terça-feira, 31 de março de 2020

GRIPE ESPANHOLA MATA EM CAMOCIM. AMÉLIA VERAS


Jornal Folha do Littoral. Camocim-CE, 08 de dezembro de 1918. Fonte: Hemeroteca da BN.
28 de setembro, um sábado, véspera da data em que Camocim completaria 39 anos de emancipação política, o Vapor Ceará, da Companhia Lloyd Brasileiro atracava no Porto de Fortaleza, trazendo o germe do "morbo hespanhol". A embarcação vinha dos estados do sul, onde a epidemia acabara de chegar. Até março de 1919 os jornais ainda traziam notícias de mortes provocadas pela febre epidêmica, Em Camocim, apesar de não sabermos ainda o número correto de mortes, foram dezenas de camocinenses que sucumbiram à peste. Como sempre acontece nas pandemias quem mais morre são as pessoas pobres, daí não estamparem as manchetes dos jornais.
Contudo, a peste não seleciona classe ou posição social. Neste sentido, a morte da "Senhorinha Amélia Veras", filha do Cel. Thomaz Zeferino de Veras e D. Emília Pessoa Veras, ocorrido em 06 de dezembro de 1918, teve seu falecimento noticiado por dois números seguidos do jornal Folha do Littoral (08 e 15 de dezembro de 1918).
Embora dois médicos tivessem vindo em trem especial de Sobral para socorrer a jovem de apenas 15 anos, os mesmos já a alcançaram sem vida. Este fato gerou comoção na cidade e o enterro da mesma, ocorrido em 07 de dezembro de 1918 foi noticiado pelo jornal, inclusive com a relação dos presentes ao ato fúnebre. Na escrita jornalística, o sentimento de perda:

 "O passamento da desditosa mocinha, que, ainda no verdor dos annos, quando a existencia para ella começava desabrochar no sorrir tonificante da primavera da vida, pois que apenas contava com 15 annos de idade foi consternadamente sentido no seio da sociedade camocinense onde, pelo seu grandioso dote de maneiras e coração captivante produto feliz do seu espirito alegre e angelical, era vantajosa e distinctamente apreciada".


Fonte: Jornal Folha do Littoral. Camocim-CE. 1918, nº 26 e 27. Respeitou-se a grafia da época.

terça-feira, 24 de março de 2020

A GRIPE ESPANHOLA EM CAMOCIM


Jornal Folha do Littoral, Camocim-CE. 1918. Fonte: Hemeroteca da Biblioteca Nacional.

Quero ainda ter tempo e disposição para um dia escrever sobre a saúde e a doença em Camocim. Ao tempo em que seu clima era aconselhado pelos médicos para a cura de alguns males do corpo (Raimundo Cela se curou em Camocim), sua condição de porto movimentado nas primeiras décadas do século XX era porta de entrada de várias doenças, como a GRIPE ESPANHOLA, (que apesar do nome, não surgiu na Espanha e sim nos EUA) que matou até o presidente da época, Rodrigues Alves (ele não era tão imune como o de agora).
Vou à imprensa da época para entender um pouco dessa epidemia (na época o termo pandemia era pouco usado), num jornal nosso, editado em Camocim, chamado Folha do Littoral. Restaram alguns exemplares dos anos 1918 e 1919, tempo em que a "gripe" grassou em nosso país, matando mais de 30 mil pessoas. E, para quem acompanha a loucura que é a imprensa atual, naquele momento os jornais diziam que era apenas uma "gripe":
"O QUE É A INFLUENZA HESPANHOLA. Os medicos descobriram que a influenza hespanhola é simples gripe aggravada com a differença de clima. Falleceram em consequencia desta molestia 88 pessoas pertencentes as nossas divizão de guerra e a missão medica". (Folha do Littoral, Camocim-CE, 06 de outubro de 1918, ed. 17, p1.).

Em outubro de 1918 a doença ainda estava no começo. No Brasil ela teria chegado através de um vapor inglês em setembro que aportou no Rio de Janeiro. No Ceará, ela veio por um navio do Lloyd Brasileiro. Percebam que a linguagem jornalística é fria e curta, pois, ao mesmo tempo que minimiza a descoberta da doença, assinala o número de mortes como algo natural.
Na próxima postagem descreverei como os articulistas do jornal começam a se preocupar com a doença e o abandono do nosso porto do ponto de vista sanitário.

Fonte: Folha do Littoral, Camocim-CE, 06 de outubro de 1918, ed. 17, p1.).

segunda-feira, 16 de março de 2020

AS PANDEMIAS EM CAMOCIM



Em tempos de CORONAVIRUFOBIA, neologismo criado pelo amigo Vicente Martins, professor de Língua Portuguesa da UVA, sempre é bom recorrermos à história. Assim como hoje, naquela época, principalmente depois de passada a fase mais crítica das doenças, os jornais trouxeram charges reportando o assunto (foto acima). Como Camocim sempre foi uma cidade aberta ao mundo, face a sua atividade portuária, as pandemias e epidemias sempre chegaram por aqui. 

No final do século XIX, a febre amarela foi impiedosa com os camocinenses. No ano de 1888, de abril a julho foram notificados 574 casos com 65 mortes. Conta a documentação que a mortandade não foi maior face aos esforços do Dr. Raimundo Belfort Teixeira, cujo trabalho foi reconhecido pela Câmara Municipal de Camocim. 

No documento que registrou este episódio ficou escrito: "Esta Câmara não pode deixar de lavrar o zelo e solicitude d’aquelle Facultativo, trabalhando com a pratica intelligência de que é reconhecido para debellar o mal, e ao retirar-se deixou a esta Câmara o restante da ambulância aqui existente, para ser fornecida a qualquer pessoa atacada".

Agora é todo mundo cuidando para não contrair o corona vírus para que não figuremos na tragicidade dos documentos.

Fonte: Fonte: Câmara Municipal de Camocim. 1888. 1º Livro de Ofícios Expedidos. Nº 15, p.37)




domingo, 8 de março de 2020

À MULHER CAMOCINENSE


Artesã. Camocim. 2019. Fonte: Arquivo Wanderson Lima

A Mulher camocinense tem uma bela trajetória nos anais da nossa História. Ela esteve presente nos principais momentos históricos do município, como por exemplo, nos movimentos contra a retirada dos trens de nossa cidade em 1949-1950, na chamada Rebelião da Ferrovia. Várias mulheres estiveram à frente de associações religiosas, pias e políticas e participam na composição da Câmara Municipal de Camocim desde 1959. Nos anos 1980, a presença de mulheres na administração pública e órgãos dos governos federal, estadual e municipal foi tanta que a Revista Manchete nos chamou de "A Cidade das Mulheres". Atualmente, a cidade é governada há mais de sete anos pela prefeita Mônica Aguiar.

Mas, nem sempre foi assim. Mesmo que no cotidiano a mulher esteja presente em todos os momentos, no plano público, essa presença foi sendo aos poucos conquistada. Nos documentos, poucas são as referências ao sexo feminino a não ser em determinados setores da vida pública, como na educação escolar ou em determinadas profissões, como as costureiras.

Em Camocim, na virada do século do século XIX para o XX, elas estão circunscritas ao magistério, principalmente,  como informa o Almanaque Laemmert de 1911. Portanto, na Instrução Pública, na sala feminina da escola estadual a professora era D. Heráclea de Sá Callado, nas escolas municipais, a professora do distrito de Barroquinha era D. Maria de Assumpção Neves. Nas escolas particulares mistas eram professoras: D. Francelina de Castro Fialho; D. Uribna Gondim Barbosa; D. Eustachia Aragão e D. Angêla Ferreira Collyer.

No campo da religião, as mulheres despontam nas associações pias como a Irmandade do Sagrado Coração de Jesus ou Apostolado da Oração, fundada em 1904, cuja presidente era D. Maria José Pessoa Chaves. Na Obra Pia de Universal de Suffragios para as Almas do Purgatório, a presidente era D. Rachel d'Oliveira Praxedes.

No comércio, há apenas o registro da firma Viúva Thiers & Cia, representante da firma Economisadora Paulista em Camocim.

No setor de profissões, nesta época, Camocim tinha as seguintes modistas (como eram chamadas as costureiras de então): D. Eurides de Mello (roupas brancas); D. Ernestina Maia; D. Maria de Sousa Neves; D. Maria Isabel Perales, D. Rosa de Mello Monteiro e D. Luisa Balbino.

No funcionalismo público federal, a exceção era a Sra. Rosa da Silva Aguiar, agente dos Correios.

Fonte: Almanaque Laemmert, 1911. Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

CARNAVAL DE CAMOCIM - AROLDO VIANA, O FOTÓGRAFO FOLIÃO

Bloco "Vamos Beber Cachaça". Anos 1980. Camocim-CE. Fonte: Acervo Aroldo Viana.

Nos últimos quinze dias chegaram até nós vários pedidos de pesquisa sobre o carnaval de Camocim de décadas passadas. Além de algumas postagens sobre o período momino de décadas do início do século XX, já nos referimos a carnavais mais recentes, especialmente fundamentado nas informações prestadas pelo fotógrafo folião Aroldo Viana, que abriu seu arquivo e nos forneceu preciosidades, como a foto acima do Bloco "Vamos Beber Cachaça", onde ele aparece no primeiro plano (quinto da esquerda para a direita). A garrafa do estandarte seria de uma "Caranguejo" ou de uma Pitu, cachaças que fizeram muito sucesso durante a década de 1980, mesma data que figura no estandarte improvisado?

Bloco do Treco. 1970. Camocim-CE. Fonte: Acervo Aroldo Viana
Na conversa com Aroldo Viana fica patente a sua participação não somente como participante, mas como organizador de blocos carnavalescos em Camocim. O mesmo nos disse que chegava a pintar os estandartes e fantasias de blocos como o "Vamos Beber Cachaça e Bloco do Treco (foto acima). Por outro lado, como podemos perceber nas duas fotos desta postagem, o seu estúdio, que ficava na Rua Alcindo Rocha (hoje onde está instalado a Music Center) virou também ponto de concentração dos blocos nos quais era integrante. Enfim, são "flashs" do um passado carnavalesco vivido pelo fotógrafo folião Aroldo Viana que não voltam mais.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

BAÚ DO MAGUARY DE CAMOCIM. FUTEBOL E ESCOTISMO



Ofício 13/76. Maguary Futebol Clube. Camocim-CE.

"Apraz-nos solicitar que em Tianguá acha-se localizado em grande elasticidade um time futebolístico com o nome de América". Com esta linguagem meio empolada começa o ofício enviado ao Maguary pelo Chefe dos Escoteiros de Tianguá em 09 de agosto de 1976, com a finalidade de marcar uma partida de futebol em Camocim para o dia 15 daquele mês. 
Na proposta, o América pedia a quantia "de Cr$ 700,00 acompanhado de almoço e janta. [...] Nossa comitiva conta com 18 pessoas". Este tipo de proposta figura em quase todos os ofícios enviados e recebidos pelo time do Maguary, isto é: uma quantia em dinheiro e uma quantidade de "talheres" a serem servidos após o jogo.
Além disso, era normal que o time que se propunha a vir jogar, falasse um pouco da sua trajetória. No caso do América de Tianguá, dizia-se que havia se sagrado "bicampeão das Olimpíadas da Serra da Ibiapaba".
No ofício em questão dois detalhes que não sabíamos: que o Capitão Marcelo da PM tinha sido diretor do Maguary e que nosso amigo Ozenard Guilherme de Sousa, (irmão do amigo Olivar Vava) quem assina o referido ofício, foi Chefe dos Escoteiros de Tianguá. São revelações do Baú do Maguary

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

O BAÚ DO MAGUARY FUTEBOL CLUBE DE CAMOCIM

Pasta de Arquivo. Ofícios Expedidos e Recebidos. Maguary Futebol Clube. Camocim. 1972-1979. Fonte: Acervo do Blog.


Uma pequena pasta, algumas histórias perdidas em meio à incipiente burocracia de um clube de futebol amador. Pelo menos até agora foi o que restou do Maguary Esporte Clube, cuja história se confunde com a vida de Antônio Pereira da Silva - o Cazumbi, o velho Cazumba.
Marcação de jogos, atas de reunião da diretoria, pedidos a políticos, recibos de divulgação de partidas no Sonoros Pinto Martins, cessão de jogadores para outros clubes, a relação do clube com os times de Parnaíba, Sobral e outras municípios da região, dentre outros assuntos, pudemos vislumbrar nos documentos roídos de traças e desgastados pelo tempo.
Pouco a pouco revelaremos os tesouros deste pequeno baú de histórias do Maguary. 

Fonte: Pasta de Arquivo. Ofícios Expedidos e Recebidos. Maguary Futebol Clube. Camocim. 1972-1979. Fonte: Acervo do Blog.

CARNAVAIS DE OUTRORA EM CAMOCIM - O BLOCO DO TRECO

Bloco do Treco. 1966. Camocim-Ceará. Fonte: Acervo José Aroldo Viana.


Fevereiro é o mês da folia. Entrando neste espírito, o Camocim Pote de Histórias entra no clima e recupera histórias do nosso carnaval de outrora, desta vez, destacando o Bloco do Treco - "O Inimitável", fundado em 1966. Portanto, neste ano, os "trequistas" podem comemorar 54 anos de fundação, muito embora, há décadas que eles não saem pelas ruas de Camocim. No entanto, os mais saudosistas prometem neste ano de 2020 marcar presença no carnaval camocinense. 
Segundo um dos remanescentes da primeira formação, nosso amigo Aroldo Viana, que guarda fotos e recordações destes tempos áureos, um grupo de "idosos foliões" está se articulando para botar o bloco na rua. Soube até que uma versão infantil da festa já está agendada para acontecer no Esther Buffet.
O próprio Aroldo Viana estará no próximo dia 10, segunda-feira, fazendo uma explanação na Academia Camocinense de Ciências, Artes e Letras (ACCAL) sobre a história do Bloco do Treco.
Gerada a expectativa, vamos esperar para conferir a alegria da "rapaziada" do Bloco do Treco, com seus estandartes e fantasias, como mostra a fotografia do ano de 1966, em algum lugar de Camocim.