domingo, 21 de fevereiro de 2016

A PRAÇA DOS PODERES EM CAMOCIM

Praça da Matriz. Fonte:Biblioteca do IBGE.
Até os anos 1970 eram praticamente eles dois. Um olhando para o outro, expressando talvez suas importâncias. Depois, outros foram se agregando, reformulando e remodelando o espaço urbano. Geralmente, em torno da Igreja Matriz de cada lugar se forma o núcleo urbano com suas casas residenciais. Em Camocim, esse quadrilátero, com o tempo sofreu as mudanças irreversíveis do tempo e foi incorporando outros prédios com suas simbologias, sentidos e significados. Da Igreja e da Prefeitura que representavam os poderes religioso e político foram se acrescendo o Colégio Estadual Padre Anchieta (CEPA) e depois João da Silva Ramos (hoje CEJA João Ramos), o Patronato São José, depois Ginásio Imaculada Conceição, hoje Instituto São José como exemplares do poder educacional. A Capitania dos Portos (Marinha do Brasil)é o braço do poder militar além da Cadeia Pública. O Fórum é o Poder Judiciário. O Hospital Maternidade é o poder nos serviços da saúde. O Governo Federal se faz presente com a Agência da Receita Federal. O poder econômico pode ser percebido na Agência da Caixa Econômica e lotérica, além do comércio que avança nas duas ruas laterais: Rua 24 de Maio e Santos Dumont. Hoje se contam nos dedos o que antes eram as casas residenciais. Portanto, não há lugar melhor para historiadores e professores de história analisarem e mostrarem as mudanças ocorridas no tempo e no espaço em Camocim.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

MINHAS LEMBRANÇAS DO CAMOCIM ANTIGO - CEPA/ESCOLA JOÃO DA SILVA RAMOS



Ginásio Padre Anchieta. Anos 1950, Camocim. Fonte: IBGE.
            Camocim 13 de fevereiro de 2016. Mais de quarenta anos depois volto à escola que me acolheu entre o 2ª e  7ª série, nos anos de 1972 a 1978. Quase nada mudou, a não ser o acréscimo de algumas salas, uma quadra esportiva, laboratórios e algumas mudanças internas. Foram anos de muito aprendizado e descobertas. Aqui despertei o meu gosto pela leitura. Lembro-me ainda quando a Professora Conceição Lúcio me colocou para declamar o poema "Soneto da Fidelidade" de Vinicius de Moraes numa festa do Dia das Mães. Tremia mais do que vara verde... mas ficaram as lembranças. Recordações da hora do recreio quando em algazarra nos postávamos na fila da merenda ou mesmo da compra de guloseimas dos vendedores que ficavam do lado de fora no muro lateral que dar para a Rua 24 de Maio. O muro era de meia altura com um pequeno gradeado. Naquele tempo não se precisava elevar muros. Recordo que era possível encontrar ovos de galinha dos vizinhos no mato que ficava atrás das salas do lado esquerdo. E a quadra? Era apenas um cimentado que ficava ao fundo onde hoje está erguida a Quadra Poliesportiva. Por anos a fio, nós alunos contribuímos com a Caixa Escolar, cujo valor era recebido pela senhorita Nelita Fonseca, já falecida, que, diziam, era para construir a tal quadra e ainda tinha um campinho onde praticávamos algum futebol e as aulas de Educação Física ministradas pelo Prof. Luís Carlos Feitosa, o Melancia (talvez uma alusão ao seu ventre avantajado).

            Dos professores que mais lembro a Profa. Marilda que me fez gostar dos Estudos Sociais. Conceição Lúcio, de Português, como já disse, me despertou para o gosto da leitura. Foi aquela gota d'água que fez a diferença e que ainda hoje me sacia. Do colega José Carlos dos Santos (Galdino) que depois se tornou policial e morreu em combate lembro o companheirismo dele em me acordar nas manhãs que havia aula de Educação Física, do Messias dos Reis, que também ainda hoje é policial a lembrança é sempre da sua alegria e de mexer com os outros numa brincadeira sem fim. Um dos filhos do soldado Pecém era metido à mágico e malabarista. Dava saltos mortais no pavilhão. Mas a lembrança maior trago ainda no corpo: uma cicatriz na sobrancelha do olho esquerdo. Naquele tarde do dia fatídico um helicóptero sobrevoava a Praça da Matriz e por lá pousou. Como estávamos sem aula todo mundo correu em disparada para ver o objeto voador identificado. Na minha frente corria o Gilberto Silva (que hoje é mestre de barco), ao passar pelo portão de fora, jogou para trás uma das bandas que me colheu de frente, que vinha logo atrás. Num primeiro momento ainda corri colocando apenas a mão no olho. Ao chegar no Parque Infantil que ficava em frente da escola outro colega me advertiu que jorrava sangue do local afetado. Amedrontado, levaram-me para o Hospital onde foi providenciado um curativo. O enfermeiro que atendeu disse depois que "não faltou nada para atingir o olho". Fiquei por mais de uma semana com a "placa branca" na cara e ainda quase levava uma surra!


sábado, 6 de fevereiro de 2016

MARIA COELHO - A MAIS BELA DE CAMOCIM

Maria Coelho. Camocim, 1922. Fonte: A Noite 

No dia 4 de maio de 1922 o jornal carioca "A Noite" estampava na primeira página a foto da mais bela camocinense, Maria Coelho. A escolha da referida senhorita foi por conta do concurso "Qual a melhor mais bella do Brasil?" patrocinado por aquele periódico. Naquele tempo era corriqueiro este tipo de concurso promovido pela imprensa. No nosso caso, a escolha foi organizada pelo Camocim Jornal gerenciado por Horácio Pessoa. Diz a nota:

Na cidade cearense de Camocim acaba de merecer o título de mais bella a senhorita Maria Coelho de accordo com a apuração de nossos prezados colegas do Camocim Jornal que encerraram aquella prova local nos primeiros dias de abril ultimo, não sem grandes dificuldades, devido a índole modesta dos cearenses, que não encontram em geral, maior enthusiasmo nesses certames.

Na matéria jornalística figuram ainda os resultados das mais belas de várias cidades por onde o concurso era realizado, como se dizia antigamente, do Oiapoque ao Chuí. Não sabemos se a nossa "maior beleza da cidade", a "formosura cearense" consegui avançar nas outras etapas do concurso, mas ficou o registro da beleza feminina que ainda hoje caracteriza nossa cidade. Quem conheceu Maria Coelho pode confirmar o que disse o jornal? Comentários para o blog.




Fonte: A Noite, Rio de Janeiro, RJ. Ano XI, 04 de maio de 1922, p.1. 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

OS CARNAVAIS DE OUTRORA - PARTE III

Bloco do Treco. Camocim-CE.1967.  Fonte: Arquivo Aroldo Viana.

Das lembranças que tenho do carnaval de rua de antigamente em Camocim, uma que não me sai da cabeça é o Bloco dos Marítimos, puxado pelo incansável Saraiva e seu apito ensurdecedor. Ficar nas calçadas e janelas da Rua do Egito para ver os blocos passarem era a minha maior diversão.
Na postagem de hoje o destaque é para o Bloco do Treco (foto) que animou as ruas e os bailes nos anos 1960. Referido bloco era formado por rapazes e moças de classe média. Segundo um dos seus ex-integrantes, Aroldo Viana, o maior rival deles era do Bloco dos Marítimos. Nesta mesma época tinha ainda os blocos: “Odaliscas do Rei Salomão, Vai-quem-quer, Não dô cavaco, Bloco do Zorro, Os Intocáveis, União, Zombando do Azar, dentre outros.
Ainda sobre o carnaval de rua, ficou para a posteridade uma crônica do saudoso escritor camocinense Arthur Queirós, da qual reproduzimos este trecho:

 No carnaval de outrora, em Camocim, apareciam muitos blocos populares, carnaval de rua. Eram de estivadores, dos portuários, dos salineiros, dos pescadores, dos marítimos e vários outros, que recebiam até, estímulo da prefeitura, mediante premiação aos que melhor se apresentassem, mediante a classificação de criteriosa comissão julgadora.

Portanto, vários blocos foram fundados e animaram o período momino sem esquecer do onipresente "Bloco dos Sujos" que, segundo ainda nosso cronista, os foliões “[...] passavam tisna de panela no rosto todo, nessas ruas todas e iam parar lá na casa de João Luís de França, que tinha o nome de rua do Suvaco, imagina que nome, e ali era a farra". 
Bom carnaval e que nos divirtamos em paz.

Fontes:QUEIRÓS, Artur. Coisas e fatos. O Literário, Ano II, edição 8, fevereiro de 2000, p.3. Camocim-CE. 
 VIANA, Aroldo. Bloco do Treco. O Literario, Ano IV, edição 04, julho-agosto/2002 p.4. Camocim-CE. 

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

OS CARNAVAIS DE OUTRORA EM CAMOCIM - PARTE II

Carnaval de Camocim. 1929. Fonte: O Malho. RJ.


Carnaval não é somente a folia liberada e supostamente democrática. A festa carnavalesca também é uma prática social da divisão de classes. Rememorando os antigos carnavais de Camocim, nosso amigo Euclides Negreiros nos diz que no centro da cidade e somente nele “[...] tinha os corsos, carro aberto, sentado em cima da capota, passava pelas calçadas jogando serpentinas e confetes, mas só no centro,[...] onde morava o pessoal da sociedade, aí no centro, os ricos e hoje trafegam todo mundo... era tudo dividido”.
  
Já na periferia "a rua ficava repleta de papangus, em frente ao depósito de cachaça do ‘seu’ Sebastião. Mas, eram apenas papangus, alegres e esmolambados em suas fantasias baratas do carnaval irreverente do povão." 

Independente do local, festa é que não faltava e parece não faltar ainda. Na foto acima, um flash de uma espécie de carro alegórico com moças e rapazes em trajes mominos posando para um fotógrafo à beira mar com os mangues e a Ilha do Amor ao fundo.

Fontes: Revista O Malho,Rio de Janeiro, ed.1399, p.72. 
Sr.Euclides Negreiros, aposentado da Marinha do Brasil, 90 anos, 2007. Camocim-CE. Entrevista dada ao autor.
 TRÉVIA, José Maria S. Uma janela para o passado. Contos. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora Ltda. 2007, p.12.