domingo, 26 de maio de 2013

FRANCISCO OLIVAR - DE CAMOCIM PARA O MUNDO DOS LIVROS

Invariavelmente, Francisco Olivar, nosso amigo Vavá, aparece em nossas postagens por sua relação de amor à cidade de Camocim, à cultura e os livros. Hoje vamos destacá-lo como alguém que teria inspirado o poeta Castro Alves se tivesse vivido à sua época, quando cunhou estes versos: "Oh! Bendito o que semeia / Livros... Livros à mão cheia...". Quem o conhece sabe que ele respira livros. Não somente como um especialista na venda, mas, como alguém que semeia livros por onde passa. De tanto agir desta maneira, nosso conterrâneo é uma figura conhecidíssima nos meios intelectuais do Rio de Janeiro e se tornou um dos maiores estudiosos no Brasil sobre Monteiro Lobato. Pois bem, de tanto viver seu cotidiano com os livros e seus leitores, Vavá se tornou verbete de alentada obra recém lançada intitulada "História das Livrarias Cariocas" (Edusp, 2012) de Ubiratan Machado, que pretende contar a história do Rio de Janeiro por suas livrarias. Destaca o autor sobre Francisco Olivar:
Francisco Olivar (Vavá). Fonte: "História das Livrarias Cariocas", p.388.

"A pequena Rua Bittencourt da Silva, diante da boca de entrada da estação Carioca do metrô, torna-se um ponto de venda de livros, espalhados no chão ou em banquetas. Mais tarde, são montados pequenos estandes. O vendedor mais solicitado é o cearense Francisco Olivar, ex-gerente da Entrelivros, simpático, inteligente e bom conversador. Interessa-se pelo livro não apenas como mercadoria, mas como fonte de conhecimento e prazer espiritual. Apaixonado por Monteiro Lobato, cuja vida e obra conhece bem. Talvez por influência do espírito do escritor paulista, escreveu um pequeno livro de literatura infantil, Risadinha. (p.387).

Nosso reconhecimento ao camocinense que faz história longe de sua terra.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

CAMOCIM NAS LIÇÕES DE GEOGRAFIA

Página 120 do Livro "Lições de Chorographia do Brasil".
Um dos presentes que ganhei de Francisco Olivar, o Vavá quando estive no Rio de Janeiro recentemente foi uma raridade. Trata-se do livro Lições de Chorographia do Brasil de Horacio Scrosoppi, editado em 1922 em sua quarta edição. Tal livro era nada mais, nada menos do que o adotado na área de Geografia do então famoso Collegio Pedro II. A Geografia como qualquer outra ciência reflete o seu tempo e é neste quesito que podemos aquilatar a importância que Camocim tinha nos anos 1920. À esta época a cidade era uma das mais importantes do Estado do Ceará, estando entre as dez em qualquer seleção que se fizesse. Até mesmo numa seleção didática de um livro de Geografia com caráter nacional, estava lá Camocim. No livro em questão vem até antes de Sobral, coisa impensável nos dias de hoje. Vejamos como o autor descreve nossa cidade:

Camocim - 10.000 hs., no littoral, à esquerda da foz do Camocim, com excellente porto e optimo ancoradouro, o melhor do Estado. Ponto inicial da E. F. de Sobral, sua estação apresenta magnífica e mais importante apparencia que a da Capital.
Possue diversas ruas largas e praças espaçosas, sobresahindo a rua da Boa Vista, onde se veem casas de esplendida construcção. Centro importante de exportação e importação, offerece a cidade agradavel impressão ao viajante, tanto pelo movimento do pôvo nas ruas e affluencia de passageiros como pela animação das transacções commerciaes.

Fonte: Livro "Lições de Chorographia do Brasil. Quarta edição. S. Paulo. Casa Duprat, 1922.

domingo, 12 de maio de 2013

UM CAMOCINENSE NO RIO DE JANEIRO

Praia de Botafogo. Rio de Janeiro. Fonte:cotidianoantologico.blogspot.


Não é costume escrever sobre nós neste blog, afinal de contas esse espaço é para a História de Camocim. No entanto, minha última visita ao Rio de Janeiro foi tão rica de encontros e coincidências que merecem um registro. Para começar encontro no Aeroporto Pinto Martins (nosso mais famoso camocinense) o Paulinho (lembro dele como jogador do Cruzeiro e da Seleção de Camocim), irmão do Sinázio e do Deca em mais uma viagem de trabalho. Assim como os estivadores e portuários foram buscar trabalho em outros portos nas décadas de 60 em diante, uma boa parcela de jovens camocinenses buscam emprego atualmente em empresas terceirizadas que prestam serviços à Petrobrás na região de Macaé-RJ. A viagem se tornou mais interessante pois nada melhor do que compartilhar com um conterrâneo um dedo de prosa. Chego ao Rio e busco refúgio num albergue próximo de onde vou iniciar minhas atividades de estudo no estágio pós-doutoral (PACC/UFRJ). No quarto em que fico, denominado de "Flamengo-Botafogo", divido o espaço com dois estudantes alemães e um brasileiro que nem desconfiam que sou botafoguense campeão arrastão 2013. Para almoçar escolho um restaurante simples, daqueles onde os trabalhadores da área se aglomeram disputando os pratos feitos do dia. No balcão um atendente com a camisa do Ceará Sporting Clube denuncia sua origem. Ao final do almoço tento um diálogo com ele, mas as constantes solicitações impedem isso, mas saio sabendo que ele é de Santa Quitéria e que conheceu o Monsenhor Ximenes, nosso camocinense que fez ali sua história de fé e marcada pelo gosto de colecionar tudo sobre trens. Vou para a atividade de estudo e sou solicitado a me apresentar aos outros colegas e dizer um pouco da minha pesquisa - impossível não falar de Camocim. No intervalo, um dos presentes me aborda. - Quer dizer que vocè é de Camocim?! Digo que sim e vem a surpresa: Minha família também é de lá. Quando você disse que era de Camocim não acreditei - Trata-se de Paulo Sérgio Brito, professor de teatro e de nome artístico Paulo Ess, filho de um ex-ferroviário de nome Manoel Frutuoso de Brito. Numa boa meia-hora atualizo a história da cidade e conto sobre nossas potencialidades e problemas. No dia seguinte vou a procura de Francisco Olivar, nosso amigo Vavá, embaixador de Camocim no Rio de Janeiro. Assim que saio do metrô na Estação Carioca me deparo com Vavá de cachecol a vender seus livros. Passada a surpresa do contato inicial, Vavá me convida a dar um pequeno passeio na área central. Numa barraca de camelô me presenteia com duas faixas do Botafogo Campeão de 2013. Depois fomos à Confeitaria Colombo tomar um café onde nomes seculares como Olavo Bilac, Machado de Assis, José de Alencar e outros tantos, comiam, bebiam, discutiam política e literatura. Entra numa livraria e noutra e mais um presente: um livro sobre as livrarias cariocas, onde Olivar é verbete. Depois destacaremos esta obra neste espaço. Almoço com Vavá e retorno ao Ceará. Na espera do ônibus para Sobral resolvo jantar na Rodoviária. A certa altura o garçom me pergunta se meu nome é Carlos Augusto. Digo que sim e pergunto o porquê da pergunta. Ele me diz que era para satisfazer um pedido de um outro freguês e me aponta o cara. Trata-se de Gouveia Neto, assíduo leitor do Camocim Online e deste blog, irmão de "cabeça" do Tadeu Nogueira.Conversa vai e conversa vem fico sabendo do projeto dele de escrever um livro sobre a História de Barroquinha e de retornar a Camocim, dentre outros assuntos, que me fez concluir tratar-se de um bom papo, encerrando esta série de encontros felizes que tivemos nestes dois dias. Junho voltarei novamente ao Rio: o que me espera? O que encontrarei? Mas isso já é outra história...


Balaustrada de Camocim. Foto:facebook,com

quarta-feira, 1 de maio de 2013

O PRIMEIRO DE MAIO EM CAMOCIM - II


Há dois anos atrás publicamos um post com o mesmo título. Poderia repeti-lo, o blog é gerenciado por mim mesmo. Poderia repetir a mesma cantilena de que já fomos uma cidade interessante para o cenário político e econômico do Ceará, que a ferrovia e o porto proporcionaram uma série de categorias profissionais na cidade a ponto de termos uma União Sindical. Se hoje a CUT, a CONTAG, a FORÇA SINDICAL comemoram a data em grandes shows e distribuição de valiosos prêmios no sul e sudeste do país, por aqui se gestou um órgão colegiado que tentava resolver os problemas dos trabalhadores junto aos patrões. Poderia até fazer referências aos desfiles relembrados por João Ricardo, Seu Nilo, dentre outras lideranças, ou até do registro da compra pela  Sociedade Beneficente Ferroviária do quadro "Martíres de Chicago", peça simbólica do Massacre de Chicago em 1886 e que, afinal, serviu para a instituição da data do "Dia do Trabalho". Mas, tudo isso já foi dito e agora redito como recurso introdutório deste pequeno texto.
Orla de Camocim. Arquivo do blog.
No entanto, quero falar hoje dos rumos e descaminhos que o trabalho ou a falta dele acarreta em nossa cidade. Com grande parte da população ativa desempregada - fala-se em números alarmantes em torno de 17 a 20 mil pessoas sem um posto de trabalho, qual será o nosso futuro? O empresariado não consegue estruturar e potencializar nossas vocações e potencialidades, o turismo ainda é uma promessa no campo das políticas públicas. A indústria saladeril (exploração do  sal marinho) que já foi importante não recebe insumos e empreendimentos governamentais. A pesca não sai do lugar, apesar dos recursos empregados na construção de um Terminal Pesqueiro que não beneficiou nada no setor. A indústria naval - detectada como uma saída para adoção de investimentos, patina nas promessas políticas e na lerdeza burocrática da implantação dos grandes projetos. Nem sequer a indústria calçadista que há décadas explora a nossa mão-de-obra barata consegue ou não quer se expandir.
O que será que nos falta tomando como exemplo os casos de Sobral, Iguatu e outras cidades do porte de Camocim para a implementação de algo que desafogue essa demanda retraída nos postos de emprego?  Alguns falam em qualificação. Mas qualificar o quê e para quê? Resolvem os cursos para garçom, guia turístico e cozinheiros? É correto termos uma escola profissionalizante onde os alunos de um curso precisam fazer estágios nas suas respectivas áreas em outras cidades? Fica a reflexão para quando voltarmos para casa de alguma comemoração, manifestação ou qualquer coisa que o valha, deste feriado cada vez mais destituído de sentido.