Na tentativa de acompanhar o trem da modernidade, o Serviço de Alto-falante A Voz de Camocim surge, por volta do ano 1951, como novidade e sinônimo de animação e interação social. Trazia como slogan o propósito de ser “o mais moderno e organizado serviço de Alto-Falante do interior do Ceará”. [1] Seu proprietário era o Sr. Murilo Aguiar que, prontamente, após a briga com o seu opositor político, traz da capital do estado um potente instrumento de comunicação, para o deleite de muitos. O Sr. Olímpio Magalhães foi um dos primeiros locutores dessa amplificadora, viu de perto o seu nascimento, participando diretamente de sua organização. Ele apresenta com detalhes como isso ocorreu:
O proprietário era o seu Murilo Aguiar, foi ele que chegou com essa novidade por aqui, uma amplificadora beleza, 75 watts de saída e 3 alto-falantes instalados na cidade. (...) Um é ali perto, na Praça da Estação, naqueles armazéns que tem, parece ser do Endemburgo Aguiar, perto da Estação, né?, Naqueles armazéns, um alto-falante era ali; o outro aqui mais no centro, aonde era, onde hoje é aquela farmácia, que era a Loja do Gato Preto, tinha a Loja do Gato Preto, loja de tecido; e o terceiro em cima da Prefeitura, aqui do lado de cá, pro oeste, aqui pra praça, aqui pra cá, bem do lado de cá. (...) Ah! A sede ali, vizinho a Rádio União, aquele aonde serve até de coisa política, comitê político, era ali, ainda hoje ta lá, a sala grande ali na frente e por trás o estúdio, né?. E ela, potência boa. [2]
Nessa época, segundo o Sr. Olímpio Magalhães, existiam no Ceará somente duas amplificadoras desse modelo potente e “de fabricação inglesa”, uma aqui em Camocim, e a outra em Crateús, denominada Príncipe Imperial. (...) Ao pesquisar sobre as antigas amplificadoras no Ceará, foi possível confirmar a informação apresentada nessa narrativa. Segundo a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, Crateús era uma cidade provida de muitos aspectos culturais, entre eles duas amplificadoras (...) O serviço de alto-falante A Voz de Camocim funcionava em um pequeno prédio situado à Praça da Estação Ferroviária, pra ser mais preciso à “Praça 15 de Novembro Nº 16, Caixa Postal 3. CAMOCIM – Ceará – BRASIL,” [3] conforme consta nos recibos emitidos pala amplificadora. Sob a direção do Sr. Sebastião Lins, “ela entrava no ar” a partir das 18:00h, se estendendo até por volta das 23:00h, todos os dias da semana. Seu alcance sonoro estendia-se por vários cantos da cidade, pois além de ser uma amplificadora “forçante”, possuía três bocas de alto-falantes distribuídos em pontos estratégicos da cidade: a Praça da Estação, local de embarque e desembarque de viajantes, ambiente de trabalhadores do porto e ferrovia e passeio público; a Prefeitura Municipal, situada na Praça da Igreja Matriz de Bom Jesus dos Navegantes; e no Mercado Municipal, centro comercial da cidade e também passeio público. A locução e animação dos programas ficavam por conta de Evandro Moreira e Olímpio Magalhães. (...) O estilo da amplificadora A Voz de Camocim eram bem diversificado: tinha uma programação musical animada, fruto de uma boa e variada discoteca patrocinada pelo seu proprietário; divulgava os comunicados da cidade; fazia anúncios de propaganda das lojas e festas, “comerciais lidos” mediante pagamento; tinha noticiários políticos e jornalísticos, onde se liam as manchetes publicadas nos jornais o Unitário e Jornal Correio do Ceará, entre elas os artigos da coluna “As Oposições Coligadas”, escritas por Temístocles de Castro e Silva; prestava serviço de utilidade pública, anunciando materiais achados e perdidos ou pessoa que estavam à procura de alguém ou que acabara de chegar à cidade; liam-se bilhetes e recadinhos apaixonados; registro de aniversário e recital de poesia, enfim, comunicava e movimentava às “mornas noites camocinenses” levando diversão e entretenimento.
[1] Ver fonte (recibo timbrado emitido pela amplificadora A Voz de Camocim) apresentada na pág. 47 deste trabalho.
[2] Olímpio Magalhães, entrevista já citada.
[3] Ver fonte (recibo timbrado emitido pela amplificadora A Voz de Camocim) apresentada na pág. 47 deste trabalho.
Foto: Desfile de 7 de Setembro, com cobertura da Amplificadora Pinto Martins. Fonte da Foto: Arquivo do autor do trabalho.