domingo, 30 de dezembro de 2012

SOBRE OS JOGOS E DESFILES ESTUDANTIS DE CAMOCIM

Desfile de 7 de setembro. Foto: Arquivo do Instituto São José. Camocim-CE.


Certamente quem se reconhecer nesta foto passou ou já está chegando na casa dos 50 anos. A mesma nos remete a um tempo em que os desfiles de 7 de setembro eram revestidos de certo glamour, além do fervor patriótico próprio da época. Vivíamos momentos de ditadura embora sua carga ideológica não fosse facilmente percebida por nós. Lembro, no entanto da rivalidade existente entre as escolas da cidade, que iam desde os jogos do "Torneio da Independência" aos desfiles. Nos jogos, as escolas públicas representadas por João Ramos e Estadual eram superiores em quase todas as modalidades.Outra potência nas quadras era o SESI que recebia alunos de todas as classes sociais, além do TG-Tiro de Guerra 10001. Nos desfiles, apesar das grandes apresentações do SESI e do próprio CSU, o Instituto São José, escola particular que recebia a maioria dos filhos da elite camocinense, era quase insuperável, trazendo para a passarela da Praça Pinto Martins, várias alas (como a dos motoqueiros da foto) representando quadros da história do Brasil.Nestes desfiles não faltavam um D.Pedro I ou uma Princesa Isabel com seu séquito de escravos em perfeita harmonia sob o sol escaldante em meio ao verde-amarelo reinante. Recordações!!!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

CAMOCIM DE LUTO - MORRE O COMUNISTA NILO CORDEIRO DE OLIVEIRA


Sr. Nilo Cordeiro de Oliveira. Fonte: Camocim Imparcial


       Quando me ocorreu que a história dos comunistas de Camocim era um bom tema para uma dissertação de mestrado, mal sabia da complexidade que era mexer com um tema desta natureza. Mais do que me cercar de uma vasta bibliografia sobre os “vermelhos”, era preciso recuperar através da memória, os testemunhos de quem vivera os ideais do credo comunista. Desta forma, logo a pessoa do Sr.Nilo Cordeiro de Oliveira foi me colocada como referência. Mas, quem era aquele homem franzino envolto nas lides de uma oficina mecânica? Era simplesmente um dos filhos de Pedro Rufino, um dos oito “camaradas” que tiveram a coragem, no final dos anos 1920, fundar uma célula comunista em Camocim sob a liderança do prof. Francisco Theodoro Rodrigues. A partir da conversa inicial com o Sr. Nilo, outros nomes foram sendo postos nesta operação de reviver o passado, a maioria deles já morta, no entanto, outros vivos. Francisco Theodoro, não poderia mais falar, mas conseguimos entrevistar sua filha Lenize. Raimundo Vermelho não poderia mais falar, mas seu filho Dedé Vermelho ainda nos disse algo sobre o “Massacre do Salgadinho”. João Ricardo infelizmente partiu antes de nos falar da sua militância. Enfim, foram histórias que traziam não apenas as marcas do estigma do pensar diferente, do ser “comunista” numa sociedade, para usar um termo da época “reacionária", mas, principalmente de dor e opressão vividas por estes homens desassombrados e seus familiares que muito nos comoveu. 
         Hoje, 19 de dezembro de 2012 quem parte é NILO CORDEIRO DE OLIVEIRA, 86 anos. Das entrevistas que fizemos, sem dúvida foi a mais completa, posto que, além de trazer o sofrimento por se defender uma causa, trouxe a convicção ideológica, a certeza daqueles que acreditam numa sociedade mais humana e fraterna, a certeza da vitória do proletariado, do comunismo. O Sr. Nilo da oficina parte para se juntar a outros que pereceram com essa certeza, certeza essa que fez com que acreditasse que um dia o PC do B reconquistasse a cadeira de vereador na Câmara Municipal de Camocim tão bem representada por seu pai Pedro Rufino na legislatura de 1948-1951, afinal realizada no último pleito, com a eleição do Oliveira da Pesqueira, por coincidência membro da família do Sr. Nilo. 
     Que o partido possa honrar com esse mandato legislativo essa convicção, essa certeza destes homens que se foram. 

Requiscat in pace!  




terça-feira, 18 de dezembro de 2012

PINTO MARTINS EM CAMOCIM - ATA DA FESTA






Estátua de Pinto Martins-Camocim-CE. Fonte: www.panoramio.com
As chamas de um incêndio ocorrido em 1931 foi o primeiro passo para o Sport Club chegar nesta situação. As causas do sinistro à época não ficaram bem esclarecidas. Especula-se que o ato foi praticado pela esposa do dono que sofria de depressão, motivado pelo o valor do seguro. Atualmente, também se especula a restauração do Sport Club, mas infelizmente, fica somente na promessa de políticos, enquanto as intempéries se encarregam do seu papel destruidor há 82 anos. Deixemos o atual estado do clube e recuemos no tempo para recuperarmos um pouco da atmosfera da festa em homenagem à Pinto Martins.
Da festa em questão, o único registro escrito que pudemos encontrar foi ata da sessão cívica do Sport Club escrita pelo secretário Gentil Barreira, advogado, nascido em Solonópole-CE, que posteriormente seria interventor na cidade durante a Revolução de 1930. Pela sua singularidade e importância, transcrevemos na íntegra o documento:

Ata da sessão de Recepção do aviador Pinto Martins

Aos desenove dias do mez de dezembro de do ano de mil novecentos e vinte e dois, nesta cidade de Camocim, comarca do mesmo nome, Estado do Ceará, no edifício do Sport Club Camocinense, designado para realizar-se a sessão cívica em homenagem aos intrépidos aviadores Dr. Euclydes Pinto Martins e Walter Hinton, que vem de realizar o arrojado raid de alta significação internacional e amisade entre as duas grandes Republicas Americanas, foi aberta a sessão, pelo Presidente, Dr. Faustino de Albuquerque, Juiz de Direito da Comarca ladeado da Comissão Central
dos festejos, Dr. Atualpa Barbosa Lima, Antonio Fernando Barros, Horario Pessoa, José Carlos Veras, Tobias Navarro. 
Em seguida o Dr. Faustino de Albuquerque convidou a mim, abaixo assinado para servir de secretário e depois de explicar a fim da solenidade, tendo antes, porém, nomeado uma comissão composta dos Dr. Atualpa Barbosa Lima, Antonio Fernando Barros, José Carlos Veras e Tobias Navarro, para introduzir no recinto os aviadores Dr. Euclydes Pinto Martins, Walter Hinton, e seus companheiros de jornada, concedeu a palavra ao Sr. José Candido que, em inteligente alocução alusiva ao ato, salientou o arrojo e a pericia dos destemidos ases e terminava oferecendo, em nome do povo Camocinense, um custoso mimo, que lhes fôra entregue pela senhorita Rosi Aguiar, como expressivo preito de admiração e agradecimento pela honrosa visita a esta terra, que serviu de berço ao Dr. Euclydes Pinto Martins. A seguir teve a palavra o Sr. Pedro Morél, que, em francas palavras preambuleou a recitação de um soneto pelo mesmo composto.   Por fim falou o Dr. Euclydes Pinto Martins que depois de discorrer sobre as homenagem que lhe foram prestadas e dizer sobre o seu eterno reconhecimento ao pôvo Camocinense, terminou agradecendo, em seu nome do seu companheiro Walter Hinton e demais companheiros as homenagem que registraram, de par com um troféu presenteado, um das felicidades de sua vida. E com não houvesse quem mais quizesse se utilizar da palavra, o Sr. Presidente encerrou a sessão, lavrando-se a presente ata que vai por todos assinada. Eu, Bacharel Gentil Barreira, secretario, a escrevi.[1]

Walter Hinton                                                      Francisco Morél 
Jonh Wilshusem                                                   Francisco Gabriel de Sousa 
J. Thomas Batzell                                                Euripedes Ramos Fontenele 
George T. Bye                                                     Diogo José de Sousa
José Candido De Araújo                                      Manuel Saldanha Fontenele 
Atualpa Barbosa                                                 Manuel Saldanha Fontenele 
Antonio Fernando Barros                                    Antonio Delmiro da Rocha 
Faustino de Alburquequer e Sousa                       Raimundo Cavalcante Rocha 
Horário Pessoa                                                  Raimundo Cavalcante Rocha 
Tobias Navarro                                                  Paulo Lopes
José Carlos Veras.                                              Gonçalo Jorge de Oliveira 
Alfredo Othon Coelho                                         Oswaldo Coelho  
Antonio Luiz Aguiar                                           José Torquato Praxedes Pessoa 
Joaquim Francisco da Fonseca Coelho                Pedro Morél 
Hipólito Navarro                                                Manuel Carneiro
Ildeturdes Cavalcante Rocha                              Guilherme B. Santos
Antonio Macêdo                                                 José Eustachio Filho
Joaquim Veras                                                   José Oto Carneiro e Frota 
J. Tácito Frota Alves                                          Francisco Marçal Cavalcante 
Pedro Aguiar   .                                                 Raimundo C. Lima 
Joaquim I. Rocha                                               Mourão Lourival  Alves
Fernando C. Paschoa                                         Noé Araujo Fortes
Carlos Trévia                                                    Pedro Prado
Nicácio Pinto 
        
          


[1] Ata cedida pelo professor Ms. Benedito Genésio ex-professor do curso de História. Conseguiu está ata com o memorialista Firmino de Araújo no dia em que fez uma palestra em Camocim no ano de 1992 em comemoração ao centenário de nascimento de Pinto Martins (15 de Abril de 1892-1992).

A BANDA LYRA DE CAMOCIM

Banda Lyra de Camocim. Regida pelo Maestro Miguel. Foto: Camocim Online.

Orientar trabalhos de história é uma das possibilidades de se conhecer mais sobre nós mesmos. Acabo de orientar um trabalho defendido com êxito no Curso de História pelo aluno Paulo José Silva dos Santos, denominado “A passagem de Pinto Martins por Camocim no raid aéreo Nova Iorque-Rio de Janeiro: memórias e contradições. 1922”. Na pesquisa sobre o feito do piloto camocinense, acabou-se descobrindo a origem da nossa Banda Lyra, que tocou na festa em homenagem ao ilustre camocinense nos salões do Sport Club. Portanto, agora o Maestro Miguel terá a referência histórica de quando começou a referida banda. Isso foi possível graças ao colecionador Fábio Alves que franqueou ao professor Paulo José o acesso a um pequeno folheto com o título Resumo histórico da vida de Luis de Moraes desde a sua chegada a cidade de Camocim 1907- 1924. Esse pequeno livro de autoria do próprio Luis Joaquim de Moraes é uma autobiografia e narra sua trajetória na cidade como músico, além da sua relação com a chegada de Pinto Martins. Ele próprio nos diz:
Mezes após a HARMONIA CAMOCINENSE foi entre a casa Nicolau & Carneiro continuando a ser dirigida ainda pelo Sr. Pinheiro o qual a deixou pouco depois. dissolvido nessa época a referida banda de musica, foram entregues os instrumentos a Revmo. Padre José Augusto. O qual os vendeu para Circo Catholico de Sobral. Achando-se Camocim sem uma banda de música resolvi ensinar meninos, o que comecei a por em pratica no mez de Abril de 1920. No dia 7 de  Agosto daquele mesmo anno consegui inaugurar uma nova banda de musica sob denominação de LYRA CAMOCINENSE, com o numero de 13 musicos, sendo 2 antigos e 11 novos, ensinados por mim, a custa de muito sacrifício.(P.7)
Capa do livro acima referido. Arquivo particular de Fábio Alves
Portanto, a Banda Lyra que ainda hoje alegra a cidade sob direção do Maestro Miguel, foi fundada em abril de 1920 por este homem esquecido na história de Camocim e apresentou-se pela primeira vez em agosto do mesmo ano. Após quatro anos da fundação da banda o Maestro Luis de Moraes escreve no final do livro todos os locais que a banda tocou, inclusive no baile realizado no Sport Club no mês de Dezembro de 1922, na chegada e na saída do aviador, cobrando a quantia de 50$000 em cada apresentação.