quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

RELIGIOSOS DE CAMOCIM- PE. IVAN PEREIRA DE CARVALHO

Em postagem anterior enfocamos a figura do Monsenhor Inácio Nogueira Magalhães. Outro padre que teve seu centenário esquecido foi IVAN PEREIRA DE CARVALHO. Mesmo saindo da vida sacerdotal, teve uma trajetória muito importante no clero regional. Mas, foi na educação que seu nome fez história na vida de milhares camocinenses. Lembro-me dele já no finalzinho de sua carreira como educador (era diretor, na época), quando fiz a antiga 8ª Série no Colégio Estadual Padre Anchieta, que hoje leva seu nome. Abaixo, uma biografia do Professor Ivan, escrita por R. B. Sotero:

IVAN PEREIRA DE CARVALHO, filho de Luciano Pereira da Luz e Amélia de Carvalho Pereira, nasceu em Camocim-Ceará (Rua 24 de maio – Praça da Matriz), aos oito (08) dias do mês de novembro de mil novecentos e nove (1909). Filho primogênito do casal, terminou seus estudos primários em Camocim (1919- Grupo Escolar, 1921 – Escola da Francy Fialho, 1921 - Escola Dr. Hermes Paraíba, 1922 e 1923 – Escola Pedro Morel). Em 1924 ingressou no Seminário da Prainha, em Fortaleza, onde cursou o segundo e o terceiro anos ginasiais. Em 1925, foi transferido para o Seminário de Sobral onde cursou o quarto e quinto ano ginasiais. Terminado o primeiro grau, voltou a estudar em Fortaleza em 1927, onde cursou o primeiro e o segundo anos de Filosofia no Seminário da Prainha. Nos anos de 1929, 30, 31, 32 e 33, cursou Teologia Moral e Dogmática. Em 03 de dezembro de 1933, recebeu as Ordens de Presbítero das mãos de D. José Tupinambá da Frota, na Igreja Catedral da cidade de Sobral.-CE. Em 1934, aos 26 anos, foi nomeado vigário e assumiu a Paróquia de Palmas, hoje Coreaú, onde permaneceu como Ministro da Igreja até janeiro de 1942, quando mudou-se para Sobral para exercer as funções de vice-diretor e vice-prefeito de disciplina do Colégio Sobarlense a convite do Bispo de Sobral, D. José Tupinambá e do diretor do Colégio Sobralense, Monsenhor Aloizio Pinto. Neste período, Padre Ivan fez uma viagem à Europa, por ocasião da peregrinação do Ano Santo em 1950, no Navio de Guerra Pedro II, cedido pelo então Presidente Getúlio Vargas. Em sua peregrinação, conheceu as cidades de Nápoles, Roma, onde visitou a Basílica de São Pedro, percorreu Assis, Turim, Veneza, Paris, Lisboa, dentre outras e retornou para Fortaleza em junho de 1950.
De volta a Sobral ainda permaneceu até julho de 1955, quando recebeu do então Prefeito de Camocim, Murilo Rocha Aguiar, o convite para criar o Ginásio Padre Anchieta, em Camocim, onde ficou exercendo a função de Padre Coadjutor da Paróquia de Camocim, e em 9 de junho de 1955, Padre Ivan fundou o referido ginásio, até passar a ser encampado pelo Governo do Estado do Ceará com a denominação de Ginásio Estadual Padre Anchieta em 1963. No dia 1º de março de 1966, Monsenhor André Camurça, então Secretário de Educação, criou junto ao Ginásio, o Curso Normal Pedagógico e recebeu a denominação de Colégio Estadual Padre Anchieta, que foi premiado com a dedicação do Professor Ivan, mestre, diretor e orientador, onde exerceu o cargo de Diretor até 1982, humanizando e formando professores, que hoje é um marco para a história das gerações presentes e futuras de Camocim.
No decorrer da formação histórica da Educação de Camocim, mais precisamente em julho de 1968, Padre Ivan decidiu renunciar aos votos religiosos fazendo o pedido de dispensa dos votos à Santa Sé e ainda movido pelo amor, resolveu desposar Terezinha Lira, moça prendada, de família tradicional de Camocim, que lhe deu cinco (05) filhos: Ivânia, Jeovane, Francisco, Luciano e Juliana.

Fonte: O Literário, Ano I, volume 2, edição 10, junho de 1999. Camocim-CE, p.1.



segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

CONTANDO HISTÓRIAS DE CAMOCIM PARA ANA RUTH.


Rua 24 de Maio. Fonte: camocimnet.com.br

Aproveito a caminhada vespertina até a casa de minha mãe para contar alguma coisa da história da cidade para a caçula Ana Ruth. Na ida, exatamente neste cruzamento (foto) da Rua 24 de Maio com General Tibúrcio, falo para ela que a casa entre a antiga "Usina" e o Ceja João Ramos foi uma central telefônica, daquele tempo em que precisávamos da telefonista para completar a ligação com outra pessoa. Diante do muro da RFFSA ela me indaga sobre o terreno e eu explico que ali era o antigo pátio de manobras dos trens. Na volta, já à noitinha, no trecho que se denominava Rua do Egito, digo para ela que antes do calçamento passar por ali as calçadas eram muito altas e de tamanho variados, como ela podia conferir pela "barra" nas fachadas das casas. Diante da "Usina",  explico-lhe o significado da sigla CFLC - Companhia de Força de Luz de Camocim, que vendia energia aos moradores produzidas por motores a óleo diesel. Falo-lhe da mancha de óleo que vazava para a calçada e dos tombos dos incautos, além das minhas travessuras com amigos em jogar pedras no prédio para testar a nossa pontaria, por uma pequena abertura logo abaixo daquela sigla. Sigo dizendo que o muro da então Escola de 1º Grau João da Silva Ramos era bem menor que hoje, com um gradeado por onde comprávamos nossas merendas na hora do "recreio". Ela, no entanto não pergunta a razão do agora muro alto. Prosseguimos na caminhada e lhe falo agora já na Praça do Hospital que ali fora antigamente um parquinho infantil. Dou-lhe detalhes do antigo muro, dos brinquedos... Ela nem desconfia das razões do abandono da atual Praça "Zequinha" Ximenes. Atravessamos a Praça da Matriz e lhe digo como a mesma era até meados dos anos 1980. Esperamos o sinal abrir na confluência com a Rua José de Alencar e tento lhe dizer como era a Casa do Sr. Edson Tavares, transformada em galpão onde hoje abriga o Armazém Paraíba. A esta altura, Ana Ruth desvia a atenção da "aula" para as vitrenes da Casa Nova, desisto então de lhe falar sobre a Empresa Rápido Mossoró, do Sonoro Pinto Martins. Esperamos outro sinal abrir, mas não divido com ela minha desolação ao ver que uma das últimas fachadas com o registro "1917" desapareceu para sempre da história da Praça Pinto Martins, numa recente reforma de uma padaria, não por culpa dos padeiros, é claro. A monotonia da nossa caminhada é quebrada, no entanto, com a efusividade da Fernanda que proclama em alto e bom som as felicitações de Natal e Ano Novo para mim e a Margareth, enquanto sai no seu rebolado caracterísitico em sua caminhada noturna... Prosseguimos. Passo mudo pelas ruínas da antiga Agência do SESI e só volto a falar quando Ana Ruth pergunta o que era a "Sede da São Vicente". Tento dar uma explicação mais fácil, enquanto vejo a porta aberta. Reparo para dentro e me deparo com um jovem, por coincidência, neto daquele que deu nome à praça que fica ao lado do hospital dando uma aula de matemática para um grupo de pessoas. É o Neto, filho do Assis e da Gina Trévia. Na primeira fila, o Meio-Quilo atento. Não perco a deixa e proclamo: Meio-Quilo estudando? - A humanidade está salva! Todo mundo ri e eu me ofereço para colaborar com uma aulinha de história qualquer dia desses. Mal sabiam eles que eu acabava de ministrar uma.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O ESQUECIMENTO DO PADRE DE CAMOCIM

Por mais de uma vez, cultivava o estranho hábito de ir à Igreja Matriz de Bom Jesus dos Navegantes só para conferir o esquecimento desta instituição àquele que devotou toda sua vida. Pois bem, nos dias 31 de julho e 13 de dezembro (quando coincidia ter missa nesses dias) lá estava eu torcendo que alguém fizesse uma menção ao nascimento ou à morte de Monsenhor Inácio Nogueira Magalhães, este filho de Granja que tomou Camocim como berço. Ano passado, apesar dos esforços do amigo Francisco Olivar (Vavá), o centenário de nascimento do velho sacerdote passou em brancas nuvens. Ele tencionava publicar uma obra sobre a vida do Monsenhor, mas, não encontrou guarida. A homenagem ficou apenas no blog Camocim Online. No último dia 13 de dezembro não pude ir à Camocim conferir o esquecimento ou a lembrança do pároco que dedicou mais de 40 anos ao rebanho católico de Camocim. Aqui registro a lembrança no momento em que leio um trabalho sobre Maçonaria em Ubajara da historiadora Adelena Soares Sousa e o nome dele está grafado como primeiro vigário daquele município serrano. Abaixo, pequenos traços biográficos da postagem do dia 31 de julho de 2010 publicada no Camocim Online:
Monsenhor Inácio na benção de inauguração do antigo BEC.
Monsenhor Inácio nasceu no dia 31 de julho de 1910, em Granja. Filho de José Silvestre Magalhães e Etelvina Nogueira Magalhães, Ingressou no Seminário Menor de sobral no dia 08/02/1924. Cursou a seguir, o Seminário Maior em Fortaleza-ce, e recebeu a ordenação sacerdotal das mãos de D. José Tupinambá da Frota, no dia 13/12/1933. Em 1934, exerceu o magistério no Seminário de Sobral. No período de 1935 a 1939 , trabalhou como vigário de Ubajara, de onde se transferiu para Camocim, assumindo a Paróquia de Bom Jesus dos Navegantes. Iria completar 50 anos defendendo o ministério no dia 13/12/1982, quando, após uma crise mais aguda foi transportado para Fortaleza-CE e morreu no hospital de Itapajé.

Foto: Camocim Online.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

99 ANOS DO VOO DE PINTO MARTINS


HÁ EXATOS 88 ANOS, PINTO MARTINS POUSAVA EM CAMOCIM


Segundo informações do Professor Paulo, jovem Historiador, e colaborador do blog, há exatamente 88 anos atrás, no dia 19 de Dezembro de 1922, às 12:35, pousava em Camocim, o ilustre filho da Cidade. Costumamos lembrar do aviador Euclydes Pinto Martins (ao lado, em foto raríssima) sempre no dia 15 de Abril, dia do seu aniversário, porém, o que marcou realmente para essa cidade foi o dia em que o Sampaio Correia II amerissou em Camocim tripulado com nosso conterrâneo como co-piloto e navegador e mais quatro americanos. No dia em que Pinto Martins voltou à Camocim, depois de 30 anos fora da terra onde nasceu, foi recepcionado por aproximadamente 3 mil pessoas na praia. O prefeito da época decretou feriado municipal. Para receber Pinto Martins foi feita uma comissão exclusiva para os preparativos daquele que seria, na História de Camocim, um marco, afinal, tratava-se do primeiro vôo ligando Nova Iorque-Rio de Janeiro (1922 a 1923). A comissão, segundo a ata feita no Sport Club transcreve os seguintes membros: Tobias Navarro (Pinto Martins ficou hospedado em sua casa na Rua 24 de maio ao lado direito da Delegacia da Policia Civil), Faustino de Albuquerque (Juiz de Direito em Camocim e ganhou a eleição para governador do Ceará 1947), Dr. Atualpa Barbosa Lima (Médico da Cidade, operador e jornalista), Antonio Fernando Barros e José Carlos Veras (comerciantes). "Espero até o fim de 2012 está publicando meu livro Euclydes Pinto Martins Vida, Memória e Suicídio?", disse ao blog, o Professor Paulo. O livro, segundo ele, virá com fotos inéditas, farta documentação e entrevistas com pessoas que viram Pinto Martins em Camocim, como a Senhora Cora Navarro, que mesmo com 99 anos, lembra os festejos que foram feitos na época. O Professor Paulo esclarece ainda que, quem tiver fotos, jornais, revistas, e que queira ajudar em sua pesquisa, basta entrar em contato pelo Tel: (88) 9425-3715 ou pelo email: paulorosset@hotmail.com. 
Postado por Tadeu Nogueira às 12:28h

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

MULHERES DE CAMOCIM - À BARRINHA, IN MEMORIAN

A notícia da partida da amiga Barrinha para o outro plano motivou mais esta postagem relacionada com a reportagem da Revista Manchete. Nela, Barrinha (Maria José) é apresentada como mulher empreendedora daquela época, proprietária do Restaurante Xangô, local bucólico que infelizmente não existe mais. Atualmente geria sua confecção sendo bastante requisitada. Da amiga Barrinha, sua marca indelével para mim sempre será seu sorriso fácil e farto. Parecia nunca estar triste 

domingo, 11 de dezembro de 2011

CAMOCIM DAS MULHERES - III

FOTO 2

FOTO 1
Fechando a série de postagens sobre a histórica reportagem da Revista Manchete de 1987: "Camocim - a cidade das mulheres", focalizaremos hoje, mulheres comuns e incógnitas que não estavam diretamente ligadas ao staff da então Prefeita Ana Maria Veras, e que não sabemos exatamente o que aconteceu com elas, onde estão e o que fazem. Na época da reportagem registrou-se a presença de Helena Batista,(FOTO 1)
FOTO3
então jovem de 17 anos, integrante da Banda Municipal de Camocim, "que é adorada por seus companheiros e até protegida pelos mesmos nas excursões a cidades vizinhas". Ainda no campo cultural, destacava-se Erivanda de Sousa (foto 2), "outro talento musical que aos 14 anos já foi premiada como cantora e compositora num disputado festival". O festival é claro, refere-se ao Festival de Música em Camocim, evento extinto na atual administração. Aparecendo sem créditos de nome, a reportagem exibe uma mulher a exibir um grande pargo, (Foto 2) com a seguinte legenda: "As mulheres estão em todas, inclusive na pesca, uma das fortes atividades econômicas da região. Uma força que já naõ é só dos homens".
Acreditamos ter explorado bastante a reportagem e, quem souber algo sobre essas mulheres retratadas nesta postagem, favor enviar comentários para o blog.

Fonte: Revista Manchete, Nº 1813, Rio de Janeiro, 1987, p.64-69.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

PESCADORES DE CAMOCIM DESAPARECIDOS

Na campanha inicada pelo blog CAMOCIM ONLINE, reproduzimos no CAMOCIM POTE DE HISTÓRIA, o sofrimento das famílias dos pescadores e de como a comunidade pode ajudá-las neste momento de dor.
Hoje estão completando 26 dias desde que os pescadores Zé Ivan, Chico Eudes e os irmãos Ivan e Gílson Torres, desapareceram em alto-mar, a bordo do bote "Bruno". De lá para cá, muitas buscas foram feitas a partir da Marinha e até do helicóptero da PM. Mas nada, absolutamente, nada, nem ninguém, foi encontrado até agora. Uma parte triste dessa história, contada pelas próprias famílias, foi a falta de apoio da Colônia e do Sindicato dos Pescadores, assim como, de forma inicial, da Prefeitura de Camocim, que só após ter seu nome exposto na mídia em relação à própria inércia, é que foi procurar os familiares. Segundo informações, pasmem, alegaram que não sabiam do fato. 
O desaparecimento dos pescadores foi noticiado, em primeira mão,  em 28 de novembro, pelo Blog Camocim Online. Logo em seguida, fomos contactados por diversas emissoras de TVs e portais de internet em busca de mais informações. Toda a mídia do estado veio então cobrir o fato. Na última segunda-feira (05), uma equipe da TV Jangadeiro, através do Cinegrafista J. F. Araújo e o Repórter Ricardo Lima, esteve em Camocim produzindo uma reportagem  sobre a falta de pistas, a aflição das famílias e o que pode ter ocorrido com o bote "Bruno". 
Com o tempo, além da saudade e da dor, veio fome, e por isso, uma campanha está em andamento para arrecadar alimentos para as quatro famílias. As pessoas estão doando alimentos, levando até o único posto de arrecadação existente, o Restaurante O Fortim. A campanha vai durar até  às 16h amanhã (sexta), quando será feita a entrega do que já foi arrecadado, aos familiares dos pescadores. Até o momento é impressionante o número de pessoas humildes, sem posses, que têm levado sua doação. Esses parece que se vêem na situação dessas famílias e, talvez, por isso, a vontade de ajudar seja maior. Da mesma forma, algumas empresas, comprometidas com o social, estão fazendo sua parte, mesmo porque, independentemente da quantidade que está sendo doada, o que importa é a solidariedade.  Veja a Reportagem em vídeo AQUI. E saiba como ajudar AQUI
Postado por Tadeu Nogueira às 08:38h
 
Fone: Camocim Online.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O CAMOCIM DAS MULHERES - II

Estou espirrando no momento em que faço este post. Não que esteja resfriado, mas, abrir a Revista Manchete Nº 1813, de 17/01/1987, é sentir a poeira do tempo nas narinas e quem sabe alguns fungos. Porém, me falta a máscara providencial. Sem máscaras, no entanto, são os depoimentos das mulheres retratadas na reportagem. Hoje, vamos ressaltar aquelas mulheres briosas que já se foram: 

1. Rosângela Alencar: "Para Rosângela Alencar, analista clínica e representante da LBA, seu marido Edmar, artista plástico, representa à perfeição a mente aberta dos varões de Camocim: "Ele é a mãe da casa, troca fraldas, dá mamadeira, faz comida. Essa tradição da cidade está merecendo uma tese de mestrado, pois não ocorre em nenhum outro local da região". 
Lá vou eu: Edmar ainda tinha tempo de pintar e compor canções.
 2. Beatriz Pessoa Navarro Veras: "Como decana das mulheres atuantes de Camocim, D. Beatriz Pessoa Navarro Veras, 73 anos, artista plástica premiada, orgulha-se de haver sido pioneira de um Movimento de Independência Feminina, há várias décadas. Ela foi a primeira empresária do município, com uma firma de bordados que vende para o Centro-Sul do país, e afirma jamais haver sentido qualquer discriminação por parte dos empresários masculinos. "A amplitude de nossos horizontes, com todas essas praias e ilhas, talvez tenha feito nossos homens verem mais além" 
Lá vou eu:  Este movimento feminista e a tese de D. Beatriz pode ser a deixa para a pesquisa de mestrado que Rosângela Alencar reivindicava.

3. D. Filomena: Legenda da foto: "Comerciante e diretora do Sesi, Filomena é um dos exemplos do dinamismo das mulheres de Camocim. Mas ela, como as outras, credita aos homens um papel importante para que o sexo frágil ganhasse presença na região".
Lá vou eu: No pouco tempo que convivi com D. Filomena, ela foi a grande "mãezona" de centenas de jovens atletas que frequentavam o SESI (cuja extinção ainda provoca grandes estragos na juventude camocinense), comandando a instituição e dando lições de vida diariamente.

Fonte: Revista Manchete Nº 1813, de 17/01/1987, p:64-8.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O CAMOCIM DAS MULHERES

Prefeita Ana Maria (sentada) ladeada de mulheres com posição de mando em Camocim.
Prefeita Ana Maria Veras (ao centro de saia amarela)e funcionárias da PMC.
Falar da importância das mulheres na históra de Camocim é necessário uma investigação acadêmica. Com efeito,  até monografia na UVA já abordou o assunto. No entanto, houve um período durante os anos 1980 que elas ascenderam de forma decisiva nos principais postos de comando da cidade. Desde a adminisstração municipal, passando por órgãos do Estado e da União, além da iniciativa privada, elas pontificaram num tempo em que a abertura política no país trazia novos tempos, pensamentos e comportamentos. Portanto, antes dos grandes debates que permitiram às mulheres uma maior participação na vida política do país e da luta pelos direitos enfim consignados na Constituição de 1988, eis que Camocim já era manchete (sem trocadilho) na extinta Revista Manchete (1987) em alentada reportagem que destacava essa presença feminina. Camocim era, portanto, "A Cidade das Mulheres", capitaneada pela então Prefeita Ana Maria Veras (então pertencente à facção política "Fundo Mole), num tempo que a possibilidade de termos uma presidente mulher no Brasil era quase utopia. Não somente seu staff de colaboradoras na administração municipal na figura de secretárias, diretoras de escolas e outros cargos foram mostrados, mas, também diretoras de ógãos como o INPS, COELCE, SESI, Delegacia do Trabalho, Promotoria, evidenciando a supremacia feminina no comando dos principais postos da cidade. Algumas dessas mulheres não estão mais entre nós, mas suas marcas estão na nossa memória. Em postagens posteriores, pretendemos enfocar mais detidamente o trabalho e trechos dessa histórica reportagem, onde mulheres das mais variadas origens escreveram um pouco da nossa história.

Fonte: Revista Manchete (1987)

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

CANGARÓ - (CANGATI E CORÓ - OS PEIXES DE GRANJA E CAMOCIM)

Conforme prometido, transcrevo a poesia "Cangaró", de minha autoria, classificada em 2º lugar numa das edições do "Festival de Música e Poesia de Granja", se não me falha a memória, no ínicio da década de 1990. A inspiração veio por conta da minha convivência com amigos granjenses no Colégio Agrícola Guilherme Gouveia, onde a rivalidade entre Camocim e Granja se acirrava nas aulas e terminava com as gozações de parte a parte, nos chamando de "cangati" e "coró", cada qual puxando a brasa para o seu peixe. Leiamos:





CANGARÓ
No mundo da cultura
erudita ou popular
elementos se incorporam numa interessante relação
com lugares, tipos e povos,
seja cidade ou nação.

Daí ser atribuída:
a pontualidade aos ingleses,
o trabalho ao Japão,
o bom vinho aos franceses,
a cerveja ao alemão.
O "jeitinho é brasileiro,
o "bom garfo", italiano,
o silêncio é mineiro,
o frevo pernambucano.
Carimbó, ritmo do Pará,
mulher rendeira, jangadeiro,
típicos do Ceará.

Poderia lembrar Granja
como "Terra das Macabas". Macaboqueira,
terra da carnáuba, de fama mundial.
Poderia lembrar Camocim
como cidade hospitaleira,
paraíso litoral.
Porém minha intenção
é resgatar a importância
de dois saborosos teleósteos,
os peixes que nos dão tanta sustância,
conhecidos por aqui
como coró e cangati.

Já dizia minha tataravó:
-Quem visita Camocim duas coisas não esquece.
Uma é a chupada no olho do coró.
A outra é a brisa que sopra quando anoitece.
Granjense que se preza
não deixa botar canga em si,
nem tampouco menospreza
uma pratada de cangati.

Água doce, água salgada,
em rios do mesmo nome.
Os pescadores de isca armada
fisgam o "pão" que mata a fome
do nativo e do estranja.
E na cultura tupiniquim,
cangati representa Granja,
coró identifica Camocim.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

LIVRO "CIDADE VERMELHA" AGORA EM "E-BOOK".

Lançado em 2007 em formato de livro pela Universidade Federal do Ceará, a nossa dissertação de mestrado, intitulada "Cidade Vermelha - a militância comunista em Camocim-CE. 1920-1970", agora ganha uma nova versão em e-book (livro digital), hospedado no site da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA. O e-book inaugura uma nova seção do Sistema de Bibliotecas da UVA, as "Publicações Digitais". Para acessar e fazer o dowload completo da obra é muito simples: basta visitar o site da UVA: www.uvanet.br e no lado esquerdo clicar em "Sistema de Bibliotecas", que direcionará a busca para a página seguinte, onde deve-se clicar em "Publicações Digitais". Automaticamente aparecerá a capa do e-book (foto ao lado), que nesta nova versão foi elaborada pelo aluno do PET/História UVA Luis Carlos Souza Lima. Gostaria de agradecer a Assessoria de Comunicação da UVA na pessoa do jornalista Fábio de Melo e da equipe do NTI que possibilitaram  a execução deste projeto.

OS PEIXES DE CAMOCIM

Camocim terra do peixe! Dentre as características de nossa terra lá fora, a associação com o pescado e frutos do mar é natural. Sempre que voltamos à Camocim nosso desejo, quase instinto é comer peixe, degustar um caranguejo, comprar alguns quilos e encher o isopor para ter na comida uma lembrança da terrinha. Ultimamente essa prática anda bastante maltratada. As condições de compra e venda do peixe na "latada" armada junto ao Mercado Público é ultrajante e higienicamente incorreta. O jeito é recorrer à história e aos bons tempos em que isso não era problema e a fartura do nosso Rio da Cruz era mais pródiga. A matéria abaixo nos deixa com água na boca, como relata o Camocim Jornal, ano III, Nº 75 de 06 de janeito de 1924:

"Peixe entrado no mercado d'essa colônia no período de  18 de novembro a 18 de dezembro de 1923:

Camurupim                                Kilos                     732
Cavalla                                          "                       29
Curvina                                         "                      144
Bagres                                          "                   1.708
Mero                                            "                        58
Pescada cobra                              "                     1.906
Pescada amarela                           "                    2.268
Coró amarelo                               "                         66
Curuca                                         "                        60
Cação                                          "                      120
Serra                                            "                       10
Arraia                                          "                        09
Peixe-pedra                                 "                         39
Carapeba                                    "                         96
Charéo                                        "                         21
Barbudo                                      "                         37
Beijú Pirá                                    "                         17
Parum                                         "                       177
Camurim                                     "                           9
Biquara                                       "                        105
Tainha                                         "                       384
                                                                         ______
Total                                                                 7.995         

Como se pode observar, naquele mês e ano era tempo de pescada amarela., dentre as quase 8 toneladas de pescado posta à venda. Salta aos olhos (e a boca) a variedade nas espécies de peixe, muitas quase extintas das águas do nosso rio, como o bom e velho Coró, nome pelo qual os granjenses nos chamavam pejorativamente (ou carinhosamente); assim como nós os apelidávamos de Cangati. Mas, essa antiga rivalidade transformei em poesia de nome "Cangaró" que publicarei em outro momento.

P.S: Termino a postagem e vou jantar Serra e Tainha, trazida da minha última estada em Camocim.

Foto: tainhanarede.blogspot.com
                                         

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O MOVIMENTO SINDICAL EM CAMOCIM

Em agosto de 1945, as entidades representativas do trabalhismo no Ceará resolvem promover o 1º Congresso Sindical Trabalhista do Ceará. Como sabemos, o país vivia numa ebulição tremenda face aos acontecimentos a nível nacional e internacional. Com a derrubada da Ditadura Vargas e o ventos democratizantes vindo com a queda do nazifascismo pela Segunda Guerra Mundial, inaugurou-se no Brasil um período que a historiografia consagrou como REDEMOCRATIZAÇÃO. No manifesto do referido congresso lemos:

"O momento foi, sem dúvida, dos mais oportunos. A par das profundas mofificações socio-politico-economicas impostas ao mundo para a preservação da paz, nossa terra, particularmente e em muito boa hora, já envereda pelo seguro caminho da Democracia. Breve teremos representantes e dirigntes à testa dos nossos destinos. Nossos problemas, agitados e revolvidos, trarão á tona e ao exame de uns e outros, o que a respeito deles julgam as fprças trabalhadoras da nação, após um trabalho de crítica sereno e desapaixonado".

Corroboando um passado de lutas, os trabalhadores e a classe patronal de Camocim estiveram representados neste congresso que, entre outras temas, orientou a discussão para:
1) Melhoria do nível economico do trabalhador.
2) Reorganização dos serviços de assistencia á saúde dos trabalhadores.
3) Elevação do nível social das classes trabalhadoras.
4) Justiça do Trabalho.
5) Reivindicações profissionais.
6) Problemas de interesse local. 

Nas treze páginas do manifesto estes pontos são discutidos neste tom e propondo soluções, trazendo inclusive pontos especíicos, como as reivindicações dos ferroviários de Camocim, tidos como desamparados pelas autoridades competentes, recomendando:

a) Garantia de seguro contra os riscos de acidente de trabalho e maior rapidez no processo de liquidação das indenizações;
b) Instituição do reimem de oioto horas de trabalho para oos os que viajam nos trens;
c) Regularização dos pagamentos dos operarios que, sem explicação alguma, estão sendo efetuadas após o dia 20 de cada mês;
d) Aposentadoria, com toos os vencimentos, após trinta anos de serviços.

Ao final do documento, segue-e a lista completa das entidades presentes ao evento, dentre elas as representantes camocinenses, confirmando a tradição que o município já teve no cenário cearense no que diz respeito às lutas dos trabalhadores para conseguirem melhores conições de vida e trabalho:

SOCIEDADE BENEFICENTE DOS FERROVIÁRIOS DE CAMOCIM
ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE CAMOCIM
SINDICATO DOS CARREGADORES DO PORTO DE CAMOCIM
SINDICATO MARÍTIMO DOS ESTIVADORES DO PORTO DE CAMOCIM
SINDICATO DOS TRAB. NAS IND. DE CONSTR. CIVIS DE CAMOCIM.
Fonte: Manifesto do 1º Congresso Sindical Trabalhista do Ceará. Cópia xérox datilogradfa, gentilmente cedida ao autor pelo Prof. Benedito Genésio Ferreira.

Foto: "Operários", de Tarsila do Amaral. Disponível em:  blog.brenosiviero.com.br


terça-feira, 15 de novembro de 2011

JOAO BAPTISTA GIZZI E A ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE CAMOCIM

O italiano JOAO BAPTISTA GIZZI fez história em Camocim e tal assunto já foi abordado neste espaço. Um dos mentores da fundação da Loja Maçônica em Camocim, "Seu Giz", como ficou conhecido na cidade, participou também da fundação de outra instituição quase secular e ativa ainda hoje: A Associação Comercial de Camocim. Contudo, o destino colheu de forma cruel o empreendimento industrial de Seu Giz na cidade, uma fabrica de sabão que veio a incendiar no início dos anos 1930. O processo do incêndio da fábrica que ficava na Praça Pinto Matins (atual Farmácia São Paulo e adjcências) encontra-se no Arquivo Público do Estado do Ceará, onde pude ler o sinistro. Quase inteiramente falido, Seu Giz resolve se mudar para Fortaleza, onde veio a morrer em 14 de julho de 1933. (QUEIRÓS, Artur. Recordações camocinenses e outras memórias. 2ª edição. Fortaleza: RBS Gráfica, 2003, p.15-6).  
Antes, porém, passando por dificuldades financeiras, o imigrante italiano recorre aos seus antigos amigos da Associação Comercial de Camocim por carta, lida em 18 de abril de 1932: 
  "Do Snr. João Baptista Gizzi, ex-consórcio e diretor desta Associação uma carta solicitando um auxílio monetário, sendo votado pela mesa de se mandar para o mesmo Snr, a importância de R$ 200$000, duzentos mil réis, sendo cuja transferência feita por intermédio dos Snrs, Albuquerque & Cia" (Livro de Atas da Associação Comercial de Camocim, p.79).
Não se tem a certeza pela leitura das atas se tal depósito foi confirmado. Além do que em data posterior se verifica um outro pedido da esposa de "Seu Giz". Acreditando-se que a ajuda de 1932 foi dada, o certo é que o moribundo italiano veio a falecer, como já se disse em 1933, no anonimato. A Loja Maçônica Deus e Camocim tem instituída em sua homenagem uma medalha com seu nome.


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A EDUCAÇÃO EM CAMOCIM - O COLLEGIO 5 DE JULHO.


Em postagem anterior enfocamos a existência das Escolas Reunidas em Camocim. Hoje, apresentaremos o Collegio 5 de Julho, fundado pelo jornalista Francisco Theodoro, um dos fundadores do Partido Comunista em Camocim. A escola teve vida efêmera, principalmente por causa dos  problemas de perseguição política que o fundador sofreu na cidade e no país. Vejamos:




Collegio 5 de Julho 

Até o fim deste mez se acha aberta a matricula deste collegio.
Materias: Leitura, Arithmetica, Portuguez, Geographia, Historia do Brasil, Historia Natural, Escripta e Francez.
Lecionamento pelos methodos mais modernos.
AULAS NOCTURNAS: Dentro de seis mezes este collegio habilita rapazes em correspondência inclusive commercial, quatro operações de conta, alguns problemas mais necessarios e leitura.
Aulas diurnas das 8 ás 11.
Aulas nocturnas das 6 ás 9. 
 
(Fonte: Jornal “O Operário”, Anno IV, 18 de janeiro de 1931, Nº. 75. Camocim-CE, p. 2).


Com este anúncio publicado em seu próprio jornal, o Professor Francisco Theodoro oferecia seus serviços à comunidade camocinense, quando o Brasil vivia o clima da Revolução de 1930, num momento em que o sistema educacional ensaiava adaptar-se ao sistema político, fundamentado nos princípios nacionalistas de caráter ufanista, assim como no culto à imagem de Vargas e na censura posterior do Departamento de Imprensa e Propaganda - DIP.
Desde o final da década de 1920 que o Professor Theodoro procurava desenvolver suas atividades políticas com a profissão de professor. Sendo também jornalista, buscava através do jornal “O Operário”, incentivar uma participação política da classe trabalhadora de Camocim nos domínios da política, estimulando até, uma representação trabalhista na Câmara Municipal e denunciando conchavos e escândalos da política local.
Podemos perceber aí, a impossibilidade da prática política de Francisco Theodoro com sua atividade profissional que lhe permitia sustentar sua família. Sabidamente comunista, pois desde março de 1928, fundara, juntamente com outros camaradas o Comitê Municipal do PCB, (dentre outros, Pedro Teixeira de Oliveira (Pedro Rufino), João Farias Sobrinho( Caboclinho Farias) , Raimundo Ferreira de Sousa (Raimundo Vermelho), Sotero Lopes, Joaquim Manso, Petrônio Pessoa dos Santos), Francisco Theodoro iria experimentar toda sorte de perseguições por sua opção política. No ano de 1931 ele denunciaria o boicote que a sociedade local faria contra seu jornal e sua escola. Eram dois espaços entendidos como um só, isto é, a sociedade não entendia a diferença entre a ação do político junto ao operariado e o professor que pretendia “habilitar rapazes em correspondência inclusive commercial, quatro operações de conta, alguns problemas mais necessarios e leitura”.

Foto: Capa do livro editado pelo Arquivo Público do Rio de Janeiro, cujo conteúdo é o diário do Professor Francisco Theodoro escrito na prisão em 1932, onde narra o cotidiano da prisão e as perseguições sofridas em Camocim. Disponível em: www.faperj.br

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O CONTRABANDO EM CAMOCIM - PARTE 3

Nas postagens anteriores nos referimos à constituição de uma CPI contra o Contrabando do Café e Cera de Carnaúba no Ceará em 1959, assim como o pedido de prisão do contrabandista "Milton Cachorrinho" em 1964. Leitor do blog pede que fôssemos mais fundo na questão e procurasse mostrar o envolvimento de políticos com a prática ilícita do contrabando. Ele queria nomes, mas, a prudência me faz pautar pelo que disponho de prova factual, no caso a imprensa, que, por seus motivos não faz alusão aos nomes dos envolvidos, apenas supondo, visto que o caso estava em investigação na esfera policial. Na postagem de hoje, o ano é 1963 e refere-se a uma pequena apreensão de caixas de uísque escocês na Praia de Mundaú, litoral oeste.
 Contudo, a matéria sugere outras nuances do caso, como a denúncia do jornalista Roberto Antunes que diz que o contrabando "envolve o Legislativo e elementos da própria Polícia, que estariam compactuando com os contrabandistas". O Governador da época Virgílio Távora pede rigor na apuração da denúncia do jornalista e a Assembleia Legislativa  cria uma comissão de deputados para  se dirigir a Camocim, Chaval, Granja e Acaraú "para fazer investigações sobre a participação dos deputados" A matéria traz ainda a posição do Capitão dos Portos do Ceará, que cobra uma maior participação da Capitania local no combate ao tráfico de mercadorias. A matéria acima fecha de forma lacônica: "Vai o café, volta a jóia, o uísque, a sandália japonesa, o perfume, os tecidos finos, aparelhos domésticos e até automóveis - em saquinhos com a rubrica do IBC (Cofee of Brazil)". Na próxima postagem traremos a repercussão do contraando em textos literários de renomados autores do Brasil.

Fonte: Jornal "O Povo". Fortaleza-CE. 25 de julho de 1963, p.2. Biblioteca Pública Menezes Pimentel.

sábado, 5 de novembro de 2011

UM BENEDITINO CAMOCINENSE NA 1ª GUERRA MUNDIAL

O blog hoje traz uma pequena biografia de mais um camocinense que "ganhou" o mundo. Essa postagem é no sentido de mostrar para a juventude camocinense, tão carente de exemplos, uma trajetória de um conterrâneo do passado. Confira:

Leandro (Caio) Menescal Marques de Sousa foi religioso, educador, capelão da Esquadra brasileira na primeira guerra mundial, reitor do Mosteiro de São Bento (Rio de Janeiro).Leandro Menescal Marques de Sousa - Benedictino—Nasceu em Camocim a 21 de Maio de 1888, sendo seus paes o Engenheiro Francisco Marques de Souza, Fluminense, e D.a Anna Petronilla Menescal M. de Souza, Cearense, da villa da Palma. Caio foi seu nome de baptismo. Alumno dos Padres Benedictinos do Quixadá, seguiu para Roma, onde fez os estudos ecclesiasticos, e ordenou-se no Rio de Janeiro a 16 de Agosto de 1912. Cantou sua 1.a missa na festividade de S. Joaquim (18 de agosto) com as assistência pontifical do Archi-Abbade Dom Geraldo van Caloen. 

Foto: Mosteiro de São Bento: Rio de Janeiro. Disponível em: flickr.com 

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O CONTRABANDO EM CAMOCIM - PARTE 2

Seis anos depois de instalada a CPI do Contrabando do Café e da Cera de Carnaúba na Câmara dos Deputados, a imprensa cearense  ainda noticiava ações da polícia em prender contabandistas envolvidos com as "muambas em vários locais, inclusive no Ceará, no município de Camocim" (Jornal O Povo, 20 e 21 de junho de 1964, p.2). O major Egmont Bastos Gonçalves que presidia o inquérito no Ceará, revelava naquela oportunidade que havia solicitado a prisão do contrabandista "Milton Cachorrinho" que estaria homiziado no Sul do país. Na mesma nota (foto ao lado), o major informa também que a "Comissão já ouviu o espanhol Luis Morallez também implicado e prepara-se para fazer o mesmo com o sr. Zacarias Neves, tido como o 'rei do contrabando' no Pará". Como podemos observar os nomes que aparecem nesta fonte não envolve m políticos e suas redes de proteção. Vale salientar que, neste mesmo número do jornal cearense o jornalista Tarcisio Holanda , conscientemente ou não, aponta para uma prática  que se inaugurava  no contexto pós-golpe onde os grupos políticos vencedores do Golpe Civil-Militar de 1964 usariam pra perseguir seus adversários - a acusação de serem contrabandistas. Foi o caso da cassação do mandato de Deputado Federal do Padre José Palhano de Sabóia, cujo processo em sua formulação teve a decisiva participação do General Flamarion Barreto e do Coronel Luciano Barreto, ambos irmãos do então Prefeito de Sobral, Cesário Barreto, inimigos políticos do afilhado de Dom José Tupimambá da Frota.Vale ressaltar que em muitas ocasiões, acusadores e acusados estavam envolvidos na prática ilícita do contrabando, se sobressaindo a força política na cassação de mandatos parlamentares. Voltaremos a falar do assunto em postagens posteriores.



quinta-feira, 27 de outubro de 2011

ESCRITORES DE CAMOCIM - INÁCIO SANTOS

Hoje o blog retoma a seção "Escritores de Camocim" com um dos melhores cronistas da cidade, o radialista Inácio Santos. Uma amostra de sua escrita pode ser encontrada nas saudosas páginas de "O Literário", ou enfeixados no seu livro "Flamengas e Boqueirões", título que tive o prazer de sugerir e prontamente aceito por Inácio Santos para minha surpresa. Deliciemos pois com as reminiscências de garoto do autor, começando pela crônica "Cemitério Velho".
CEMITÉRIO VELHO

Ainda quando a cidade terminava antes do final da Rua 03 de Outubro, e lá se vão mais ou menos trinta e poucos anos, eis que incrustado entre as Ruas Paissandu e Alcindo Rocha, ali estava ele. Vou chamá-lo como o conheci e como todos o chamavam: Cemitério Velho. Velho mesmo! Não sei a data de sua inauguração, mas já naquele tempo era o cemitério velho, até mesmo porque de há muito estava desativado, pois já se encontrava o atual cemitério em plena atividade.
Ora, pois ali estava ele (o cemitério velho) a nos fascinar. Moleque, na época, morando a poucos metros do dito cujo, na Rua da Independência, era ali um dos pontos preferidos por nós (a molecada) para as nossas brincadeiras, com direito a toda sorte de danações, que iam desde o simples esconde-esconde entre os túmulos, à caça de passarinhos e lagartixas com nossas terríveis baladeiras, até pregarmos sustos às pessoas, visto que naquele tempo o lugar era ermo e para, ali, passar tinha que ser por uma espécie de trilha, obrigando às pessoas a andar por cima da calçada do cemitério, o qual tinha o muro relativamente baixo, deixando à mostra uma boa visão de seu interior. Era nesses instantes que nós nos escondíamos e quando os menos avisados por ali vinham, principalmente mulheres, nossas vítimas preferidas, saíamos de chofre, soltando terríveis berros e gritos, ou jogando areia por sobre o muro em cima das pessoas que, por estarem a andar na calçada de um cemitério (embora desativado), tinham motivos de sobra para se sentirem apreensivas. As carreiras e sustos destas era nosso deleite. Ríamos – a bandeiras despregadas – aquele riso puro e, ao mesmo tempo diabólico, de moleque travesso que se regozija com o resultado de sua travessura.
Por mais que nossos pais nos avisassem para que lá não fôssemos, pois para nos amedrontar diziam “cobras e lagartos” coisas como: que poderíamos pegar doenças terríveis, pois o lugar era contaminado; que havia cobras venenosas (o que nos fundo não era mentira), pois matávamos muitas delas, venenosas, tipo: coral, cascavel... Outras, não: papa ova, muçuranas (cobra preta), etc. Mas nada do que nos diziam - e até mesmo os castigos - não nos dissuadia ou muito pelo contrário algo de mágico, invisível e misterioso, empurráva-nos cada vez mais para o nosso refúgio (Cemitério Velho). Ali era nosso terreno. Conhecíamos cada passo, cada túmulo, cada catacumba, eles eram nossos parceiros e confidentes. Tinha aquela toda de mármore preto e branco com um epitáfio de letras douradas e foto em alto relevo. Pertencia a um general – não lembro o nome- data de mil e oitocentos e qualquer coisa. Nós olhávamos com admiração – general, mármore, luxo, riqueza – muitas vezes até evitávamos apedrejá-la, pois era a nossa preferida. Tinham aquelas já abertas e corroídas pelo tempo. Aquela outra que, à noite, servia de dormitório para um maluco da época - Chico Doido. Além de muitas outras, cada qual com suas peculiaridades.
O certo é que, ali, no cemitério velho, tínhamos tudo que queríamos para a realização de nossas incontáveis brincadeiras. Conhecíamos palmo a palmo o nosso reduto. Pulávamos por cima dos túmulos e catacumbas com a agilidade de um bando de babuínos, na copa das árvores.
Certo dia, no entanto, fomos surpreendidos por pessoas estranhas, homens e máquinas e quedamo-nos boquiabertos, quando o trator entrou no nosso “Campo Santo”, bufando e fazendo enorme barulho. A máquina monstruosa foi vencendo construções seculares, destroçando, despedaçando e transformando tudo em entulho, tudo que encontrava pela frente. Em poucas horas, nada mais restava do que um simples terreno aplainado.
Vimos tudo aquilo empoleirados em cima de um pedaço de muro (último a ser derrubado), com um misto de revolta e fascinação.
Hoje, aquele pedaço faz parte de uma paisagem da cidade totalmente diferente. Ali está incrustada a Praça “Sinhá Trévia”, popularmente conhecida como Praça da Rodoviária; para alguns, (no meu caso), Praça da Saudade. Saudade sim, dos bons tempos ali vividos, dos folguedos e brincadeiras que ficaram registrados em minha lembrança como marcas indeléveis. São reminiscências saudosas de uma época de outrora que o tempo, em sua marcha inexorável, levou.
Esse mesmo tempo só não pode apagar da minha memória a saudade que sinto de ti, querido Cemitério Velho.

Inácio Santos
In literário: dezembro 1998, Flamenga e Boqueirões.

Foto: Praça da Rodoviária, antigo Cemitério Velho. Disponível em: ferias.tur.br

O CONTRABANDO NO PORTO DE CAMOCIM

Desde que me entendi por gente escuto histórias de contrabando no município de Camocim. Segundo a oralidade, este expediente explicaria as fortunas de algumas famílias da cidade e da região norte, ligadas ao comércio, indústria e política. Essa forma de comercializar era tão escancarada mas, ao mesmo tempo silenciada, dependendo da conjuntura política. Na década de 1950, o assunto do contrabando de café, especialmente, e de veículos tipo "Rural" ganharam repercussão nacional, com ecos até na Câmara dos Deputados que acabou por instalar uma CPI para apurar os fatos. O Porto de Camocim era rota dessas transações ao arrepio da lei, a ponto de, segundo me confidenciou um pesquisador, filho de um Ministro da época, que as tais "Rurais", eram conhecidas no sul-sudeste como as "Camocins". O tempo passou e a história que ouvi contar nas tardes ensolaradas da Rua do Egito por ferroviários e marínheiros  aposentados, acabou atravessando nossas pesquisas, às vezes se materializando na documentação, confirmando ou refutando algumas dessas histórias. Hoje, trazemos a repercussão na Cãmara Federal, numa versão resumida, sobre o contrabando de produtos no Ceará, passando pelo porto de Camocim. Na matéria, chamaria a atenção para a presença do então Deputado Federal Esmerino Arruda nos trabalhos da então Comissão Parlamentar de Inquérito que tratou do assunto. Os grifos em negrito no documento são nossos.

"RESOLUÇÃO Nº 2 - 1959: (Publicado no “D.C.N.” de 24-4-1959, página nº 2 - Suplemento)
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara dos Deputados:
Os Deputados, infra- assinados, com fundamento no art. 53 da Constituição Federal e de acordo com o art. 31 do Regimento Interno, requerem a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar a veracidade dos fatos, adiante expostos, cuja gravidade e extensão constituem uma violação frontal às leis em vigor e uma séria ameaça a receita cambial do País.
O CONTRABANDO DO CAFÉ E DA CERA DE CARNAUBA
É fato público e notório amplamente divulgado pela imprensa de todo o País, a exportação clandestina de café, nos Estados nordestinos. Aquele que viaja pela estrada Rio-Bahia-Ceará se depara,  freqüente mente, com caminhões repletos de café, cuja destinação suposta é o mercado consumidor daqueles Estados. O transporte é, feito ás claras e sem a menor cautela, eis que é livre a circulação de mercadoria dentro do território nacional. Os meios utilizados pelos contrabandistas são os mais variados. Ora, empregam embarcações particulares, carregadas em locais desertos e as caladas da noite. Ora, contando com a conivência das autoridades aduaneiras e estaduais embarcam o café como produtos locais de pouca valia, ou consignando-o a portos no território nacional, ou simplesmente, enchem os porões dos navios sem maiores cautelas, com destino a Paramaribo. Pois todos são interessados no sigilo do negócio.  Pois todos são interessados no sigilo do negócio. O dinheiro corre forte e grosso. Todas as consciências são compradas. Todos os escrúpulos entorpecidos pela volúpia do lucro fácil e imediato.
Enquanto os negociadores do ilícito enriquecem á custa da riqueza nacional, as autoridades competentes assistem de braços cruzados a orgia de corrupção generalizada.  (...) O Governo não dispõe de meios para combater a evasão crescente de divisas preciosas, roubadas á Nação pelo contrabando organizado. Mas, os meios estão ai. Nada mais fácil do que acompanhar o intinerário sinistro do café, em transito pelas rodovias do Nordeste, desde o começo ao fim da viagem. Basta examinar os manifestos de embarques de café, consignado a portos nacionais e verificar que o produto não desembarcou, continuando sua fuga para o exterior. (...) Como conseqüência e corolário natural da impunidade dos contrabandista de café, surgiu, no Nordeste, o contrabandista da cera de carnaúba. Em verdade, no Estado do Ceará, está se alastrando, em proporções alarmante, o contrabando daquele importante produto. Para citar um exemplo concreto, basta mencionar o embarque clandestino, efetuado em dezembro do ano passado, as altas horas da noite, de varias toneladas de ceras, no porto de Camocim. Toda população daquela cidade tem conhecimento do fato.
Cumpre á Comissão de Inquérito apurar a veracidade dos fatos aqui denunciados e relatar quais as providências tomadas pelas autoridades competentes para punição dos responsáveis.
A IMPORTAÇÃO IRREGULAR DE 38 VEICULOS NO ESTADO DO CEARÁ
Outro fato que escandalizou a opinião pública do País, e já serviu de base para pedido de informação por parte do Deputados Souto Maior ao Sr. Ministro da Fazenda, foi o desembarque, no Ceará, de 38 caixas contendo automóveis e camionetas de luxo.(...) O requerimento de importação em regime de privilegio, segundo a Nota Oficial da Alfândega de  Fortaleza, foi feito em 89-11-57 e autorizado pelo Sr. Presidente da Republica autorizar, naquela data, a importação dos veículos mencionados a uma entidade que só adquiriu personalidade jurídica no dia 29 de outubro de 1958, com a publicação dos Estatutos no “Diário Oficial da “União  Oficial da União”, e que só passou a fazer jus ao beneficio de importação em regime de privilegio no dia 3 de dezembro do mesmo ano, com o registro no Serviço Social? Evidentemente, Houve um abuso de confiança e S.Ex{ os Sr. Presidente da Republica foi ludibriado em sua boa fé.
Isto não é tudo, entretanto. Em verdade, até hoje, não se sabe de onde proveio o dinheiro para importação daqueles veículos de luxo. Declarou o Padre Valério á imprensa que recebeu os carros como donativos de pessoas residentes nos Estados Unidos. Não disse, porem, quem foi o doador ou doadores. (...) Por outro lado, não parece crível que nos que nos Estados Unidos existam doadores tão generosos e, ao mesmo tempo, tão obtuso, Pois, tratando-se de uma ordem religiosa mantenedora de educandários de ensino, o donativo menos apropriado seria, inegavelmente, automóveis  de luxo. Há tanta coisa útil que poderá ser doada áquelas entidades, inclusive dinheiro, em moeda sonante. Pois é certo que o dólar convertido em cruzeiro, no cambio livre, constituiria um auxilio inestimável aos donatários em apreço.
Por isso, somos levados á conclusão de que jamais existiram tais donativos. Tudo indica que a transação foi financiada inteiramente por grupos econômicos, cuja atividade se prende ao comércio de automóveis. Não há dúvida de que houve fraude á lei, para obtenção de vantagem ilícita, com prejuízo para receita cambial do País. (...) Por trás dos bastidores, existem, desenganadamente, pessoas de grande influencia, diretamente interessados no assunto. Agem na sobra invocando o nome e o prestigio de homens de reputação ilibada. Neste sentido foi divulgada a notícia, através de um telegrama endereçado a um jornalista cearense, de que o eminente Cardeal de São Paulo havia pedido a um Deputado federal sua interferência junto ao Sr. Presidente da Republica para que fossem liberados os carros. Felizmente Sua Eminência desmentiu a intriga em carta endereçada ao Governador Parsifal Barroso.
O contrabando está perfeitamente caracterizado. Só resta punir os que fazem o comercio do ilícito e da imoralidade contra o bem publico e a lealdade dos negócios.
Esta Comissão será constituída de cinco membros e terá a duração de 120 dias, podendo despender, no exercício de suas atividades,  a quantia de Cr$ 300.000,00.
Sala das Sessões, em 10 de abril de 1959 - Esmerino Arruda - Rondon Pacheco -Benjamim Farah - Sergio Magalhães - César Prieto - Souto Maior - Carlos Lacerda  (segue lista de demais deputados que assinam...)
(...)
Em virtude desta Resolução o Sr. Presidente da Câmara dos Deputados designou para constituir a Comissão Parlamentar de Inquérito os Srs. Deputados Moacyr Azevedo, Abelardo Jurema, José Humberto, Souto Maior e Esmerino Arruda.  

FONTE:  Senado Federal. Subsecretaria de Informações. RESOLUÇÃO Nº 2 - 1959: (Publicado no “D.C.N.” de 24-4-1959, página nº 2 - Suplemento). 
Foto:Internet (meramente ilustrativa)