sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O ESCRAVO RAYMUNDO DE CAMOCIM

Jornal O Libertador, nº 250.
 
Anno III, Fortaleza, 14 de novembro de 1883.

A consciência negra tem um dia! Hoje, 20 de novembro é uma data que remete à história do negro Zumbi dos Palmares na defesa dos negros que resistiram à escravidão no Brasil Colonial. Essa resistência é histórica, mas, elegeu-se um dia para a sua evocação, num país que foi construído essencialmente por negros, e que ainda não superou as contradições e tragédias do nosso passado escravocrata que teima em se fazer presente nas relações sociais sob a forma de preconceito, principalmente.
O 20 de novembro de alguma forma foi estabelecido como data de luta pelos movimentos de negritude para contrapor ao 13 de maio construído pela historiografia oficial, da abolição como dádiva do Estado, personificado na Princesa Isabel e ato legal da Lei Áurea de 1888. 
Dito isto, aproximemos esta história de abolição para a Província do Ceará, cognominada de "Terra da Luz", onde os escravos eram libertados dentro desta perspectiva de generosidade dos seus donos, repentinamente tomados de fervor humanitário, agremiados em sociedades libertadoras, com seus atos de bondade publicados nos jornais. Pouco se fala da conjuntura social e das lutas de resistência dos escravizados que envolveram este contexto histórico.
Em Camocim não poderia ser diferente. Afora os 413 escravizados libertados em 31 de janeiro de 1884, como já foi publicado em postagens anteriores, o jornal Libertador anunciava na coluna Redempção dos Captivos, sob o número 378, a libertação do escravo "Raymundo, de 28 annos de idade, natural e residente em Camocim, libertado generosamente pelo Sr. Capitão José Ignacio Pessoa e sua Exma. Senhora, em regosijo pela eleição do Exmo. Sr. Dr. Antonio Joaquim Rodrigues Junior, para deputado geral.
Como podemos perceber, o que se ressalta na notícia é a generosidade do senhor de escravos.
 Que o dia da consciência negra possa ser mais do que um dia no calendário!






Libertador. nº 250, Anno III, Fortaleza, 14 de novembro de 1883

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

ESCRAVOS E ESTRADA DE FERRO DE SOBRAL

Estação Ferroviária de Sobral. Fonte: sobral24horas.com
Falamos em postagens anteriores sobre a escravidão em Camocim no contexto do abolicionismo do estado do Ceará, cuja data magna se deu em 25 de março de 1884. No entanto, esse movimento já vinha mostrando algumas ações de alforria de escravos em anos anteriores. Com o começo da construção da Estrada de Ferro de Sobral no início da década de 1880, é possível que se tenha utilizado mão-de-obra escrava na ferrovia, por alguns indícios que apontaremos mais adiante. Maria Lúcia Lamounier escreveu um livro intitulado Entre a escravidão e o trabalho livre. Escravos e imigrantes nas obras de construção das ferrovias no Brasil no século XIXonde aborda o assunto. Embora não tenhamos certeza desse uso na Estrada de Ferro de Sobral, sintomático são os registros da inaguração da Estação Ferroviária de Sobral em 31 de dezembro de 1882, portanto, dois anos antes da declaração de abolição dos escravos na Província do Ceará. Vejamos o que escreveu o Bispo Dom José Tupinambá da Frota em sua obra História de Sobral.

"Presente um numeroso concurso de pessoas desta cidade, de Granja, Camocim, Palma, Santanna, Ipu, Santa Quitéria e outros lugares vizinhos, o Sr engenheiro em chefe, Dr. João da Cunha Beltrão d Araújo Pereira convidou ao Sr Comedador José Tomé da Silva, Presidente da Câmara Municipal para inaugurar a seção, o que fez S.S proferindo uma alocução. (...) Antonio Ibiapina que num eloquente discurso sobre a escravidão entregou as cartas de liberdade de 05 escravos, sendo todos os oradores calorosamente aplaudidos. Imediatamente os Srs Major Mendes da Rocha e o Capitão Joaquim Ribeiro de Morais, de Granja, declararam livres os seus escravos Rafael, José e João."

Portanto, 08 escravos foram alforriados na ocasião. Note-se que apenas três são nominados. Na escrita histórica do período, os escravizados continuam quase invisíveis, sobressaindo-se a ação dos senhores que naquele momento ofereciam como "dádiva" a liberdade a estes homens. Embora não sabendo que essas ações decorreram da onda abolicionista que se apresentava naqueles anos ou se foram em troca do trabalho exercido na ferrovia, estes são acontecimentos que remetem para o nosso passado escravista.

Fontes:
 LAMOUNIER, Maria Lúcia. Entre a escravidão e o trabalho livre. Escravos e imigrantes nas obras de construção das ferrovias no Brasil no século XIX.
FROTA, Dom José Tupinambá da. História de Sobral


quinta-feira, 12 de novembro de 2015

OS FERIADOS LITERÁRIOS EM CAMOCIM


Durante os feriadões do mês de outubro pensei em proporcionar algo diferente para os camocinenses. Daí, surgiu a ideia dos FERIADOS LITERÁRIOS, que aconteceram no Bar do Grijalba e na Mercearia da Nazaré. A ideia era aproveitar a clientela aumentada desses lugares nestes períodos e apresentar nossa produção acadêmica, principalmente para aqueles que não tiveram oportunidade de comparecer quando do lançamento destes livros. Por outro lado, isso, a meu ver, iria contribuir para a formação de um público leitor posteriormente, onde poderemos envolver a produção de outros colegas historiadores, poetas e escritores locais numa proposta de feira, sonho muito acalentado por nosso amigo livreiro Francisco Olivar (Vavá).  Nas chamadas de mídia sempre enfatizamos que, mais importante do que adquirir um livro, seria a oportunidade de trocarmos ideias para um futuro literário em nossa cidade, visto que, temos uma demanda reprimida grande nesta área. Fizemos o evento e, por já conhecermos nosso "eleitorado" não me decepcionei tanto. A venda dos livros pelo menos pagaram as nossas despesas de consumo nos referidos bares. Quase não houve novidade, a não ser a presença do Prof. Gilson Cordeiro do IFCE Camocim (I Feriado) e do empresário Patápio Pinheiro (II Feriado) com quem batemos um bom papo. Ademais, os amigos de sempre, frequentadores contumazes dos bares referidos que adquiriram ou não algum dos exemplares expostos. Senti a falta dos poetas e escritores locais, dos colegas historiadores (não fosse o amigo Francisco Rocha e a Edinalva Pinho, a classe tinha passado em branco) e dos meus amigos professores ou das suas entidades de representação. Terá sido os locais que afugentaram as pessoas? Nos próximos eventos vamos reavaliar! Sugestões para o blog!