terça-feira, 29 de setembro de 2020

CAMOCIM 141 ANOS (X SETEMBRO CAMOCIM. 2020. Nº 7).

 


Praia  do Pantanal. Camocim. 2019. Foto: Carlos Augusto P. Santos.

Ressaltar as belezas, a história e a cultura do nosso povo no dia hoje é quase pleonasmo. Como historiador,  busco sempre aquilo que pouco sabemos, para lembrar daquilo que quase todos esquecemos. Daí a tarefa dupla do pesquisador de história: recuperar o que está meio obscuro e não deixar cair no esquecimento nossas referências identitárias.

Neste sentido, mais importante do que saber o que significa a palavra CAMOCIM, é compreender como se deu o povoamento de nosso território pelos vários povos nativos e como aqui chegou o negro escravizado. Mais do que  saber quais foram as primeiras famílias a se instalarem no município e  como fincaram suas bases de poder, é entender como seu deu a dinâmica desse poder através dos tempos.

Historiograficamente falando temos um grande caminho a percorrer. O porto e a ferrovia  não bastam para explicar o  que foi Camocim no final do século XIX e primeiras décadas  do século XX, quando despontávamos como um dos municípios mais prósperos do Ceará. A "Cidade Vermelha"  da militância comunista não contempla o seu oposto - a atuação dos integralistas e  os movimentos de direita que existiram por aqui. Pinto Martins é um ícone que não ofusca os milhares de atores comuns que deixaram suas marcas na história que precisam ser recuperadas, para que a história fique mais próximas de nós!

De qualquer  modo, a data de hoje serve para que voltemos mais nossas atenções para a história do município, entendendo a importância que cada habitante tem para a construção permanente e atualizada da identidade de ser camocinense. Parabéns CAMOCIM. 


sábado, 26 de setembro de 2020

CAMOCIM DE ALMANAQUE (X SETEMBRO CAMOCIM 2020. Nº06).

Balaustrada de Camocim. 2020. Autor: Nagib Melo.



Já disse mais de uma vez neste espaço que os almanaques são importantes fontes para a história. Como uma fotografia, revelam o instante do objeto focalizado. Assim como os calendários, eram esperados ao fim de cada ano, trazendo as atualizações dos lugares, os números e as mudanças administrativas.

Voltemos o olhar para o distante ano de 1911, quando Camocim comemorava apenas o 32º aniversário de emancipação política. Neste ano, nem sequer éramos uma comarca, pois pertencíamos à de Granja, e os nossos distritos eram Barroquinha, Almas (Bitupitá) e Gurihú (ainda escrito com "h").

No entanto, em 1911, a Câmara Municipal já tinha publicado o seu Código de Posturas (1908) com 245 artigos, o segundo desta natureza, já que o primeiro fora aprovado em 1886. Ainda no ano de 1908 a Câmara fez publicar um Memorial Histórico da Cidade organizado por Antonio Philadelpho Pessôa, em comemoração ao Primeiro Centenário da Abertura dos Portos do Brasil ao comércio internacional. Este trabalho é o primeiro esforço de escrita de história do município (título raríssimo!) feito especialmente para representar Camocim na Exposição Nacional daquele ano.

Em 1911 o Porto de Camocim era considerado o melhor do estado,  tendo 02 armazéns e cinco pontes (trapiches), um farol e bóias que iluminavam a barra, uma pequena casa para observações mareográficas e um galpão que servia como posto fiscal da Recebedoria do Estado. 
A Empresa de Navegação L. Lorentzen, de origem norueguesa, atuava em  Camocim nessa época, mantendo regularmente com os vapores Rio, Ipu, Sobral Camocim as seguintes linhas: de Pernambuco a Manaus e de Camocim ao Pará.

Na Praça  da Matriz estavam em construção em 1911, dois poços artesianos. A população era de 6.000 habitantes e os eleitores somavam apenas 544 eleitores (1909).



FONTE: Almanaque Laemmert, 1911, ed.68, p.392.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

ERNESTO GURGEL VALENTE. (X SETEMBRO CAMOCIM. 2020. Nº.5)

 

Ernesto Gurgel Valente. Cartaz da campanha politica de à Câmara Federal de 1974.
Fonte: aracatiemfoco.com

Das minhas lembranças das eleições de outrora,  o cartaz acima é uma das primeiras que fixei na memória. Trata-se do aracatiense Ernesto Gurgel Valente(1913-2002), candidato à Deputado Federal em 1974, que tinha tinha como slogan "O homem do caju e da castanha", ou algo parecido. Em Camocim, foi apoiado pelo líder político Murilo Rocha Aguiar que, àquela época, encontrava-se cassado pelo regime militar.

A campanha política em Camocim, como sempre, mostrava o acirramento dos grupos em disputa, apesar dos mesmos estarem no partido do governo - a ARENA (Aliança Renovadora Nacional), o que demonstrava uma certa contradição, pois, o grupo liderado por Murilo Aguiar concorria no partido do governo que caçara seus direitos políticos.

Apresentados os candidatos, a família Veras/Coelho apoiou para Deputado Federal Francisco Humberto Bezerra e Deputado Estadual Francisco Fonseca Coelho. Já a família Aguiar trabalhou para a eleição de Ernesto Gurgel Valente (Deputado Federal) e o camocinense Coronel Libório Gomes da Silva (Deputado Estadual).

Aberta as urnas, os votos confirmaram a disputa acirrada. Para Deputado Federal, os então chamados "Fundo Moles" venceram por uma diferença de 183 votos (Humberto Bezerra 3.227 e Ernesto Gurgel Valente 3.044). Para deputado estadual, cujos números, teoricamente serviriam de um parâmetro mais aproximado para as eleições para prefeito dois anos depois, os "Cara Pretas" venceram com uma margem de 383 votos. (Cel. Libório obteve 3.640 votos contra 3.057 de Fonseca Coelho).

No entanto, na eleição seguinte para prefeito, a teoria não prevaleceu e os "Fundo Moles" venceram com Edilson Veras Coelho. Mas, essa é outra história!


Fontes:

aracatiemfoco.com

apps.tre.ce.jus.br


quarta-feira, 23 de setembro de 2020

BANCO DO BRASIL. (X SETEMBRO CAMOCIM. 2020. Nº4)

Agência do Banco do Brasil. Camocim. Foto: Camocim Online.

O Banco do Brasil em Camocim é mais uma das instituições centenárias existentes no município. Neste espaço já comentamos sobre sua inauguração em janeiro de 1919, sendo nossa agência a primeira do interior cearense e a 39ª no Brasil.
Em 1998 sugerimos uma publicação para marcar o centenário da instituição bancária em nossa cidade ao gerente da época, que não manifestou interesse nenhum, justificando-se obviamente na burocracia do banco e dos seus limites de atuação neste campo.
Num momento em que assistimos gestões de privatização do BB (vez por outra aparece esta ideia)  e que sua carteira agrícola (uma das maiores do banco) é vendida para o banco onde um dos maiores acionistas é o próprio Ministro da Economia, resta-nos a história.
Quando da necessidade de evoluirmos de uma simples sucursal para uma agência, que depois se mostrou uma das mais rentáveis do interior cearense, os encaminhamentos eram outros, como mostra algumas notícias do jornal "Folha Litoral", editado em Camocim, no ano de 1918:
1. Em agosto de 1918, o funcionário da Agência do Banco do Brasil de Belém do Pará, Antonio de Lima e Silva chegou a Camocim para escolher um prédio para funcionamento do banco e "gerir a agencia que deverá em breve se instalar nesta praça". 
2. Ainda no mesmo mês, saiu pelo mesmo jornal, a informação de que os "capitalistas" e banqueiros, Srs. Nicolau & Carneiro "promptificaram-se a construir em terreno proprio, o predio onde tem de installar-se a Agencia do Banco do Brasil nesta praça, de acordo com as exigencias para o bom funcionamento desse estabelecimento".

Em todos os tempos, os interesses movem a história!


Fonte: Jornal Folha do Littoral.  Camocim-CE, edições 08 e 09, agosto de 1918.
Foto: Camocim Online.


 

terça-feira, 22 de setembro de 2020

OS TELÉGRAFOS. (X SETEMBRO CAMOCIM. 2020. Nº 3).

 

Notícia de inauguração dos telégrafos em Camocim.
Fonte: A Razão. Fortaleza. edição 68, 30 de maio de 1929.


Com a decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) sobre a questão da greve nos Correios e Telégrafos, mais uma greve na estatal parece estar por terminar, com um ganho de míseros 2,6% de reajuste salarial. As conversas nos bastidores do governo atual tendem para a privatização de um dos serviços mais antigos do país e de uma empresa que já foi a referência de credibilidades dos brasileiros.
No entanto, nem sempre correios e telégrafos foram serviços que funcionaram juntos. Muitas vezes, tinha-se um e inexistia o outro. Em Camocim, os correios já funcionavam pelas linhas de navegação e pela Estrada de Ferro de Sobral (EFS), desde o final do século XIX. Posteriormente, os aviões do Correio Aéreo Nacional (CAN) faziam uma parada em Camocim. O telégrafo, por sua vez, era um serviço atrelado ao funcionamento da estrada de ferro.
Como repartição federal conjunta (Correios e Telégrafos) em nossa cidade, somente no final da década de 1920 é que a estação telegráfica foi inaugurada, conforme notícia veiculada no jornal A Razão, edição de 30 de maio de 1929 (ver recorte de jornal acima). Portanto, este serviço em Camocim, completou 90 anos.
Em 1932, o chamado "governo revolucionário" de Vargas inaugurou o prédio definitivo que ainda hoje abriga a sede da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT) em Camocim,  que em breve pode ser adquirido por gigantes do comércio varejista.

sábado, 19 de setembro de 2020

ESCOLA BATISTA DAS NEVES. COLÔNIA DOS PESCADORES. (X SETEMBRO CAMOCIM. 2020. Nº.02)

 

Escola Batista das Neves. Camocim. 1941. Fonte: A Voz do Mar. RJ, edição 177, p. 19.

Na trajetória da educação de Camocim ainda existem muitas histórias a serem desvendadas. Antes de termos um efetivo sistema escolar municipal e estadual de ensino, muitas escolas funcionaram esporadicamente ou com alguma regularidade em diversos espaços, notadamente associativos, sindicatos, igrejas, dentre outros. Sempre que descobrimos estas iniciativas do passado, registramos aqui neste espaço.

Hoje focalizaremos uma escola que funcionou da Colônia dos Pescadores. Muitos camocinenses já estudaram em diversas escolinhas que funcionaram nesta associação localizada no Bairro da Praia, com  diversas denominações, principalmente filhos de pescadores. Trata-se  da Escola Batista das Neves que, no ano de 1941, foi registrada  pela revista A Voz do Mar, editada no Rio de Janeiro.

Como se pode observar na foto acima, a professora está no centro, ladeada por 47 crianças de  idades  e tamanho variados, meninas e meninos,  o que sugere uma escola de natureza mista. A matéria não traz maiores informações a não ser a foto da turma de alunos com a professora e notícias de outras colônias de pescadores do Ceará, numa reportagem que acompanhava uma visita de inspeção às colônias de pescadores do Brasil.

Em 1941, a entidade representativa dos pescadores em Camocim era a Colônia dos Pescadores Z-17, e a diretoria era composta por Vital Ferreira da Silva - presidente; Manoel Agostinho dos Prazeres - secretário e Francisco Barros da Silva, tesoureiro. Por outro lado, não obtemos informações sobre quem seria "Batista das Neves", detalhe para pesquisas posteriores.
  
Fonte: A Voz do Mar. RJ. 1941. edição, 177.


sábado, 5 de setembro de 2020

A SIMBIOSE HOMEM-NATUREZA. (X SETEMBRO CAMOCIM 2020. Nº. 01)

Foz do Rio Coreaú. Camocim-CE. Foto: Leopoldo Kaswiner. 


Abrindo mais um SETEMBRO CAMOCIM (Décima edição - 2020), vamos dar uma parada naquelas matérias sobre política do passado (mas, nem tanto!) para evidenciarmos a nossa história local que, neste ano de pandemia, será um pouco diferente. Para começarmos vamos nos valer de mais uma preciosidade revelada dos arquivos do livreiro Trata-se de um cartão postal, intitulado "Foz do Rio Coreaú - Camocim-Ceará", de Leopoldo Kaswiner, retratando a faina do pescador camocinense. A foto não traz a data e o efeito em preto e branco parece remeter para um passado em que as dunas ainda tinham alguma cobertura vegetal, num tempo em que nelas se plantava salsa para impedir o assoreamento do canal natural do rio. Neste trabalho, realizado antigamente, muitas pessoas foram empregadas para tal fim, tanto no sentido de mitigar os efeitos da fome e da seca (inclusive usando-se mão de obra vinda de outras cidades como Ipu e Crateús), quanto para a fixação propriamente ditas das dunas móveis do Outro Lado (ou do Morro da Testa Branca para os mais velhos), da agora famosa Ilha do Amor.
No entanto, por ser uma foto de Leopoldo Kaswiner, especialista em fotografar as paisagens marítimas (embora ele trafegue por outros territórios com a mesma sensibilidade), acredito que a foto seja de décadas recentes. Leopoldo Kaswiner é o autor das fotos do livro "Sítio Histórico de Sobral - Monumento Nacional", além de várias obras e exposições fotográficas e está em plena atividade. Vamos tentar um contato com ele para precisar a data da foto que ilustra esta postagem.
Camocim, 05/09/2020. 174 dias de isolamento social.

Foto: Foz do Rio Coreaú - Camocim-Ceará. Leopoldo Kaswiner. Arquivo:
Francisco Olivar Olivar
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