quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

CAMOCIM NOS CLÁSSICOS DA HISTORIOGRAFIA

Porto de Camocim. Arquivo do blog.
Capa do livro em edição da Cia. das Letras
Diante de uma crítica mordaz de um colega que acha que minha predileção por Camocim é algo extravagante, passo a editar postagens que embasam essa minha cachaça de achar que a História do Brasil passa por aqui. Em mente, tenho um projeto de um dia escrever sobre isso no sentido de subsidiar outras pesquisas ou até mesmo tornar as aulas de História do Brasil mais próximas de nós. Para começar, iniciarei pelos clássicos da historiografia nacional, destacando como Camocim aparece nestas obras. Daí que, a Formação do Brasil Contemporâneo de Caio Prado Júnior é uma destas, que ao lado de Casa Grande & Senzala de Gilberto Freyre e Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda, formam a tríade de livros que todo professor de história deveria lê-los. Vejamos como o marxista Caio Prado Júnior descreve nossa região no item "Povoamento" de sua obra à pagina 46:
"São as serras , que em maciços isolados se alinham sucessivamente ao longo da costa e captam um pouco de umidade atmosférica; destacam-se por isso estas elevações como oásis de terras férteis e cultiváveis em meio da aridez que as cerca. Tais serras (Ibiapaba, Sobral, Uruburetama, Baturité) atraíram e fixaram algum povoamento que procura saída pelo mar próximo, dando lugar a pequenos portos que se arranjaram como puderam nesta costa difícil: Camocim, Acaraú, Fortaleza - que será a capital da capitania graças à sua posição central, à proteção, embora pequena, que lhe proporciona a ponta do Mucuripe, e sobretudo a fertilidade da serra de Baturité que forma sua hinterlândia".

Nota-se que o famoso autor comete um pequeno erro ao grafar Sobral em vez de Meruoca, talvez devido à proximidade geográfica. Saliente-se ainda que o autor está discorrendo sobre as correntes de povoamento e não se detém sobre a importância efetiva que o Porto de Camocim teve posteriormente na economia do Ceará. Contudo, vale o registro.


domingo, 22 de janeiro de 2012

A SOCIEDADE SÃO VICENTE DE PAULA EM CAMOCIM

Em minhas pesquisas de mestrado deparei-me com a ação dos vicentinos em Camocim. No âmbito do embate entre católicos e comunistas, a SSVP era o braço da Igreja Católica que atuava no campo da caridade e catequização junto aos mais pobres, que, na ótica da Igreja eram mais suscetíves em adotar o credo vermelho e seu leque de promessas de uma sociedade mais igualitária. Nas chamadas Semanas Sociais a Diocese de Sobral utilizava os vicentinos para arrecadarem alimentos e remédios e, em cada cidade que atuava deixava quase sempre um ambulatório médico para socorrer os necessitados. Um desses foi instalado em Camocim no passado. Acompanho agora a campanha dos vicentinos para erguerem uma casa para um casal pobre da cidade. Por outro lado, a luta desses irmãos em construir um albergue é muito mais longa. O local já existe na Vila e por mais de três vezes já vi as paredes serem levantadas e por falta de recursos, acabarem sendo derrubadas pela chuva ou por vândalos. Isso me intriga, pois, tal albergue é um grão de areia diante de outras obras que a Pároquia de Bom Jesus dos Navegantes já realzou na cidade nos últimos tempos. O que é um albergue para acolher idosos diante de uma Igreja de São Francisco, de uma casa de veraneio para o Bispo, de um Centro Comunitário como o do Bairro São Francisco? Falta dinheiro, vontade ou fé?  Existe outra explicação? Eu só queria entender. Enquanto a resposta não vem, transcrevo para os leitores o registro da SSVP em cartório. Tal registro informa a data de fundação, o que contradiz alguns textos na internet de que a SSVP tem mais de um século de existência em Camocim. No entanto, penso que a data não é o mais importante e sim o trabalho que ela faz ao longo do tempo em nossa cidade. Vejamos:

Fonte: blogdayla.blogspot.com
SOCIEDADE SÃO VICENTE DE PAULO (sic!)

Fundada em 16 de Outubro de 1938.

Órgão centralizador de todas as atividades vicentinas da Paróquia e considerada de utilidade pública.

Diretoria: 

José Clodoveu Arruda  - PRESIDENTE DO CONSELHO PARTICULAR.
Manoel Pinheiro da Rocha - VICE-PRESIDNTE E PRESIDENTE DA CONFERÊNCIA N.S. DE NAZARÉ
José Ferreira dos Santos - SECRETÁRIO DO CONSELHO E DA CONFERÊNCIA DE S. PEDRO
Joaquim Pereira de Brito - TESOUREIRO.


Fonte: Livro de Registro de Pessoas Jurídicas. Cartório André. 2º Ofício. Camocim. Ano: 1951-1957. Nº de Ordem: 6. 06/06/1951.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A PLANTA DA CIDADE DE CAMOCIM

Camocim - Planta da cidade. Década de 1930.
Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. IBGE.
Antes de termos nosso "Pote de Histórias", o blog Camocim Online abrigava nossas matérias sobre a história da cidade. Como sabemos, a planta de uma cidade é um item básico da organização urbana, expressando algo parecido do que se vê hoje nos planos diretores das cidades. Neste início de ano, finalmente tivemos a oportunidade de lermos o Plano Diretor Participativo de Camocim e pudemos ver, o quanto de letra morta existe nele, isto é, as leis estão lá para "inglês ver", como se dizia antigamente e o Poder Público fecha os olhos para a aplicação das leis, sendo muitas vezes, ele mesmo quem infringe o que condensou no plano. Referimo-nos principalmente à legislação que trata da preservação e conservação do patrimônio histórico e cultural. Diante da Prefeitura, a menos de 50 metros, antigos armazéns estão sendo derrubados e nada se faz. Voltaremos ao assunto brevemente. Por enquanto, reproduzimos a matéria referente ao título dessa postagem, publicado no Camocim Online de 23 de outubro de 2010.

Uma das primeiras medidas do então interventor de Camocim nos anos 1930, Dr. Gentil Barreira foi mandar fazer uma planta da cidade. Em 1933, o Engenheiro Militar Capitão José Rodrigues da Silva, fez o levantamento topográfico. Há que se ressaltar o estilo axadrezado, bem típico de cidades à beira-mar de relevo plano, como o projeto urbanístico de Fortaleza feito pelo francês Silva Paulet. A simples visualização da planta traz várias curiosidades: a quadra defronte do Cemitério São José está nominada como Praça Bom Jesus (atual Estádio Fernando Trévia).
Já imaginaram a dificuldade que seria reformá-la nos dias de hoje? Não se sabe por que a praça não foi construída e, em seu lugar surgiu uma "praça de esportes". A nomenclatura das ruas traz também os antigos nomes como Rua 13 de Maio, atual Alcindo Rocha. só para citar esta como exemplo. A Praça do Mercado, ainda não recebera o nome de Pinto Martins e a Praça Francisco Nelson, apesar de ser o nome oficial, vamos morrer chamando-a de Praça do Cruzeiro, aliás, nosso primeiro bairro, que àquela altura, chamava-se Cruz do Século.
Outra questão é a memória que se esvai. Na análise do documento temos tanto o ator político, o militar e o homem simples do povo. Será que Gentil Barreira será lembrado nas reformas da Prefeitura e do Mercado? (equipamentos construídos na sua gestão). O Capitão José Rodrigues da Silva, algum vereador lembrará dele como projetar nomear ruas e logradouros da cidade? E o exímio desenhista e dedicado funcionário da Estrada de Ferro de Sobral J. Tavares Assis que assina o desenho da planta da cidade, será homenageado algum dia?
O funcionário em questão era conhecido como "Seu Pintor", pai do nosso amigo Dr. Frank Martins Tavares, do Ministério do Trabalho. Ao historiador resta lembrar quando todos esquecem, ou se fazem de esquecidos".

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

GEOGRAFIA BOÊMIA DE CAMOCIM - PARTE II

Continuamos com nosso passeio pelo passado boêmio da cidade, agora acrescido de algumas colaborações de nossos leitores. Charles Nunes Melo nos diz sobre o Forró da Maria Carimbó, que ficava nas proximidades da mercearia da Arlete na Rua Duque de Caxias. Próximo dali tinha também uma espécie de clube particular denominado Associação Recreativa Luís de França, "criado pelo popular estivador camocinense, Manoel Ferreira de França, que possuída a alcunha de Bandu", como nos informa José Maria Sousa Trévia em seu livro "Histórias que meu pai contava" (2011, p.107), que além dessa informação traz as datas de fundação dos clubes elitistas Camocim Club, Comercial, Balneário, em interessante crônica  intitulada "Memórias do Sport Club". 
Já evidenciamos neste blog o uso das sedes dos sindicatos em Camocim como espaços de festa. Neste sentido, a Sede dos Estivadores, dos Portuários, Salineiros e Colônia dos Pescadores,principalmente nas datas de aniversário das respectivas categorias realizam sua tradicional festa. Ainda hoje, em janeiro, é realizada a dos Portuários.
Voltando para um tempo mais recente, o Clube Boa Esperança e o Cruzeiro até outro dia tinha a direção do Dão. Os sessentões, com certeza lembrarão do Lar da Juventude, próximo à Igreja de São Pedro, sem falar do imortal Terra e Mar, (imortalizado na pena de Carlos Cardela) território da boemia e do sexo, como já ressaltamos em postagem anterior.Aliás, nessa seara, ninguém lembrou do nome oficial do Cabaré do Kátia (ainda vivo, morando em Chaval), próximo ao Campo do Maguary, onde grande parte dos adolescentes da minha época tinha ali sua primeira experiência sexual. Na década de 1980, lembro-me ainda da Toca do Galo e do Alabama (onde hoje fica a Pesqueira do Seu Bené) no Bairro dos Coqueiros, onde também podia se encontrar mulheres a vender seu corpos, carícias e sexo. Nesse tópico, um dos últimos a fechar suas portas foi o Cabaré do Toim Viado (face ao seu brutal assassinato), com o singelo nome de Dunas Bar.
No ramo de restaurantes, o Novo Acampamento, de propriedade de Agostinho Queiroz, dono também do Colégio 7 de Setembro que nos domingos se tornava o Clube do Agostinho, também marcou época na Praça da Rodoviária. Aliás, nesse espaço, impossível não lembrar da Cabana, sob a direção de Dona Maria Aurea e depois seu filho Lúcio dos Correios, que nasceu como restaurante e depois virou uma alegre pista de dança que varava as madrugadas sob o som do momento, além do indefectível bingo de "um galeto assado e quatro cervejas geladas".
Mais recentemente, quando vínhamos cansados de Sobral após uma semana de vai-e-vem das  viagens de ônibus para estudarmos lá, alguns ainda encontravam fôlego para na sexta-feira, "esfriar a cabeça", no Forró do Chico Valdevino, na Rua Raimundo Veras, ou no Clube Mangueirão, na Perimetral, próximo ao SESI.
Fachada da antiga Quadra do SESI. Toda a área hoje está loteada por uma empresa imobiliária local. Fonte: Camocim online.
Para finalizar, a nostalgia volta forte com a lembrança das grandes festas do SESI. Lá vi o Primeiro Festival de Música de Camocim, grandes bailes com a Banda Trepidant's, e shows de artistas da época. Se alguém comentar mais sobre suas lembranças, quem sabe teremos uma terceira parte deste percurso boêmio pelos antigos lugares de Camocim.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

MERCADO PÚBLICO DE CAMOCIM - O CASO DAS PLACAS


Mercado Público de Camocim em reformas

Como se não bastasse a lentidão atual da reforma do Mercado Público de Camocim, provocando um verdadeiro caos à consumidores e comerciantes, ontem tive o desprazer de constatar um crime com relação à história deste equipamento público, construído na gestão do Interventor Gentil Barreira (1930-1934) e reformado, após um incêndio na administração do então Prefeito Setembrino Veras (1951-1954). Trata-se das placas que referenciavam estes fatos, que antigamente ficavam fixadas nas colunas que davam para o "mercado da carne", que com a reforma desapareceram do lugar, substituídas por lajotas frias e implacáveis, denunciando a falta de sensibilidade e conhecimento da história da cidade. Não podemos culpar pedreiros desavisados na execução de suas tarefas, mas, os idealizadores da obra, insensíveis ao registro histórico. Esse pequeno e grande detalhe, contudo, expressa um fenômeno negativo entre nós, que encara o passado como coisa velha, que atinge a muitos, inclusive gestores, fazendo com que suas ânsias de se perpetuarem, contraditoriamente, na própria história, apagam os vestígios daqueles outros que também assim pensaram. Alguém duvida que ao fim da dita reforma aparecerá uma placa? Doutra forma, a prática de se destruir placas, prédios, monumentos é quase uma tradição nefasta que grassa entre nós, relegando para o esquecimento a história das pessoas. Ora, isso vai de encontro ao que inicialmente intentava o Secretário de Desenvolvimento Sustentável, Francisco Barroso (Titico) em querer recuperar a história do cotidiano do mercado através das trajetórias de comerciantes, funcionários, dentre outros, há alguns anos atrás. Para isso entregamos ao mesmo um pequeno projeto utilizando os portões para este objetivo com o título "Mercado de Memórias" e nos colocando à disposição para ajudar nessa recuperação. Não sei se esse projeto aparacerá ao final da reforma, espero que sim, mas, o fato aqui relatado depõe contra essa ideia. Espero estar errado...

Foto: coisasdayla.blogspot.com




sábado, 7 de janeiro de 2012

GEOGRAFIA BOÊMIA DE CAMOCIM - PARTE 1

Outro dia numa mesa de bar, eu, o decano locutor Inácio Santos, o Cabo, garçom, relembrávamos no Bar do Grijalba a sequencia dos nomes do lugar de boemia localizado na esquina das ruas Dr. João Thomé com Humaitá. O lugar, hoje em ruínas, foi, por muito tempo um point da juventude camocinense. Informação prá cá, discussão prá lá, chegamos a um consenso que espero ser o verdadeiro. O lugar teria começado com o nome de Moenda Restaurante, depois Manzuá, posteriormente V-8 e, finalmente, Vereda Tropical. Ressalte-se que as duas últimas denominações teve no comando o amigo Toinho, filho do velho Cazumbi. Bastou isso, para reavivarmos nomes de antigos lugares de boemia e dança, discoteques, forrós, cabarés, dentre outras denominações, que frequentávamos ou não. Puxamos pela memória e saiu o Grêmio São João (onde minha mãe dançou muito!) na Rua Santos Dumont, próximo à antiga Oficina do PQ. Perguntei onde teria sido o tal Clube das Morenas que vi nuns documentos mas ninguém soube informar. Inácio lembra que antes de ser Sítio Forró Legal, o local era chamado de Cascata Clube sob direção do amigo Paparuá. Na mesma rua, ficava o Xangô, administrado pela amiga Barrinha, recentemente falecida. Nomes do passado e de um presente recente se embaralhavam na conversa. Cabo lembrou a Churrascaria Camocim na Rua 03 de Outubro (Rua Antonio Zeferino Veras) que animava as tardes de domingo de Camocim. Eu lembro do Clube do Louvores na mesma rua. Na Rua Perimetral, a turma relembra do Rancho Alegre, Sibonei e Ambrolândia . Não deixamos de lado o bom e velho Clube do Agostinho, local para se ir nas noites de domingo animado pelo Conjunto da Mirian (Faísca Som, Força Total, dentro outros) e Embalo Jovem, perto da Rodoviária, além do  Pala Rock na mesma praça. Foi lembrado as festas animadas pelo "Som do Pedro Carlos", o som mecânico mais aparelhado da década de 1990, mas isso é uma outra história...

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

CAMOCIM SEM POLÍTICA CULTURAL

Infelizmente, cada vez que volto à Camocim, tenho a confirmação de que nos falta uma política cultural. Prédios históricos continuam sendo tombados literalmente. O da vez são os antigos armazéns do Llyod Brasileiro, bem ao lado do Cais do Porto. Por outro lado, a cidade segue praticamente sem espaços culturais. A única exceção é o NAEC. No entanto, não é por falta de ideias e iniciativas dos cidadãos de Camocim que isso ocorre. É puramente descaso administrativo que há décadas atravessa a mesmice dita cultural, através da política de eventos, traduzida na realização das festas de Reveillon, Carnaval, Festival de Quadrilha e um Salão de Artes, dentre outras. Nada contra os eventos, eles são importantes para solidificar uma tradição. No entanto, diante da gama de talentos nas mais diversas áreas da cultura camocinense, a falta de equipamentos como um teatro, um cinema, ou memo um simples Ponto de Cultura, é um absurdo total!!! Esse é o papo que travo com um cidadão camocinense que, por iniciativa própria se dirige até ao Ministério da Cultura em Brasília e protocola um pedido para a construção de um centro cultural (bem que poderia ser no antigo Sport Club da foto acima). Pois bem, depois de registrado o pedido do Sr.FRANCISCO SAMARONE BRITO XAVIER, o mesmo recebe Ofício Nº 1323 do Gabinete da Ministra Anna Maria Buarque de Holanda. Todo esperançoso, o supracitado se dirige ao Gestor Municipal com a missiva ministerial certo de que sua proposição terá acolhida, visto que, à municipalidade é pedido apenas um projeto neste sentido. No entanto, me confessa o jovem Samarone sua decepção face à resposta oficial de que "aquilo não tinha futuro". Futuro não terão os jovens camocinenses, órfãos dos equipamentos e dos meios de transmissão cultural mais básicos, tão necessários à sua formação.

Fonte: Ministério da Cultura. Ofício Nº 1323 GM/MinC, endereçado à Francisco Samarone Brito Xavier.
Foto: Panaromio.com