sexta-feira, 28 de setembro de 2012

II SC - A BANDEIRA DE CAMOCIM - Nº 10

Leitores escrevem para o blog procurando saber sobre a bandeira do município. Como sabemos, a bandeira é um símbolo que identifica a municipalidade e, por isso, é criada por lei e, como tal, a explicação de sua concepção também é objeto do ato jurídico. Em nosso caso, a bandeira atual foi institucionalizada pela Lei Municipal Nº 331 de 20 de Maio de 1976, transcrita abaixo. Até 2009, apesar do poder municipal ter um blog oficial na internet, não se tinha uma imagem digitalizada de nosso simbolo maior. Partindo de uma iniciativa do Blog Camocim Online exatamente há três anos atrás "encomendou o serviço ao jovem artista e aluno do Liceu de Camocim, Yuri Andrade" para desenhar a bandeira e o brasão, que digitalizados, foram indexados "nos motores de busca da grande rede".

                            

Bandeira de Camocim-CE. Fonte: Camocim Online
LEI MUNICIPAL Nº 331, DE 20 DE MAIO DE 1976
DISPÕE SOBRE A BANDEIRA E AS ARMAS DO
MUNICÍPIO DE CAMOCIM E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS
Art. 1º - A Bandeira de Camocim é formada por três faixas verticais, sendo a do centro de cor amarela e as laterais azuis. Ao centro da faixa amarela se encontram as armas do município de Camocim.
Art. 2º - Considerado o módulo arbitrário “M” serão observadas, na bandeira, as seguintes proporções: A altura correspondente a 14m, a largura 20m, as faixas laterais 14m x 05,5m e a faixa central 14m x 9m. O escudo no centro será de 5m x 4m.
Art. 3º - A faixa cor azul nacional representa o infinito que cobre com sua beleza o município de Camocim e a faixa central amarela simboliza a riqueza, o solo e o valor de seu povo.
Art. 4º - As armas do município de Camocim serão representadas por um escudo português cortado, tendo a parte superior dividida ao meio onde encontramos em fundo branco um ramo com três cajus em cor natural (esquerda) e no espaço à direita, em fundo também branco, uma palma de carnaúba em cor natural, ambos representando as riquezas agrícolas do município. Na divisão inferior notamos o céu em cor azul, o mar em verde água, uma jangada em amarelo, o sol nascendo no horizonte com seus raios em cor amarelo, simbolizando a pesca, fonte de renda do município, a jangada é a fibra e a coragem de seu povo e o sol a fé e esperança no futuro. Com apoio do escudo, dois ramos de algodão em cor natural, também riqueza da terra, e acima, como timbra, uma estrela em cor azul, representando a sede do município de Camocim.
Art. 5º - Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Paço da Prefeitura Municipal de Camocim
Em 20 de Maio de 1976

Fonte: Biblioteca Municipal.Documento digitalizado pelo Blog Camocim Online em 26/09/2009.Com a colaboração de Ayla Sousa

terça-feira, 25 de setembro de 2012

II SC - O TURISMO EM CAMOCIM - A PRAIA DO MACEIÓ - Nº 9

Vista área da Praia do Maceió.

Já nos referimos aqui no blog sobre a tese de doutorado do Prof. Dr. Lenilton Francisco de Assis do Curso de Geografia da UVA sobre o turismo em Camocim. Hoje destacaremos na sua obra a Praia do Maceió. Na referida tese, o professor analisa os vários problemas de especulação imobiliária que a localidade e seus nativos enfrentam. Neste período eleitoral foi prometido o asfaltamento da estrada que liga a sede ao Maceió, o que poderá potencializar a exploração da atividade turística, mas, também aumentar os problemas na paradisíaca praia camocinense. Assim nos  fala o autor sobre estas questões:

"No verão, muitas vezes, o leito da estrada é soterrado pelas areias das dunas que dificultam o tráfego de veículos e dos próprios moradores. Para muitos deles, este é um sério problema que também impede o desenvolvimento do turismo no Maceió. Mas, a questão é polêmica. Há nativos e visitantes que discordam do asfaltamento da estrada e defendem a sua permanência em leito natural, com a devida manutenção na alta estação turística.
A Vila da Caucaia é a porta de entrada do Maceió. É nela onde se inicia o calçamento e um conjunto de casas enfileiradas que mudam a paisagem natural predominante. A vila de casas (antes padronizada) foi doada pela Prefeitura aos pescadores, em 1985, quando a barragem do lago Boqueirão (construída em 1982 nas proximidades do Maceió) não suportou o represamento de um forte período de chuvas, transbordando suas águas para as adjacências. Muitos pescadores tiveram as moradias destruídas, levando a Prefeitura a recorrer à Caixa Econômica Federal para financiar um Conjunto Habitacional (COHAB) com 40 casas onde hoje se situa a Vila da Caucaia.
No entanto, a falta de fiscalização da Prefeitura sobre estas doações facilitou que alguns nativos desvirtuassem a finalidade do benefício e vendessem as casas a visitantes que as transformavam em segundas residências. Com o dinheiro da venda, os pescadores adquiriram um novo imóvel na sede ou construíram casas mais amplas no Maceió, em terrenos mais distantes das áreas alagáveis".

Fonte: ASSIS, Lenilton Francisco de. ENTRE O TURISMO E O IMOBILIÁRIO: velhos e novos usos das segundas residências sob o enfoque da multiterritorialidade - Camocim/CE. P. 196.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

II SC - A VENDA DE CARNE E PEIXE EM CAMOCIM - Nº8

Venda de peixe em Camocim. Foto: acesselitoral.com
Não há nada mais interessante na administração de uma cidade do que seu Código de Posturas. Este seria um documento que deveria regular a convivência entre os munícipes e auxiliar na condução da administração. Ocorre que, como toda lei, está sempre embutido um poder de cima para baixo que nem sempre é consenso por quem é atingido. Imaginemos como seria Camocim no final do século XIX. Imaginou? Pois bem, no Código de Posturas daquela época, vejamos como o gestor e o legislador pensaram em como seria a venda de carnes e peixes e tire suas conclusões com a atual venda destes alimentos atualmente em nossa cidade. Evoluímos ou não? A reprodução do texto obedece a grafia da época.
Capitulo III
Da venda de carne e peixe
Art. 29º. Nenhum açougue ou talho será aberto sem licença da Camara paga annualmente.
Art. 30º. É prohibido:
§ 1º vender carne verde depois de meio dia;
§ 2º conservar a carne nos açougues em lugares não arejados;
§ 3º vender carne verde ou secca de gado, porco, carneiro ou cabra fora do mercado ou lugar destinado pela Camara;
Exceptuão-se as carnes vindas de outras Províncias.
§ 4º vender carne salgada com osso.
Art. 31º. Os cortadores de carne serão os mesmos magarefes, os quais uzarão n’este serviço de um avental branco e limpo e bonel encarnado, sendo o corte das carnes feito a serrote. Entende-se também por carne de porcos, cabras e carneiros.
Art. 32º. O Peixe fresco e sal-prezo será vendido no mercado e em lugar destinados pela Camara.
Art.33º. As balanças, pezos, bancas e todos os utensílios empregados no corte e venda das carnes e peixes, deverão estar constantemente limpos.
Art. 34º. O Estado das Carnes e peixes será diariamente verificado pelo Fiscal no lugar da venda, e os que forem encontrados em maior estado serão imediatamente appreendidos e enterrados ou lançados ao mar;
O infractor de qualquer dos arts. e do presente capitulo, será multado em 4000 $ sendo feito a custa do dono da rez no cazo de ser esta enterrada, como dispõe o art 34, todas as despezas com enterramento.
 
Obs:A reprodução do texto obedece a grafia da época.
Fonte:  APEC. Fundo: Câmaras Municipais (Correspondências Expedidas). Local: Camocim. Data: 1883-1921. Caixa 28.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

II SC - MAGALHAẼS NOGUEIRA NETO - O POETA ESTIVADOR - Nº 7

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Entre o porto e a estação. Bar do Dedim Trévia. Espaço de trabalho e lazer de Magalhães Nogueira Neto.  (4ª casa da direita para a esquerda em primeiro plano).
Quem tem menos de 40 anos certamente não conheceu MAGALHÃES NOGUEIRA NETO. Nunca soube seu prenome, mas era pelo sobrenome que a cidade toda lhe conhecia. Não era o padre, o prefeito, o juiz ou mesmo um funcionário público. Tratava-se de um carreteiro a prestar serviços entre o porto e a estação. Os escritores R. B. Sotero e Avelar Santos já o consagraram em suas crônicas no jornal "O Literário" . Sotero o alcunhou de "poeta estivador" por sua polidez para com as prostitutas da época, que além de lhe devotarem favores sexuais, tinha atitudes de  gentleman dedicando-lhes músicas e poesias.
Em crônica publicada no "O Literário",  Avelar Santos alcunha Magalhães Nogueira Neto de “O Inimitável” e traça-lhe um perfil: “Profissão: Chapeado da RVC. Local de trabalho: Estação ferroviária. Lazer: cachaça, mulher e música”. Inimitável pela maneira impecável de se vestir, inimitável pelo trato com as pessoas: “Emérito boêmio e boa praça, mesmo semi-analfabeto, conversava animadamente com quantos lhes cruzavam o caminho”. Portanto, Magalhães Nogueira Neto, mesmo radicado em Camocim, procurava se destacar entre os demais, realizando seus carretos diariamente e fazendo uma freguesia fiel. À noite, exercia com maestria uma espécie de personagem pelas praças e bares da cidade, distribuindo simpatia às “damas da periferia”. Avelar Santos continua a descrevê-lo:
Quanto mais ele emborcava uns bons tragos de POJ – famosa cachaça de antanho – mais ele se derretia em gentilezas com as ‘moiçolas’, singelas e pueris mariposas noturnas, ofertando-lhes, cavalheirescamente, ‘páginas musicais’ românticas inigualáveis, daquelas arranca-coração, que o GB, naquela voz empastada de locutor de FM, ‘lançava para o ar’ nas possantes bocarras da ‘radiadora’ da Voz de Camocim.
Magalhães Nogueira Neto com certeza desfilou seu charme pessoal pelos territórios da folgança em Camocim como um homem comum que foi dono de sua história como tantos outros.
 
Fonte:  SANTOS, Avelar. O Literário, Ano VII, edição 08, julho de 2006, p.8. “GB” são as iniciais do locutor Gerardo Brito que fez sucesso nos vários serviços de som existentes na cidade. Grifo nosso.

II SC - A EDUCAÇÃO EM CAMOCIM - ESCOLA D. MARIETA CALS Nº 6

Já destacamos neste espaço outras iniciativas na área da educação que foram iniciativas do Serviço de Promoção Humana - SPH em Camocim., que, em seu conjunto, constitui-se uma importante parcela da história da educação do município. Desta vez, trazemos ao conhecimento do público a EMC - Escola D. Marieta Cals que funcionou no antigo Centro Comunitário do Cruzeiro. Com efeito, o SPH plantou escolas na periferia da cidade (São Francisco, São Pedro e Cruzeiro) e em localidades da zona rural (Tamboril). Em monografia sobre o SPH a historiadora Vera Lúcia Silva afirma:

Sócios construtores do Centro Comunitário D. Marieta Cals – CCMC; atrás o início da construção das paredes, 1970, onde funcionaria a EMC.Foto: UVA. NEDHIS. SPH.
A Escola Dona Marieta Cals – EMC, organizada no final de 1972 e início de 1973, era parte integrante do Centro Comunitário Da. Marieta Cals - CCMC, no Cruzeiro. Recebeu o nome então da Primeira Dama do Estado, Da. Marieta Cals, segundo o que consta no livro de atas (1968-1980), “pelo fato de esta ter colocado a (sic) disposição dos trabalhos, por intermédio da 1a. Dama do município: Da. Leonília Hilda Coelho de Carvalho, a ajuda de Cr$ 2.000,00 (dois mil cruzeiros).” De acordo com a mesma fonte, “O gov. César Cals visitou com grande entusiasmo as futuras dependências do Centro: o salão-capela, as 2 salas de aulas, o pátio de recreação, a secretaria, o ambulatório, o setor social, a cantina-lar etc.” Em 1973, foi registrado a matrícula de 78 alunos.

Fonte: 
Para a transcrição: UVA. NEDHIS. SPH. Livro de atas: 1968-1980, fl. 58v-59. Pasta O1 – Reuniões e Assembléias. 
Para o número de alunos matriculados: UVA. NEDHIS. SPH. Matrículas do SPH (1968-1979). Pasta E1 – Educação: Escola Pedro Apóstolo – EPA e outras. 
 


terça-feira, 11 de setembro de 2012

II SC - A SECA E OS SAQUES EM CAMOCIM - Nº 5

 
Estação Ferroviária de Camocim. Uma das obras contra a seca realizadas pelo Governo Imperial no final do séc. XIX.

Estamos vivendo mais um período de seca. Na história do município os períodos de estiagem eram momentos em que se recebia levas de retirantes procurando amenizar seus sofrimentos. Com efeito, as regiões litorâneas sempre serviram como pólos de atração dessa massa faminta. Por outro lado, essa população adventícia provocava temores na sociedade local. O medo que as populações tangidas pela seca provocavam não era somente o de trazer com elas as doenças. A possibilidade de saques contra o comércio e as repartições públicas também foi uma constante. 
Na década de 1950, algumas ações e tentativas dessa natureza foram registradas. Em janeiro de 1950, a cidade foi invadida por 300 retirantes que ameaçaram “atacar o comércio”, face a pouca assistência prestada e a iminência de perda da produção agrícola. Este número aumenta para 500 flagelados numa outra ação em que efetivamente houve um arrombamento do “depósito da Prefeitura, julgando haver algum gênero armazenado”. Em abril de 1953, outro saque aconteceu onde um grupo de flagelados carregou “parte da mercadoria existente”. Na grande seca de 1958, novamente, a cidade é invadida por retirantes em busca de trabalho e comida. São, portanto, ações da multidão varrida pelo flagelo da fome no Ceará, geradora de vários conflitos com os moradores das cidades, muito bem analisadas pelo historiador Frederico de Castro Neves.1
Exemplos destes conflitos estão documentados nos arquivos da Associação Commercial de Camocim. No ofício enviado à autoridade policial em junho de 1919, (já reproduzido no blog em postagem anterior) fica claro a defesa dos interesses dos comerciantes sobre os demais, como o direito de ir e vir, além de uma certa institucionalização da atividade comercial como o “Commercio” (grafado com letra maiúscula, a letra m dobrada e sem acento), o que de antemão já sugere uma divisão entre os que trabalham, ou melhor, entre a sociedade do trabalho e a ociosidade, vista por estes homens como a mãe de todos os vícios. 
1 
Fontes:

1 NEVES, Frederico de Castro. A Multidão e a História: saques e outras ações de massas no Ceará. Rio de Janeiro: Relume Dumará. Fortaleza, CE: Secretaria de Cultura e Desporto, 2000, pp. 166, 168,185. 
Foto: Blog Ipugrande. 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

II SC - OS SETE DE SETEMBRO EM CAMOCIM - Nº 4


Desfile de 7 de Setembro em 1952- Camocim-CE.

Programação do 7 de Setembro de 1978. Camocim-CE
Hoje acordei com a antiga sensação do que era um "7 de Setembro", de antigamente. Além de um certo fervor cívico que animava os desfiles (nós, crianças, ainda não sabíamos do sentido ideológico do evento), havia uma competitividade entre as escolas, toda uma prepação um mês antes, quadros teatralizados da história do Brasil levados para a rua (quas sempre tinha um D. Pedro à cavalo ou a Princesa Isabel com um séquito de "escravos" - alunos pintados à carvão), prêmios, e muito verde e amarelo em miniaturas de bandeiras distribuídas para o público. As Forças Armadas representadas, etc. Este era um típico desfile em Camocim, seja no ano de 1952 (foto) ou na programação de 1978 (foto) em plena Ditadura Militar. Hoje, os desfiles não tem essa mesma constituição, digamos assim, sendo mais uma representação burocrática das administrações municipais, das escolas e suas atividades pedagógicas, quando muito, algum protesto popular.

Fonte: Para a programação, Arquivo Público Municipal. Camocim-CE. Foto: Arquivo do Blog Camocim Pote de Histórias.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

II SC - SEBASTIÃO "PERNA GROSSA" E CAZUBI - OS DESPORTISTAS DE CAMOCIM - Nº 03


  No intuito de trazer à tona nomes da nossa história cotidiana, recorro às minhas pesquisas já realizadas e hoje trago à baila o nome de dois trabalhadores, Sebastião Marques e  Antônio Pereira da Silva (Cazumbi) que, além de suas atividades laborais, fizeram do futebol suas grandes paixões. Acompanhemos pois o que escrevi sobre eles em 2008: 
Nessa perspectiva, podemos analisar o envolvimento com o futebol de estivadores como Sebastião Marques e Antônio Pereira da Silva (Cazumbi). Interessante notar é que estes trabalhadores possuem trajetórias semelhantes, atuando não somente no futebol, mas, também em outras práticas culturais. Sebastião Marques foi organizador de bailes e blocos carnavalescos, além de ter comandado o folguedo da Nau Catarineta. Mestre Cazumbi tem uma história de vida toda voltada para a formação de bandas de música na cidade, sendo hoje o mais velho componente da Banda Lira. Aqui procuraremos trazer suas experiências no futebol.
Antônio Pereira da Silva. Mestre Cazumbi. Foto: Arquivo do Camocim Online.
Sebastião Marques foi jogador de times formados na cidade e dos organizados entre os estivadores. Podemos perceber também sua liderança na estiva nos conflitos internos e nos externos com a polícia. Podemos dizer que era um dos “valentões” da praia. Afora seus conhecimentos práticos no futebol, acreditamos que essa experiência de liderança tenha contribuído para a fama de um técnico “durão”. Apelidado de Sebastião “Perna Grossa” foi por muito tempo o principal técnico de futebol da cidade, treinando vários times e a Seleção de Camocim além de organizar campeonatos regionais.
Já Antônio Pereira da Silva, o Mestre Cazumbim, além de músico, tem uma trajetória ligada ao esporte. Hoje aposentado, ainda tem fôlego para toda semana treinar jovens em campos de terra da periferia. Contemporanêo de Sebastião Marques, ele fez parte de uma geração onde se destacaram outros trabalhadores jogadores como Quebrado, Passaqui, Canoé, Expedito leitão, Zé Olhim, Linha Fina, Zé Maria, Pepeta, dentre outros. Na saudação de um cronista local, treinado em seus tempos de adolescente pelo Mestre Cazumbim, constatamos a importância de seu trabalho junto à juventude camocinense:
... foi de tudo no futebol: chegou a ser técnico da nossa seleção, com um desempenho razoável. Quem não passou pelas mãos do velho Cazumba? Acho que toda garotada teve suas primeiras noções de jogar bola com o ‘Guerreiro’. (...) mas já não tem a mesma garra de outrora, porém continua sendo um grande exemplo de desportista para os jovens. 1
Mesmo no alto de seus 76 anos, quase cego e sem poder andar muito, ainda vamos encontrar o Mestre Cazumbim tocando sua tuba nos eventos religiosos e festivos da cidade. Duas ou três vezes na semana, leva seu material de treino para o campo do Tapete Verde para não deixar o time do Maguary morrer. Mesmo sem o reconhecimento e apoio das entidades esportivas locais, ele continua sendo aquele tipo de pessoa que deixou o esporte entranhar nas veias, sendo o faz-tudo do seu time: dono, treinador e roupeiro.
1 “O Velho Cazumba”. Aradi Silva. O Literário. Ano III, Edição 18, julho de 2001, p.4. Camocim-CE. 

FONTE: Entre o Porto e a Estação: cotidiano e cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim-CE. 1920-1970. Tese de Doutorado. UFPE. 2008.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

II SC - A MORTE DE PINTO MARTINS - Nº2


Foto de Pinto Martins no Jornal "O Sport". 12/04/1924. Arquivo do Blog
Já retratamos neste espaço Pinto Martins de várias formas: o centenário do seu voo entre Nova Iorque e Rio de Janeiro, o esquecimento e o descuido dos contemporâneos com sua memória e história e até mesmo saudando a iniciativa de termos um dia dedicado a ele e uma comenda homenageando-o em Camocim. Contudo, sua morte é ainda um assunto que seus biógrafos ainda relutam em aprofundar, talvez pela forma trágica como ocorreu ou mesmo, por duvidar se foi ou não um suicídio. Pinto Martins teria tirado sua pŕopria vida com um tiro na cabeça. Polêmica à parte, os jornais cariocas estamparam o acontecimento em manchetes às vezes sensacionalistas, como do jornal esportivo "O Sport", que grafou: "Tombou das Alturas..." e em tipos menores: "A morte trágica de aviador Pinto Martins". Na página 4 do dito jornal lê-se as motivações do sinistro e estampam ainda a foto de Walter Hinton, o companheiro americano de jornada aérea, que, segundo o jornal, estava brigado com Pinto Martins e que, talvez por isso, alguns suspeitam da participação do aviador americano num provável assassinato, visto que depois constataram o sumiço de documentos relacionados à prospecção de petróleo no Brasil que Pinto Martins tinha em seu poder. No citado jornal, apenas há uma indicação de que Walter Hinton seria investigado pela polícia, posto que o mesmo havia chegado ao Brasil no mesmo dia do suicídio. A reportagem procura mostrar um Pinto Martins decaído, sem perspectiva, endividado e com tendências suicidas. Ao mostrar o depoimento da amante de Pinto Martins, a cantora Aida, fica evidente essa tendência: 
"Eu já esperava isso. Se não lhe pagassem os prêmios a que tinha direito, o seu fim seria este mesmo. Tudo fiz para dissuadil-o deste intento. Dei-lhe todo o meu carinho mas tudo foi em vão. Não pude vencer a sua exaltação e a sua colera. Vae-se para o tumulo o derradeiro amor da minha vida".

Foto de Walter Hinton no mesmo jornal. Arquivo do blog.
Além de trágico, há no depoimento um quê de dramaticidade que pode esconder outros fatos. Contudo, ficou a certeza de que o governo brasileiro fez festa com o feito de Pinto Martins, não lhe pagando o que havia anunciado.

Fonte: Jornal "O Sport", 12/04/1924. Gentilmente cedido e enviado ao blog Camocim Pote de Histórias pelo companheiro camocinense radicado no Rio de Janeiro, Francisco Olivar - Vavá.

II SC - A BARRA DO RIO CAMOCIM - Nº 1


Desenho da Barra do Camocim feito por Felippe Francisco Pereira
 
 
DOCUMENTO HISTÓRICO
 
O texto abaixo é parte do trabalho feito pelo prático da Costa Norte do Brasil, Felippe Francisco Pereira, publicado em 1877. O referido trabalho que compreendeu “todos os portos, barras e enseadas, e indicando a maneira de demanda-los", traz em minúcias, relevantes informações sobre o Porto de Camocim além de gravuras dos acidentes geográficos, configurando-se assim, como um lídimo documento de como navegar em nossa costa (foto mostra a Barra de Granja até chegar ao Porto de Camocim). As anotações do prático referentes à nossa região chegou às nossas mãos através de Francisco Olivar, que sempre atento às coisas que dizem respeito a Camocim, garimpou este documento do final do século XIX, quando a principal porta de entrada do Ceará era através do nosso porto. Com as cartas náuticas na mão era quase impossível um navegante errar o rumo, face aos detalhes registrados pelo autor. Segue abaixo a descrição de nossa costa.Respeitou-se a grafia da época.
Do morro Jeriquaquara ao Rio Timonha
Ao O, na distancia de 48 milhas do Morro Jeriquaquara, está a Barra do Rio Timonha, havendo nesse espaço: Rio Guriú, Morro das Cabaceiras, Morro das Moreias, Enseada das Imburunas, Rio do Feijão, Barra do Camocim, Morro do Trapiá, Morro do Tipuyú, Barra do Remedio, Morros do Paraná-meirim, Enseada das Almas e Barra do Rio Timonha. O Rio Guriú, que fica um pouco ao N da enseada de Jeriquaquara, tem duas boccas, e ambas tão seccas que na baixa-mar passam-sea vão; por elle sobem pequenas canôas, até próximo á Fazenda denominada – Tatajuba – uma legoa distante da costa.
O Morro das Cabaceiras, é formado por grandes dunas, junto ao qual despeja um riacho que traz sua origem de uma grande lagôa que lhe fica ao S, na qual fazem-se grandes pescarias no inverno. Aqui á beira-mar há algumas casas de nenhuma importância, e um sitio de coqueiros. A Enseada das Imburunas, cujo terreno é igual, coberto de matto, com pequenas praias, tem a E grandes medões de areia, e só um pouco aproximado da costa se póde distinguir algumas casinhas, que ao longe parecem moutas. Esta enseada,não dá abrigo, por ser cheia de cabeços de pedra que se estendem para o N acompanhando a costa á distancia de 3 milhas, e começam desde o Morro das Moreias até o pontal do O desta enseada, onde terminam. Pelo centro apparecem trez serrotes Tiaia, Aratanhym e Arapuá.
O rio do Feijão, que despeja na enseada de que acima fallámos, é um braço do Camocim, o qual fórma uma pequena Ilha que vem a ser o pontal de leste da barra. Esta Ilha é terreno de areia, mas, bem empastada, pelo que torna-se apta para a criação de gados. Em frente á barra deste rio encontra-se 4 e 6 metros d’água e alli offerece-se ancoradouro para esperar maré.
A Barra do rio Camocim, é toda circundada de bancos e recifes, sendo a entrada desta por entre os mesmos; aqui há duas bóias desiguaes em tamanhos. Nesta entram navios até12 pés de calado, apezar de ser ella mudável e o canal ser por cima dos referidos bancos, como dissemos; elles correm do NO ao SE por espaço de 3 milhas. Esta barra alguma vezes está mais ao N e outras mais ao S.
A povoação, que conserva o nome do rio, tem bastantes casas, e apresenta algum progresso; ella acha-se collocada á margem occidental do rio, ficando a leste da mesma o ancoradouro. Há dous armazéns pertencentes ás duas companhias de vapores costeiros que tocam nesse porto, nos quaes recolhem-se as cargas e carregamentos destinados á cidade do Granja, que está a 7 leguas acima. Os navios costumam descarregar atracados aos trapiches, mas é necessário que tenham estes bons cabos para resistir ás fortes ventanias que alli se levantam nas epochas de verão, e a correnteza do rio no tempo das cheias. Por este podem subir navios de 15 pés de calado até o Porto Francez, 5 leguas distante da mesma; além desse lugar, porém, apenas admitte canôas pela estreiteza do canal, em razão das muitas cachoeiras que se encontram, sendo a peior a do Papagaio e desta para cima, donde só com o preamar podem subir grandes canôas.

Demandar a Barra do Camocim
Navegando de E, tendo montado os cabeços do pontal das Imburunas, procure-se aproximar ao Morro do Trapiá, que está em frente á entrada, donde avistará a boia, e também as trez moutas que estão no alto desse morro, e bem assim attenda-se a outras que se observam á beira-mar na raiz do referido morro: projectem-se estas com aquellas, as quaes ficam mais ao S, e com esta marca siga a passar pelo N da boia grande; feito isto avistará a menor, e quando a primeira mouta do lado S se achar em linha recta com o pequeno grupo de mangues que se vê á beira-mar junto áquelle morro, orce para o SE, passando pelo O da mencionada boia pequena.
Nesta posição achar-se-ha por dentro do banco, e pelo mar do recife que borda esta costa; vá seguindo ao SE, governando de maneira que a prôa se ache pela ponta de E da ilha formada pelo pontal da barra; attenda-se além disso a outra ilha de mangues que está em frente á povoação do Camocim e logo que a ponta oriental desta ilha se encoste ao pontal de areia da primeira, siga para EB, qualquer cousa e avistando-se as balizas que ficam desse lado navegue a passar por E dellas, a pequena distancia, e depois que passar a segunda, ande de novo para EB, aproando á ponta do sul da barreira que se avista nesta barra até o serrote do Aratanhym, que acima mencionamos, appareça todo pelo O do pontal de mangue que se descobre dentro do rio; feito isto,vá costeando a margem de EB, dando resguardo aos cabeços de pedra que se estendem da ponta sul da barreira acompanhando a margem desse lado, e quando passar o pontal de leste para dentro (junto ao qual existe uma grande corôa), vá costeando a praia desse lado, o mais proximo que puder, até em frente á povoação; achando-se aqui, siga um pouco para fóra e dê fundo em 7 metros d’água na baixa-mar.
(...)
Este porto é o melhor de toda costa do Ceará. As marés nesta barra elevam-se do preamar ao baixa-mar, nas aguas de lua 12 pés, e nas de quarto 8. O preamar em todas as barras desta costa é regularmente quase á mesma hora, com differença de minutos, sendo porém a deste porto ás 5 horas, mais cedo meia hora do que no da Fortaleza. O Morro do Trapiá, de que temos fallado, é escalvado e de areia avermelhada, no que distingue-se dos demais; elle fórma o pontal de O da barra do Camocim e a esse mesmo rumo delle ha uma enseada toda pedrejada.
(...)

Resultado do trabalho do prático Felippe Francisco Pereira é a confecção de várias cartas náuticas inseridas no livro, compreendendo a costa norte do litoral brasileiro, além da descrição de vários lugares e acidentes geográficos. 


FONTE 1: PEREIRA, Felippe Francisco. Roteiro da Costa Norte do Brazil. Desde Maceió até o Pará. Pernambuco. Typographia do Jornal do Recife. 1877, p. 100-03.
Fonte 2: Inicialmente esta matéria foi publicada em 29 de setembro de 2010 no Blog Camocim Online

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

II SETEMBRO CAMOCIM

Desenho para a série II Setembro Camocim. Autor: (des)conhecido do mundo das artes
Ano passado iniciamos uma série no blog denominada Setembro Camocim, para marcar a data da nossa emancipação política. Foram quase trinta postagens realçando momentos de nossa história. Desta forma, queremos contribuir para as pesquisas escolares que sempre aparecem neste mês, além de contar mais um pouco do que sabemos sobre a história do município. Convidamos também os leitores a colaborar e sugerir, nos enviando fotos, textos, comentários, etc, para que possamos juntos trilhar os caminhos da história e da memória de nosso lugar. As postagem serão numeradas e os títulos precedidos da sigla IISC.