sábado, 23 de outubro de 2021

PROJETO DO CENTENÁRIO DO VOO PIONEIRO DE PINTO MARTINS

Card comemorativo do Dia do Aviador. 2021. Fonte: Prefeitura Municipal de Camocim.


No início deste ano tivemos a oportunidade de entregar à Secretaria da Educação de Camocim uma proposta do COLETIVO DE HISTORIADORES DE CAMOCIM para a área da educação. Desta iniciativa, já foi concretizada a criação da SÉRIE HISTÓRICA CAMOCINENSE, com a publicação de 04 livros sobre nossa história, já mencionados por mim neste espaço.
No documento, outras demandas foram elencadas, dentre elas, algumas alusivas a data que se aproxima do I CENTENÁRIO DO VOO PIONEIRO DE PINTO MARTINS. São ações simples, que estão a nosso alcance e que podem ser feitas pelo conjunto dos camocinenses. Logicamente, que o poder público, a população, podem e devem pensar outras ações e atividades que poderão constar das comemorações.
Neste sentido, apresentamos as nossas propostas para o conhecimento de todos:
1. Um livro de textos feito por alunos da rede pública (ensino fundamental II) a partir de atividades desenvolvidas em sala de aula. (Secretaria de Educação).
2. Uma Revista em Quadrinhos contando a saga do voo de Nova Iorque-Rio de Janeiro realizado por Pinto Martins, para ser distribuído aos alunos e trabalhada em sala de aula como instrumento didático. (Paulo José/ Coletivo Dragão do Mar (quadrinistas).
3. Pinto Martins e a imprensa – um livro mostrando a repercussão do voo de Pinto Martins na imprensa brasileira (Carlos Augusto).
4. Um filme-documentário sobre Pinto Martins e voo pioneiro. (NS Filmes de Camocim ou outra produtora com assessoria histórica do Coletivo).
PS: Há meses atrás, eu e o prof. Paulo José fomos convidados pela Prefeitura para uma conversa com o arquiteto Brandão para se discutir a revitalização da praça Pinto Martins. Nesta conversa, sugerimos várias ideias que podem ser inclusas no projeto a ser desenvolvido na referida praça, como painéis, réplica do Sampaio Correia II, mausóleu, etc. Continuamos fazendo nossa parte!


sábado, 16 de outubro de 2021

RAYMUNDO SOARES VASCONCELOS - UM ESTIVADOR DE CAMOCIM NO PORTO DE SANTOS

 

Coleção "O Comunismo no Brasil". IPM 709. 4.vols. Fonte: Biblioteca do Exército.

    Uma pesquisa nunca termina. Mesmo dando por terminado uma tese de doutorado, sempre alguns aspectos ficam para se esclarecer posteriormente. Foi o que aconteceu comigo em relação à detalhes sobre alguns trabalhadores camocinenses que saíram daqui e foram buscar trabalhos em outros portos do país, especialmente, Santos-SP. Um deles foi Raymundo Soares Vasconcelos. Na época da escrita da tese, dissemos sobre ele o seguinte:

Dos portos do país, um dos mais visitados pelos trabalhadores camocinenses em serviço era o de Santos. Com efeito, as ligações com o Sindicato dos Estivadores de Santos eram mais estreitas, a ponto de alguns desenvolverem militância política dentro desse sindicato ou fora dele. Na memória de alguns estivadores está viva a trajetória de Raimundo Soares Vasconcelos, que partiu de Camocim em busca de trabalho no Porto de Santos e chegou a presidir o sindicato da categoria na cidade paulista, além de ter facilitado o ingresso de companheiros naquele porto durante a década de 1960. (SANTOS, 2014, p.175).

    Como se sabe, existia entre os estivadores de todo país uma forte militância comunista e Raymundo Soares Vasconcelos e Aloysio Soares Vasconcelos, vulgo “Ceará” (provavelmente parente de Raimundo), acabaram participando e sendo fichados como comunistas. Aloysio, por exemplo, foi preso em 1948 por “agitação comunista”, pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social - DEOPS de São Paulo (SANTOS, 2014, p.175).
    Na época da escrita da tese, não encontramos maiores detalhes sobre Raymundo Soares Vasconcelos, apenas o prontuário de Aloysio no DEOPS, acima referido. No entanto, chega às minhas mãos, através do sempre prestimoso amigo livreiro Francisco Olivar (Vavá), o INQUÉRITO POLICIAL MILITAR - 709, produzido pelas forças de repressão, notadamente, o Exército Brasileiro. O famoso IPM 709 é o trabalho mais completo realizado pelas autoridades, não somente pontuado pelos relatórios das atividades dos "agitadores comunistas" elaborados por agentes infiltrados nas várias organizações de trabalhadores, mas, também de análise do movimento comunista, suas organizações, métodos, ligações e infiltrações na sociedade brasileira.



    No segundo volume da coleção vamos encontrar o camocinense RAYMUNDO SOARES VASCONCELOS, no ano de 1962 (o que revela várias décadas de militância dele), presidindo uma reunião do Fórum Sindical de Debates (FSD) de 05 de julho de 1962, um dia após a uma GREVE GERAL na cidade de Santos, cujo informe anexo fala sobre o sucesso da ação, além de ligar os acontecimentos com a aprovação do então Presidente da República e o Comandante do 1º Exército. (O Comunismo no Brasil. IPM 709, p.363).
    Temos, portanto, um camocinense, senão no centro, mas no olho do furacão dos movimentos que envolveram as relações entre trabalhadores e Governo, que acabaram sendo lidas pelos aparelhos de repressão como um perigo de estabelecimento de uma república sindicalista no país com forte inspiração comunista. Aqui não é o espaço para a discussão se isso era uma possibilidade real ou fruto do zelo conservador  e justificador das elites para a decretação do Golpe Civil-Militar de 1964, mas, o de destacar, que um simples estivador, saído de Camocim em busca de trabalho, conseguiu presidir o sindicato do maior porto do país e se tornou um militante importante da causa que abraçou.


Fonte: SANTOS, Carlos Augusto Pereira dos. Entre o porto e a estação: cotidiano e cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim-CE. 1920-1970. Fortaleza: INESP 2014.

CARVALHO, Ferdinando de. O Comunismo no Brasil. INQUÉRITO POLICIAL MILITAR 709. 4vls. Editora Biblioteca do Exército, 1966.


terça-feira, 5 de outubro de 2021

CAMOCIM NA REVOLUÇÃO DE 1930.

Cartão Postal em homenagem à Revolução de 1930. Fonte: CPDOC.


Sempre digo que Camocim é um museu a céu aberto para ser utilizado nas aulas de História do Brasil. A Revolução de 1930 é um exemplo. Até outro dia tínhamos uma rua em homenagem à data do fato (03 de outubro, atualmente Antonio Zeferino Veras). Por outro lado, alguns camocinenses participaram da "revolução" que guindou Getúlio Vargas ao poder por 15 anos no Brasil. Vejamos a história contada por Tóbis de Melo Monteiro no livro "Camocim Centenário":

Funcionava em Camocim o Tiro de Guerra 2'13 sob a presidência do então Prefeito Municipal, Dr. Gentil Barreira. O instrutor era o Sargento Bezerra (Joaquim Olímpio Bezerra), militar autêntico por gosto e vocação.Como ele desfilava garboso no seu uniforme verde oliva. Peito para fora e barriga para dentro, como se diz na linguagem militar. As aulas eram à noite, na Praça do Mercado. A nossa arma era o fuzil Mauzer, modelo 1908. O nosso Tiro-de-Guerra diplomou muitos reservistas.

Certo dia, em 1930, no auge da revolução que explodiu para depor o então Presidente constitucional, Dr. Washington Luis, desembarcou em Camocim um sargento do exército que veio encarregado de alistar voluntários para servirem à causa da revolução. O sargento reuniu os reservistas do Tiro-de.Guerra e fez a pergunta: Quem quer ir? E a resposta começou a sair dos lábios da maioria: “Não vou porque o papai não quer e a mamãe não deixa”.. E, por fim, lá se foi o nosso contingente formado, apenas, de oito voluntários. O distintivo dos revoltosos era um lenço vermelho atado em volta do pescoço.

Embarcados à tarde no vapor "Monte Moreno" que, naquele dia, estava ancorado no porto. Muita gente acorreu à praia para assistir a partida de nossos heróis da revolução. Fomos  para Fortaleza e de lá embarcamos em outro navio maior e cheio de soldados. Rumamos para o Norte até chegar a Belém. A finalidade daquela viagem era depor o Governo do Pará que, até então, se  conservava fiel ao Dr. Washington Luis. A vida a bordo era dura. Passávamos o dia e a noite no tombadilho, sujeitos à chuva e ao sol. À noite, tínhamos que fazer plantão. 

Já em Belém, na primeira noite, às 22 horas, rendi a sentinela e ela me deu as ordens: “Existe um preso muito importante a bordo. E ele está ali, naquele camarote. Se tentar fugir pode atirar”. Enchi o fuzil de balas é fiquei olhando a noite toda para aquela porta.  O silêncio era completo. A noite era escura. Apenas a luz de bordo tremia e tremia na superfície buliçosa das águas. A soldadesca dormia, a sono solto, deitada no convés daquele transporte improvisado de tropas. Deu meia noite, Eu de olho na porta e de mão no fuzil.  Finalmente deu 4 horas da matina e, graças à Deus,  o nosso homem não fugiu. E eu senti um grandioso alívio ao passar ao meu substituto aquela instrução tão radical.

Em Belém fomos alojados num Grupo Escolar, cujas camas eram  o próprio chão duro e seco. A  nossa comida constava de bolacha, café, carne, feijão e arroz feita lá mesmo na cozinha de campanha. Nós mesmos lavávamos os nossos pratos e copos. Ficamos apenas 15 dias nesse sufoco e fomos devolvidos a Camocim pelo mesmo vapor “Monte Moreno”. Aqui em Camocim fomos recebidos com indiferença\e alguns até ficaram até criticando o nosso “heroísmo” verde-amarelo. (p.135-136).

Pela narrativa em primeira pessoa, pode-se inferir que o próprio escritor foi um dos oito voluntários que seguiram para o norte do país. Mas, quem seriam os outros sete bravos soldados? Fica a pergunta e a dica de pesquisa posterior. 


Fonte: MONTEIRO, Tóbis Melo. Camocim Centenário. IOCE, 1984, p.135-136.