Entre o porto e a estação. Bar do Dedim Trévia. Espaço de trabalho e lazer de Magalhães Nogueira Neto. (4ª casa da direita para a esquerda em primeiro plano). |
Quem tem menos de 40 anos certamente não conheceu MAGALHÃES NOGUEIRA NETO. Nunca soube seu prenome, mas era pelo sobrenome que a cidade toda lhe conhecia. Não era o padre, o prefeito, o juiz ou mesmo um funcionário público. Tratava-se de um carreteiro a prestar serviços entre o porto e a estação. Os escritores R. B. Sotero e Avelar Santos já o consagraram em suas crônicas no jornal "O Literário" . Sotero o alcunhou de "poeta estivador" por sua polidez para com as prostitutas da época, que além de lhe devotarem favores sexuais, tinha atitudes de gentleman dedicando-lhes músicas e poesias.
Em crônica publicada no "O Literário", Avelar Santos
alcunha Magalhães Nogueira Neto de “O Inimitável” e traça-lhe
um perfil: “Profissão: Chapeado da RVC. Local de trabalho: Estação
ferroviária. Lazer: cachaça, mulher e música”.
Inimitável pela maneira impecável de se
vestir, inimitável pelo trato com as pessoas: “Emérito boêmio e
boa praça, mesmo semi-analfabeto, conversava animadamente com
quantos lhes cruzavam o caminho”. Portanto, Magalhães Nogueira
Neto, mesmo radicado em Camocim, procurava se destacar entre os
demais, realizando seus carretos diariamente e fazendo uma freguesia
fiel. À noite, exercia com maestria uma espécie de personagem pelas
praças e bares da cidade, distribuindo simpatia às “damas da
periferia”. Avelar Santos continua a descrevê-lo:
Quanto mais ele emborcava uns
bons tragos de POJ – famosa cachaça de antanho – mais ele se
derretia em gentilezas com as ‘moiçolas’, singelas e pueris
mariposas noturnas, ofertando-lhes, cavalheirescamente, ‘páginas
musicais’ românticas inigualáveis, daquelas arranca-coração,
que o GB,
naquela voz empastada de locutor de FM, ‘lançava para o ar’ nas
possantes bocarras da ‘radiadora’ da Voz de Camocim.
Magalhães Nogueira Neto com certeza
desfilou seu charme pessoal pelos territórios da folgança em Camocim como um homem comum que foi dono de sua história como tantos outros.
Fonte:
SANTOS, Avelar. O Literário, Ano VII, edição 08, julho de
2006, p.8. “GB” são as iniciais do locutor Gerardo Brito
que fez sucesso nos vários serviços de som existentes na cidade.
Grifo nosso.
Pelas características me faz lembrar um Magalhães que conheci, será ele?
ResponderExcluirPois bem. Ainda quando morava na localidade Fazendinha, eu e outros vínhamos vender nossos produtos agrículas na sede, em carros de horários (caminhões), uma prática comum e ainda atual dos agricultores.
Um dos cabeceiros (carreteiros) que (des)carregava nossos surrões, era o senhor Magahlães. De cor morena, boa estatura, muito alegre, tratava as pessoas muito bem, gostava de tomar umas bicadas na mercearia do Carlito ali no mercado e adjacências. Sempre muito ingraçado, costumava brincar com quem se aproximava dele, se fazendo parente, juntando o sobrenome do outro ao seu nome e pronunciava: "Magalhães (...) (...), afim de arrancar umas risadas de quem estava presente e dava uma gargalhada. Isso transcorria entre as décadas de 80 e 90 quando não existia mais o porto.
Pode não ser, mas tem tudo pra ser o homenageado acima! Será ou não?