sábado, 26 de março de 2016

AS CARGAS DOS VAPORES NO PORTO DE CAMOCIM

Trecho do Porto de Camocim. Foto: domínio público.




No final do século XIX era comum os vapores anunciarem suas cargas quando chegavam no porto de destino. Deste modo, para efeito de ilustração, reproduzimos o "Manifesto" do Vapor Cabral entrado no Porto de Fortaleza em 14 de junho de 1891. No caso em tela, o referido vapor trazia mercadorias, além de Camocim, dos portos do Piauí e Acaraú, que enviaram  basicamente peixe e farinha, além de peles e couros.  A carga recebida no Porto de Camocim não diferia muito dos demais, mas, era um pouco mais variada, conforme a relação abaixo. Os nomes dos comerciantes eram apenas identificados com suas iniciais. Deste modo temos:

"De Camocim
J C A - 60 couros salgados.
J F C - 111 ditos idem, 2 encapados idem, um guarda roupa, um bahú.
J M S - 2 amarrados pelles, 23 taboas de pinho, 6 portas de  dito.
J A V & C - 1 guarda roupa.
A C I - 7 fardos de pelles.
R B - 11 fardos de pelles.
J A C - 22 couros salgados
V A C - 24 ditos idem,
J A C - 1 caixa de queijos
Jonathas - 2 bahús.
G & P - 2 barrica de cebo
C M & I - 100 couros salgados
J G C - 3 amarrados de pelles
A M - 54 couros salgados
U - 58 ditos idem
R - 61 ditos idem
C - 70 saccos de milho, 14 rollos de cumarú
O - 128 couros salgados
J V - 257 ditos idem
O - 25 taboas de cedro
Letreiro - 2 caixas de queijo
A C & I - 5 fardos de pelles
R B - 8 ditos idem".

A relação acima dos produtos comercializados dá uma amostra das atividades econômicas exploradas na região, baseada na agropecuária, alguma agricultura e extrativismo vegetal.

Fonte:Jornal O Estado do Ceará. 31/03/1891, nº.187, p,03.

quarta-feira, 23 de março de 2016

CAMOCIM NA FEIRA DE CHICAGO. 1893

Vista aéra da Feira de Chicago. 1893. Fonte:www.wdl.org/pt/item/11369.

No final do século XIX se alguém lhe encomendasse um casco de aruanã, alguns búzios grandes, dois casulos de maribondo, um litro de óleo de batiputá (semelhante ao dendê), raízes de cabeça de nego, jurubeba, jalapa da terra e uma variada quantidade de toras de madeira existente na região como aroeira, catingueira, cedro, emburana, gameleira, guabiraba, jurema, jacarandá, jatobá, mangue vermelho, marmeleiro, murici pitanga, pau branco, pitombeira, sabiá, ubuaia, xixá, dentre muitas outras, para que você pensaria qual seria a finalidade de tal pedido?
Muitas possibilidades poderiam servir, mas, que tal serem para expor estes produtos numa feira internacional? Pois é, esta foi a finalidade que cada estado do Brasil promoveu para mostrar o país na Feira Mundial de Chicago ou Exposição Colombiana Mundial para marcar o 400º aniversário da chegada de Colombo às Américas, que tinha ocorrido no ano anterior.
A feira foi um esforço da cidade americana de Chicago em mostrar sua maturidade quando tinha apenas 60 anos e 22 após a ocorrência do grande incêndio de 1871. O mapa acima mostra o resultado do trabalho do arquiteto e urbanista Daniel Burnham e do paisagista Frederick Law Olmstead, onde inclui os principais pavilhões dos 46 países participantes.
Antes dos produtos brasileiros serem catalogados, escolhidos e enviados para Chicago, aconteceu uma Feira Preparatória no Rio de Janeiro em 1892Não sabemos quem compôs a Comissão de Camocim que recolheu os produtos do município acima elencados pela fonte pesquisada, contudo, a relação dos mesmos chama a atenção pela variedade, especialmente, da nossa flora. 

Fonte: www.wdl.org/pt/item/11369.
Fonte: Exposição de Chicago. 1892-1893. Catálogo dos Productos do Ceará remettidos à Exposição Preparatória do Rio de Janeiro. Comissão Cental do Ceará. Typographia Econômica . Ceará. 1893.

sexta-feira, 18 de março de 2016

CORRUPÇÃO EM TEMPOS DE SECA EM CAMOCIM

Camocim. Foto: Evandro da Silva Araújo. www.geocities.ws

Não tem jeito, vou ter que entrar no assunto palpitante do momento: CORRUPÇÃO. 
Mas vou entrar pela janela do passado e tentar encontrar a porta do presente nesse caminho labiríntico para compreender esse imaginário, ou essa "cultura" que acaba se transformando numa espécie de identidade do brasileiro. 
Vivemos tempos de seca e o colapso está diante de nós. No entanto, a agenda, a pauta das discussões é quem vai ser o próximo delatado, o próximo escândalo, o próximo espetáculo midiático a atingir velhos e novos políticos.   
No final do século XIX não se tinha todo esse aparato, mas o jornalista já usava de pseudônimos para denunciar os desmandos dos espertalhões que já naquela época, enricavam com a desgraça dos outros. Foi o que fez João Biró em dois momentos:

"Em Camocim todos os mezes são roubadas as cargas que se recolhem  no armazem  da Companhia Maranhense, não só do governo como de particulares". (Jornal A Constituição, Fortaleza-CE, 1878, nº 29, p.3).

"Na Comarca de Granja tem sido grande o esbanjamento  dos gêneros distribuídos aos famintos.
[...] Entretanto, o roubo em Camocim não é menos escandaloso:
Parece incrível a despeza feita com os socorros naquella villa, mas o que é verdade é que nem a centésima parte dos generos e fazendas tenha cabido ás infelizes victimas da secca.
[...] Os vendedores de generos e de gado estão estam associados ao contractante do fornecimento.
[...]A distribuição das fazendas foi feita entre os parentes da sagrada famillia, sem reserva nenhuma. Pessoas abastadas receberam pessas. E falla se em despeza com famintos! (Jornal A Constituição, Fortaleza-CE, 1878, nº 29, p.3).

Talvez nunca saberemos quem foi João Biró. Quanto aos corruptos, esses fazem história e deixam descendentes que continuam fazendo das suas!

Fonte: Jornal A Constituição, Fortaleza-CE 1878, nº 29, p.3; 1878, nº 29, p.3).

quarta-feira, 16 de março de 2016

O BANCO DO BRASIL EM CAMOCIM

Antiga Agência do BB em Camocim. Esquina das ruas Alcindo Rocha e Senador Jaguaribe (atual José Maria Veras). Fonte: Biblioteca do IBGE. Serie: Acervo dos Municípios Brasileiros.

Antes mesmo das iniciativas particulares ou em associação de acionistas como o Banco Auxiliar e Agrícola (década de 1930) e Banco do Comércio e da Lavoura (fundado em 1941) atuarem como instituições bancárias na cidade, o Banco do Brasil em Camocim já funcionava como sendo uma das primeiras quarentas agências do país (a nossa é a de número 39) e a primeira do interior cearense. Nos anos 1950 em todo o Ceará só existiam dez agências (Aracati, Camocim, Crateús, Crato, Fortaleza, Iguatu, Quixadá, Senador Pompeu e Sobral). Desde o ano de 1918 temos registros da atuação do Banco do Brasil em Camocim como sucursal. Em 9 de janeiro de 1919 foi inaugurada a agência na Rua da Estação (atual Engenheiro Privat), noticiada em primeira página pela Folha do Litoral de Camocim em 12 de janeiro do mesmo ano. O primeiro gerente foi o Sr. Antonio Lima e Silva. Na matéria ressalta-se a importância da agência para a região norte do estado do Ceará:
"O Banco do Brazil em Camocim, vem auxiliar muito de perto a agricultura, o comercio e a industria desta zona".
A foto abaixo, na confluência das ruas Alcindo Rocha e José Maria Veras foi outro endereço onde funcionou o Banco do Brasil até ser construída sua sede definitiva na rua José de Alencar. Neste mesmo local, funcionou também a Caixa Econômica antes de se transferir para sua sede própria na Rua José de Alencar.
Por outro lado, algumas casas comerciais das primeiras décadas do século XX, como a Nicolau & Carneiro, eram também representantes de bancos nacionais e internacionais.
Fonte: Jornal Folha da Litoral, Camocim-CE, Anno I, nº 31, 12/01/1919, p.1.
           Jornal A Noite, Rio de Janeiro, RJ. 05/12/1918, ed.2308, p.3.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

A PRAÇA DOS PODERES EM CAMOCIM

Praça da Matriz. Fonte:Biblioteca do IBGE.
Até os anos 1970 eram praticamente eles dois. Um olhando para o outro, expressando talvez suas importâncias. Depois, outros foram se agregando, reformulando e remodelando o espaço urbano. Geralmente, em torno da Igreja Matriz de cada lugar se forma o núcleo urbano com suas casas residenciais. Em Camocim, esse quadrilátero, com o tempo sofreu as mudanças irreversíveis do tempo e foi incorporando outros prédios com suas simbologias, sentidos e significados. Da Igreja e da Prefeitura que representavam os poderes religioso e político foram se acrescendo o Colégio Estadual Padre Anchieta (CEPA) e depois João da Silva Ramos (hoje CEJA João Ramos), o Patronato São José, depois Ginásio Imaculada Conceição, hoje Instituto São José como exemplares do poder educacional. A Capitania dos Portos (Marinha do Brasil)é o braço do poder militar além da Cadeia Pública. O Fórum é o Poder Judiciário. O Hospital Maternidade é o poder nos serviços da saúde. O Governo Federal se faz presente com a Agência da Receita Federal. O poder econômico pode ser percebido na Agência da Caixa Econômica e lotérica, além do comércio que avança nas duas ruas laterais: Rua 24 de Maio e Santos Dumont. Hoje se contam nos dedos o que antes eram as casas residenciais. Portanto, não há lugar melhor para historiadores e professores de história analisarem e mostrarem as mudanças ocorridas no tempo e no espaço em Camocim.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

MINHAS LEMBRANÇAS DO CAMOCIM ANTIGO - CEPA/ESCOLA JOÃO DA SILVA RAMOS



Ginásio Padre Anchieta. Anos 1950, Camocim. Fonte: IBGE.
            Camocim 13 de fevereiro de 2016. Mais de quarenta anos depois volto à escola que me acolheu entre o 2ª e  7ª série, nos anos de 1972 a 1978. Quase nada mudou, a não ser o acréscimo de algumas salas, uma quadra esportiva, laboratórios e algumas mudanças internas. Foram anos de muito aprendizado e descobertas. Aqui despertei o meu gosto pela leitura. Lembro-me ainda quando a Professora Conceição Lúcio me colocou para declamar o poema "Soneto da Fidelidade" de Vinicius de Moraes numa festa do Dia das Mães. Tremia mais do que vara verde... mas ficaram as lembranças. Recordações da hora do recreio quando em algazarra nos postávamos na fila da merenda ou mesmo da compra de guloseimas dos vendedores que ficavam do lado de fora no muro lateral que dar para a Rua 24 de Maio. O muro era de meia altura com um pequeno gradeado. Naquele tempo não se precisava elevar muros. Recordo que era possível encontrar ovos de galinha dos vizinhos no mato que ficava atrás das salas do lado esquerdo. E a quadra? Era apenas um cimentado que ficava ao fundo onde hoje está erguida a Quadra Poliesportiva. Por anos a fio, nós alunos contribuímos com a Caixa Escolar, cujo valor era recebido pela senhorita Nelita Fonseca, já falecida, que, diziam, era para construir a tal quadra e ainda tinha um campinho onde praticávamos algum futebol e as aulas de Educação Física ministradas pelo Prof. Luís Carlos Feitosa, o Melancia (talvez uma alusão ao seu ventre avantajado).

            Dos professores que mais lembro a Profa. Marilda que me fez gostar dos Estudos Sociais. Conceição Lúcio, de Português, como já disse, me despertou para o gosto da leitura. Foi aquela gota d'água que fez a diferença e que ainda hoje me sacia. Do colega José Carlos dos Santos (Galdino) que depois se tornou policial e morreu em combate lembro o companheirismo dele em me acordar nas manhãs que havia aula de Educação Física, do Messias dos Reis, que também ainda hoje é policial a lembrança é sempre da sua alegria e de mexer com os outros numa brincadeira sem fim. Um dos filhos do soldado Pecém era metido à mágico e malabarista. Dava saltos mortais no pavilhão. Mas a lembrança maior trago ainda no corpo: uma cicatriz na sobrancelha do olho esquerdo. Naquele tarde do dia fatídico um helicóptero sobrevoava a Praça da Matriz e por lá pousou. Como estávamos sem aula todo mundo correu em disparada para ver o objeto voador identificado. Na minha frente corria o Gilberto Silva (que hoje é mestre de barco), ao passar pelo portão de fora, jogou para trás uma das bandas que me colheu de frente, que vinha logo atrás. Num primeiro momento ainda corri colocando apenas a mão no olho. Ao chegar no Parque Infantil que ficava em frente da escola outro colega me advertiu que jorrava sangue do local afetado. Amedrontado, levaram-me para o Hospital onde foi providenciado um curativo. O enfermeiro que atendeu disse depois que "não faltou nada para atingir o olho". Fiquei por mais de uma semana com a "placa branca" na cara e ainda quase levava uma surra!


sábado, 6 de fevereiro de 2016

MARIA COELHO - A MAIS BELA DE CAMOCIM

Maria Coelho. Camocim, 1922. Fonte: A Noite 

No dia 4 de maio de 1922 o jornal carioca "A Noite" estampava na primeira página a foto da mais bela camocinense, Maria Coelho. A escolha da referida senhorita foi por conta do concurso "Qual a melhor mais bella do Brasil?" patrocinado por aquele periódico. Naquele tempo era corriqueiro este tipo de concurso promovido pela imprensa. No nosso caso, a escolha foi organizada pelo Camocim Jornal gerenciado por Horácio Pessoa. Diz a nota:

Na cidade cearense de Camocim acaba de merecer o título de mais bella a senhorita Maria Coelho de accordo com a apuração de nossos prezados colegas do Camocim Jornal que encerraram aquella prova local nos primeiros dias de abril ultimo, não sem grandes dificuldades, devido a índole modesta dos cearenses, que não encontram em geral, maior enthusiasmo nesses certames.

Na matéria jornalística figuram ainda os resultados das mais belas de várias cidades por onde o concurso era realizado, como se dizia antigamente, do Oiapoque ao Chuí. Não sabemos se a nossa "maior beleza da cidade", a "formosura cearense" consegui avançar nas outras etapas do concurso, mas ficou o registro da beleza feminina que ainda hoje caracteriza nossa cidade. Quem conheceu Maria Coelho pode confirmar o que disse o jornal? Comentários para o blog.




Fonte: A Noite, Rio de Janeiro, RJ. Ano XI, 04 de maio de 1922, p.1. 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

OS CARNAVAIS DE OUTRORA - PARTE III

Bloco do Treco. Camocim-CE.1967.  Fonte: Arquivo Aroldo Viana.

Das lembranças que tenho do carnaval de rua de antigamente em Camocim, uma que não me sai da cabeça é o Bloco dos Marítimos, puxado pelo incansável Saraiva e seu apito ensurdecedor. Ficar nas calçadas e janelas da Rua do Egito para ver os blocos passarem era a minha maior diversão.
Na postagem de hoje o destaque é para o Bloco do Treco (foto) que animou as ruas e os bailes nos anos 1960. Referido bloco era formado por rapazes e moças de classe média. Segundo um dos seus ex-integrantes, Aroldo Viana, o maior rival deles era do Bloco dos Marítimos. Nesta mesma época tinha ainda os blocos: “Odaliscas do Rei Salomão, Vai-quem-quer, Não dô cavaco, Bloco do Zorro, Os Intocáveis, União, Zombando do Azar, dentre outros.
Ainda sobre o carnaval de rua, ficou para a posteridade uma crônica do saudoso escritor camocinense Arthur Queirós, da qual reproduzimos este trecho:

 No carnaval de outrora, em Camocim, apareciam muitos blocos populares, carnaval de rua. Eram de estivadores, dos portuários, dos salineiros, dos pescadores, dos marítimos e vários outros, que recebiam até, estímulo da prefeitura, mediante premiação aos que melhor se apresentassem, mediante a classificação de criteriosa comissão julgadora.

Portanto, vários blocos foram fundados e animaram o período momino sem esquecer do onipresente "Bloco dos Sujos" que, segundo ainda nosso cronista, os foliões “[...] passavam tisna de panela no rosto todo, nessas ruas todas e iam parar lá na casa de João Luís de França, que tinha o nome de rua do Suvaco, imagina que nome, e ali era a farra". 
Bom carnaval e que nos divirtamos em paz.

Fontes:QUEIRÓS, Artur. Coisas e fatos. O Literário, Ano II, edição 8, fevereiro de 2000, p.3. Camocim-CE. 
 VIANA, Aroldo. Bloco do Treco. O Literario, Ano IV, edição 04, julho-agosto/2002 p.4. Camocim-CE.