Fonte: historiadigital.org |
O Feriado do Dia do Trabalho
– os novos sentidos do Primeiro de Maio.
Grandes e pequenas passeatas,
desfiles representativos do mundo do trabalho, debates nas sedes de agremiações
sindicais e congêneres, sessões de teatro com temáticas proletárias, torneios
esportivos, ações de luta para a conscientização das categorias profissionais e
até anúncio do salário mínimo pelo governante do plantão, são manifestações que
deram sentido a data do Dia do Trabalho que ficaram para trás, na esteira da
modernidade globalizante que o capitalismo produziu, com intensa repercussão
nos seus sentidos simbólicos.
Com efeito, a política do “pão e
circo” produz novos sentidos para a data que, até vinte anos atrás, era
apropriado pelos trabalhadores para escancarar em grandes atos políticos, as
denúncias das relações vis impostas pelo patronato, principalmente no ABC
paulista, na esteira daquele movimento protagonizado pelos metalúrgicos no
final dos anos 1970 e que marcou um novo tempo no sindicalismo brasileiro, com
as repercussões sociais e políticas que todos nós conhecemos.
Desta forma, uma data que nasceu
da luta de trabalhadores norte-americanos no longínquo ano de 1886 pela jornada
de 8 horas, que naquela época atingia até 14 horas (com a repressão ao
movimento, foram condenados à morte e prisão perpétua), hoje se reconfigura com
a promoção das multinacionais e centrais sindicais que lhe dão novos sentidos,
promovendo grandes shows com cantores e bandas de sucesso, sorteios de carros e
apartamentos. É a política de “pão e circo. Qualquer semelhança com manhãs de
sol, churrascos, sorteio de cestas básicas e outros brindes, shows na Margem Esquerda
não é mera coincidência.
Essa mudança nos sentidos do
Primeiro de Maio que, historicamente teve seu caráter combativo, assim como
festivo, embora em menores proporções que atualmente, foi devida, segundo o
sociólogo Ricardo Antunes à “implementação
do neoliberalismo e com reestruturação produtiva, que gerou a desestruturação
da classe trabalhadora, com uma política agressiva de práticas anti-sindicais.
Isso acabou conferindo uma transformação no plano das centrais sindicais. Por
exemplo, em 1990 nasceu a Força Sindical. Ela herdou o velho peleguismo
sindical brasileiro, que queria se reciclar, e se somou com um ideário
neoliberal que deu o toque ideológico a essa nova direita. Foi a Força Sindical
que introduziu essa prática que é recorrente hoje em todas as centrais
sindicais, de um 1° de maio como um circo para os trabalhadores e
trabalhadoras”.
Desta
forma, um leitor ou um observador mais atento ficará na expectativa do que irá
acontecer em Sobral, o município que é pólo empregador da região noroeste do
estado do Ceará, com seus milhares de postos de trabalho. Onde encontrar os
trabalhadores nesta terça-feira dedicada, paradoxalmente, ao ócio? Que pelo
menos seja ócio criativo para a maioria deles. No entanto, é bem provável que,
na falta da Parada Gay, o divertimento se dê diante dos agudos de Agnaldo
Timóteo e dos grunhidos de Joelma Calypso. O que diria disso tudo “O Operário
de Deus”, epíteto pouco cultivado de D. José Tupinambá da Frota? Diante do
exposto, só posso dizer que da data em questão, saiu o proletariado e ficou o
feriado.
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