No intuito de trazer à tona nomes da nossa história cotidiana, recorro às minhas pesquisas já realizadas e hoje trago à baila o nome de dois trabalhadores, Sebastião Marques e Antônio Pereira da Silva (Cazumbi) que, além de suas atividades laborais, fizeram do futebol suas grandes paixões. Acompanhemos pois o que escrevi sobre eles em 2008:
Nessa
perspectiva, podemos analisar o envolvimento com o futebol de
estivadores como Sebastião Marques e Antônio Pereira da Silva
(Cazumbi). Interessante notar é que estes trabalhadores possuem
trajetórias semelhantes, atuando não somente no futebol, mas,
também em outras práticas culturais. Sebastião Marques foi
organizador de bailes e blocos carnavalescos, além de ter comandado
o folguedo da Nau Catarineta. Mestre Cazumbi tem uma história de
vida toda voltada para a formação de bandas de música na cidade,
sendo hoje o mais velho componente da Banda Lira. Aqui procuraremos
trazer suas experiências no futebol.
Antônio Pereira da Silva. Mestre Cazumbi. Foto: Arquivo do Camocim Online. |
Sebastião
Marques foi jogador de times formados na cidade e dos organizados
entre os estivadores. Podemos perceber também sua liderança na
estiva nos conflitos internos e nos externos com a polícia. Podemos
dizer que era um dos “valentões” da praia. Afora seus
conhecimentos práticos no futebol, acreditamos que essa experiência
de liderança tenha contribuído para a fama de um técnico “durão”.
Apelidado de Sebastião “Perna Grossa” foi por muito tempo o
principal técnico de futebol da cidade, treinando vários times e a
Seleção de Camocim além de organizar campeonatos regionais.
Já
Antônio Pereira da Silva, o Mestre Cazumbim, além de músico, tem
uma trajetória ligada ao esporte. Hoje aposentado, ainda tem fôlego
para toda semana treinar jovens em campos de terra da periferia.
Contemporanêo de Sebastião Marques, ele fez parte de uma geração
onde se destacaram outros trabalhadores jogadores como Quebrado,
Passaqui, Canoé, Expedito leitão, Zé Olhim, Linha Fina, Zé Maria,
Pepeta, dentre outros. Na saudação de um cronista local, treinado
em seus tempos de adolescente pelo Mestre Cazumbim, constatamos a
importância de seu trabalho junto à juventude camocinense:
...
foi de tudo no futebol: chegou a ser técnico da nossa seleção, com
um desempenho razoável. Quem não passou pelas mãos do velho
Cazumba? Acho que toda garotada teve suas primeiras noções de jogar
bola com o ‘Guerreiro’. (...) mas já não tem a mesma garra de
outrora, porém continua sendo um grande exemplo de desportista para
os jovens. 1
Mesmo
no alto de seus 76 anos, quase cego e sem poder andar muito, ainda
vamos encontrar o Mestre Cazumbim tocando sua tuba nos eventos
religiosos e festivos da cidade. Duas ou três vezes na semana, leva
seu material de treino para o campo do Tapete Verde para não deixar
o time do Maguary morrer. Mesmo sem o reconhecimento e apoio das
entidades esportivas locais, ele continua sendo aquele tipo de pessoa
que deixou o esporte entranhar nas veias, sendo o faz-tudo do seu
time: dono, treinador e roupeiro.
1
“O Velho Cazumba”. Aradi Silva. O Literário. Ano III, Edição
18, julho de 2001, p.4. Camocim-CE.
FONTE: Entre o Porto e a Estação: cotidiano e cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim-CE. 1920-1970. Tese de Doutorado. UFPE. 2008.
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