quinta-feira, 16 de junho de 2022

CAMOCIM NOS LIVROS. MAÍRA, DE DARCY RIBEIRO

 

Capa do romance "Maíra". 10ª edição. Darcy Ribeiro. Editora Record. 1989

. Fonte: estante virtual.


    Já postamos aqui neste espaço matérias sobre a etimologia do nome "Camocim". São vários os estudos e teorias sobre a origem do nome da nossa cidade, sendo objeto de estudo de historiadores e literatos, do porte de um José de Alencar, por exemplo.
    Eu, no entanto, já estou convencido da sua origem tupi, sem muitos rebuscamentos e baseado no que a palavra significa tanto no universo amazônico, quanto no nosso imenso litoral - isto é, "camucim", assim escrito com "u", nada mais é do que um utensílio da forma de um "pote" como tal o conhecemos.
    Portanto, o nosso "camucim", por aliteração, se transformou em "Camocim" e é usado para referenciar um pote (inclusive na literatura alencariana na narração do mito de Iracema), com o qual, as mais variadas tribos indígenas do Brasil, faziam dele variados usos, inclusive o de "enterrar os seus defuntos" como urna funerária.
    Deste modo, destaco hoje como o escritor, etnólogo, antropólogo Darcy Ribeiro faz uso do termo em seu romance MAÍRA. Embora na descrição a cena seja a de um sepultamento de um velho cacique e os cerimoniais decorrentes de tal fato entre os indígenas da tribo Mairum, os "camucins" tem outra utilidade:

"Começa a acumular-se também a carne moqueada de caça e as mantas de pirarucu seco. Muito mais ainda terá que ser caçado e pescado para dar de comer a tanta gente durante todos os dias das festas grandes que virão. Hoje o aroe fez rolar para dentro do baíto quatro camucins enormes, acabados de modelar e de queimar pela velha Anoã. São camucins verdadeiros, grandes como os antigos e bojudos como devem serpara o cauim de caju fermentar bem, espocando. Todos estão primorosamente pintados". ( RIBEIRO, Darcy. Maíra. 10ª edição. Rio de Janeiro, Record, 1989, p. 47-48. Grifos nossos).

    Qualquer semelhança é ótima literatura nacional a confirmar nossa escolha de uma origem etimológica da palavra que condiz melhor com nossa história.


domingo, 5 de junho de 2022

"CEBOLAS PARA CHANTILLY" COM GOSTO DE CAMOCIM...

Orlando Cantuário não é um escritor camocinense, mas, mora e trabalha em Camocim no Campus do IFCE e, além do mais ja comeu e chupou a cabeça de um coró e, portanto, já está irremediavelmente enfeitiçado. Sua obra em grande parte se inspira em Camocim e por isso está na seção "Escritores de Camocim".

Capa de "Cebolas para Chantilly". Orlando Cantuário. 2017.


Ir ao IFCE - Campus Camocim além de ser sempre um prazer é  sinônimo de "ganhar presentes". Da última vez que estive lá não foi diferente. Além do calor humano, acabo sempre trazendo algo interessante para casa. Desta vez trouxe uma "refeição" completa em forma de livro: "Cebolas para Chantilly", do chef e professor Orlando Cantuário.

Trata-se não somente de "Poemas de cozinha experimental", onde o saber gastronômico tempera a têmpera poética do autor, mas, é um livro onde a poesia "experimenta" seus inesgotáveis sabores em variados "pratos" que revelam um poeta, antes de tudo.

Por outro lado, o discurso poético não deixa de ser denunciador da nossa realidade camocinense. Os pescadores, a beira do cais, os peixes não trazem apenas o cheiro de maresia, mas, contém uma crítica social, como se fossem "Vísceras expostas/No tronco á beira mar", quer tornam "O cais cúmplice/ Da despesca/ De homens e mulheres/ Á beir mar", como se fossem "vidas ressequidas/ largadas/Como peixe-gatos", que, no entanto, "... enriquece tão poucos/Que não sabem pescar".

Enfim, o poeta vai filetando versos como quem destrincha uma pescada amarela à moda Tremembé, observando o riso da amada que contém "Os açucares/Extrovertidos/ Que caramelizam/ O dia". Há muito não lia algo em poesia tão gostoso com todos os sentidos do gostar. Não podia ser diferente, pois, como o próprio autor nos diz em "Lavrador", que me lembrou "Cio da Terra" de Milton Nascimento: 

"COZINHEIRO É QUEM POETIZA GRÃOS". 


Serviço:

Livro: Cebolas para Chantilly

Autor: Orlando Cantuário

Ano: 2017

Editora: Nova Aliança. Teresina-PI.