói coisas belas".

    Mas, como nem tudo está perdido, um fio de esperança permanece em ações como a do proprietário de uma casa da rua José Maria Veras (outrora Senador Jaguaribe). No trecho entre Dr. João Thomé e José de Alencar, quando 99% dos antigos prédios foram abaixo, ele reforma sua fachada nos moldes da antiga residência do deputado Murilo Aguiar.

Casa na Rua José Maria Veras. Camocim. 2024. Foto: Arquivo o blog.


    Não foi preciso nenhuma lei dizer para ele como proceder. 

    Nós só damos aquilo que temos.


quinta-feira, 27 de junho de 2024

A SECA, A CHUVA E O SAPO - A escrita do mestre Artur Queirós

 

Artur Queirós. Foto: Camocim Online.



    Uma das múltiplas habilidades do memorialista camocinense Artur Queirós era a de ser correspondente para vários jornais do Ceará. Sempre sonhei em ter acesso a este material jornalístico como fonte histórica. Imagino que deve ter algo desse período no seu sobrado, mas não se tem acesso ao seu imenso acervo.
    Nas minhas peregrinações pelo mundo virtual, me deparei com uma notícia da seca de 1958 enviada por Artur Queirós. E uma raridade, uma pérola do jornalismo e da capacidade escritural do nosso correspondente. Numa simples nota, ele consegue aliar a riqueza de detalhes com a concisão jornalística com laivos literários, sem deixar de informar. Vamos a notícia:

0 FLAGELO DA SECA. Levas de pedintes nas ruas da cidade
CAMOCIM. (Por Artur QUEIROZ). É dolorosamente triste ver-se o dia todo, levas de pedintes perambulando pelas ruas da cidade, implorando a caridade pública, procurando subsistir à inclemência da seca. Não chove e o camponês já desenganou-se. Desesperados pela situação deplorável, ameaçam a todo instante invasão em casas comerciais, inspirados pelo clássico axioma: A Fome é Ruim Conselheiro.
O curioso é que o inverno retardou, mas, como a esperança é a última que morre, o dia 1º do março marcou, desde as primeiras horas da madrugada, na opinião de todos, o início de um inverno arrojado. Com fortes trovoadas começou a abundante chuva logo pela madrugada, que perdurou pelo dia todo. Muita chuva, chuva grossa, chuva fina, a intervalos. Dia silente, escuro, com os pardos horizontes carregados. -E choveu com abundância, diariamente, até o dia 6. Sapos euforicamente cantando toda a noite nas lagoas, chão molhado, encharcado. Alegria geral, e legume nascendo exuberantemente viçoso. Durou pouco a odisseia. Do dia 7 para cá, nada de chuva: tempo limpo, vezes outras, na maioria, intensamente nublado, mas chover que é bom, não chove. O camponês desesperou, o sapo calou e sumiu o legume e o espectro da miséria se identifica em toda face marcado pelo estigma da devastadora seca, numa conjuntura cm que a média classe e a pobre já subsistia com ingente esforço, ante a dificuldade de ganhos, ganhos mirrados, e a perene ascensão vertiginosa da espiral dos preços das utilidades.
Restam agora, portanto, os socorros da administrativa federal, em sufrágio desta lamentável situação. Consta que será eficiente e breve, pois a conjuntura não tolera a mínima delonga. Que venha logo, portanto, as providencias salvadoras do poder Central.

    Espero que este exemplo de escrita, diante de tanta baboseira que se escreve atualmente nos canais de "imprensa" nas redes sociais, sem falar das barbaridades cometidas contra a língua pátria, possa inspirar quem se aventura neste campo.

Fonte: Jornal "O Unitário", 02 de abril de 1958, p. 3
Foto: CAMOCIM ONLINE

quinta-feira, 23 de maio de 2024

CAMOCIM DE PORTO E ALMA. Carlos Augusto P. dos Santos

Capa do livro "Camocim de Porto e Alma". Camocim. 2024. 

Fonte: Editora Sertão Cult.

    Em 2009, Camocim comemorou 130 anos de emancipação política. Este trabalho foi feito para ser lançado naquela ocasião. Só quinze anos depois, foi possível retirar o Camocim de Porto e Alma da gaveta, pretendendo dar mais um passo na construção de nossa memória e história. Nessa caminhada de pesquisa e escrita, várias possibilidades de investigação foram se concretizando. Afora as exigências acadêmicas, no entanto, outros campos de investigação afluíram no transcurso da caminhada, fazendo com que surgissem outros projetos de socialização das informações que vem se colhendo.
    Esta é apenas uma dessas propostas. Neste sentido, Camocim de Porto e Alma – história e cotidiano procura preencher uma lacuna sobre a história e a memória do nosso município. Por isso, desde já a explicação do título da obra – a intrínseca relação de Camocim com o porto, vindo daí sua origem e gênese -, nos legando uma cidade portuária, aliado àquilo que “animou” o período de intenso progresso proporcionado pelas atividades do porto e da ferrovia. Daí, não apenas a frieza dos documentos, mas a emoção da subjetividade dos depoimentos contidos nas páginas deste trabalho constitui a alma do camocinense retratado aqui.
    A publicação deste livro foi possível graças ao convênio entre Prefeitura de Camocim e Ministério da Cultura, através da Lei Paulo Gustavo e faz parte da Série História Camocinense, fruto do Coletivo de Historiadores de Camocim e pode ser acessado e baixado gratuitamente no endereço:
https://camocim.ce.gov.br/livros/
    O lançamento oficial do e-book "Camocim de Porto e Alma" será no dia 07 de junho de 2024 na Academia Camocinense de Ciencias Artes e Letras (ACCAL).

Serviço:
Título: Camocim de Corpo e Alma - História e cotidiano.
Autor: Carlos Augusto P. dos Santos
Ano: 2024.
Editora: Sertão Cult
Nº de Páginas: 112

quarta-feira, 22 de maio de 2024

HISTÓRIA RELIGIOSA DE CAMOCIM - Célia Santos/Gabriel Araújo/Jane Élida Silva

    



Capa do livro História Religiosa de Camocim. 2024. Fonte: Editora Sertão Cult.

    História Religiosa de Camocim é uma coletânea de três textos acadêmicos, escritos por historiadores locais como trabalhos de conclusão do Curso de História da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, que versam sobre aspectos da religião católica e batista em nosso município. 

    No primeiro trabalho, Maria Célia Pereira dos Santos procura desvendar os mistérios envoltos a uma cidade atrelada a manifestos religiosos, de uma cidade germinada pela influência da Igreja Católica, através da análise da escrita do Primeiro Livro de Tombo da Paróquia do Senhor Bom Jesus dos Navegantes, instituída em 1883 na cidade de Camocim, emancipada politicamente em 1879. Neste sentido, analisa a obra religiosa a partir da edificação de sua antiga capela, em 1880, e sua retomada em 1905, elencando os passos articulados à concepção de cidade, que se fazia acontecer na época, sob a base da religião católica. No segundo trabalho, Gabriel Belchior de Araújo, continua na seara da Igreja Católica Movido analisando as ações e benefícios do Serviço de Promoção Humana em Camocim, como instituição inovadora e extensiva em prol de uma educação libertadora e preservação da dignidade humana, informando sobre as importantes ações que melhoraram e socorreram muitos camocinenses, de diferentes idades, dos males da pobreza e da marginalização social nos anos 60 a 70 do século XX. Finalizando, o terceiro trabalho de Jane Élida Costa Silva, lança luzes sobre a chegada da ação missionária da Primeira Igreja Batista em Camocim entre os anos de 1984 a 1989, assim como discorre sobre os problemas enfrentados pelas primeiras missionárias, tanto de logística, como de resistência de conservadorismo católico e de outras denominações evangélicas. A religiosidade em Camocim não se resumem a este trabalho, mas o primeiro passo foi dado para que outras iniciativas possam dar conta da diversidade religiosa em nosso município.

    O livro História Religiosa de Camocim integra a Série História Camocinense, gestada dentro do Coletivo de Historiadores de Camocim. Foi financiada pelo convenio entre Prefeitura Municipal de Camocim e Ministério da Cultura, via Lei Paulo Gustavo. O lançamento oficial do e-book ocorrerá no dia 7 de junho de 2024 na Academia Camocinense de Ciências Artes e Letras (ACCAL).