sábado, 19 de dezembro de 2020

O PARLAMENTO CAMOCINENSE

 

Capa do livro "O Parlamento Camocinense". 2020. Camocim-CE.


Acaba de ser editado pela Editora Sertão Cult, com patrocínio da Câmara Municipal de Camocim o livro "O Parlamento Camocinense. Fatos históricos. 1879-2019", de nossa autoria. A referida obra é resultado de nosso trabalho junto ao Memorial do Legislativo Camocinense, que tem por objetivo a preservação e publicação da história do poder legislativo e do município.
Além de se referir aos primeiros documentos da Câmara Municipal e da transição política do Império para a República e sua repercussão em Camocim, o livro traz ainda uma seleção de fatos do cotidiano de nosso município que foram discutidos e registrados nas atas das sessões do legislativo camocinense, como projetos dos vereadores e dos prefeito(a)s, reivindicações da sociedade organizada, disputas políticas, cassações de prefeitos, dentre outros assuntos.
Finalizando, a obra traz também as atas de posses dos presidentes da Câmara Municipal e dos prefeitos de Camocim e uma relação dos títulos de cidadãos camocinenses ao longo do tempo.
A obra se configura mais como um registro das ações do legislativo camocinense, dando publicidade a seus atos, do que propriamente uma análise da história política do município. É um livro para o leitor ler e tirar suas próprias conclusões.
Agradecemos o apoio do atual presidente da Câmara Municipal de Camocim, vereador César Veras, pela publicação do livro, que brevemente será distribuído entre as escolas, bibliotecas e entidades camocinenenses, e disponibilizado eletronicamente no site da entidade.

Ficha Técnica:

Título: O Parlamento Camocinense. Fatos Históricos. 1879-2019.
Autor: Carlos Augusto Pereira dos Santos.
Ano: 2020.
Editora: Sertão Cult. 
Local: Sobral-CE.
Nº de páginas: 320.
Dimensões: 15cm x 22cm.
Tiragem: 300 exemplares.


quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

O DIA DO SAMBA É CRIAÇÃO DE UM CAMOCINENSE

ANÉSIO FROTA AGUIAR. Fonte: CEDIM.

Em tempo de pandemia, a data passou quase despercebida. Até o carnaval já foi adiado. Mas,  como expressão musical, o SAMBA também tem seu dia, 02 de dezembro. No entanto, poucos sabem que a efeméride está intimamente ligada a um camocinense. Pois é, trata-se de Anésio Frota Aguiar, já referido em outras postagens neste blog como político.
E como deputado estadual, ele foi autor da Lei nº 681, em 19 de novembro de 1962, "que redundaria, em 28 de julho de 1964, a Lei nº 554 que criou definitivo o "DIA DO SAMBA" e fixou em 02 de dezembro, coincidindo com a data em que foi encerrado o I CONGRESSO NACIONAL DO SAMBA". (p.17).
Segundo o autor da lei, no livreto de sua autoria intitulado "O Samba e sua História" (1991. Editora Cátedra, p. 18), nos diz:

"Deputado na época e acompanhando de perto o acontecimento, senti a imperiosa necessidade de fixá-lo na memória dos pósteros, impedindo que tão importante evento viesse a se desvanecer na poeira do tempo. Daí a minha iniciativa de criar O DIA DO SAMBA".
Para termos uma ideia da grandiosidade deste evento ocorrido no Rio de Janeiro, estavam presentes "figuras exponenciais do movimento artístico e musical da época, tais como Almitante, Ari Barroso, Pascoal Carlos Magno, maestro José Siqueira, Paulo Tapajós, Haroldo Costa, Sérgio Cabral, Donga, Araci de Almeida, e muitas outras personalidades de nossa cultura popular". (p.18).

A data de 02 de dezembro foi escolhida por marcar legalmente, naquela época, o começo dos ensaios das "referidas escolas, visando o carnaval do ano seguinte". (Almanaque do Samba).

O projeto aprovado na Assembleia do Estado da Guanabara foi vetado pelo governador Carlos Lacerda, mas se tornou lei com a derrubada do veto pelos deputados guanabarenses.

Fonte: baraulhodeagua.com



Com  o tempo a data foi se consolidando como Dia Nacional do Samba.

Fonte: AGUIAR, Frota. O Sambra e sua história. Rio de Janeiro, 1991. Editora Cátedra.

www.almanaquedosamba.com.br/perfil-de-a-z/destaques/item/999-a-origem-do-dia-nacional-do-samba

barulhodeagua.com



 

terça-feira, 3 de novembro de 2020

DONA FOSCA E PAULA HÉLVIA - PROFESSORAS DO CAMOCIM


                            Escola Brown Boveri, 1963, São Paulo. Fotografia de Hans Gunter Flieg / Acervo Instituto Moreira Salles.

As memórias são excelentes fontes para a história. No mínimo são rastros que podem nos levar a interessantes caminhos para a história de uma cidade. 
É o que acabo de ler no livro "O mundo que eu vi.blog" do granjense Agenor Bevilaqua, editado por ele em 2008. Em suas reminiscências, traz um pouco de sua vida de estudante em Camocim, nas crônicas "Dona Fosca" e "Anos de Mudança". Em ambos os escritos, o autor confessa sua paixão de "jovenzinho sempre propenso a se apaixonar por sua professora" (p.77).
Para o historiador, fica a "deixa" para investigar um pouco mais sobre estas professoras que atuaram na cidade entre as décadas de 1930 a 1940.
Por enquanto, fiquemos com as lembranças de Agenor sobre "Dona Fosca" e Paula Hélvia Camargo Lima. Ele dedica um espaço maior para Dona Fosca Casarotti Farias, descendente de italiana, "paulista de Santo André" que, na Revolução de 1930, apaixonou-se por um soldado, "natural de Camocim, Hermenegildo Farias, apelidado de Manin, pobre e 9 anos mais velho que ela. Soube que Dona Fosca era filha de pais abastados no ABC paulista e que deixara sua família e sua terra para acompanhá-lo"(p.40).
Resta saber o que um camocinense estava fazendo em São Paulo para se tornar soldado da Revolução de 1930 e como encontrou uma paulista com ascendência italiana.
Mais de 40 anos depois, Agenor tenta localizar a antiga professora e acabou achando seu esposo que lhe deu a informação: "que minha musa falecera, vítima de tifo no dia 02 de abril de 1933, na cidade de Massapê. Ela estava acompanhando o marido em suas andanças a trabalho" (p.41).
Com relação à Paula Hélvia, Agenor a descreve como "não tendo a beleza de Fosca, mas era amável e para mim adorável, como fora a outra" Numa viagem que fizera a Camocim em 1938, para tratamento de saúde, reviu a professora e lhe deu um livro de presente, que o mesmo não lembra "se foi 'O Bobo' ou 'Eurico, o Presbítero'" de Alexandre Herculano.(p.77).
Com suas recordações, Agenor Bevilaqua acabou colocando na histórias mais duas mestras na história da educação de Camocim.

Fonte: BEVILAQUA, Agenor. O mundo que eu vi.blog.  São Paulo, 2008. Fonte: http//omundoqueeuvi.blog.com.


quinta-feira, 15 de outubro de 2020

O BACHARELISMO E A POLÍTICA EM CAMOCIM.

 

Símbolo do Direito. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/380554237247529107/


                “É preciso lembrar que a maior parte dos políticos que galgaram posições políticas de comando na estrutura do poder do Estado, tiveram formação jurídica; todavia, é igualmente verdade que a maior parte dos bacharéis formados, preparados para integrar os quadros burocráticos estatais, foi atuar nas delegacias de polícia, nos gabinetes executivos setoriais – provinciais e municipais -, nas promotorias e varas judiciais locais, na vereança”.  (ADORNO, 2019, p.181).

                O trecho acima se refere a uma conjuntura do século XIX no Brasil. Contudo, semelhanças e diferenças se fazem presente no nosso cenário político, embora, este fenômeno se dê em menor grau e, só agora, possa ser melhor percebido.

Outrossim, se fizermos uma breve pesquisa, veremos que o posto maior da república brasileira - o de Presidente da República-, veremos que em sua grande maioria foi ocupado por advogados em toda sua história. Hoje, mais do que uma profissão que parece ser rentável (em Camocim, praticamente em cada esquina do centro comercial encontramos escritórios de advocacia, com mais de um causídico com seus nomes e “Drs” estampados, afora aqueles que advogam em casa ou não possuem ainda a carteira da OAB), os operadores do Direito flertam constantemente com o desejo do bacharel em se tornar um político, direito, aliás, de qualquer cidadão em pleno gozo dos seus.

                Fazendo estas relações, vê-se que em Camocim, vereadores, que depois que exerceram seus mandato,s fizeram o Curso de Direito, como José Genésio Vasconcelos (hoje procurador jurídico da Câmara Municipal de Camocim), José Ferreira Lopes (Zé Paraíba), e Sérgio de Araújo Lima Aguiar (Deputado Estadual). Atualmente, com o título de Bacharel em Direito exercendo mandado de vereador temos Marcos Antônio Silva Veras Coelho, além de Antônio Emanoel de Almeida Sousa e José Jeová Vasconcelos, graduandos na mesma área.

 

                Dos atuais candidatos ao pleito de 2020 e que se declararam serem advogados ou estando cursando Direito junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Mário Roberto Ferreira Lima, Ivanaldo Coutinho do Nascimento, Rosivan Nascimento e Maria Eduarda de Oliveira Pereira, tentam chegar pela primeira vez ao cargo de vereador.

No plano do Poder Executivo, a relação política e formação jurídica também se verifica. A atual prefeita de Camocim, Mônica Gomes Aguiar, é bacharel. Maria Elizabete Magalhães (Profa. Betinha), uma das candidatas à Prefeito de Camocim em 2020, há pouco mais de um mês, graduou-se em Direito.


FONTE: ADORNO, SÉRGIO. Os Aprendizes do Poder. São Paulo: EDUSP, 2019, p.181.


terça-feira, 29 de setembro de 2020

CAMOCIM 141 ANOS (X SETEMBRO CAMOCIM. 2020. Nº 7).

 


Praia  do Pantanal. Camocim. 2019. Foto: Carlos Augusto P. Santos.

Ressaltar as belezas, a história e a cultura do nosso povo no dia hoje é quase pleonasmo. Como historiador,  busco sempre aquilo que pouco sabemos, para lembrar daquilo que quase todos esquecemos. Daí a tarefa dupla do pesquisador de história: recuperar o que está meio obscuro e não deixar cair no esquecimento nossas referências identitárias.

Neste sentido, mais importante do que saber o que significa a palavra CAMOCIM, é compreender como se deu o povoamento de nosso território pelos vários povos nativos e como aqui chegou o negro escravizado. Mais do que  saber quais foram as primeiras famílias a se instalarem no município e  como fincaram suas bases de poder, é entender como seu deu a dinâmica desse poder através dos tempos.

Historiograficamente falando temos um grande caminho a percorrer. O porto e a ferrovia  não bastam para explicar o  que foi Camocim no final do século XIX e primeiras décadas  do século XX, quando despontávamos como um dos municípios mais prósperos do Ceará. A "Cidade Vermelha"  da militância comunista não contempla o seu oposto - a atuação dos integralistas e  os movimentos de direita que existiram por aqui. Pinto Martins é um ícone que não ofusca os milhares de atores comuns que deixaram suas marcas na história que precisam ser recuperadas, para que a história fique mais próximas de nós!

De qualquer  modo, a data de hoje serve para que voltemos mais nossas atenções para a história do município, entendendo a importância que cada habitante tem para a construção permanente e atualizada da identidade de ser camocinense. Parabéns CAMOCIM. 


sábado, 26 de setembro de 2020

CAMOCIM DE ALMANAQUE (X SETEMBRO CAMOCIM 2020. Nº06).

Balaustrada de Camocim. 2020. Autor: Nagib Melo.



Já disse mais de uma vez neste espaço que os almanaques são importantes fontes para a história. Como uma fotografia, revelam o instante do objeto focalizado. Assim como os calendários, eram esperados ao fim de cada ano, trazendo as atualizações dos lugares, os números e as mudanças administrativas.

Voltemos o olhar para o distante ano de 1911, quando Camocim comemorava apenas o 32º aniversário de emancipação política. Neste ano, nem sequer éramos uma comarca, pois pertencíamos à de Granja, e os nossos distritos eram Barroquinha, Almas (Bitupitá) e Gurihú (ainda escrito com "h").

No entanto, em 1911, a Câmara Municipal já tinha publicado o seu Código de Posturas (1908) com 245 artigos, o segundo desta natureza, já que o primeiro fora aprovado em 1886. Ainda no ano de 1908 a Câmara fez publicar um Memorial Histórico da Cidade organizado por Antonio Philadelpho Pessôa, em comemoração ao Primeiro Centenário da Abertura dos Portos do Brasil ao comércio internacional. Este trabalho é o primeiro esforço de escrita de história do município (título raríssimo!) feito especialmente para representar Camocim na Exposição Nacional daquele ano.

Em 1911 o Porto de Camocim era considerado o melhor do estado,  tendo 02 armazéns e cinco pontes (trapiches), um farol e bóias que iluminavam a barra, uma pequena casa para observações mareográficas e um galpão que servia como posto fiscal da Recebedoria do Estado. 
A Empresa de Navegação L. Lorentzen, de origem norueguesa, atuava em  Camocim nessa época, mantendo regularmente com os vapores Rio, Ipu, Sobral Camocim as seguintes linhas: de Pernambuco a Manaus e de Camocim ao Pará.

Na Praça  da Matriz estavam em construção em 1911, dois poços artesianos. A população era de 6.000 habitantes e os eleitores somavam apenas 544 eleitores (1909).



FONTE: Almanaque Laemmert, 1911, ed.68, p.392.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

ERNESTO GURGEL VALENTE. (X SETEMBRO CAMOCIM. 2020. Nº.5)

 

Ernesto Gurgel Valente. Cartaz da campanha politica de à Câmara Federal de 1974.
Fonte: aracatiemfoco.com

Das minhas lembranças das eleições de outrora,  o cartaz acima é uma das primeiras que fixei na memória. Trata-se do aracatiense Ernesto Gurgel Valente(1913-2002), candidato à Deputado Federal em 1974, que tinha tinha como slogan "O homem do caju e da castanha", ou algo parecido. Em Camocim, foi apoiado pelo líder político Murilo Rocha Aguiar que, àquela época, encontrava-se cassado pelo regime militar.

A campanha política em Camocim, como sempre, mostrava o acirramento dos grupos em disputa, apesar dos mesmos estarem no partido do governo - a ARENA (Aliança Renovadora Nacional), o que demonstrava uma certa contradição, pois, o grupo liderado por Murilo Aguiar concorria no partido do governo que caçara seus direitos políticos.

Apresentados os candidatos, a família Veras/Coelho apoiou para Deputado Federal Francisco Humberto Bezerra e Deputado Estadual Francisco Fonseca Coelho. Já a família Aguiar trabalhou para a eleição de Ernesto Gurgel Valente (Deputado Federal) e o camocinense Coronel Libório Gomes da Silva (Deputado Estadual).

Aberta as urnas, os votos confirmaram a disputa acirrada. Para Deputado Federal, os então chamados "Fundo Moles" venceram por uma diferença de 183 votos (Humberto Bezerra 3.227 e Ernesto Gurgel Valente 3.044). Para deputado estadual, cujos números, teoricamente serviriam de um parâmetro mais aproximado para as eleições para prefeito dois anos depois, os "Cara Pretas" venceram com uma margem de 383 votos. (Cel. Libório obteve 3.640 votos contra 3.057 de Fonseca Coelho).

No entanto, na eleição seguinte para prefeito, a teoria não prevaleceu e os "Fundo Moles" venceram com Edilson Veras Coelho. Mas, essa é outra história!


Fontes:

aracatiemfoco.com

apps.tre.ce.jus.br


quarta-feira, 23 de setembro de 2020

BANCO DO BRASIL. (X SETEMBRO CAMOCIM. 2020. Nº4)

Agência do Banco do Brasil. Camocim. Foto: Camocim Online.

O Banco do Brasil em Camocim é mais uma das instituições centenárias existentes no município. Neste espaço já comentamos sobre sua inauguração em janeiro de 1919, sendo nossa agência a primeira do interior cearense e a 39ª no Brasil.
Em 1998 sugerimos uma publicação para marcar o centenário da instituição bancária em nossa cidade ao gerente da época, que não manifestou interesse nenhum, justificando-se obviamente na burocracia do banco e dos seus limites de atuação neste campo.
Num momento em que assistimos gestões de privatização do BB (vez por outra aparece esta ideia)  e que sua carteira agrícola (uma das maiores do banco) é vendida para o banco onde um dos maiores acionistas é o próprio Ministro da Economia, resta-nos a história.
Quando da necessidade de evoluirmos de uma simples sucursal para uma agência, que depois se mostrou uma das mais rentáveis do interior cearense, os encaminhamentos eram outros, como mostra algumas notícias do jornal "Folha Litoral", editado em Camocim, no ano de 1918:
1. Em agosto de 1918, o funcionário da Agência do Banco do Brasil de Belém do Pará, Antonio de Lima e Silva chegou a Camocim para escolher um prédio para funcionamento do banco e "gerir a agencia que deverá em breve se instalar nesta praça". 
2. Ainda no mesmo mês, saiu pelo mesmo jornal, a informação de que os "capitalistas" e banqueiros, Srs. Nicolau & Carneiro "promptificaram-se a construir em terreno proprio, o predio onde tem de installar-se a Agencia do Banco do Brasil nesta praça, de acordo com as exigencias para o bom funcionamento desse estabelecimento".

Em todos os tempos, os interesses movem a história!


Fonte: Jornal Folha do Littoral.  Camocim-CE, edições 08 e 09, agosto de 1918.
Foto: Camocim Online.


 

terça-feira, 22 de setembro de 2020

OS TELÉGRAFOS. (X SETEMBRO CAMOCIM. 2020. Nº 3).

 

Notícia de inauguração dos telégrafos em Camocim.
Fonte: A Razão. Fortaleza. edição 68, 30 de maio de 1929.


Com a decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) sobre a questão da greve nos Correios e Telégrafos, mais uma greve na estatal parece estar por terminar, com um ganho de míseros 2,6% de reajuste salarial. As conversas nos bastidores do governo atual tendem para a privatização de um dos serviços mais antigos do país e de uma empresa que já foi a referência de credibilidades dos brasileiros.
No entanto, nem sempre correios e telégrafos foram serviços que funcionaram juntos. Muitas vezes, tinha-se um e inexistia o outro. Em Camocim, os correios já funcionavam pelas linhas de navegação e pela Estrada de Ferro de Sobral (EFS), desde o final do século XIX. Posteriormente, os aviões do Correio Aéreo Nacional (CAN) faziam uma parada em Camocim. O telégrafo, por sua vez, era um serviço atrelado ao funcionamento da estrada de ferro.
Como repartição federal conjunta (Correios e Telégrafos) em nossa cidade, somente no final da década de 1920 é que a estação telegráfica foi inaugurada, conforme notícia veiculada no jornal A Razão, edição de 30 de maio de 1929 (ver recorte de jornal acima). Portanto, este serviço em Camocim, completou 90 anos.
Em 1932, o chamado "governo revolucionário" de Vargas inaugurou o prédio definitivo que ainda hoje abriga a sede da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT) em Camocim,  que em breve pode ser adquirido por gigantes do comércio varejista.

sábado, 19 de setembro de 2020

ESCOLA BATISTA DAS NEVES. COLÔNIA DOS PESCADORES. (X SETEMBRO CAMOCIM. 2020. Nº.02)

 

Escola Batista das Neves. Camocim. 1941. Fonte: A Voz do Mar. RJ, edição 177, p. 19.

Na trajetória da educação de Camocim ainda existem muitas histórias a serem desvendadas. Antes de termos um efetivo sistema escolar municipal e estadual de ensino, muitas escolas funcionaram esporadicamente ou com alguma regularidade em diversos espaços, notadamente associativos, sindicatos, igrejas, dentre outros. Sempre que descobrimos estas iniciativas do passado, registramos aqui neste espaço.

Hoje focalizaremos uma escola que funcionou da Colônia dos Pescadores. Muitos camocinenses já estudaram em diversas escolinhas que funcionaram nesta associação localizada no Bairro da Praia, com  diversas denominações, principalmente filhos de pescadores. Trata-se  da Escola Batista das Neves que, no ano de 1941, foi registrada  pela revista A Voz do Mar, editada no Rio de Janeiro.

Como se pode observar na foto acima, a professora está no centro, ladeada por 47 crianças de  idades  e tamanho variados, meninas e meninos,  o que sugere uma escola de natureza mista. A matéria não traz maiores informações a não ser a foto da turma de alunos com a professora e notícias de outras colônias de pescadores do Ceará, numa reportagem que acompanhava uma visita de inspeção às colônias de pescadores do Brasil.

Em 1941, a entidade representativa dos pescadores em Camocim era a Colônia dos Pescadores Z-17, e a diretoria era composta por Vital Ferreira da Silva - presidente; Manoel Agostinho dos Prazeres - secretário e Francisco Barros da Silva, tesoureiro. Por outro lado, não obtemos informações sobre quem seria "Batista das Neves", detalhe para pesquisas posteriores.
  
Fonte: A Voz do Mar. RJ. 1941. edição, 177.


sábado, 5 de setembro de 2020

A SIMBIOSE HOMEM-NATUREZA. (X SETEMBRO CAMOCIM 2020. Nº. 01)

Foz do Rio Coreaú. Camocim-CE. Foto: Leopoldo Kaswiner. 


Abrindo mais um SETEMBRO CAMOCIM (Décima edição - 2020), vamos dar uma parada naquelas matérias sobre política do passado (mas, nem tanto!) para evidenciarmos a nossa história local que, neste ano de pandemia, será um pouco diferente. Para começarmos vamos nos valer de mais uma preciosidade revelada dos arquivos do livreiro Trata-se de um cartão postal, intitulado "Foz do Rio Coreaú - Camocim-Ceará", de Leopoldo Kaswiner, retratando a faina do pescador camocinense. A foto não traz a data e o efeito em preto e branco parece remeter para um passado em que as dunas ainda tinham alguma cobertura vegetal, num tempo em que nelas se plantava salsa para impedir o assoreamento do canal natural do rio. Neste trabalho, realizado antigamente, muitas pessoas foram empregadas para tal fim, tanto no sentido de mitigar os efeitos da fome e da seca (inclusive usando-se mão de obra vinda de outras cidades como Ipu e Crateús), quanto para a fixação propriamente ditas das dunas móveis do Outro Lado (ou do Morro da Testa Branca para os mais velhos), da agora famosa Ilha do Amor.
No entanto, por ser uma foto de Leopoldo Kaswiner, especialista em fotografar as paisagens marítimas (embora ele trafegue por outros territórios com a mesma sensibilidade), acredito que a foto seja de décadas recentes. Leopoldo Kaswiner é o autor das fotos do livro "Sítio Histórico de Sobral - Monumento Nacional", além de várias obras e exposições fotográficas e está em plena atividade. Vamos tentar um contato com ele para precisar a data da foto que ilustra esta postagem.
Camocim, 05/09/2020. 174 dias de isolamento social.

Foto: Foz do Rio Coreaú - Camocim-Ceará. Leopoldo Kaswiner. Arquivo:
Francisco Olivar Olivar
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segunda-feira, 17 de agosto de 2020

O FUNCIONALISMO PÚBLICO DE CAMOCIM NO SÉCULO XIX


Dentro do pacote de crueldades que se anuncia nos bastidores do governo, a reforma administrativa atingirá em cheio o funcionalismo público. Não que não haja distorções a serem corrigidas, mas, ao fim e ao cabo, as várias reformas que já aconteceram no país, sempre quebram no lado mais fraco, além de áreas importantes da administração pública ficarem com seus serviços minimizados pela falta, justamente, de funcionários.

Desde a nascente República que este tema foi sempre recorrente nos anais da História e da Literatura. O sempre polêmico escritor Lima Barreto, em 1915, no seu conto “Projeto de Lei”, alfinetava o crescente cabide de empregos em que se tornara o novo regime, sem perder o tom irônico na fala de um deputado personagem:

“Meus senhores. A pátria este em perigo; o Tesouro está exausto; os recursos da nação estão esgotados. Urge que tomemos providências, a fim de evitar a bancarrota. O que mais pesa no nosso orçamento são os funcionários públicos. É preciso acabar com essa chaga que corrói o organismo do país. Eles podem muito bem ir plantar batatas”.

Por outro lado, voltando no tempo, a Câmara Municipal de Camocim e a Intendência Municipal nos idos de 1898 também reclamava por sua vez, da falta de verbas para manter seus poucos funcionários e manter as despesas da Municipalidade. Se naquela época o serviço público “inchava” também por culpa dos próprios políticos, atualmente, quando se quer “enxugar” os gastos com a máquina pública, os políticos elegem o funcionalismo como a fonte dos seus males.

Para efeito de comparação, na virada do século XIX para o vinte, existiam em Camocim apenas 17 funcionários: cinco municipais (destes, dois lotados na Câmara, um deles o próprio Presidente) e outros doze, distribuídos nas funções de prático de barra, oficial de justiça, carcereiro, telegrafista. Os oito restantes tinham apenas a especificação de “funcionário público”, sem uma função definida.

 

Fontes

Texto: Alistamento dos Eleitores do Município de Camocim. 10 de abril de 1898. Disponível em: portal.ceara.pro.br.

Texto: SCHWARCZ, Lilia. (Org.). Contos completos de Lima Barreto. São Paulo: Companhia das Letras, p.403.

Imagem: asmetro.org.br

 

 

domingo, 16 de agosto de 2020

AS PROFISSÕES DOS POLÍTICOS DE CAMOCIM NO SÉCULO XIX


A política sempre foi expressão do poder. Contudo, nem sempre ela foi exercida como algo ligada à profissão de uma pessoa. Atualmente há quem faça disso seu principal ganha pão, honesta ou desonestamente. Isso não quer dizer também que, desde sempre, alguém não a usasse como fonte de desvios e desmandos do dinheiro público. Mas, tirando de lado o aspecto corruptor e corruptivo que o poder político pode levar, os cidadãos de antanho (refiro-me aos nossos eleitores do fim do século XIX e início do XX) muitas vezes deixavam seus afazeres para dedicar alguns dias e horas à administração do município, gerando com isso, muitas desistências dos cargos e substituições de vereadores alegando seus compromissos com suas profissões, afinal de contas, eram elas que lhes davam o sustento familiar.

Nesta época os vereadores não eram remunerados e somente 19 anos depois de ser criado o município, a Câmara Municipal de Camocim votou uma lei criando uma gratificação para o Intendente Municipal que era escolhido entre os vereadores (Lei Municipal 462 de 12 de setembro de 1898), no valor de seiscentos mil réis (600$000) anuais.

Deste modo, a relação dos eleitores do Município de Camocim nos informa a profissão de vários destes políticos que exerceram a Intendência ou o mandato de vereador, como por exemplo: Diogo José de Souza (Negociante); Antonio Sampaio Torres (Criador); Joaquim Ignacio Pessôa (Proprietário), Francisco Freire Napoleão (Proprietário);  Laurentino Carlos Monteiro (Artista); Severiano José de Carvalho (Negociante); Serafim Manoel de Freitas (Empregado Público); Manoel Romão Sueiro (Proprietário); Zeferino Ferreira de Véras (Negociante), dentre outros.  Este último, patriarca da família Veras, exerceu várias vezes o mandato de vereador e intendente, iniciando a presença da família na política local, até hoje presente. No alistamento de 1898, tinha o título de nº 186, 63 anos, casado, eleitor do 2º quarteirão da localidade de Burithy.


Fonte: Alistamento dos Eleitores do Município de Camocim para as eleições Estadual e Municipal procedido em 10 de abril de 1898. Fonte:https://portal.ceara.pro.br


 

 

 

 

O ELEITORADO DE CAMOCIM NO FINAL DO SÉCULO XIX


 

               















Para termos uma ideia da participação da população de Camocim nas primeiras décadas do período republicano, o levantamento dos eleitores no ano de 1898, apenas 232 eleitores estavam aptos a votar nas eleições daquele ano, incluindo a sede e os distritos de Barroquinha e Guriú. Para efeito de comparação, no censo de 1900, Camocim tinha 7.884 habitantes (3.844 homens e 4.040 mulheres), ou seja, votavam apenas cerca de 3% da população. Naquela época ao invés de zonas eleitorais, os privilegiados eram organizados por “quarteirões” e, no alistamento constava, além do nome do eleitor, a idade, filiação (só o nome do pai), profissão e local de domicílio. Neste aspecto, a maioria dos eleitores eram “artistas” (alguém que tinha uma profissão fixa), empregados públicos e da ferrovia, negociantes, criadores, lavradores, proprietários, e alguns poucos, operários,  pescadores e vaqueiros; o prático da barra, um marchante, além do Engenheiro da  Estrada de Ferro, o Dr. João Thome de Saboia e Silva, eleitor do 3º quarteirão com o número 70.

                Na lista de eleitores podemos ver alguns nomes conhecidos da nossa história, como o do empregado da estrada de ferro Julio Cícero Monteiro, criador do Tiro de Guerra Infantil em 1912, também eleitor do 3º quarteirão sob o número 72. Ainda neste mesmo quarteirão vamos encontrar José Cella (nº 62), de origem espanhola, também empregado da ferrovia e pai do futuro artista plástico de renome internacional Raimundo Cela. O documento também revela pelos sobrenomes constantes, as famílias de maior poder aquisitivo do município e sua inserção política naquele tempo, como os Veras, Coelhos, Cavalcante, Rocha, Soares, Carvalho,  Parente, Saboia, Vianna, Araújo, dentre outros. Era este o panorama eleitoral no final do século XIX.

 

 Foto: Alistamento dos Eleitores do Municipio de Camocim para as eleições Estadual e Municipal procedido em 10 de abril de 1898. Fonte:https://portal.ceara.pro.br


 

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

O CENTENÁRIO DA BANDA LYRA CAMOCINENSE


Hoje, 07 de agosto de 2020, a Banda Lyra Camocinense completa seu Primeiro Centenário. Seu fundador foi o Maestro Luís Joaquim de Moraes que chegando em Camocim em abril de 1920. Logo que chegou, começou a ensinar música a alguns meninos da cidade. Num livro de memórias publicado em 1925, o próprio maestro narra como se deu a fundação da banda:
"Achando-se Camocim sem uma banda de música resolvi ensinar meninos, o que comecei a por em pratica no mez de abril de 1920. No dia 7 de agosto daquele mesmo anno consegui inaugurar uma nova banda de musica sob denominação de LYRA CAMOCINENSE com o numero de 13 músicos, sendo 2 antigos e 11 novos, ensinados por mim, a custo de muito sacrifício"
Neste mesmo livro o maestro informa que a Banda LYRA CAMOCINENSE tocou na festa em homenagem ao aviador Pinto Martins em 1922, quando o mesmo passou por Camocim durante o voo pioneiro New York-Rio de Janeiro. Na ocasião foi executada a "Valsa Camocinense", composta por Raimundo Nonato de Araújo (Mundico) pela Banda Lyra Camocinense, na aludida festa, sob a batuta do maestro Luís de Moraes.
Nestes 100 anos de história, a banda teve muitas formações e foi comandada por vários maestros, como Antonio Basílio, Antonio Pereira da Silva (o Mestre Cazumbim), dentre outros, além de ter formado centenas de jovens músicos, se constituindo num dos patrimônios imateriais mais antigos e duradouros do município. A Banda Lyra Camocinense até meses atrás era regida pelo Maestro Miguel Arcanjo, que por motivo da legislação eleitoral se descompatibilizou da função.
Parabéns a todos os músicos que fizeram e fazem parte da BANDA LYRA CAMOCINENSE.

Fonte: MORAES, Luís. Resumo histórico da vida de Luís de Moraes desde sua chegada a cidade de Camocim. 1907-1924. Typ. Correio da Semana. Sobral-CE. 1925, p. 7.
Foto: Banda Lyra Camocinense. Camocim-CE. 2012. Arquivo: Camocim Online.

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

O ELEITORADO DE CAMOCIM NO FINAL DO SÉCULO XIX

Para termos uma ideia da participação da população de Camocim nas primeiras décadas do período republicano, o levantamento dos eleitores no ano de 1898, apenas 232 eleitores estavam aptos a votar nas eleições daquele ano, incluindo a sede e os distritos de Barroquinha e Guriú. Para efeito de comparação, no censo de 1900, Camocim tinha 7.884 habitantes (3.844 homens e 4.040 mulheres), ou seja, votavam apenas cerca de 3% da população. 

Naquela época ao invés de zonas eleitorais, os privilegiados eram organizados por “quarteirões” e, no alistamento constava, além do nome do eleitor, a idade, filiação (só o nome do pai), profissão e local de domicílio. Neste aspecto, a maioria dos eleitores eram “artistas” (alguém que tinha uma profissão fixa), empregados públicos e da ferrovia, negociantes, criadores, lavradores, proprietários, e alguns poucos, operários,  pescadores e vaqueiros; o prático da barra, um marchante, além do Engenheiro da  Estrada de Ferro, o Dr. João Thome de Saboia e Silva, eleitor do 3º quarteirão com o número 70.

Na lista de eleitores podemos ver alguns nomes conhecidos da nossa história, como o do empregado da estrada de ferro Júlio Cícero Monteiro, criador do Tiro de Guerra Infantil em 1912, também eleitor do 3º quarteirão sob o número 72. Ainda neste mesmo quarteirão vamos encontrar José Cella (nº 62), de origem espanhola, também empregado da ferrovia e pai do futuro artista plástico de renome internacional Raimundo Cela. O documento também revela pelos sobrenomes constantes, as famílias de maior poder aquisitivo do município e sua inserção política naquele tempo, como os Veras, Coelhos, Cavalcante, Rocha, Soares, Carvalho,  Parente, Saboia, Vianna, Araújo, dentre outros. Era este o panorama eleitoral no final do século XIX.


Foto: Fragmento da Listagem de Eleitores de Camocim-CE. 1898.

Fonte:https://portal.ceara.pro.br 


sábado, 18 de julho de 2020

DA VILA FALCÃO AO RESIDENCIAL BONITO. AS CASAS POPULARES EM CAMOCIM

Vila "Ministro Waldemar Falcão". Fortaleza - CE. 1950.
Fonte: Revista "O Cruzeiro", RJ. 12 de agosto de 1950, ed. 43, p.73.


Talvez poucos saibam, mas, a construção de casas populares em Camocim remonta ao século passado, mais precisamente no ano de 1950. No governo do general Eurico Gaspar Dutra convidou para presidir o Instituto de Aposentadoria e Pensões Marítimas (IAPM), o político cearense Armando Ribeiro Falcão (1919-2010), que ficou à frente da entidade no biênio 1949-1950. Foi na gestão que vários municípios do Ceará e do Brasil foram contemplados com casas populares para marítimos, jangadeiros, pescadores, enfim, homens do mar. Desta forma, podemos dizer, que esta iniciativa foi o embrião dos posteriores conjuntos habitacionais. Em Camocim, a obra foi a Vila Falcão, em homenagem ao ministro, que fica na Rua José de Alencar, entre as ruas Santos Dumont e Humaitá. Hoje, quase ninguém lembra que estas casas tiveram esta denominação. A arquitetura original também já foi totalmente modificada (ver foto acima de como era o modelo inicial). Antigamente existia uma placa alusiva à obra, mas, como todas em Camocim, teve outro destino por seu valor em bronze. Não sei se as pessoas contempladas à época com estas casas eram em sua totalidade, marítimos ou algo parecido. O certo é que, Armando Falcão. depois de sua passagem pelo IAPM, foi alvo de "várias denúncias de irregularidades administrativas e financeiras..." 
De lá para cá, várias outras gestões construíram casas populares que tomaram várias denominações nos bairros da Olinda, Boa Esperança, Apossados, dentre outros, além da COHAB que também se tornou um bairro.
A bola da vez agora é o Residencial Bonito III no bairro Jardim das Oliveiras. Trezentas famílias beneficiadas pelo Programa Minha Casa, Minha Vida. Na emoção de ter um teto para chamar de seu, de cada contemplado, observa-se o quanto é importante uma politica de governo para o setor habitacional. Do outro lado a constatação politiqueira oportunista de se querer tirar proveito com a paternidade da obra. São quase trezentos pais... 




Fonte: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/armando-ribeiro-falcao
Fonte: Revista "O Cruzeiro". RJ. 12 de agosto de 1950, ed. 43, p.73.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

A CAPITANIA DOS PORTOS EM CAMOCIM. MAIS DE UM SÉCULO DE HISTÓRIA

Organizações Militares existentes na Marinha do Brasil. 1964 a 1990. Fonte: Ministério da Defesa. Marinha do Brasil.


No último dia 05 de julho de 2020, a Agência da Capitania dos Portos em Camocim, comemorou 121 anos entre nós.  Portanto, desde 05/07/1899, ainda no século XIX, que a Marinha do Brasil marca sua presença em nosso município. 
Na ORDEM DO DIA Nº 1/2020 publicada pelo atual Agente da Capitania dos Portos em Camocim, Ricardo Corrêa Peixoto - Capitão-Tenente (AA), um resumo dos objetivos da unidade militar em Camocim:

[...] Mercê dessa presença mais que secular, poder-se-ia apresentar as inúmeras estatísticas de inspeções, abordagens, inquéritos, acidentes e multas – robustos, contudo, insensíveis números de um trabalho incansável de um punhado de militares e servidores civis que exerceram e ainda exercem essas importantes atividades. 
Entretanto, o que gostaríamos de sublinhar, nesta célebre ocasião, é a impossibilidade em quantificar o número de pessoas que foram salvas, não apenas após um infortúnio, mas, sobretudo pela orientação contumaz e obstinada dos nossos profissionais em não permitir que embarcações se fizessem ao mar à revelia da segurança da navegação – se essas houvessem ocorrido muitas tragédias e sofrimentos para as famílias teriam sido noticiadas. As pessoas que não perderam as suas vidas são, indubitavelmente, a melhor das estatísticas que esta incansável Organização Militar poderia apresentar.

Não restam dúvidas da importância da presença da Marinha do Brasil face à nossa condição de município litorâneo e da vocação para as atividades laborais ligadas ao mar, aberto ao mundo pelo Rio Coreaú e o Oceano Atlântico. No entanto, as instituições também são filhas do seu tempo e, como tal, exercem outras atividades demandadas pelo aparato estatal. Deste modo, a unidade da Marinha do Brasil em Camocim também cumpriu determinações relacionadas ao processo de controle, vigilância e informação sobre outros atores políticos no período denominado de ditadura civil-militar no país. 
Neste sentido, relatórios, dossiês, interrogatórios e demais informações sobre momentos da nossa história política, envolvendo políticos, principalmente, produzidos neste período, podem hoje ser acessados com a abertura dos arquivos.
No documento acima apresentado, tem-se a relação dos nomes dos agentes que serviram em Camocim entre 1964 a 1989, fornecido pela Marinha do Brasil a pedido da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Por outro lado, naquela época, a maioria destes agentes se tornaram "cidadãos camocinenses" pela Câmara Municipal de Camocim.
Os tempos são outros e que a Marinha do Brasil continue imbuída de sua atual missão em nossa terra, como afirma ainda a Ordem do Dia acima mencionada, de:

[...] expressar o orgulho, mais uma vez, pela excelência dos serviços que executam, tendo em vista que é notória a dedicação, esmero, espírito de sacrifício e a sinergia com que executam suas obrigações e tarefas constantes no dia a dia, sacrificando suas famílias pelas ausências e longas jornadas de trabalho. 

Fontes
Camocim Online.
Arquivo Nacional. br_rjanrio_cnv_0_rce_6004100274820201315_d0001de0002.

 






quarta-feira, 17 de junho de 2020

CASAS COMERCIAIS DE CAMOCIM DO SÉCULO XX - A ITALIANA


Anúncio da "A Italiana". Camocim-CE. 1918. Fonte: Jornal Folha do Littoral. 01/09/1918, nº 12, p.4.



Nas primeiras décadas do século XX, o comércio de Camocim era bem diversificado, seja no atacado,como mo varejo. Uma pesquisa nos jornais da época, sinaliza neste recorte temporal a existência de casas comerciais que se instalaram no primeiro centro comercial da cidade - as imediações da Praça da Estação. Armazéns de grande porte para a época, firmas comerciais de representação, bancos, clubes sociais, cinemas, repartições públicas e mercearias "sortidas" tinham naquele espaço a sua localização.
Hoje enfocaremos a casa comercial "A Italiana", uma referência, sem dúvida, à origem de seu proprietário, o Sr. Francisco Trévia. Outros membros desta família também fizeram história no comércio camocinense (Fernando Trévia, Dedim Trévia, Toinho Trévia, Carlos Augusto Trévia, Fernandinho, dentre outros) e ainda hoje permanecem neste ramo, como Luciano Trévia.
A Italiana, como se pode observar no seu anúncio no jornal Folha do Littoral, era mais do que uma mercearia com seu sortimento variado de conservas, massas, biscoitos, doces, licores e bebidas em geral. Mas também era um botequim, um bilhar, enfim, um espaço onde os homens poderiam, principalmente, podiam se encontrar, conversar, beber o Vermutim "o melhor aperitivo do mundo", fumar um charuto "Stender", enfim, exercitar suas práticas sociais. 

Fonte:Jornal Folha do Littoral. 01/09/1918, nº 12, p.4.

sábado, 6 de junho de 2020

JUNHO FERROVIÁRIO. HISTÓRIA E SAUDOSISMO DO TREM DE CAMOCIM

Casa dos Engenheiros. Camocim. Década de 1980. Fonte: Memória Ferroviária Cearense.


142 anos Camocim viveu um mês muito especial, o mês de JUNHO. É que de 01 a 30 de junho de 1878, os habitantes vivenciaram a realização de algo que transformaria o pequeno distrito de Barra do Camocim - o início da construção da Estrada de Ferro que ligaria inicialmente o nosso porto à cidade de Sobral.
Deste modo a primeiro de junho o Conselho de Estado do Império, presidido por João Lins Cansanção de Sinimbu, autorizou de uma só canetada o prolongamento da Estrada de Ferro de Baturité a construção da Estrada de Ferro de Sobral, visando minorar os efeitos da seca de 1877 em socorro dos flagelados da região. No dia 19 deu-se a assinatura do Decreto Nº 6.940 que autorizava o início dos estudos da Estrada de Ferro de Sobral. Onze dias depois, em 30 de junho, o Presidente do Estado, José Júlio de Albuquerque já estava batendo a primeira estaca dos serviços de construção do trecho CAMOCIM-GRANJA. Em um mês se deu todo este desfecho, mostrando que, quando os homens querem realizar, realizam. Aquele mês junino no distante ano de 1878 deve ter sido o mais "ardente" da história do município.
Quase dois séculos depois, teremos um mês de junho o mais "frio" de todos. Não somente pela falta das fogueiras que a cada ano se tornam mais ralas e raras. Mas, também por se acumular mais um ano na memória daqueles que recordam do trem que se foi para nunca mais voltar. Para não dizer que apenas nós é que sofremos dessa nostalgia, vejamos trechos de dor e memória de quem foi privado do trem:

"É que, sem o apito do trem, a Cantareira morria para os nossos sonhos, como morriam as flores e as árvores, os domingos e os dias santos, as madrugadas e os fins de tarde em que a vizinhança toda conversava lá fora, as cadeiras ao ar livre, enquanto a gente brincava na calçada. Sem o apito do trem, era como se o sol deixasse de brilhar no largo da estação... [...] Sem o trem, parecia que morriam os heróis da nossa infância.[...] Como ficar sem o trem e não ver mais a alegria da gente do povo que era parte da nossa vida?

Embora que vivamos no tempo presente, o passado e as lembranças dele são o combustível que nos movem.


Fontes: 
OLIVEIRA, Andre Frota de. Estrada de Ferro de Sobral. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 1994. 
PRADO, Antonio Arnoni.  O último trem da CantareiraEditora 34, 2019, p.59-60).
Foto: Casa dos Engenheiros. Camocim. Década de 1980. Fonte: Memória da Ferrovia Cearense.