domingo, 17 de julho de 2011

CAMOCIM TEVE SEUS SOLDADOS DA BORRACHA?


As secas no Ceará provocaram aquilo que nos estudos de imigração ficou sistematizado como “migração para fora”. Na verdade, não somente no Ceará, mas, uma das soluções utilizada e incentivada em outros momentos de flagelo para os desvalidos do Nordeste e os pobres de outras regiões, era a de enviá-los para outras fronteiras brasileiras, dentre elas a Amazônia, especialmente para a exploração da borracha, no período do conflito da Segunda Guerra Mundial.
Neste sentido, toda uma estrutura de recrutamento e triagem foi montada no Ceará pelo Estado Novo, naquilo que ficou conhecido oficialmente como SEMTA – Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia. A logística de recrutamento se utilizaria da estrutura dos portos, através dos navios do Lloyd que saíam dos portos nordestinos lotados de homens, mulheres e crianças de todas as partes do Brasil, atraídos pelas histórias de enriquecimento fácil. No roteiro da distribuição, esse contingente humano era desembarcado no Maranhão, Belém, Manaus, Rio Branco e outras cidades menores nas quais as turmas de trabalhadores seriam entregues aos seringalistas (donos dos seringais), que deveriam levá-los até as colocações (locais de extração da borracha) onde, finalmente, cumpririam seu dever para com a pátria, segundo o discurso oficial.
Levas de trabalhadores cearenses, entre estes alguns camocinenses, partiram para os seringais convencidos de que era a melhor opção diante da convocação para o esforço de guerra: ou iriam para a Amazônia embalados pela mobilização do slogan “Borracha para a Vitória” ou seguiriam para as fronts de batalhas na Europa para combaterem os exércitos italianos e alemães. Foi o caso do rapaz abaixo mencionado, citado em ação declaratória por uma irmã junto à justiça local no ano de 1986:

Gerardo Fontenele Lima, atualmente em lugar incerto e não sabido, vez que em junho de 1942 saiu de casa, deixando seus pais e irmãos por ter sido convocado pela ‘SEMTA’, instituição que naquela época recrutava jovens para trabalhar nos seringais da Amazonas que também eram conhecidos como Soldados da Borracha na época da Segunda Guerra Mundial e nunca deu notícia de vida ou morte, sendo totalmente ignorado seu paradeiro, dada a inexistência de qualquer notícia ou simples informação a seu respeito, por este longo período de tempo.[1]

Este exemplo serve como ilustração desse movimento migratório. O mesmo porto que atrai levas de retirantes é o caminho de saída para os trabalhadores locais na busca de outros lugares que os seduzem pela sobrevivência ou pela riqueza.

P.S: O rapaz em questão é tio dos amigos Paulo do Veré, Eliana, Elenita e Salvelina.

Foto: sociedadeestranha.blogspot.com

[1] Ação declaratória – Nº 2526. Autora: Angelita Ferreira Fontenele, fl. 2, Ano: 1986. Cx: 114.

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