domingo, 17 de maio de 2015

CAMOCIM E A ARTE DE RAIMUNDO CELA - II

Paisagem de Camocim-CE, 1937. Raymundo Cela
Uma pesquisa puxa outra. Após a postagem anterior resolvemos procurar algumas imagens dos quadros de Raymundo Cela e nos deparamos com uma dissertação de mestrado sobre nosso artista. Trata-se de  PINTURA NA TRAVESSIA: A PAISAGEM LITORÂNEA NA OBRA DE RAYMUNDO CELA (1930-1950), defendida por Delano Pessoa Carneiro no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Ceará em 2010, orientado pela Profa. Dra. Meize Regina de Lucena Lucas. É bem provável que Raymundo Cela já tenha sido objeto de outros estudos, notadamente na área das artes plásticas, mas, por enquanto vamos nos deter neste. Pelo próprio título já percebemos que a relação com Camocim é imediata. Desta forma, fomos procurar no referido trabalho estas relações e, para surpresa nossa, estávamos lá citados numa passagem de contextualização do território onde Raymundo Cela viveria por dois momentos em sua vida:

Entre as décadas de 1920 a 1950 [Camocim] viveu seu “boom”econômico, político e social, proporcionado pelas atividades desenvolvidas em torno do Porto de Camocim e da Estrada de Ferro de Sobral. O Porto, aliás, ao final do século XIX e início do XX, tornou-se um dos mais movimentados do estado, por suas condições naturais, da crescente indústria do charque e o comércio de importação e exportação de outras matérias-primas da região.(SANTOS, 2000, p. 11).



Nos capítulos da dissertação, o autor explora aspectos da vida e da formação artística de Raymundo Cela. A leitura do trabalho esclarece algumas dúvidas quanto à estada do artista em nossa cidade. Num primeiro momento, ele chega em Camocim em 1894, com quatro anos de idade e fica até os dezesseis anos (1906), quando parte para Fortaleza e de lá para o Rio de Janeiro e Europa.  Diz nos Delano Pessoa Carneiro sobre seu retorno para Camocim em 1923, com 33 anos e não em 1928, como assinalamos na postagem anterior: 

Portanto, não era apenas uma pequena vila de pescadores situada nas margens do Rio Coreaú e do Oceano Atlântico. A cidade de Camocim era o principal centro importador e exportador da região Norte do estado. É oportuno mencionar que em 1939, Raymundo Cela pintou duas telas, nas quais o porto de Camocim, barcos a vapor, galpões, pequenas embarcações e casarões compunham a paisagem reapresentada (p34).

Ainda de forma poética, mais do que histórica, o autor acima referido "pinta" as possíveis inspirações que Raymundo Cela teve durante suas passagens ou travessias (conceito sobre o qual é estruturado o trabalho de pesquisa) por Camocim:

Na cidade banhada pelo oceano Atlântico e margeada pelo rio Coreaú, Raymundo Cela e seus irmãos tiveram os primeiros estudos regidos por sua mãe. Em Camocim, Cela tivera a oportunidade de sentir a brisa marítima, de observar a mudança das marés, o balanço dos coqueiros à beira-mar, o vai-e-vem dos navios a vapor no porto e as pequenas embarcações na margem do Rio Coreaú, como também o labor diário dos operários da ferrovia e dos trabalhadores litorâneos. (p.35).

Voltaremos a falar sobre o assunto em postagens posteriores.

Fonte:Barbosa, Delano Pessoa Carneiro. Pintura na travessia: a paisagem litorânea na obra de Raymundo Cela (1930-1950). Dissertação de Mestrado.  Universidade Federal do Ceará. Programa de Pós-Graduação em História,Fortaleza(CE),
2010.


sexta-feira, 15 de maio de 2015

CAMOCIM E A ARTE DE RAIMUNDO CELA

Porto de Camocim, 1939. Raimundo Cela. Acervo particular. Fortaleza-CE.
Das muitas preciosidades trazidas para mim por meu amigo Francisco Olivar (Vavá) em sua mais recente visita à Camocim, destaco o livro Raimundo Cela. 1890-1954, onde a vida e obra do artista é contada e ilustrada com sua profícua produção nas artes plásticas. Já tivemos a oportunidade de nos reportarmos neste espaço sobre a ligação de Raimundo Cela (1890-1954) com Camocim, desde a sua vinda para a cidade ainda criança, quando teve contato com as primeiras letras, assim como sua estadia criativa na produção de telas que até hoje encantam o mundo.  Nesta e noutras postagens vamos evidenciar o que os articulistas componentes da obra ressaltam sobre ele e a cidade. Já no prefácio, Fábio Magalhães destaca a fase em que Raimundo Cela, depois de ter morado em Camocim na infância, volta já homem feito, formado em engenharia e em artes plásticas, mas também com uma moléstia que precisava ser curada num lugar de clima como o de Camocim:

 "Alguns críticos de arte e historiadores afirmam que no período que residiu em Camocim, no interior do Ceará, e exercia a direção de uma empresa de energia elétrica, Cela continuou pintando com afinco. Outros, que se manteve praticamente afastado da pintura, exercendo-a de forma diletante, não sistemática. Há, ainda, os que dizem que ele deixou de pintar durante esse período. , [...] Mas também me parece indiscutível que, nesse período de Camocim, pintar não foi a sua prioridade. A atividade de pintar ocupou suas horas livres".(p.12-3).


A vinda de Raimundo Cela para Camocim  deu-se após quatro anos de nascido, em 1894, posto que seu pai, José Maria Cela era funcionário da Estrada de Ferro de Sobral e para cá fora transferido. Na sua segunda passagem pela cidade, provavelmente entre 1928-1938, dirigiu a usina elétrica, empreendimento em sociedade com seu irmão Fernando Cela. A referida usina era a Companhia de Força e Luz de Camocim-CFLC (localizada nas esquinas da Rua 24 de Maio com General Tibúrcio), cujo prédio ainda resiste às intempéries do tempo.