sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE CAMOCIM. PATRIMÔNIO CULTURAL DO ESTADO DO CEARÁ



Estação Ferroviária de Camocim. 1989. Arquivo: Valdete Fonseca Vieira.


Desde o fechamento do ramal ferroviário Sobral-Camocim  em 1977 que a Estação Ferroviária começou a sofrer um processo de deterioração predial e ocupação das dependências por sem-tetos, usuários de drogas e ponto de prostituição.

Mais de uma década depois, na administração municipal de Murilo Rocha Aguiar Filho - Murilinho (1989-1992), juntamente com outras entidades e pessoas iniciou-se um movimento para a recuperação do prédio símbolo que marcou a nossa história desde as últimas décadas do século XIX até meados do século XX. Deste modo, aproveitando-se uma  visita do então governador do Estado do Ceará, Tasso Ribeiro Jereissati, a população se mobilizou e lotou a Praça da Estação com faixas e cartazes, pedindo a revitalização daquele espaço.

A reforma foi feita e a então Estação Ferroviária passou a ser a Casa da Cultura, além de sediar o SEBRAE e no pátio externo acontecia a "Quinta Cultural", onde feiras e shows de cantores e humoristas aconteceram por um bom tempo.

Estação Ferroviária de Camocim. 2022. Foto: Carlos Augusto P. dos Santos.


No início dos anos 1990, a Estação Ferroviária foi tombada como bem cultural do Estado do Ceará pelo  COEPA – Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural do Estado do Ceará, sob o número 028, em cuja descrição dizia:

Estação Ferroviária de Camocim, localizada na extremidade leste da cidade à margem esquerda do rio Coreaú, foi construída para ser ponto inicial que interligaria o Porto de Camocim à estrada de Sobral.
Construída com traços arquitetônicos que apresentam a influencia marcante exercida pelas edificações ferroviárias europeias no Brasil durante o século XIX, com feições neoclássicas, planta de desenho simétrico e construída em alvenaria portante, a Estação Central de Camocim foi inaugurada em 1881.
Esta edificação nos reporta à época em que o sistema ferroviário despontava como o meio de transporte mais eficiente e hegemônico no Estado, levando e trazendo pessoas e mercadorias, cruzando o Ceará, redefinindo espacialmente a feição das localidades em que se inseria, impulsionando a economia e modificando os modos de pensar e agir da sociedade.

Portanto, a Estação Ferroviária é o nosso único bem tombado por uma lei. De lá para cá, já foi sede da Prefeitura Municipal e hoje abriga a Secretaria da Educação de Camocim. Não importa o uso, desde que se preserve a história e a memória dos lugares.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

LIVRO "HISTÓRIA POLÍTICA DE CAMOCIM. 1898-1987. Vol. 1"





No último dia 21 de dezembro de 2022, por ocasião da Sessão Solene da Câmara Municipal de Camocim que agraciou várias pessoas com o título honorífico de Cidadão Camocinense, evento que ocorreu na Escola Profissionalizante, lançamos o livro "História Política de Camocim. 1898-1987". vol. 1, publicado pela Editora Sertão Cult. Trata-se da 14ª obra de nossa autoria sobre o município e que inaugura uma série sobre o cotidiano político local.

Agradecemos a todos que contribuíram para a escrita deste livro que durou dois anos, especialmente à Câmara Municipal, a ANPUH -CE, ao Prof. Airton de Farias pelo prefácio da obra e ao Prof. Gilson Cordeiro , pela apresentação do livro no evento, da qual reproduzimos um trecho abaixo:



O Prof Carlos Augusto, professor adjunto da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA, vem desenvolvendo significativos estudos nas areas de memória, história oral, cotidiano, trabalho e outros. Tem uma vasta bibliografia de trabalhos publicados desde organizações de livro, livros solo e trabalhos belíssimos de orientação. Dentre estas obras, destacamos livros de natureza didática que lançam um olhar aguçado para a juventude da cidade, uma brilhante ação de resistência e memória local.

Destacamos hoje a obra História Politica de Camocim, considerando mais 100 anos de política local registrados, catalogados com personagens que contribuíram para o colorido espaço de fazeres sociais neste espaco de tempo.Mais que uma galeria de ilustres, com datas e feitos romanescos, o professor Carlos nos presenteia com uma percepção crítica da vida social da cidade,  de pormenores cotidianos a complexas conjunturas politicas locais que dialogam para o entendimento do cenário politico brasileiro do século XIX e XX, trazendo-nos pistas do que somos e por que somos.

Enfim, tenho a honra de dizer que se trata de uma obra para leitura de especialistas em história, antropologia até jovens vestibulandos e todos que procuram compreender o espaço onde vivem".

O livro está disponível para download no site da Prefeitura Municipal de Camocim, na aba "História Camocinense".

sábado, 3 de dezembro de 2022

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE CAMOCIM. NOSSO ÚNICO BEM TOMBADO PELO PATRIMÔNIO ESTADUAL

 Num momento em que a questão patrimonial começa a ser discutida em nossa cidade, seja pelo processo acelerado de destruição de prédios históricos, seja pelas poucas tentativas de se adotar uma política pública de preservação e conservação do patrimônio cultural, reproduzo aqui um "lugar de memória" dos camocinenses, erguido ainda no século XIX. O artigo foi publicado no site do Laboratório de Estudos dos Mundos do Trabalho (LEHMT/UFRJ), dia 30/11/2022.

LMT #118: Estação Ferroviária de Camocim (CE) – Carlos Augusto Pereira dos Santos


Carlos Augusto Pereira dos Santos
              Professor do Curso de História da Universidade Estadual Vale do Acaraú


Menino da Rua do Egito em Camocim, filho de maquinista,
morando à beira da linha, eu terminei ficando com o trem no
sangue, como diz Rachel de Queiroz.

(Pe. Luís Ximenes, em Paixão Ferroviária, 1984)

AEstrada de Ferro de Sobral, no Ceará, funcionou por quase um século.  Quando da seca de 1877, o Governo Imperial autorizou a análise da viabilidade da ferrovia, no sentido de socorrer os flagelados com postos de trabalho e minimizar a fome que assolava o território cearense. Além disso, a construção da ferrovia seria uma forma de ligar os sertões do norte da província ao porto de Camocim, considerado o de melhor navegabilidade no estado. Os estudos para a construção da estrada de ferro tiveram início em 1878. No ano seguinte, a 26 de março de 1879, realizou-se com solenidade de estilo, o assentamento do primeiro trilho da estrada de ferro em Camocim. Neste mesmo ano, Camocim passou à condição de município se emancipando de Granja. A inauguração do primeiro trecho da Estrada de Ferro de Sobral, entre Camocim e Granja, numa extensão de 24,5 quilômetros, ocorreu no dia 15 de janeiro de 1881, dois anos após o início dos trabalhos.

Construída para ser o ponto inicial que interligava o Porto de Camocim à Sobral, a estação ferroviária apresenta traços da influência europeia no Brasil no que diz respeito às edificações ferroviárias erguidas durante o século XIX. Como se disse anteriormente, a chegada da ferrovia provocou imediatamente a mudança de status administrativo de Camocim alavancando as transações comerciais que já se faziam pelo porto, escoando a produção agropecuária do noroeste cearense. Em pouco tempo, estas atividades demandaram a chegada na cidade da Alfândega, do Banco do Brasil, dos Correios, entre outras repartições públicas e privadas.

A ferrovia para Camocim e região promoveu não somente a economia regional, mas, um interessante espaço para se compreender o mundo do trabalho naquela época. O complexo ferroviário, no auge de suas atividades, chegou a ter em média 800 trabalhadores entre a administração e o pessoal alocado nas oficinas de manutenção de trens. Estas oficinas foram importantes para a formação de várias categorias profissionais como mecânicos, torneiros, carpinteiros, ferreiros, dentre outras. A maioria destes trabalhadores era de Camocim e da região noroeste do estado. Grande parte dos ferroviários se estabeleceram em ruas próximas da estação e os funcionários mais graduados, como os engenheiros e agentes de estação, tinham moradia dentro do pátio de manobras de trens ainda hoje preservadas e habitadas por descendentes destes.


A presença de uma massa de trabalhadores na ferrovia e no porto acabou por despertar as ideologias políticas da época.


Com efeito, a cidade de Camocim foi a primeira do interior cearense a organizar uma célula comunista em 1928 e por conta de seu histórico de lutas na própria ferrovia, acabou por obter o epíteto de “Cidade Vermelha” na imprensa comunista. Por outro lado, o integralismo, embora em menor número, esteve presente entre os trabalhadores ferroviários no contexto da polarização ideológica dos anos 1930.

Um exemplo dessa militância pode ser observado no episódio que ficou conhecido como “A Rebelião da Ferrovia”. Entre novembro de 1949 e janeiro de 1950 uma greve de ferroviários tomou conta da cidade em um protesto contra o fechamento das oficinas de manutenção e a tentativa de transferir funcionários da ferrovia para outros locais. A greve ganhou ares de revolta popular, envolvendo várias categorias e lideranças sindicais. O leito da ferrovia foi interditado pela população com paus, pedras e caldeiras velhas evitando assim a saída dos trens. A tensão durante a rebelião foi muito intensa, a ponto de ser instalada uma espécie de sirene na Estação Ferroviária que era acionada para chamar os manifestantes a qualquer hora do dia quando se percebia algum movimento da direção da ferrovia em desobstruir a via férrea. As mulheres, muitas delas organizadas pela União Feminina Camocinense ligada ao Partido Comunista, tiveram uma participação particularmente significativa na greve e na rebelião popular.

Apenas a vinda de um representante do Ministro de Obras e Viação e do próprio Governador do Estado acalmou os ânimos. Em um grande comício, essas autoridades terminaram por atender ao clamor popular e as oficinas e os funcionários foram mantidos na cidade.

No entanto, o processo de desmonte do ramal ferroviário Camocim a Sobral se acelerou a partir de 1950. Os funcionários foram sendo paulatinamente transferidos para outras estações e praticamente não houve substituição do material rodante neste período até o fechamento do ramal.

Em 24 de agosto de 1977, o último trem partiu de Camocim rumo à Sobral, pondo fim a 96 anos de serviços prestados pela ferrovia à população da então zona norte do Ceará, e de muitas histórias do mundo do trabalho e dos trabalhadores da “estrada”.  Hoje, tombada pelo patrimônio público estadual, a estação ferroviária sedia a Secretaria da Educação Municipal.

Ferroviários em greve e população obstruem a ferrovia. Camocim.  Fonte: Arquivo particular da Sra. Elda Aguiar.

Para saber mais:

  • CARVALHO, Cid Vasconcelos deO Trem em Camocim: Modernização e Memória. 2001. Dissertação (Mestrado em Programa de Pós-Graduação em Sociologia) – Universidade Federal do Ceará.
  • OLIVEIRA, André Frota de. A Estrada de Ferro de Sobral. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 1994.
  • SANTOS, Carlos Augusto Pereira dos. Entre o porto e a estação. Cotidiano e cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim-CE. 1920-1970. Fortaleza: INESP, 2014.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

PATRIMÔNIO PRESERVADO. VILLA HOSTERINDA. 1931

 

Villa Hosterinda. 1931. Camocim-CE. Foto: Carlos Augusto. 31/11/2022.


    Enquanto as ações predatórias do patrimônio edificado continuam a todo vapor na Rua 24 de Maio em Camocim-CE, ressaltamos o movimento contrário, isto é, a preservação consciente de proprietários de imóveis centenários nesta mesma rua.
    Na postagem de hoje,  destacamos a casa denominada "Villa Hosterinda" construída em 1931, data estampada no alto do seu frontispício. Além de ser um costume antigo de trazer a data da construção das casas de então, a reforma e a pintura nos meses finais do ano também é outro costume cultuado pelos proprietários mais velhos.
    Parabenizamos a família Coutinho por preservar há mais de 90 anos este bem que se constitui num belo exemplar da arquitetura eclética que embeleza nossa cidade.


sexta-feira, 25 de novembro de 2022

MURILO AGUIAR. 108 ANOS

 

Murilo Rocha Aguiar (1914-1985). Foto: Arquivo da família Aguiar.



    Se vivo fosse, hoje, 25 de novembro, Murilo Aguiar estaria completando 108 anos de idade. Nascido em Camocim em 25 de novembro de 1914, em pleno contexto da Primeira Guerra Mundial, Murilo Aguiar construiu sua biografia em torno da atividade comercial e, principalmente, política.
    Eleito pela primeira vez como deputado estadual em 1947, portanto, deputado constituinte, foi prefeito de Camocim entre 1955 e 1959 e reeleito deputado estadual em 1962, 1966 e 1982. Faleceu em 1985 quando da disputa pela Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará.
    Líder político de grande prestígio na zona norte, Murilo Aguiar, respondendo a um questionário sobre suas realizações em Camocim, pontuou:

b) Construí o Serviço de Abastecimento D’água em convênio com o DNOCS;
— Construí o Mercado Auxiliar;
— Construí o calçamento das principais ruas;
— Construí várias unidades escolares, inclusive o prédio
onde funciona a Escola Estadual Padre Anchieta;
— Construí estradas carroçáveis interligando Distritos;
— Porto: Obtive autorização do Presidente Juscelino Kubitschek para construção do cais de atracação e do armazém
do porto, o que foi feito;
— Draga: Consegui a vinda de uma draga para abertura de nosso ancoradouro, mas com 35 dias de trabalho ela pifou, tendo sido rebocada para Natal a fim de ser consertada.  Não mais voltou, uma vez que o Presidente Kubitschek já estava fora do Governo e a sua ordem anterior não foi integralmente cumprida;
— Rodagem: Consegui autorização presidencial para que fossem iniciadas as construções da estrada de rodagem Camocim-Coreaú e Chaval-Parnaíba, onde foram empregados cerca de 20.000 flagelados da seca de 1958;
_ Campo de Pouso: Consegui recursos do Ministério da Aeronáutica para ampliação do nosso campo de pouso, onde foram empregados 600 pais de família que passavam fome, também na seca de 1958.

(MONTEIRO, Tóbis de Melo. Camocim Centenário. 1879-1979. Imprensa Oficial do Ceará (IOCE), 1984, p. 26).

    Brevemente será publicada uma biografia de Murilo Aguiar, inclusive com sua descendência genealógica.
    





segunda-feira, 31 de outubro de 2022

A PRAÇA PINTO MARTINS E O VOO CENTENÁRIO NOVA IORQUE-RIO DE JANEIRO (1922-2022),

 

Praça Pinto Martins. Camocim-CE. 2022. Fonte: seinfra.camocim



    Dentre as ações pensadas para a comemoração do I Centenário do Voo Pioneiro de Pinto Martins, realizado em 1922 entre Nova Iorque e o Rio de Janeiro, a Prefeitura Municipal de Camocim iniciou a reforma da praça que leva o novo do aviador, no centro da cidade. 
    Segundo matéria divulgada no instagram da Secretaria Municipal da Infraestrutura (@seinfra.camocim), " a praça passará por requalificação da área de convívio social. Toda a parte do piso e pavimentação será modernizada e contará com três novos pontos para moto-taxi (estrutura em madeira). A estátua do filho ilustre de Camocim, Euclides Pinto Martins, ganhará destaque com um caramanchão ao redor".
    Diz ainda a nota que a referida obra prestará uma homenagem a Pinto Martins e ao centenário do voo que "de forma pioneira, interligou pela via aérea a América do Norte ao Brasil, sendo um marco na história da aviação mundial".
    Esperamos que esta seja a primeira das muitas ações pensadas anteriormente na Comissão do Centenário do Voo Pioneiro de Pinto Martins, para marcar esta data de muita significação para o município.
    


sexta-feira, 30 de setembro de 2022

PINTO MARTINS. CEM ANOS DO VOO PIONEIRO. (XII SETEMBRO CAMOCIM. 2022. Nº 10).

 Fechando mais um Setembro Camocim, finalizamos com o cordel PINTO MARTINS. CEM ANOS DO VOO PIONEIRO, do historiador e cordelista Francisco Rocha Pereira, uma bela homenagem à data centenária do voo pioneiro New-York - Rio de Janeiro, realizado em 1922-23.

Pinto Martins/Pote. Márcio Caetano. Camocim. 2022. Desenho.

I

Amigos camocinenses

Que amam literatura

A todos peço licença

Pra narrar uma aventura

De um conterrâneo ilustre

Que teve força e bravura.

II

Antes peço à mão divina

Que me sopre das alturas

Inspiração pra falar

Desta nobre criatura

Que já nasceu com a sina

De voar num asa dura.

III

Não podia ser de outra

Pessoa que estou falando

Se não do aviador

O nosso herói soberano

Euclydes Pinto Martins

Do hidroavião biplano.

IV

No fim do oitocentismo

Constatou-se pesquisando

Ano dois, da última década

Quando o abril foi meando

Em Camocim nasceria

O rei do aeroplano.

V

Seus pais, Antônio e Maria

Celebrarem seu natal

Com poucos meses partiram

Lá pras bandas de Natal

Batizaram o primogênito

Na igreja de Macau.

VI

Pinto Martins já nascera

Com traços de homem forte

Estudou quando criança

No Rio Grande do Norte

Superando em aprendizagem

Os pequenos de seu porte.

VII

Com vocação para ser

Pessoa extraordinária

Logo jovem trabalhou

Na Rede Ferroviária

Mas seu talento pedia

Pra explorar outra área.

VIII

Por isso o pai decidiu

Investir na sua sorte

Mandou o filho estudar

Lá na América do Norte

Engenharia Mecânica

Graduação de seu forte.

IX

Foi Cônsul em Nova Iorque

Depois de fazer vagão

Por onde andou demonstrou

Inteligência e ação

Mas seu grande intento era

Investir na aviação.

X

Pra realizar seu sonho

Martins estudou bastante

Depois de Santos Dumont

Compatriota brilhante

Ele colocava em prática

Seu projeto fascinante.

XI

Grande idealizador

Do voo que seria raro

Associado com outros

Que lhe serviam de amparo

Pois voar naquele tempo

Era perigoso e caro.

XII

Pra ligar as três Américas

Era essa a empreitada

Idealizou a rota

Chamou Walter o camarada

Para então darem início

Aquela grande jornada.

XIII

Quando levantaram voo

Para o Sul deixando o Norte

Caíram no mar de Cuba

Numa tempestade forte

Por sorte sobreviveram

Para um retorno mais forte.

XIV

Recomeçaram os trabalhos

Entusiasmados, pois

Agilmente construíram

O Sampaio Corrêa Dois

O raid Nova Iorque-Rio

Não ficaria pra depois.

XV

Os tripulantes passaram

Por muita dificuldade

Enfrentando imprevistos

De chuva e tempestade

Até chegar ao Brasil

Passando em nossa cidade.

XVI

Deixemos Pinto Martins

Com a difícil missão

Para falar como estava

Aqui a população

Fazendo os preparativos

Pra sua recepção.

XVII

Por eles o povo esperou

Com as ruas enfeitadas

Desde o cais até o centro

Calçadas ornamentadas

Para saldar os rapazes

Heróis daquela jornada.

XVIII

No ano de Vinte e Dois

Do Século próximo passado

Dezenove de dezembro

Aqui foi amerissado

O Sampaio Corrêa Dois

Com Pinto e seus comandados.

XIX

Aquele hidroavião

Vindo daqueles confins

Sob o comando do ilustre

Euclydes Pinto Martins

Enche o peito de orgulho

Do povo de Camocim

XX

Era o voo inaugural

Da história, era o primeiro

Interligando as Américas

Depois o Brasil inteiro

Voando de Nova Iorque

Até o Rio de Janeiro

XXI

Nosso grande aviador

Ilustre camocinense

Envaideceu o Brasil

E o povo cearense

Devido seu feito inédito

Com emoção e suspense.

XXII

Quando o Sampaio Corrêa

Liberou seus tripulantes

Liderados por Euclides

Jubilosos, triunfantes

Andaram pela cidade

Garbosos e festejantes.

XXIII

Todos foram recebidos

Com uma festa de gala

No chiquíssimo Sport Club

Com o qual nada se iguala

Foi um baile refinado

Com requintes e regala.

XXIV

Ilustre camocinense

Cearense e nordestino

Brasileiro de respaldo

Americano e latino

Destacado em todo o mundo

Por sua astúcia e seu tino.

XXV

Depois de seu grande feito

Ficou no país natal

Pensando em outro projeto

Que seria mais genial

Prospectar o petróleo

Com futuro triunfal.

XXVI

Mas parece que a sorte

Ou azar pra mais de mil

Depois de tanta alegria

De voltar para o Brasil

Chegou para atrapalhar

Os planos do varonil.

XXVII

A busca do ouro negro

Foi um sonho interrompido

Numa noite amargurante

Escutou-se um estampido

Depois do tiro encontraram

Euclydes já falecido.

XXVIII

Motivo de sua morte

Nunca foi bem decifrado

Para uns foi suicídio

Para outros foi mandado

E a dúvida permanece

Se, matou-se ou foi matado.

XXIX

O petróleo como sempre

Foi cobiça do Império

Grande riqueza do mundo

Maior que qualquer minério

Quiçá, tenha ligação

À causa deste impropério.

XXX

Teria sido ganância

Ou inveja do brasileiro?

Só sabemos que o petróleo

Motiva o interesseiro

A causar muita matança

E guerras no mundo inteiro.

XXXI

O ouro negro motiva

Conflito no mundo inteiro

Potências gananciosas

Governantes carniceiros

Invadem, matam inocentes

Por cobiça e por dinheiro.

XXXII

Assim foi por água abaixo

O plano do engenheiro

Prospecção de petróleo

Para o povo brasileiro

Alçar o padrão de vida

Através do petroleiro.

XXXIII

O sonho de Euclydes era

Encontrar o mineral

Para elevar o Brasil

À potência mundial

Mas o plano do patriota

Finda de forma brutal

XXXIV

Pinto Martins foi um gênio

Homem íntegro, nobre e forte

Visionário do mundo

Foi buscar a própria sorte

Teria feito muito mais

Não fosse a precoce morte.

XXXV

Dedicou a sua vida

Somente por causa nobre

Queria um país mais justo

Sua luta ninguém encobre

Pra transformar o Brasil

Numa Nação menos pobre.

XXXVI

Pinto hoje é patrimônio

Do povo de Camocim

Um herói quase esquecido

Pelo poder e por mim

Mas o seu valor histórico

É coisa que não tem fim.

XXXVII

Em dois mil e vinte e dois

Recontamos sua história

Um século já se passou

De seu momento de glória

Aqui vai nosso tributo

Em honra a sua memória.

XXXVIII

Assim homenageamos

Euclydes Pinto Martins

O Centenário de seu voo

Vamos comemorar sim

Porém, merecia mais

Está escrito nos anais

Da história de Camocim.

 



quinta-feira, 29 de setembro de 2022

BOM DIA CAMOCIM! (CENTENÁRIO). (XII SETEMBRO CAMOCIM. 2022. Nº 9)

BOM DIA, CAMOCIM!. Armando Quixadá Pereira. Fonte: Tribuna do Ceará. 06/10/1979.


Hoje, por ocasião das comemorações dos 143 anos de emancipação política de Camocim, recuperamos um texto referente ao Centenário de Camocim ocorrido em 1979. Trata-se de uma crônica escrita e publicada no jornal Tribuna do Ceará pelo Dr. Armando Quixadá Pereira que viveu entre nós e advogou por 65 anos de forma contínua. Armando Quixadá Pereira era Mestre e Doutor em Direito Constitucional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faleceu aos 88 anos em Camocim, em 06 de abril  de 2018.  

Dr. Armando Quixadá Pereira. Fonte: Site "O Sobralense". 


BOM DIA, CAMOCIM!

CAMOCIM (Armando Quixadá Pereira). Bom dia Camocim! Minha querida cidade sorriso! Quem diria hein? Você hoje completando o seu Primeiro Centenário! Quantas coisas você viu, você viveu, você amou, você gostou, você sofreu... Ah! Camocim! Como o tempo passou tão de repente?! Você ontem uma cidade menina. Hoje uma cidade centenária. Quem diria hein Camocim. Cem anos de sol, de mar, de progresso, de ordem, de hospitalidade... Com suas belas praias, com seu mar piscoso, com seus ventos uivantes, com suas belas raparigas e banhada pelas águas mansas e amenas do Oceano Atlântico. Outro dia ainda nem tão longe, nem tão de urgente, nos disseram que o seu nome é de origem indígena e significa VASO DE BARRO... Vaso de barro hein Camocim...! Eu diria VASO DE OURO. Tantas e tantas são suas riquezas ainda não exploradas pelos seus homens...

Eu me lembro, eu me lembro Camocim da sua secular Estrada de Ferro, hoje desativada inexplicavelmente, muda, silenciosa, deserta, tão diferente dos tempos de outrora, do sacolejar das Marias Fumaças, dos encontros dos namorados marcados no horário e no compasso dos trens horários. Quantas saudades daqueles tempos hein Camocim. E o que dizer do seu Porto recebendo regularmente navios cargueiros e passageiros, ancorados nos seus diversos trapiches trazendo e levando riquezas..., e quem sabe de alguém que ficava acenando lenços brancos para o amor que partia e... chorando!

Ah, Camocim como eu te amo cada vez mais...! Como eu te quero tanto meu “vaso de barro” querido. Hoje completando cem anos, tão amado e tão amante...!

Bom dia Camocim. Cem anos... Quem diria, hein Camocim!

06/10/1979.