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domingo, 30 de dezembro de 2012
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
CAMOCIM DE LUTO - MORRE O COMUNISTA NILO CORDEIRO DE OLIVEIRA
Sr. Nilo Cordeiro de Oliveira. Fonte: Camocim Imparcial |
Quando me ocorreu que a história dos
comunistas de Camocim era um bom tema para uma dissertação de mestrado, mal
sabia da complexidade que era mexer com um tema desta natureza. Mais do que me
cercar de uma vasta bibliografia sobre os “vermelhos”, era preciso recuperar
através da memória, os testemunhos de quem vivera os ideais do credo comunista.
Desta forma, logo a pessoa do Sr.Nilo Cordeiro de Oliveira foi me colocada como
referência. Mas, quem era aquele homem franzino envolto nas lides de uma
oficina mecânica? Era simplesmente um dos filhos de Pedro Rufino, um dos oito
“camaradas” que tiveram a coragem, no final dos anos 1920, fundar uma célula
comunista em Camocim sob a liderança do prof. Francisco Theodoro Rodrigues. A
partir da conversa inicial com o Sr. Nilo, outros nomes foram sendo postos
nesta operação de reviver o passado, a maioria deles já morta, no entanto,
outros vivos. Francisco Theodoro, não poderia mais falar, mas conseguimos
entrevistar sua filha Lenize. Raimundo Vermelho não poderia mais falar, mas seu
filho Dedé Vermelho ainda nos disse algo sobre o “Massacre do Salgadinho”. João
Ricardo infelizmente partiu antes de nos falar da sua militância. Enfim, foram
histórias que traziam não apenas as marcas do estigma do pensar
diferente, do ser “comunista” numa sociedade, para usar um termo da época
“reacionária", mas, principalmente de dor e opressão vividas por estes homens
desassombrados e seus familiares que muito nos comoveu.
Hoje, 19 de dezembro de
2012 quem parte é NILO CORDEIRO DE OLIVEIRA, 86 anos. Das entrevistas que fizemos, sem
dúvida foi a mais completa, posto que, além de trazer o sofrimento por se
defender uma causa, trouxe a convicção ideológica, a certeza daqueles que
acreditam numa sociedade mais humana e fraterna, a certeza da vitória do
proletariado, do comunismo. O Sr. Nilo da oficina parte para se juntar a outros
que pereceram com essa certeza, certeza essa que fez com que acreditasse que um
dia o PC do B reconquistasse a cadeira de vereador na Câmara Municipal de Camocim tão bem
representada por seu pai Pedro Rufino na legislatura de 1948-1951, afinal
realizada no último pleito, com a eleição do Oliveira da Pesqueira, por coincidência membro da família do Sr. Nilo.
Que o partido possa honrar com esse mandato
legislativo essa convicção, essa certeza destes homens que se foram.
Requiscat in pace!
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
PINTO MARTINS EM CAMOCIM - ATA DA FESTA
Estátua de Pinto Martins-Camocim-CE. Fonte: www.panoramio.com |
As chamas de um incêndio
ocorrido em 1931 foi o primeiro passo para o Sport Club chegar nesta situação. As causas do sinistro à época não
ficaram bem esclarecidas. Especula-se que o ato foi praticado pela esposa do
dono que sofria de depressão, motivado pelo o valor do seguro. Atualmente,
também se especula a restauração do Sport
Club, mas infelizmente, fica somente na promessa de políticos, enquanto as
intempéries se encarregam do seu papel destruidor há 82 anos. Deixemos o atual
estado do clube e recuemos no tempo para recuperarmos um pouco da atmosfera da
festa em homenagem à Pinto Martins.
Da festa em questão, o único registro escrito que
pudemos encontrar foi ata da sessão cívica do Sport Club escrita pelo
secretário Gentil Barreira, advogado, nascido em Solonópole-CE, que posteriormente seria
interventor na cidade durante a Revolução de 1930. Pela sua singularidade e
importância, transcrevemos na íntegra o documento:
Ata da sessão de Recepção do aviador Pinto Martins
Aos desenove dias do mez de dezembro de do ano de mil
novecentos e vinte e dois, nesta cidade de Camocim, comarca do mesmo nome, Estado
do Ceará, no edifício do Sport Club Camocinense, designado para realizar-se a
sessão cívica em homenagem aos intrépidos aviadores Dr. Euclydes Pinto Martins
e Walter Hinton, que vem de realizar o arrojado raid de alta significação
internacional e amisade entre as duas grandes Republicas Americanas, foi aberta
a sessão, pelo Presidente, Dr. Faustino de Albuquerque, Juiz de Direito da
Comarca ladeado da Comissão Central
dos festejos, Dr. Atualpa Barbosa Lima, Antonio
Fernando Barros, Horario Pessoa, José Carlos Veras, Tobias Navarro.
Em seguida o Dr. Faustino de Albuquerque convidou a
mim, abaixo assinado para servir de secretário e depois de explicar a fim da
solenidade, tendo antes, porém, nomeado uma comissão composta dos Dr. Atualpa
Barbosa Lima, Antonio Fernando Barros, José Carlos Veras e Tobias Navarro, para
introduzir no recinto os aviadores Dr. Euclydes Pinto Martins, Walter Hinton, e
seus companheiros de jornada, concedeu a palavra ao Sr. José Candido que, em
inteligente alocução alusiva ao ato, salientou o arrojo e a pericia dos
destemidos ases e terminava oferecendo, em nome do povo Camocinense, um custoso
mimo, que lhes fôra entregue pela senhorita Rosi Aguiar, como expressivo preito
de admiração e agradecimento pela honrosa visita a esta terra, que serviu de
berço ao Dr. Euclydes Pinto Martins. A seguir teve a palavra o Sr. Pedro Morél,
que, em francas palavras preambuleou a recitação de um soneto pelo mesmo
composto. Por fim falou o Dr. Euclydes
Pinto Martins que depois de discorrer sobre as homenagem que lhe foram
prestadas e dizer sobre o seu eterno reconhecimento ao pôvo Camocinense,
terminou agradecendo, em seu nome do seu companheiro Walter Hinton e demais
companheiros as homenagem que registraram, de par com um troféu presenteado, um
das felicidades de sua vida. E com não houvesse quem mais quizesse se utilizar
da palavra, o Sr. Presidente encerrou a sessão, lavrando-se a presente ata que
vai por todos assinada. Eu, Bacharel Gentil Barreira, secretario, a escrevi.[1]
Walter Hinton
Francisco Morél
Jonh Wilshusem
Francisco Gabriel de Sousa
J. Thomas Batzell
Euripedes Ramos Fontenele
George T. Bye
Diogo José de Sousa
José Candido De Araújo Manuel
Saldanha Fontenele
Atualpa Barbosa
Manuel Saldanha Fontenele
Antonio Fernando Barros Antonio
Delmiro da Rocha
Faustino de Alburquequer e Sousa Raimundo Cavalcante
Rocha
Horário Pessoa
Raimundo Cavalcante Rocha
Tobias Navarro
Paulo Lopes
José Carlos Veras.
Gonçalo Jorge de Oliveira
Alfredo Othon Coelho
Oswaldo Coelho
Antonio Luiz Aguiar José
Torquato Praxedes Pessoa
Joaquim Francisco da Fonseca Coelho Pedro Morél
Hipólito Navarro
Manuel Carneiro
Ildeturdes Cavalcante Rocha Guilherme B.
Santos
Antonio Macêdo
José Eustachio Filho
Joaquim Veras José Oto
Carneiro e Frota
J. Tácito Frota Alves
Francisco Marçal Cavalcante
Pedro Aguiar
.
Raimundo C. Lima
Joaquim I. Rocha
Mourão Lourival Alves
Fernando C. Paschoa Noé
Araujo Fortes
Carlos Trévia
Pedro Prado
Nicácio Pinto
[1]
Ata cedida pelo professor Ms. Benedito Genésio ex-professor do curso de
História. Conseguiu está ata com o memorialista Firmino de Araújo no dia em que
fez uma palestra em Camocim no ano de 1992 em comemoração ao centenário de
nascimento de Pinto Martins (15 de Abril de 1892-1992).
A BANDA LYRA DE CAMOCIM
Banda Lyra de Camocim. Regida pelo Maestro Miguel. Foto: Camocim Online. |
Orientar trabalhos de
história é uma das possibilidades de se conhecer mais sobre nós mesmos. Acabo
de orientar um trabalho defendido com êxito no Curso de História pelo aluno
Paulo José Silva dos Santos, denominado “A passagem de Pinto Martins por
Camocim no raid aéreo Nova Iorque-Rio de Janeiro: memórias e contradições.
1922”. Na pesquisa sobre o feito do piloto camocinense, acabou-se descobrindo a
origem da nossa Banda Lyra, que tocou na festa em homenagem ao ilustre
camocinense nos salões do Sport Club. Portanto, agora o Maestro Miguel terá a
referência histórica de quando começou a referida banda. Isso foi possível
graças ao colecionador Fábio Alves que
franqueou ao professor Paulo José o acesso a um pequeno folheto com o título Resumo histórico da vida de Luis de Moraes
desde a sua chegada a cidade de Camocim 1907- 1924. Esse pequeno livro de
autoria do próprio Luis Joaquim de Moraes é uma autobiografia e narra sua
trajetória na cidade como músico, além da sua relação com a chegada de Pinto
Martins. Ele próprio nos diz:
Mezes após a HARMONIA CAMOCINENSE foi
entre a casa Nicolau & Carneiro continuando a ser dirigida ainda pelo Sr.
Pinheiro o qual a deixou pouco depois. dissolvido nessa época a referida banda
de musica, foram entregues os instrumentos a Revmo. Padre José Augusto. O qual
os vendeu para Circo Catholico de Sobral. Achando-se Camocim sem uma banda de
música resolvi ensinar meninos, o que comecei a por em pratica no mez de Abril
de 1920. No dia 7 de Agosto daquele
mesmo anno consegui inaugurar uma nova banda de musica sob denominação de LYRA
CAMOCINENSE, com o numero de 13 musicos, sendo 2 antigos e 11 novos, ensinados
por mim, a custa de muito sacrifício.(P.7)
Capa do livro acima referido. Arquivo particular de Fábio Alves |
Portanto, a Banda Lyra que ainda hoje
alegra a cidade sob direção do Maestro Miguel, foi fundada em abril de 1920 por
este homem esquecido na história de Camocim e apresentou-se pela primeira vez
em agosto do mesmo ano. Após quatro anos da fundação da banda o Maestro Luis de
Moraes escreve no final do livro todos os locais que a banda tocou, inclusive
no baile realizado no Sport Club no mês de Dezembro de 1922, na chegada e na
saída do aviador, cobrando a quantia de 50$000 em cada apresentação.