sexta-feira, 16 de maio de 2014

O LAGO SECO. ESPAÇO DO LAZER E CULTURA POPULAR DE CAMOCIM

Lago Seco. Arquivo:bookcamocim.blogspot.com
Recebo notícias de que pouco a pouco nosso Lago Seco vem deixando de ser tão seco e acumulando água, deixando o lugar mais bucólico  para os camocinenses e turistas desfrutarem de suas belezas e aconchego. Pensando nisso, reproduzo um texto feito pela historiadora camocinense Jana Mendes que agora mora em São Paulo sobre o referido local, publicado no livro "Cidades Visíveis" organizado por mim e que reúne relatos de natureza histórica e cultural de várias cidades da zona noroeste do Estado do Ceará. Leiamos o que a Jana escreveu sobre, digamos,  os usos noturnos do Lago Seco de Camocim



  1. ESPAÇOS DE LAZER E CULTURA POPULAR EM CAMOCIM-CE.

                                                                                                                Jana da Silva Barbosa Mendes. 1

As noites de Camocim com seu clima agradável propiciam uma visitação à Avenida Beira-Mar onde estão concentrados os bares e restaurantes e toda a movimentação, principalmente durante as noites de sábado, momento que as famílias e a juventude ocupam o espaço urbano utilizando para o seu lazer.
Estes encontros podem ser para encontrar e conversar com amigos, tomar uma alguma bebida ou namorar. São várias as possibilidades existentes sobre a apropriação do espaço da cidade na construção de uma sociabilidade cultural.
Essas noites de sábados são regadas à música, especialmente o forró eletrônico, estilo que mais se ouve nos dispositivos midiáticos em difusão. O álcool está presente nos copos das mesas dos bares onde as gargalhadas e os tons de voz alta soam pelo calçadão da beira-mar. Desafiando os ouvidos estão presentes os chamados “paredões” onde tocam as músicas “da moda” a gosto popular. É possível observar como algumas pessoas se comportam no momento em que estas músicas são tocadas, muitas vezes impossíveis de serem ignoradas, já que o forró eletrônico mostra uma linguagem estilizada e chamativa.
Dessa forma, os espaços de sociabilidade são construídos pelas pessoas que frequentam o local e isto não deixa de ser um fato social e produção cultural.
Outro espaço da cidade utilizado nas noites de sábado e madrugada de domingo pela juventude de Camocim é o calçadão e as barracas do Lago Seco, onde dançam, bebem, conversam, paqueram ao ritmo do forró eletrônico, por muitas vezes reproduzindo um “estilo de vida” propagado pelas músicas em questão, que enfatizam a figura masculina como dominante sexual e o uso de bebidas alcoólicas, dentre outros temas próprias deste estilo musical.
É possível observamos jovens ao redor de paredões ou em mesas das barracas, portanto espaços propícios à conversação (nem tanto, face aos altos decibeis) e interação entre grupos de jovens. Na falta de clubes e festas, outros jovens se juntam a estes num momento livre para a distração. Caracterizam-se pela sua dimensão coletiva, pois é algo compartilhado por todos e a sua configuração espaço-temporal é determinada.
Nesse sentido, os locais de encontro dos jovens de Camocim são considerados como uma prática social e cultural, onde revelma um tipo de sociabilidade presente nessa juventude, embora entendamos que isso se dê por causa da falta de outras oportunidades e espaços para que essa mesma juventude possa sociabilizar-se.


1 Graduada em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Sobral-CE.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

REFLEXÕES SOBRE O PRIMEIRO DE MAIO

Fonte: historiadigital.org
Há dois anos escrevi este texto para um jornal local de Sobral para marcar a passagem do feriado de Primeiro de Maio. No entanto, o mesmo não chegou a ser publicado e nem me foi dito o porquê. Relendo-o, acho que o mesmo contêm alguma atualidade, no sentido do que vem se transformando a data que homenageia o trabalhador. Geralmente, as postagens nesse blog se referem exclusivamente à história de Camocim, inclusive já nos reportamos sobre essa data na história do município por mais de uma vez. Embora o texto se refira e seja inspirado noutro espaço - a cidade de Sobral; as reflexões sobre a data e o feriado servem para a compreensão geral do que permite nossa observação. Vamos ao texto:

O Feriado do Dia do Trabalho – os novos sentidos do Primeiro de Maio.
Grandes e pequenas passeatas, desfiles representativos do mundo do trabalho, debates nas sedes de agremiações sindicais e congêneres, sessões de teatro com temáticas proletárias, torneios esportivos, ações de luta para a conscientização das categorias profissionais e até anúncio do salário mínimo pelo governante do plantão, são manifestações que deram sentido a data do Dia do Trabalho que ficaram para trás, na esteira da modernidade globalizante que o capitalismo produziu, com intensa repercussão nos seus sentidos simbólicos.
Com efeito, a política do “pão e circo” produz novos sentidos para a data que, até vinte anos atrás, era apropriado pelos trabalhadores para escancarar em grandes atos políticos, as denúncias das relações vis impostas pelo patronato, principalmente no ABC paulista, na esteira daquele movimento protagonizado pelos metalúrgicos no final dos anos 1970 e que marcou um novo tempo no sindicalismo brasileiro, com as repercussões sociais e políticas que todos nós conhecemos.
Desta forma, uma data que nasceu da luta de trabalhadores norte-americanos no longínquo ano de 1886 pela jornada de 8 horas, que naquela época atingia até 14 horas (com a repressão ao movimento, foram condenados à morte e prisão perpétua), hoje se reconfigura com a promoção das multinacionais e centrais sindicais que lhe dão novos sentidos, promovendo grandes shows com cantores e bandas de sucesso, sorteios de carros e apartamentos. É a política de “pão e circo. Qualquer semelhança com manhãs de sol, churrascos, sorteio de cestas básicas e outros brindes, shows na Margem Esquerda não é mera coincidência.
Essa mudança nos sentidos do Primeiro de Maio que, historicamente teve seu caráter combativo, assim como festivo, embora em menores proporções que atualmente, foi devida, segundo o sociólogo Ricardo Antunes à “implementação do neoliberalismo e com reestruturação produtiva, que gerou a desestruturação da classe trabalhadora, com uma política agressiva de práticas anti-sindicais. Isso acabou conferindo uma transformação no plano das centrais sindicais. Por exemplo, em 1990 nasceu a Força Sindical. Ela herdou o velho peleguismo sindical brasileiro, que queria se reciclar, e se somou com um ideário neoliberal que deu o toque ideológico a essa nova direita. Foi a Força Sindical que introduziu essa prática que é recorrente hoje em todas as centrais sindicais, de um 1° de maio como um circo para os trabalhadores e trabalhadoras”.

         Desta forma, um leitor ou um observador mais atento ficará na expectativa do que irá acontecer em Sobral, o município que é pólo empregador da região noroeste do estado do Ceará, com seus milhares de postos de trabalho. Onde encontrar os trabalhadores nesta terça-feira dedicada, paradoxalmente, ao ócio? Que pelo menos seja ócio criativo para a maioria deles. No entanto, é bem provável que, na falta da Parada Gay, o divertimento se dê diante dos agudos de Agnaldo Timóteo e dos grunhidos de Joelma Calypso. O que diria disso tudo “O Operário de Deus”, epíteto pouco cultivado de D. José Tupinambá da Frota? Diante do exposto, só posso dizer que da data em questão, saiu o proletariado e ficou o feriado.