terça-feira, 20 de outubro de 2015

A ESCRAVIDÃO EM CAMOCIM

Jornal O Libertador. Fortaleza-CE, 25/03/1884, p.1


Falar de escravidão em Camocim atualmente pode soar como algo exótico. Mas, a história existe para dirimir dúvidas, desconstruir mitos, proporcionar a reflexão dos fatos. Dito isto, seria até incompreensível se aqui também não tivesse tido o recurso do expediente da escravidão, visto que utilizada por mais de três séculos em nosso país. Por outro lado, a historiografia sobre o mundo do trabalho vem recuperando as histórias de escravidão em áreas portuárias. Com efeito, desde o Brasil Colônia, passando pelo Império que os negros são utilizados como mão-de-obra em nossos portos. No Brasil republicano isso não mudou muito e os negros estão presentes no cotidiano e nos conflitos nos portos brasileiros. É essa historiografia que afirma que o estado do Ceará partiu na frente para abolir a escravidão, marcando a data de 25 de março de 1884 como ícone, hoje feriado estadual. Dentre os jornais da época, O Libertador fazia campanha aberta a favor do abolicionismo noticiando as ações de libertações e alforria. Ficaram célebres os chamados "Quadro da Luz. A escravidão é um roubo", com as relações de escravos libertos em cada município. É esta fonte que nos permite afirmar que em Camocim houve escravidão sim, e que, por dedução, o trabalho no porto era um dos locais de sua prática, como no resto do Brasil. No Quadro da Luz de 25 de março de 1884, o mesmo grafa o número de 413 escravos libertos em 31 de janeiro de 1884, portanto, antes da data magna de libertação dos escravos no Ceará. A quem pertenciam esses escravos e o que faziam merece uma pesquisa mais aprofundada. O fato é que eles existiram e aparecem em documentos outros, como o primeiro Código de Posturas da Villa de Camocim, datado de 1883, onde o legislador coloca as proibições e demonstra o lugar social dos escravos. É esta história silenciada por muito tempo que explica ainda hoje a invisibilidade dos negros e sua história e as diversas formas de preconceito. Voltaremos ao assunto.




Um comentário:

  1. Caro professor, primeiramente, obrigado pelo papo e momento de amizade lá no bar do Grijalba, por ocasião do feriado literário... Parabéns pela publicação, como conversamos estou a procura desses dados e de tentar problematizar essa historiografia oficial... abração gilson

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