quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O CINEMA EM CAMOCIM - CINE-PHENIX

Cine Phenix Camocim. 1918. Fonte: Folha do Litttoral
Phenix é a ave mitológica que renasce das cinzas segundo a mitologia grega. Das cinzas da minha memória ontem, 29 de dezembro de 2015 o cinema renasceu com toda sua magia, quando conferi as sessões da amostra itinerante de cinema da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará na Praça do Odus. Enquanto via os curtas e o vídeo produzido pelos adolescentes de Camocim, além do premiadíssimo Cine Holiúdi que aborda justamente a magia do cinema na visão "moleque" cearense, lembrava-me dos filmes exibidos no extinto Cine João Veras, nos gêneros, karatê, kung-fu, faroeste, pornô e os épicos de Natal (Os Doze Mandamentos, Ben-hur, A Paixão de Cristo), dentre outros.  A ansiedade de nós menores para entrar só depois de apagar a luz para os "filmes impróprios", as figuras do Zimbi e o Sr. Hélio Veras, a "comodidade" da geral com seus bancos de madeira sem encosto, a catinga de peido e outros odores, as paradas abruptas quando o filme quebrava e a espera até que o projetista refizesse o rolo, a satisfação de ter se alheado do mundo e entrado noutro por algum tempo, tudo isso me veio à mente.
Cartaz de filmes exibidos no Cine-Phenix no jornal Folha do Littoral
Mas o cinema em Camocim não se resume às lembranças dos que rememoram suas histórias com o Cine João Veras. No auge econômico proporcionado pelas atividades comerciais no entorno do porto e ferrovia, a cidade apresentou várias salas de cinema, indo das mais chiques às mais simples. Hoje abordaremos o Cine-Phenix (foto), em cujo prédio encimava uma grande águia (ou Phenix, a ave mitológica), conforme mostra a figura acima. Referido prédio foi inaugurado em 24 de agosto de 1918, de propriedade da famosa firma comercial Nicolau & Carneiro, à Rua Engenheiro Privat, naquele tempo, uma espécie de boulevard, rua do ouvidor, onde estavam estabelecidas as melhores casas comerciais, residências e repartições públicas, enfim a nata da elite camocinense da época. A inaguração foi amplamente divulgada pelo jornal Folha do Littoral, ressaltando a imponência do prédio com seus "sumptuosos salões [...] irradiosamente illuminados". Percebe-se pelo referido jornal que o Cine Phenix era mais do que uma sala exibidora de filmes (como mostra o cartaz acima), realizando-se ali, bailes dançantes, reuniões políticas, apresentações de artistas em excursão, dentre outras atividades. No local hoje funciona o prédio do Ministério Público em Camocim. Sem a devida águia, ou phênix. Ao final do filme a triste constatação... dos 184 municípios cearenses, fora a capital, somente quatro cidades possuem cinemas.

Fonte: Jornal Folha do Littoral. Camocim-CE.1918.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

OS HOMENS LETRADOS DE CAMOCIM - GABINETE DE LEITURA CAMOCINENSE

Primeira Diretoria do Gabinete de Leitura Camocinense. 1914. Fonte:Revista Fon Fon. Rio de Janeiro.

Os homens se associam por várias razões e objetivos. A leitura e sua prática também é e foi motivo da criação de associações ditas literárias. Neste espaço já destacamos os Gabinetes de Leitura, espécie de academias de letras à moda francesa que agremiavam os homens letrados de outrora. Em Camocim o Gabinete de Leitura Camocinense foi fundado em 1913, cuja primeira diretoria pode ser visualizada na foto acima, publicada em junho de 1914 que traz a seguinte legenda:

"Da esquerda para a direita. Em pé - F. Menescal Carneiro, bibliothecario, Pedro Morel, orador oficial. Sentados - Polycarpo de Souza, 2º Secretário; J.J. d'Oliveira Praxedes, Vice-presidente; Julio C. Monteiro, Presidente; Severiano J. de Carvalho, Thezoureiro e Arthur Barbosa, 1º Secretário".

Além de uma biblioteca, no Gabinete de Leitura Camocinense também funcionava uma escola para jovens alunos. O que resta desta associação é uma pequena biblioteca, inclusive com alguns livros escritos em francês, adquirida pela Associação Comercial de Camocim em 1932 e lá preservada.

Fonte: Revista Fon Fon. 27 de junho de 1914, nº 26.
Livro de Atas da Associação Comercial de Camocim, 1º de julho de 1932, p.93.


domingo, 6 de dezembro de 2015

O "PALMEIRA FOOTBALL CLUB" EM CAMOCIM

Jornal Folha do Littoral. Camocim-CE,22/12/18
Aos palmeirenses de Camocim nossos parabéns pela conquista de mais uma taça de campeão da Copa do Brasil, No entanto, poucos sabem de que no início do século XX, um grupo de moços se organizou e fundaram o Palmeira Football Club, precisamente um domingo, 17 de dezembro de 1918. Na matéria do jornal Folha do Littoral que registra a fundação do clube, o articulista diz ter sido acertada a escolha do nome de "Palmeira", pelo fato de ser "o nome de um dos clubs de S. Paulo, o que provavelmente, será um estímulo para os futuros 'sportmans' cearenses".
Terminada a reunião que criara o time do "Palmeira Football Club", uma comissão foi designada para providenciar um local para os treinos dos dois quadros (A e B) da agremiação. No mesmo dia, segundo a matéria jornalística, foi arrendado "à rua do Humaytá uma grande area cercada, onde terão logar os primeiros trenos".
Aos poucos vamos recuperar a história do nosso futebol.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

OS FESTEJOS DE IMACULADA CONCEIÇÃO EM CAMOCIM

Igreja Matriz de Bom Jesus dos Navegantes. Camocim-CE. Fonte: UVA/NEDHIS.
Vários municípios da Diocese de Sobral tem na Imaculada Conceição sua padroeira. Até o dia 8 de dezembro prossegue o novenário. Em Sobral é feriado municipal. Não sei se em Camocim acontece algum festejo e evento em torno da Imaculada Conceição, mas, no início do século XX, quando ainda pertencíamos à Diocese de Sobral, aconteciam animados festejos que antecediam liturgicamente aos preparativos da Festa de Bom Jesus dos Navegantes que começava após o Natal, 29 de dezembro e entrava nos primeiros dias de janeiro do ano seguinte, até o dia 6, Dia de Reis. O tempo passou e aí um frei lá das bandas do Canindé achou por bem mudar a data e os católicos camocinenses foram convencidos da mudança. Mas, voltando aos festejos de antigamente, no ano de 1918 não aconteceu o novenário, posto que o pároco José Augusto da Silva não quis "macular" a festa, visto que "algumas das cantôras da orchestra do côro estar adoentadas". Não se sabe que doença acometeu as coristas da época, mas o padre decidiu fazer apenas um "tríduo em honra à Imaculada Conceição" começando no dia 05 de dezembro daquele ano (1918), no lugar do "festival costumeiro à Nossa Senhora da Conceição". 

Fonte: Jornal Folha do Littoral.Camocim-CE. Anno I, domingo, 01 de dezembro de 1918, p.1.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A IGREJA DE BOM JESUS DOS NAVEGANTES DE CAMOCIM

Igreja Matriz de Bom Jesus dos Navegantes. Camocim-CE. 1918.
Esta talvez seja a primeira imagem da nossa Igreja Matriz após a bênção da mesma realizada em dezembro de 1917 pelo Bispo Dom José Tupinambá da Frota, data em que também foi benzida a imagem de Bom Jesus dos Navegantes. Trata-se de um clichê publicado em 1918 no jornal Folha do Littoral editado em Camocim. Sem o recurso da fotografia nos jornais da época, as imagens eram obtidas em placas de metal (geralmente zinco), cuja matriz gravada nestas placas eram levadas à impressão tipográfica através de métodos da estereotipia, galvanotipia ou fotogravura. Na matéria jornalística, ressalta-se que o suntuoso templo católico estava erguido na Praça Bom Jesus, cujo terreno fora doado pelo coronel Severiano José de Carvalho. Como se sabe, a planta da Igreja Matriz, obedeceu ao concebido pelo engenheiro da estrada de ferro Dr. José Privat. Iniciada em 1883, a construção teve que ser demolida e retomada posteriormente pelo Padre José Augusto da Silva, que chegou em Camocim em fevereiro de 1906. Ressalta ainda a matéria os "esforços empregados pelo nosso benemerito Vigário na construção de nossa Matriz [...]  e da cooperação dos seus paroquianos que demonstraram em concorrer com o seu obolo em auxilio do nosso distincto Vigário". Informa ainda que naquele momento, 1918, ainda faltavam erigir "duas pyramides lateraes".

Fonte: Jornal Folha do Littoral, Camocim, domingo, 18 de agosto de 1918. 





sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O ESCRAVO RAYMUNDO DE CAMOCIM

Jornal O Libertador, nº 250.
 
Anno III, Fortaleza, 14 de novembro de 1883.

A consciência negra tem um dia! Hoje, 20 de novembro é uma data que remete à história do negro Zumbi dos Palmares na defesa dos negros que resistiram à escravidão no Brasil Colonial. Essa resistência é histórica, mas, elegeu-se um dia para a sua evocação, num país que foi construído essencialmente por negros, e que ainda não superou as contradições e tragédias do nosso passado escravocrata que teima em se fazer presente nas relações sociais sob a forma de preconceito, principalmente.
O 20 de novembro de alguma forma foi estabelecido como data de luta pelos movimentos de negritude para contrapor ao 13 de maio construído pela historiografia oficial, da abolição como dádiva do Estado, personificado na Princesa Isabel e ato legal da Lei Áurea de 1888. 
Dito isto, aproximemos esta história de abolição para a Província do Ceará, cognominada de "Terra da Luz", onde os escravos eram libertados dentro desta perspectiva de generosidade dos seus donos, repentinamente tomados de fervor humanitário, agremiados em sociedades libertadoras, com seus atos de bondade publicados nos jornais. Pouco se fala da conjuntura social e das lutas de resistência dos escravizados que envolveram este contexto histórico.
Em Camocim não poderia ser diferente. Afora os 413 escravizados libertados em 31 de janeiro de 1884, como já foi publicado em postagens anteriores, o jornal Libertador anunciava na coluna Redempção dos Captivos, sob o número 378, a libertação do escravo "Raymundo, de 28 annos de idade, natural e residente em Camocim, libertado generosamente pelo Sr. Capitão José Ignacio Pessoa e sua Exma. Senhora, em regosijo pela eleição do Exmo. Sr. Dr. Antonio Joaquim Rodrigues Junior, para deputado geral.
Como podemos perceber, o que se ressalta na notícia é a generosidade do senhor de escravos.
 Que o dia da consciência negra possa ser mais do que um dia no calendário!






Libertador. nº 250, Anno III, Fortaleza, 14 de novembro de 1883

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

ESCRAVOS E ESTRADA DE FERRO DE SOBRAL

Estação Ferroviária de Sobral. Fonte: sobral24horas.com
Falamos em postagens anteriores sobre a escravidão em Camocim no contexto do abolicionismo do estado do Ceará, cuja data magna se deu em 25 de março de 1884. No entanto, esse movimento já vinha mostrando algumas ações de alforria de escravos em anos anteriores. Com o começo da construção da Estrada de Ferro de Sobral no início da década de 1880, é possível que se tenha utilizado mão-de-obra escrava na ferrovia, por alguns indícios que apontaremos mais adiante. Maria Lúcia Lamounier escreveu um livro intitulado Entre a escravidão e o trabalho livre. Escravos e imigrantes nas obras de construção das ferrovias no Brasil no século XIXonde aborda o assunto. Embora não tenhamos certeza desse uso na Estrada de Ferro de Sobral, sintomático são os registros da inaguração da Estação Ferroviária de Sobral em 31 de dezembro de 1882, portanto, dois anos antes da declaração de abolição dos escravos na Província do Ceará. Vejamos o que escreveu o Bispo Dom José Tupinambá da Frota em sua obra História de Sobral.

"Presente um numeroso concurso de pessoas desta cidade, de Granja, Camocim, Palma, Santanna, Ipu, Santa Quitéria e outros lugares vizinhos, o Sr engenheiro em chefe, Dr. João da Cunha Beltrão d Araújo Pereira convidou ao Sr Comedador José Tomé da Silva, Presidente da Câmara Municipal para inaugurar a seção, o que fez S.S proferindo uma alocução. (...) Antonio Ibiapina que num eloquente discurso sobre a escravidão entregou as cartas de liberdade de 05 escravos, sendo todos os oradores calorosamente aplaudidos. Imediatamente os Srs Major Mendes da Rocha e o Capitão Joaquim Ribeiro de Morais, de Granja, declararam livres os seus escravos Rafael, José e João."

Portanto, 08 escravos foram alforriados na ocasião. Note-se que apenas três são nominados. Na escrita histórica do período, os escravizados continuam quase invisíveis, sobressaindo-se a ação dos senhores que naquele momento ofereciam como "dádiva" a liberdade a estes homens. Embora não sabendo que essas ações decorreram da onda abolicionista que se apresentava naqueles anos ou se foram em troca do trabalho exercido na ferrovia, estes são acontecimentos que remetem para o nosso passado escravista.

Fontes:
 LAMOUNIER, Maria Lúcia. Entre a escravidão e o trabalho livre. Escravos e imigrantes nas obras de construção das ferrovias no Brasil no século XIX.
FROTA, Dom José Tupinambá da. História de Sobral


quinta-feira, 12 de novembro de 2015

OS FERIADOS LITERÁRIOS EM CAMOCIM


Durante os feriadões do mês de outubro pensei em proporcionar algo diferente para os camocinenses. Daí, surgiu a ideia dos FERIADOS LITERÁRIOS, que aconteceram no Bar do Grijalba e na Mercearia da Nazaré. A ideia era aproveitar a clientela aumentada desses lugares nestes períodos e apresentar nossa produção acadêmica, principalmente para aqueles que não tiveram oportunidade de comparecer quando do lançamento destes livros. Por outro lado, isso, a meu ver, iria contribuir para a formação de um público leitor posteriormente, onde poderemos envolver a produção de outros colegas historiadores, poetas e escritores locais numa proposta de feira, sonho muito acalentado por nosso amigo livreiro Francisco Olivar (Vavá).  Nas chamadas de mídia sempre enfatizamos que, mais importante do que adquirir um livro, seria a oportunidade de trocarmos ideias para um futuro literário em nossa cidade, visto que, temos uma demanda reprimida grande nesta área. Fizemos o evento e, por já conhecermos nosso "eleitorado" não me decepcionei tanto. A venda dos livros pelo menos pagaram as nossas despesas de consumo nos referidos bares. Quase não houve novidade, a não ser a presença do Prof. Gilson Cordeiro do IFCE Camocim (I Feriado) e do empresário Patápio Pinheiro (II Feriado) com quem batemos um bom papo. Ademais, os amigos de sempre, frequentadores contumazes dos bares referidos que adquiriram ou não algum dos exemplares expostos. Senti a falta dos poetas e escritores locais, dos colegas historiadores (não fosse o amigo Francisco Rocha e a Edinalva Pinho, a classe tinha passado em branco) e dos meus amigos professores ou das suas entidades de representação. Terá sido os locais que afugentaram as pessoas? Nos próximos eventos vamos reavaliar! Sugestões para o blog!

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

CAMOCINENSE É NOME DE RUA EM FORTALEZA

Prof. José Artur de Carvalho. Fonte: www.ceara.pro.br 

Professor José Arthur de Carvalho, nascido em Camocim é nome de rua em Fortaleza desde 1994, conforme Projeto de Lei nº 150/94 de autoria do vereador Mardônio Albuquerque.














Nestes termos, a Câmara Municipal de Fortaleza decretou:

Art. 1º. Fica denominada Professor José Arthur de Carvalho, uma rua de Fortaleza.
Art. 2º. Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogando-se as disposições em contrário.
Sala das Sessões das Comissões Permanentes da Câmara Municipal de Fortaleza em 23 de junho de 1994.

Idalmir Feitosa - Presidente.

Na justificativa. o autor da proposição,vereador Mardônio Albuquerque escreveu:

JOSÉ ARTHUR DE CARVALHO, nasceu em Camocim em 16 de fevereiro de 1921, neto do farmacêutico JOAQUIM ARTHUR DE CARVALHO, autor/descobridor da fórmula "GOTAS ARTHUR DE CARVALHO" e filho do prático de farmácia  JOAQUIM ARTHUR DE CARVALHO FILHO. Após ter concluído seu curso primário em Camocim, transferiu-se para Fortaleza, aqui, prosseguiu seus estudos do Colégio Cearense e no Liceu do Ceará, graduando-se em Farmácia, no ano de 1945. pela então Faculdade de Farmácia e Odontologia do Ceará. Foi Presidente do Sindicato dos Farmacêuticos do Ceará, do Conselho Regional de Farmácia e da Sociedade Henrique Jorge. Faleceu a 25 de novembro de 1993, deixando uma descendência de nove filhos, seis genros, três noras, vinte e três netos e uma bisneta.

Portanto, se você mora nessa rua em Fortaleza e é camocinense, agora sabe que o homenageado é seu conterrâneo.

Fonte:
http://cmfor.virtuaserver.com.br:8080/sapl/sapl_documentos/norma_juridica/1438_texto_integral. Acessado em 28/10/2015.



terça-feira, 20 de outubro de 2015

A ESCRAVIDÃO EM CAMOCIM

Jornal O Libertador. Fortaleza-CE, 25/03/1884, p.1


Falar de escravidão em Camocim atualmente pode soar como algo exótico. Mas, a história existe para dirimir dúvidas, desconstruir mitos, proporcionar a reflexão dos fatos. Dito isto, seria até incompreensível se aqui também não tivesse tido o recurso do expediente da escravidão, visto que utilizada por mais de três séculos em nosso país. Por outro lado, a historiografia sobre o mundo do trabalho vem recuperando as histórias de escravidão em áreas portuárias. Com efeito, desde o Brasil Colônia, passando pelo Império que os negros são utilizados como mão-de-obra em nossos portos. No Brasil republicano isso não mudou muito e os negros estão presentes no cotidiano e nos conflitos nos portos brasileiros. É essa historiografia que afirma que o estado do Ceará partiu na frente para abolir a escravidão, marcando a data de 25 de março de 1884 como ícone, hoje feriado estadual. Dentre os jornais da época, O Libertador fazia campanha aberta a favor do abolicionismo noticiando as ações de libertações e alforria. Ficaram célebres os chamados "Quadro da Luz. A escravidão é um roubo", com as relações de escravos libertos em cada município. É esta fonte que nos permite afirmar que em Camocim houve escravidão sim, e que, por dedução, o trabalho no porto era um dos locais de sua prática, como no resto do Brasil. No Quadro da Luz de 25 de março de 1884, o mesmo grafa o número de 413 escravos libertos em 31 de janeiro de 1884, portanto, antes da data magna de libertação dos escravos no Ceará. A quem pertenciam esses escravos e o que faziam merece uma pesquisa mais aprofundada. O fato é que eles existiram e aparecem em documentos outros, como o primeiro Código de Posturas da Villa de Camocim, datado de 1883, onde o legislador coloca as proibições e demonstra o lugar social dos escravos. É esta história silenciada por muito tempo que explica ainda hoje a invisibilidade dos negros e sua história e as diversas formas de preconceito. Voltaremos ao assunto.




quinta-feira, 8 de outubro de 2015

FERIADO LITERÁRIO EM CAMOCIM



Cartaz do Feriado Literário. Criação: Luis Carlos Lima

No intuito de disponibilizar algo diferente nesse feriadão de outrubro em nossa cidade, estamos promovendo algo diferente. Trata-se do Feriado Literário onde você pode adquirir livros alguns livros organizados por nós e outro colegas do Curso de História da UVA e do Grupo Outra História da cidade de Ipu. São livros que contam algo a mais sobre a História do Ceará. Portanto, nesta segunda-feira, dia 12, a partir das 11h vá ao Bar do Grijalba, adquira seus livros autografados e bata um papo conosco. Maiores informações sobre os livros estão nas fichas técnicas abaixo:

CIDADES VISÍVEIS

Livro organizado pelo Prof. Carlos Augusto, "Cidades Visíveis" traz textos dos alunos do Curso de Especialização em História do Ceará da UVA e propõe uma reflexão sobre a história local de vários municípios do Ceará, inclusive Camocim, a partir das questões relativas à cultura popular, ao patrimônio, à religiosidade e á memória destes lugares.
Ficha Técnica:
Cidades Visíveis
Tamanho: 15cm x 21cm
Ano de publicação: 2013.
Páginas: 121.
Editora: Expressão Gráfica

HISTÓRIAS DO CEARÁ

"Histórias do Ceará" é um livro organizado pelo Prof. Carlos Augusto e Prof. Agenor S. S. Júnior. Trata-se de textos frutos de pesquisas dos alunos e professores do PARFOR/UVA que contribuem, principalmente, para a historiografia da escravidão no Ceará, trazendo novos elementos para o entendimento desse tempo, através das histórias da presença de negros em municípios como Meruoca, Santana do Acaraú, Marco, Forquilha, Pacujá, Graça, dentre outros.

Ficha Técnica:
Histórias do Ceará.
Tamanho: 15 cm x 21cm
Ano de Publicação: 2013
Páginas: 342.
Editora: Expressão Gráfica


NAS TRILHAS DO SERTÃO. VOL. 1
            Organizado por historiadores do Grupo Outra História, da cidade de Ipu, o Prof. Carlos Augusto participa da coletânea com o artigo: "Sermões, bandeiras e enxadas: os religiosos e trabalhadores na formação do Círculo Operário do Ipu (1932-1946) em co-autoria com o historiador Francisco Petrônio Peres Lima.

Ficha Técnica:
Nas Trilhas do Sertão: escritos de cultura e política nos interiores do Ceará. Vol. 1
Tamanho: 16 cm x 23cm
Ano de Publicação: 2014
Páginas: 160.
Editora: Sertão Cult

NAS TRILHAS DO SERTÃO. VOL. 2

Organizado por historiadores do Grupo Outra História, da cidade de Ipu, o Prof. Carlos Augusto participa da coletânea com o artigo: "Experiências culturais dos trabalhadores urbanos da zona noroeste do estado do Ceará. 1900-1970".

Ficha Técnica:
Nas Trilhas do Sertão: escritos de cultura e política nos interiores do Ceará. Vol. 2
Tamanho: 16 cm x 23cm
Ano de Publicação: 2014
Páginas: 160.
Editora: Sertão Cult







terça-feira, 29 de setembro de 2015

V SC, 10. PARABÉNS CAMOCIM!

Luar em Camocim. Foto: Vando Arcanjo
Difícil ser um historiador e não querer contar uma história, um fato, principalmente no dia em que seu lugar comemora o aniversário de sua emancipação política. Mas, o que é um lugar antes de ser um ente político? 29 de Setembro é apenas uma data. Poderíamos ter outras: que tal 17 de Agosto, data da elevação do então distrito da Barra do Camocim à cidade. Ou mesmo 31 de Janeiro, dia em que abolimos a escravidão? Pois é, tínhamos 413 escravos em 1884. 
Mas a história não é somente a sucessão cronológica dos fatos. Ainda gastaremos muito tempo para vasculharmos os acontecimentos que fizeram essa terra única, com suas mazelas e belezas, dona do maior litoral do Ceará, no entanto, para o bem ou para o mal, o menos explorado, talvez. Ainda aparecerá quem melhor revirará teu baú, historiadores ou não, para contar sobre tua origem, lugar de recepção de índios foragidos das guerras tribais e com o colonizador e suas sagas de mortes, de aventureiros das terras mais longínquas, de flagelados açoitados pela seca, de contrabandistas forasteiros e nativos, mas, também da tua hospitalidade, do teu jeito moleque de ser, da tua beleza sem fim. 
Como pobre mortal, hoje, por acaso longe do teu seio, mas, colado à tua mente, desejaria percorrer tua orla e sentir teu cheiro de maresia, comer coró e beber água de coco, encontrar teus escritores e poetas, falar com tua gente, compartilhar com teus alunos e professores páginas de um livro didático que ainda está por vir.
Camocim...Vida longa! Parabéns a ti e aos teus!

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

V SC. 09. A RÁDIO PINTO MARTINS DE CAMOCIM.

Logomarca da Rádio Pinto Martins FM, 98,7.
A Rádio Pinto Martins foi a pioneira na radiofonia camocinense. Como dissemos na postagem anterior, as rádios na década de 1980 serviram para que os grupos políticos definissem uma nova estratégia de permanência do poder. Por muito tempo teve a sintonia de 1450 MHz. Atualmente não veicula mais em AM, tendo se constituído numa nova modalidade, no caso, rádio comunitária com frequência modulada (FM) atuando no prefixo, 98,7. Abaixo, o Decreto Lei da concessão para funcionamento da antiga Rádio Pinto Martins. 


Senado Federal
Secretaria de Informação Legislativa
DECRETO Nº 84.968, DE 28 DE JULHO DE 1980.
Outorga concessão à RÁDIO PINTO MARTINS LTDA., para estabelecer uma estação de Radiodifusão sonora em onda média de âmbito regional, na cidade de Camocim, Estado do Ceará.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando das atribuições que lhe confere o art.81, item III, combinado com o artigo 8º, item XV, letra "a", da Constituição, e tendo em vista o que consta do Processo MC nº 15.306/78 (Edital nº 99/78),
DECRETA:
Art. 1º Fica outorgada concessão à RÁDIO PINTO MARTINS LTDA., nos termos do artigo 28 do Regulamento dos Serviços de Radiodifusão, aprovado pelo Decreto número 52.795, de 31 de outubro de 1963, para estabelecer, sem direito de exclusividade, uma estação de radiodifusão sonora em onda média de âmbito regional, na cidade de Camocim, Estado do Ceará.
Parágrafo único. O contrato decorrente desta concessão obedecerá às cláusulas baixadas com o presente e deverá ser assinado dentro de 60 (sessenta) dias, a contar da publicação deste Decreto noDiário Oficial da União, sob pena de se tornar nulo, de pleno direito, o ato de outorga.
Art. 2º Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Brasília, 28 de julho de 1980; 159º da Independência e 92º da República.
JOÃO FIGUEIREDO
H.C. Mattos


Fonte: legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=199368

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

V SC. 08. A RÁDIO UNIÃO DE CAMOCIM

Fachada da Rádio União de Camocim 820 - AM. Foto: Aroldo Viana.


Na primeira metade da década de 1980, Camocim entrou na era da radiodifusão. A novidade veio a reboque das novas estratégias políticas de manutenção do poder. Desta forma, um grupo político que se prezasse tinha de ter um veículo midiático que lhe desse sustentação, no caso uma emissora de rádio. O governo federal, por sua vez, era pródigo em distribuir concessões de rádio para seus aliados no chamaro período de distensão da ditadura civil-militar. Daí que em Camocim o grupo político Coelhos/Veras não perdeu tempo e conseguiu colocar no ar a Rádio Pinto Martins, 1450 AM, funcionando na praça de mesmo nome, esquina coma rua Independência. Não demorou muito para que o grupo da família Aguiar conseguisse também sua concessão, com a Rádio União de Camocim , 820 AM (foto) com sede na rua Dr. João Thomé, defronte à praça Vicente Aguiar. Infelizmente, hoje, no dia dos radialistas, o rádio em frequência de amplitude modulada (AM) não está mais no ar. A Rádio Pinto Martins se transformou em FM na categoria comunitária. Já a Rádio União pediu a conversão de AM para FM junto à ANATEL e espera autorização. Abaixo, o decreto federal que institui a Rádio União de Camocim pelo Presidente Figueiredo em 1981, um ano após conceder tal benefício para funcionamento da Rádio Pinto Martins:

Senado Federal
Secretaria de Informação Legislativa

Decreto nº 86.168, de 29 de junho de 1981
Outorga concessão à RÁDIO UNIÃO DE CAMOCIM LTDA., para estabelecer uma estação de radiodifusão sonora em onda média de âmbito regional, na cidade de Camocim, Estado do Ceará.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando das atribuições que lhe confere o artigo 81, item III, combinado com o artigo 8º, item XV, letra "a", da Constituição, e tendo em vista o que consta do Processo MC nº 11.477/80 (Edital nº 33/80),
DECRETA:
Art. 1º - Fica outorgada concessão à RÁDIO UNIÃO DE CAMOCIM LTDA., nos termos do artigo 28 do Regulamento dos Serviços de Radiodifusão, aprovado pelo Decreto nº 52.795, de 31 de outubro de 1963, para estabelecer, sem direito de exclusividade, uma estação de radiodifusão sonora em onda média de âmbito regional, na cidade de Camocim, Estado do Ceará.
Parágrafo único - O contrato decorrente desta concessão obedecerá às cláusulas baixadas com o presente e deverá ser assinado dentro de 60 (sessenta) dias, a contar da publicação deste decreto no Diário Oficial da União, sob pena de se tornar nulo, de pleno direito, o ato de outorga.
Art. 2º - Este decreto entrará em vigor, na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Brasília, DF, 29 de junho de 1981; 160º da Independência e 93º da República.
JOÃO FIGUEIREDO

domingo, 20 de setembro de 2015

V SC. 07. AS PRIMEIRAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS EM CAMOCIM

Jornal "Pátria". março de 1910, p.2.


Após a Proclamação da República em 1889, o cenário político ainda não tinha experimentado uma promessa republicana: estender o direito de votar e ser votado. o site  do TSE contextualiza o que estava acontecendo em 1910:
"O ano de 1910 também foi marcado pela eleição para a Presidência da República. Em disputa, duas chapas com propostas claramente diversas, algo inédito no país. [...]De um lado, o militar gaúcho Hermes da Fonseca, apoiado por Nilo Peçanha, vice-presidente que havia assumido a Presidência após a morte de Afonso Pena, pelo Rio Grande do Sul e por Minas Gerais. Seu oponente foi o baiano Rui Barbosa, que angariou o apoio de São Paulo, de setores do Rio de Janeiro, da Bahia e de Pernambuco.
Hermes da Fonseca representava um projeto vinculado às ideias da oligarquia rural e da máquina estatal. Rui Barbosa, ainda que também um representante da elite do país, empreendeu uma candidatura com ares de renovação. Apresentava-se como um modernizador favorável à industrialização e à imigração. Barbosa foi, ao longo de boa parte da República Velha (1894-1930), um ícone nacional no sentido da eloquência e da cultura."
Em Camocim, mal a República havia se instalado no comando do país, as forças políticas se alinharam ao novo sistema de governo, instalando o Partido Republicano, dizem as atas da Câmara Municipal de Camocim. Em 1910, o comando do PR local ficou nas mãos do Coronel José Adonias de Araújo. Naquela época as eleições aconteciam em 1º de março e os resultados deixam evidências interessantes para compreendermos como as eleições eram feitas naquela época. Pois bem, vamos aos resultados: O Marechal Hermes da Fonseca (segundo dizem os mais velhos, aparentado com os Fonsecas de Camocim) e seu vice Wenceslau Braz, obtiveram 281 votos cada. Já o candidato oposicionista Rui Barbosa, o Águia de Haia, e seu vice Albuquerque Lins, obtiveram apenas 1 voto cada. Afora o inusitado do resultado das eleições (ou não tão inusitado para os padrões da época, em que as eleições eram feitas à "bico de pena") , resta saber quem foi o corajoso que votou em Rui Barbosa em Camocim.
Só para efeito de comparação, na vizinha cidade de Granja, nestas mesmas eleições, o Marechal Hermes e seu vice foram sufragados por 707 eleitores cada, e a chapa oposicionista recebeu 105 votos. Seria Granja mais politizada ou o voto de cabresto lá não era tão forte?

Fonte:http://www.tse.jus.br/institucional/escola-judiciaria-eleitoral/revistas-da-eje/artigos/revista-eletronica-eje-n.-5-ano-3/a-primeira-campanha-presidencial-2013-1910

sábado, 19 de setembro de 2015

V SC. 06. DE CAMOCIM À IPUEIRAS, QUANTO CUSTA A PASSAGEM DE TREM?

Jornal A Pátria. Anno I, nº 30. 31.10.1910. Sobral-CE.


Na década de 1910 os trilhos da Estrada de Ferro de Sobral ainda não chegara ao seu destino final, Crateús, na fronteira com o estado do Piauí. A ferrovia, cujo primeiro trecho entre Camocim e Granja foi inaugurado em 1881, em 1910 já atingia a cidade de Ipueiras. A cada estação inaugurada, ou a cada reajuste dos preços, os mesmos tinham ampla divulgação nos jornais da época. Deste modo, o jornal A Pátria da cidade de Sobral trazia em 31 de outubro de 1910, os preços de passagens de 1ª e 2ª classes, a partir de Sobral, pelo intinerário de Camocim, Granja, Angica (atual Martinópole), Riachão (atual Uruoca), Pitombeiras (atual Senador Sá), Massapê, Cariré, Santa Cruz (atual Reriutaba), Pires Ferreira, Ipu e Ipueiras. Vale ressaltar que ao comprar o bilhete de ida e volta, tinha-se um desconto interessante conforme mostra a tabela (foto). Quem quisesse ir, por exemplo, de Camocim a Sobral em Primeira Classe pagaria 9:000 (nove mil réis). Já de Segunda Classe, o bilhete custaria 6:000 (seis mil réis). Para além dos preços praticados, seja em qualquer classe, o mais interessante naquela época era a integração econômica e social que a ferrovia promovia na região norte do Ceará, atuando como meio de transporte de pessoas e cargas.

Fonte:Jornal A Pátria. Anno I, nº 30. 31.10.1910. Sobral-CE.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

V SC 05. O AVIÃO-NAVIO. O DOX ALEMÃO EM CAMOCIM

DOX em pleno voo. Fonte: Jornal "A Esquerda, 03.08.1931, p.2



Camocim, por sua posição estratégica em relação à África e Europa foi um ponto de abastecimento de aeronáutico, num tempo em que a aviação não tinha tanta autonomia e era dominada pela tecnologia dos hidroaviões. No começo do século XX, fomos visitados por vários raids aéreos, dentre eles, o do conterrâneo aviador Pinto Martins em seu voo célebre de 1922 que ligou Nova Iorque ao Rio de Janeiro. Os mais antigos viram zepelins sobrevoando nossa cidade e o incomparável hidroavião alemão Dornier X, tão grande que era chamado de navio voador (foto). A matéria do jornal A Época de  03 de agosto de 1931 traz a notícia de que o referido hidroavião não voltaria mais à Alemanha, posto que fora vendido aos americanos para servir de transporte de passageiros e correio aéreo entre Nova Iorque e a América do Sul, tendo a Argentina como ponto final. Foi nessa viagem da Alemanha para os EUA que o DOX passou por Camocim, cujas memórias já foram contadas por outros escritores. Camocim estava na escala da viagem entre outros pontos como Salvador, Natal, Recife, São Luiz, Belem, Paramaribo, Miami, dentre outros. Como afirmam os testemunhos da época, a passagem do DOX por Camocim causou alvoroço, posto que foi o único lugar do Ceará que ele amerrisou, para as devidas tarefas de reabastecimento.

Fonte: Jornal A Esquerda, Rio de Janeiro, 03 de agosto de 1931, p.2.
















terça-feira, 8 de setembro de 2015

V SC. 04. UM SETE DE SETEMBRO DE ANTIGAMENTE... EM CAMOCIM


Camocim. 1952. Desfile de Sete de Setembro. Foto; arquivo do blog

O que pode nos mostrar um "Sete de Setembro" além do desfilar das representações da sociedade civis, escolares e militares diante de populares e um palanque de autoridades? E se esse momento estiver congelado numa fotografia? Muitas coisas podemos perceber numa imagem, como tentar reconhecer as pessoas na foto, objetos, prédios e, no caso de um desfile, as entidades representadas. No caso da foto acima, referente ao Sete de Setembro de 1952, (na foto original, sem cortes, estava datada à caneta no canto inferior direito) além de ser possível identificar alguém, podemos ver que o desfile fazia a virada da Rua Dr. João Thomé e tomava a Rua Esplanada do Porto (atual Beira-Mar). O povo parecia acompanhar andando o desfile que já estava no seu final, com os pelotões militares, que normamente fecham a parada cívica. Percebe-se ainda que a rua ainda não tinha calçamento. Ao fundo, no cruzar das ruas, aparece o prédio onde funcionou a Casa de Cultura, na Rua Dr. João Thomé e em primeiro plano, compondo boa parte da foto, uma casa assobradada que foi de propriedade da família Sabóia com traços característicos de arquitetura colonial, substituída hoje por uma outra construção. E você, o que ver na foto além de um mero desfile num distante ano de 1952?

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

V SC. 03 - A LEI DA BALA E A IMPRENSA EM CAMOCIM.





Jornal O Ceará. Fortaleza, 12/03/1928, p.7
Não é de hoje que os ditos "homens de imprensa" são vítimas da violência. O preceito constitucional da livre expressão quase sempre era soterrado pela lei do mais forte ou como sugere a matéria jornalística aqui apresentada, pela "lei da bala". Voltemos pois, aos acontecimentos em Camocim no ano de 1928. Era tempo de eleição e o jornalista Francisco Theodoro Rodrigues (Chico Teodoro) com seu jornal "O Operário", fazia campanha para eleger uma representação dos trabalhadores à Câmara Municipal. Naquela época, o sistema eleitoral permitia que os partidos políticos distribuíssem as cédulas já votadas para os eleitores, que só tinham o trabalho de ir á seção para depositá-la na urna. Deste modo, o jornalista denuncia em carta para outro jornal, "O Ceará", como as coisas se sucederam em Camocim quando ele e outros companheiros tentaram fazer uma reunião com os sócios da Sociedade Deus e Mar para distribuir as cédulas, que naquela época congregava portuários e estivadores, principalmente. Vejamos trechos dessa carta: "Na hora em que íamos abrir a porta do edificio em que funcciona esta sociedade, o delegado de polícia local, á frente de um contigente de soldados armados nos intimou a abandonarmos a idéa da alludida reunião. Allegamos que tanto os estatutos de nossa sociedade como a Constituição da Republica nos garantia esse direito, tendo como resposta, de um sobrinho do delegado, o sr. José Carlos Véras, que a lei era bala (bala nelles!) [...] Hoje, quando se começava a distribuir as chapas eu, apezar e socio da "Deus e Mar", fui, injustificavelmente e violentamente, preso, conduzido ao xadrez e conservado incommunicavel. A maioria do eleitorado aqui é operária e a victoria dos nossos candidatos seria certa se a lei do "bala nelles", não imperasse, irritantemente com ostensivo menosprezo a todas as garantia e direitos eleitoraes. [..] Nem esta carta saberei se chegará à vossas mãos. São nove horas e a luz do cubiculo é pessima.
O director de "O OPERARIO"
Estamos em pleno século XXI, mas, de vez em quando, por este e outros motivos, uma voz se cala.
Fonte: Jornal "O Ceará". Sexta-feira, 12 de março de 1928, p.7.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

V SC - 02. OS AMIGUINHOS DE CAMOCIM. AS NOSSAS CRIANÇAS NA REVISTA TICO TICO

Crianças camocinenses na Revista Tico-Tico. 1926, Nº 10, p.88.

A mídia sempre foi fascinante, independente do tempo e do espaço. Ter seu nome nela de forma positiva é um colírio para os olhos e uma massagem no ego. Em tempos de blogsfera aparecer neste ou naquele blog é sinal de status, que o diga quem vez por outra é matéria do Camocim Online. Mas, voltando ao nosso assunto, trazemos um pouco da mídia de outrora. Deste modo, aparecer num veículo do quilate da Revista Tico-Tico do Rio de Janeiro era a glória. É o que parece ter acontecido com os pais e as crianças camocinenses que vez por outra eram retratadas na seção Os Nossos Amiguinhos da primeira revista brasileira voltada para o público infantil, que circulou entre 1905 e 1962, trazendo "passatempos, mapas educativos, literatura juvenil e informações sobre história, ciência, artes, geografia e civismo". Naquela época as relações econômicas, sociais e políticas de nossa cidade eram travadas mais com o Rio de Janeiro do que Fortaleza, o que explica a referência à nossa cidade em jornais e revistas cariocas. Na edição 398 de 1913, a Revista Tico-Tico estampa a foto de Carlos Cavalcante, filho do Sr. Walmory Cavalcante. Já no ano de 1926, edição 10, p.88 (foto acima), são apresentadas as crianças Aldenora Ximenes de Mello e Tobias Monteiro, representantes de famílias importantes do Camocim de outrora.

Fontes consultadas:
http://bndigital.bn.br/artigos/o-tico-tico/
Revista Tico-Tico. RJ, 1913 e 1926.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

V SC - 01. NOTÍCIAS DE CAMOCIM EM 1900. JORNAL O TUPY

O Tupy. Anno 1. Camocim-CE, 14 de agosto de 1900. Nº 3. 

Já sabemos que Camocim foi uma cidade com uma imprensa fértil. Infelizmente, pouco restou dessas folhas de outrora, noticiosas,literárias, satíricas, humorísticas e partidárias. Muitas não passaram do primeiro número, mas, representaram um período em que as ideias precisavam ser escritas e defendidas através dos jornais diários, semanais, quinzenais ou mesmo mensais. Nesta postagem vamos destacar o jornal O Tupy, mas precisamente o único número preservado na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, de 14 de agosto de 1900Anno 1, nº 3, que tinha como redatores Américo Pinto e Benedicto Moreira. Nas quatro páginas, uma pequena amostra do que acontecia naquele ano. Na primeira página, o editorial já denunciava as precariedades que passava nosso porto, através do título Nossa Barra. O editorialista chamava a atenção para os encalhes dos navios devido "a inepcia de um dos nossos praticos que não tem conhecimento algum dos canaes, visto que nunca os praticou", e pedia o afastamento do mesmo. Ainda na primeira página um artigo sobre a seca que assolava o município, denunciando o flagelo e pedindo a proteção divina para o povo cearense (Infeliz Terra). Na página 2, uma poesia (Logogripho)  e um conto (Nossa Mãe, de Benedicto Moreira) dão um toque literário, além de fazer referência ao próximo número que seria em homenagem aos 78 anos de nossa Independência. Na terceira página encontra-se a continuação da página anterior e duas pequenas peças literárias: Ao Romper da Aurora, de F. M. Carneiro e Resolução assinada por alguém com o pseudônimo de Cauby. Na quarta e última página temos uma seção de charadas e uma matéria,  intitulada de  A Bengala, ensinando como usá-la em código, "offerecido aos namoradores". Exemplo: "Encostal-a ao queixo: preciso falar-te. Bater com ella na mão: Gosto muito de ti." Para arrematar, uma propaganda da Mercearia Carioca numa historieta humorística onde dois homens discutem sobre quem vende mais barato em Camocim. Era assim os jornais de outrora!

Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

V SETEMBRO CAMOCIM - MAIS UM POTE DE HISTÓRIAS!





Amyr Klink, o navegador solitário, uma celebridade no Brasil, tendo publicado diversos travelogues sobre suas arrojadas expedições náuticas – que inclui a travessia do Atlântico em um minúsculo barco a remos e uma audaciosa circunavegação da Antártica em um veleiro – disse da cidade em que nasci, ser o maior museu a céu aberto de construção náutica artesanal no país, quando por lá passou no início desta década. Era para ter ficado um par de dias. Ficou semanas, encantado com a perícia dos artesãos náuticos locais. (Rui Vasconcelos, Água quebrada a frieza, 18/10/2010)

Caros conterrâneos, como fazemos há quatros anos, iniciaremos hoje mais um SETEMBRO CAMOCIM, nossa singela contribuição à história do município, em alusão ao mês de aniversário de nossa emancipação política. Veicularemos aqui e no blog CAMOCIM POTE DE HISTÓRIAS, postagens e matérias que espero, despertem o nosso gosto pelas coisas de nossas terras, preservando-as e ressignificando-as. Está aberta a temporada do V SETEMBRO CAMOCIM, que trará sempre uma epígrafe de alguém que escreveu algo sobre nossa terra, como a que acima Rui Vasconcelos assina e pode ser acessada em sua totalidade no endereço:
www.etudogentemorta.com/2010/10/agua-quebrada-a-frieza/

sábado, 29 de agosto de 2015

O POLO SALINEIRO DE CAMOCIM

Revista Tico Tico. RJ. Março-abril de 1959
No reconhecimento da região de Camocim pelos holandeses no século XVII, as informações sobre nossas salinas já constavam dos documentos como possibilidade de exploração econômica. Desta forma, o sal se constituiu num produto importante na pauta de exportação do nosso município, além do porto de Camocim servir como escoamento da produção de Barroquinha e Chaval.  O sal, portanto se tornou uma crescente indústria em Camocim, favorecida pelos terrenos baixos, próximos ao mar, próprios para a construção de salinas. Hoje, esses antigos espaços são usados para a implantação de fazendas para a criação de camarão e cativeiro. O sal produzido em Camocim era vendido para o norte e sul do país chegando a produzir até 100 mil toneladas/ano. Nos anos 1960 era o principal produto econômico do município, contribuindo com 54,1 % do valor total da produção da cidade e empregava 765 operários em 10 salinas. Com a desativação do ramal ferroviário, a indústria salineira de Camocim teve seu movimento diminuído em cerca de 20%. O preço dos fretes rodoviários era 50% mais caro que o transporte ferroviário, prejudicando produtores e causando desemprego com o fechamento e falência das moageiras de sal. Para termos ideia da produção, no ano de 1983, foram produzidas 30 mil toneladas que foram vendidas ao preço de 255 milhões de cruzeiros. Mesmo não sendo a atividade econômica mais importante, em 2011, produziram-se em Camocim dezenove mil toneladas; vinte mil em Chaval e nove mil em Barroquinha. Segundo dados informados pela Salina Trindade, a única em funcionamento no município, atualmente, a produção dos últimos dois anos variou entre dez e vinte mil toneladas. Ainda está na memória das pessoas nomes de salinas antigas como Martinelli, Porangaba, São Pedro, dentre outras. Como representante dos trabalhadores salineiros, existe o Sindicato dos Trabalhadores da Extração do Sal de Camocim. Na edição de março-abril de 1959, a Revista Tico-Tico do Rio de Janeiro, destacava a produção de sal no nordeste brasileiro e destacava os "portos nordestinos de Camocim, Aracati, Areia Branca e Macau", como os principais exportadores do produto.