Estação Ferroviária de Camocim. Uma das obras contra a seca realizadas pelo Governo Imperial no final do séc. XIX. |
Estamos
vivendo mais um período de seca. Na história do município os
períodos de estiagem eram momentos em que se recebia levas de
retirantes procurando amenizar seus sofrimentos. Com efeito, as
regiões litorâneas sempre serviram como pólos de atração dessa
massa faminta. Por outro lado, essa população adventícia provocava
temores na sociedade local. O medo que as populações tangidas pela
seca provocavam não era somente o de trazer com elas as doenças. A
possibilidade de saques contra o comércio e as repartições
públicas também foi uma constante.
Na
década de 1950, algumas ações e tentativas dessa natureza foram
registradas. Em janeiro de 1950, a cidade foi invadida por 300
retirantes que ameaçaram “atacar o comércio”, face a pouca
assistência prestada e a iminência de perda da produção agrícola.
Este número aumenta para 500 flagelados numa outra ação em que
efetivamente houve um arrombamento do “depósito da Prefeitura,
julgando haver algum gênero armazenado”. Em abril de 1953, outro
saque aconteceu onde um grupo de flagelados carregou “parte da
mercadoria existente”. Na grande seca de 1958, novamente, a cidade
é invadida por retirantes em busca de trabalho e comida. São,
portanto, ações da multidão varrida pelo flagelo da fome no Ceará,
geradora de vários conflitos com os moradores das cidades, muito bem
analisadas pelo historiador Frederico de Castro Neves.1
Exemplos
destes conflitos estão documentados nos arquivos da Associação
Commercial de Camocim. No ofício enviado à autoridade policial em
junho de 1919, (já reproduzido no blog em postagem anterior) fica
claro a defesa dos interesses dos comerciantes sobre os demais, como
o direito de ir e vir, além de uma certa institucionalização da
atividade comercial como o “Commercio” (grafado com letra
maiúscula, a letra m dobrada e sem acento), o que de antemão
já sugere uma divisão entre os que trabalham, ou melhor, entre a
sociedade do trabalho e a ociosidade, vista por estes homens como a
mãe de todos os vícios.
1
NEVES, Frederico de Castro. A Multidão e a História: saques
e outras ações de massas no Ceará. Rio de Janeiro: Relume Dumará.
Fortaleza, CE: Secretaria de Cultura e Desporto, 2000, pp. 166,
168,185.
Foto: Blog Ipugrande.
obs. Magalhães Nogueira neto está contido nesta foto anexo, com as mãos na cintura
ResponderExcluirEssa seca de 1958 foi muito marcante pra minha família, pois minha família pelo lado do meu pai foi pra Goiás; a da minha mãe, pro Maranhão.
ResponderExcluirFoi um tempo difícil, que os velhos não se esqueceram.