sábado, 18 de julho de 2020

DA VILA FALCÃO AO RESIDENCIAL BONITO. AS CASAS POPULARES EM CAMOCIM

Vila "Ministro Waldemar Falcão". Fortaleza - CE. 1950.
Fonte: Revista "O Cruzeiro", RJ. 12 de agosto de 1950, ed. 43, p.73.


Talvez poucos saibam, mas, a construção de casas populares em Camocim remonta ao século passado, mais precisamente no ano de 1950. No governo do general Eurico Gaspar Dutra convidou para presidir o Instituto de Aposentadoria e Pensões Marítimas (IAPM), o político cearense Armando Ribeiro Falcão (1919-2010), que ficou à frente da entidade no biênio 1949-1950. Foi na gestão que vários municípios do Ceará e do Brasil foram contemplados com casas populares para marítimos, jangadeiros, pescadores, enfim, homens do mar. Desta forma, podemos dizer, que esta iniciativa foi o embrião dos posteriores conjuntos habitacionais. Em Camocim, a obra foi a Vila Falcão, em homenagem ao ministro, que fica na Rua José de Alencar, entre as ruas Santos Dumont e Humaitá. Hoje, quase ninguém lembra que estas casas tiveram esta denominação. A arquitetura original também já foi totalmente modificada (ver foto acima de como era o modelo inicial). Antigamente existia uma placa alusiva à obra, mas, como todas em Camocim, teve outro destino por seu valor em bronze. Não sei se as pessoas contempladas à época com estas casas eram em sua totalidade, marítimos ou algo parecido. O certo é que, Armando Falcão. depois de sua passagem pelo IAPM, foi alvo de "várias denúncias de irregularidades administrativas e financeiras..." 
De lá para cá, várias outras gestões construíram casas populares que tomaram várias denominações nos bairros da Olinda, Boa Esperança, Apossados, dentre outros, além da COHAB que também se tornou um bairro.
A bola da vez agora é o Residencial Bonito III no bairro Jardim das Oliveiras. Trezentas famílias beneficiadas pelo Programa Minha Casa, Minha Vida. Na emoção de ter um teto para chamar de seu, de cada contemplado, observa-se o quanto é importante uma politica de governo para o setor habitacional. Do outro lado a constatação politiqueira oportunista de se querer tirar proveito com a paternidade da obra. São quase trezentos pais... 




Fonte: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/armando-ribeiro-falcao
Fonte: Revista "O Cruzeiro". RJ. 12 de agosto de 1950, ed. 43, p.73.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

A CAPITANIA DOS PORTOS EM CAMOCIM. MAIS DE UM SÉCULO DE HISTÓRIA

Organizações Militares existentes na Marinha do Brasil. 1964 a 1990. Fonte: Ministério da Defesa. Marinha do Brasil.


No último dia 05 de julho de 2020, a Agência da Capitania dos Portos em Camocim, comemorou 121 anos entre nós.  Portanto, desde 05/07/1899, ainda no século XIX, que a Marinha do Brasil marca sua presença em nosso município. 
Na ORDEM DO DIA Nº 1/2020 publicada pelo atual Agente da Capitania dos Portos em Camocim, Ricardo Corrêa Peixoto - Capitão-Tenente (AA), um resumo dos objetivos da unidade militar em Camocim:

[...] Mercê dessa presença mais que secular, poder-se-ia apresentar as inúmeras estatísticas de inspeções, abordagens, inquéritos, acidentes e multas – robustos, contudo, insensíveis números de um trabalho incansável de um punhado de militares e servidores civis que exerceram e ainda exercem essas importantes atividades. 
Entretanto, o que gostaríamos de sublinhar, nesta célebre ocasião, é a impossibilidade em quantificar o número de pessoas que foram salvas, não apenas após um infortúnio, mas, sobretudo pela orientação contumaz e obstinada dos nossos profissionais em não permitir que embarcações se fizessem ao mar à revelia da segurança da navegação – se essas houvessem ocorrido muitas tragédias e sofrimentos para as famílias teriam sido noticiadas. As pessoas que não perderam as suas vidas são, indubitavelmente, a melhor das estatísticas que esta incansável Organização Militar poderia apresentar.

Não restam dúvidas da importância da presença da Marinha do Brasil face à nossa condição de município litorâneo e da vocação para as atividades laborais ligadas ao mar, aberto ao mundo pelo Rio Coreaú e o Oceano Atlântico. No entanto, as instituições também são filhas do seu tempo e, como tal, exercem outras atividades demandadas pelo aparato estatal. Deste modo, a unidade da Marinha do Brasil em Camocim também cumpriu determinações relacionadas ao processo de controle, vigilância e informação sobre outros atores políticos no período denominado de ditadura civil-militar no país. 
Neste sentido, relatórios, dossiês, interrogatórios e demais informações sobre momentos da nossa história política, envolvendo políticos, principalmente, produzidos neste período, podem hoje ser acessados com a abertura dos arquivos.
No documento acima apresentado, tem-se a relação dos nomes dos agentes que serviram em Camocim entre 1964 a 1989, fornecido pela Marinha do Brasil a pedido da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Por outro lado, naquela época, a maioria destes agentes se tornaram "cidadãos camocinenses" pela Câmara Municipal de Camocim.
Os tempos são outros e que a Marinha do Brasil continue imbuída de sua atual missão em nossa terra, como afirma ainda a Ordem do Dia acima mencionada, de:

[...] expressar o orgulho, mais uma vez, pela excelência dos serviços que executam, tendo em vista que é notória a dedicação, esmero, espírito de sacrifício e a sinergia com que executam suas obrigações e tarefas constantes no dia a dia, sacrificando suas famílias pelas ausências e longas jornadas de trabalho. 

Fontes
Camocim Online.
Arquivo Nacional. br_rjanrio_cnv_0_rce_6004100274820201315_d0001de0002.

 






quarta-feira, 17 de junho de 2020

CASAS COMERCIAIS DE CAMOCIM DO SÉCULO XX - A ITALIANA


Anúncio da "A Italiana". Camocim-CE. 1918. Fonte: Jornal Folha do Littoral. 01/09/1918, nº 12, p.4.



Nas primeiras décadas do século XX, o comércio de Camocim era bem diversificado, seja no atacado,como mo varejo. Uma pesquisa nos jornais da época, sinaliza neste recorte temporal a existência de casas comerciais que se instalaram no primeiro centro comercial da cidade - as imediações da Praça da Estação. Armazéns de grande porte para a época, firmas comerciais de representação, bancos, clubes sociais, cinemas, repartições públicas e mercearias "sortidas" tinham naquele espaço a sua localização.
Hoje enfocaremos a casa comercial "A Italiana", uma referência, sem dúvida, à origem de seu proprietário, o Sr. Francisco Trévia. Outros membros desta família também fizeram história no comércio camocinense (Fernando Trévia, Dedim Trévia, Toinho Trévia, Carlos Augusto Trévia, Fernandinho, dentre outros) e ainda hoje permanecem neste ramo, como Luciano Trévia.
A Italiana, como se pode observar no seu anúncio no jornal Folha do Littoral, era mais do que uma mercearia com seu sortimento variado de conservas, massas, biscoitos, doces, licores e bebidas em geral. Mas também era um botequim, um bilhar, enfim, um espaço onde os homens poderiam, principalmente, podiam se encontrar, conversar, beber o Vermutim "o melhor aperitivo do mundo", fumar um charuto "Stender", enfim, exercitar suas práticas sociais. 

Fonte:Jornal Folha do Littoral. 01/09/1918, nº 12, p.4.

sábado, 6 de junho de 2020

JUNHO FERROVIÁRIO. HISTÓRIA E SAUDOSISMO DO TREM DE CAMOCIM

Casa dos Engenheiros. Camocim. Década de 1980. Fonte: Memória Ferroviária Cearense.


142 anos Camocim viveu um mês muito especial, o mês de JUNHO. É que de 01 a 30 de junho de 1878, os habitantes vivenciaram a realização de algo que transformaria o pequeno distrito de Barra do Camocim - o início da construção da Estrada de Ferro que ligaria inicialmente o nosso porto à cidade de Sobral.
Deste modo a primeiro de junho o Conselho de Estado do Império, presidido por João Lins Cansanção de Sinimbu, autorizou de uma só canetada o prolongamento da Estrada de Ferro de Baturité a construção da Estrada de Ferro de Sobral, visando minorar os efeitos da seca de 1877 em socorro dos flagelados da região. No dia 19 deu-se a assinatura do Decreto Nº 6.940 que autorizava o início dos estudos da Estrada de Ferro de Sobral. Onze dias depois, em 30 de junho, o Presidente do Estado, José Júlio de Albuquerque já estava batendo a primeira estaca dos serviços de construção do trecho CAMOCIM-GRANJA. Em um mês se deu todo este desfecho, mostrando que, quando os homens querem realizar, realizam. Aquele mês junino no distante ano de 1878 deve ter sido o mais "ardente" da história do município.
Quase dois séculos depois, teremos um mês de junho o mais "frio" de todos. Não somente pela falta das fogueiras que a cada ano se tornam mais ralas e raras. Mas, também por se acumular mais um ano na memória daqueles que recordam do trem que se foi para nunca mais voltar. Para não dizer que apenas nós é que sofremos dessa nostalgia, vejamos trechos de dor e memória de quem foi privado do trem:

"É que, sem o apito do trem, a Cantareira morria para os nossos sonhos, como morriam as flores e as árvores, os domingos e os dias santos, as madrugadas e os fins de tarde em que a vizinhança toda conversava lá fora, as cadeiras ao ar livre, enquanto a gente brincava na calçada. Sem o apito do trem, era como se o sol deixasse de brilhar no largo da estação... [...] Sem o trem, parecia que morriam os heróis da nossa infância.[...] Como ficar sem o trem e não ver mais a alegria da gente do povo que era parte da nossa vida?

Embora que vivamos no tempo presente, o passado e as lembranças dele são o combustível que nos movem.


Fontes: 
OLIVEIRA, Andre Frota de. Estrada de Ferro de Sobral. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 1994. 
PRADO, Antonio Arnoni.  O último trem da CantareiraEditora 34, 2019, p.59-60).
Foto: Casa dos Engenheiros. Camocim. Década de 1980. Fonte: Memória da Ferrovia Cearense.





domingo, 31 de maio de 2020

A VIOLETA. A REVISTA DA MULHER CAMOCINENSE

Revista "A Violeta", nº 174, março de 1941. Fonte: APMT.

A fertilidade da imprensa camocinense já foi abordada nete espaço. Nas primeiras décadas do século XX foi grande a variedade de periódicos e revistas que surgiram em nossa cidade, variando do noticioso informativo ao humorístico, clubístico, de representação política, da classe operária (O Operário), dentre outros. A crônica histórica recupera mais de trinta títulos, alguns sendo editados simultaneamente, além da existência por certo tempo de duas tipografias na cidade, a  Typographia Commercial e Officinas Typographicas,  do jornal “Gazeta de Camocim”.
Feito este intróito, cumpre informar que as mulheres camocinenses também tiveram uma publicação específica para elas. Segundo a Revista do Instituto Histórico do ano de 1908 em Camocim "surgiu A Violeta, orgam literário e recreativo dedicado ao 'bello sexo'", no ano de 1907. Naquela época, o Barão de Studart fazia na Revista do Instituto Histórico um interessante trabalho de pesquisa sobre a imprensa cearense.
Interessante como este nome "Violeta" surge denominando jornais e revistas dedicados ao público feminino, seja para o entretenimento ou na divulgação das ideias do feminismo que surgia naquela época. Neste sentido, vamos encontrar uma revista denominada "A Violeta" ainda no séc, XIX em Parnaíba-PI, no ano de 1863. No entanto, talvez a mais profícua e duradoura foi "A Violeta" de Mato Grosso, "periódico editado em Cuiabá, a partir de 1916, por uma pequena elite de pessoas letradas, lideradas por mulheres que escreviam e editavam a revista, aproximava ideias e pensamentos que estavam na pauta dos debates contemporâneos".  A revista mato-grossense saiu regularmente até 1950, que nos seus "309 títulos, revelou uma longa vida, traduzida nas muitas décadas utilizadas em suas publicações. O último número dessa revista foi editado por ocasião da posse do Presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, nascido em Cuiabá".
Infelizmente ainda não encontramos nenhum exemplar de "A Violeta" editada em Camocim para sabermos como o "belo sexo" camocinense, como se dizia à época era retratado.

Fonte: Revista do Instituto Histórico do Ceará. 1908,
ROCHA, Olívia. Mulheres e Imprensa no Piauí. 2012.
MARQUES, Ana Maria. O Feminismo nas narrativas de mulheres na revista "A Violeta". Cuiabá. 1916-1950. Revista Territórios e Fronteiras, n.1, v.4, 2011.


sexta-feira, 22 de maio de 2020

CAMOCIM E A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

Anúncio dos produtos farmacêuticos J. Arthur de Carvalho. Camocim-CE. 1918. Fonte: Folha do Littoral.


Diante de toda celeuma atual que envolve o uso ou não do medicamento cloroquina que, sem dúvida, envolve interesses muito maiores e difusos do que uma saída segura como remédio eficaz para o combate do corona vírus, lembramos que nosso município já foi um polo de produção de produtos farmacêuticos que ainda hoje podem se encontrar nas farmácias.
Quem já não usou as famosas Gotas Arthur de Carvalho para se aliviar de problemas estomacais? Pois bem, nas primeira décadas do século XX, o farmacêutico Joaquim Arthur de Carvalho montou em Camocim o Depósito Geral do seu Laboratorio Chimico-Pharmaceutico, produzindo as Gottas Arthur de Carvalho ou Gottas Estomacaes para os problemas do estômago; Caneroina, para combater a consequências da sífilis; Ulcerina, eficaz contra as "úlceras de mau caracter"; Calloina, para desfazer os problemas de calos na pele; o Tonico Prior, uma loção antisséptica que prometia evitar a queda de cabelo e eliminar a caspa e o Elixir anti-asmatico, que, como o próprio nome diz, servia para combater a asma, mesma aquela "mais rebelde, quando delle se faz uso mais prolongado".
A fama dos produtos de J.Arthur de Carvalho correu o Brasil daquela época, demonstrado pelos vários pedidos dos medicamentos junto à firma de representação local  Nicolau & Carneiro. A firma mantinha uma espécie de filial em Fortaleza, com um depósito estabelecido à Rua Major Facundo, nº 44.
J. Arthur de Carvalho não era somente um farmacêutico conhecido. Á noite, reunia em sua farmácia um  grupo de pessoas letradas da cidade, dentre eles o pintor Raimundo Cela, para uma boa roda de conversa.

FONTE: Jornal Folha do Littoral. Camocim-CE, 22/09/18, ed.15, p.3. 

quinta-feira, 14 de maio de 2020

O CASAMENTO DE MURILO AGUIAR E MARIA STELA ROCHA

Fonte: Livro "Murilo Rocha Aguiar. Amor à política por toda a vida. 1914-2014".

Em 2014 foi lançado um livro comemorativo do primeiro centenário de Murilo Rocha Aguiar (1914-1985) intitulado "Murilo Rocha Aguiar. Amor à política por toda a vida. 1914-2014", onde é recriado à moda de biografia, a vida do líder político que, enquanto viveu, se associou e representou o município de Camocim na política cearense.
É um relato interessante, embora que após a leitura do livro, fique-se a sensação de que o mesmo foi feito apenas para o público familiar, no sentido de marcar o centenário de seu nascimento. A figura do homem e do político Murilo Aguiar ao nosso ver, está ainda a merecer uma biografia mais abrangente. 
Coincidentemente, hoje, 14 de maio foi o dia do seu casamento, no distante ano de 1937, quando Murilo Aguiar tinha apenas 23 anos incompletos, desposou Maria Stela Rocha, filha do Deputado Estadual Antonio de Carvalho Rocha (Tonico Rocha).O referido livro resume o casamento dos jovens nubentes desta forma: 

"A cerimônia religiosa aconteceu na residência da noiva, celebrada pelo vigário da paróquia, padre Manuel Henrique de Araújo. O casamento civil foi realizado pelo Juiz de Direito da Comarca de Camocim, Renato Silva, tendo como testemunhas os parentes próximos" (p.35).

Este enunciado pode parecer que o "enlace matrimonial" dos dois jovens pertencentes à importantes famílias da política local, ele, neto de ex-prefeito da cidade,ela, filha de um deputado estadual, tenha sido um evento somente para os mais íntimos. No entanto, com um pouco mais de pesquisa, poder-se-ia ter revelado a repercussão nos jornais da capital, como noticia A Razão, quatro dias após à realização do casamento:

ENLACE AGUIAR—ROCHA. Realisou-se no dia 14 do corrente, em Camocim, com o comparecimento do que a sociedade camociense tem de mais seleto, o enlace matrimonial do snr. Murilo Aguiar, alto comerciante local, com a Senhorinha Maria Stela Rocha, dileta filha do Deputado Antonio de Carvalho Rocha. Por esse motivo, foi servido em casa dos pais da nubente, um lauto almoço, depois do qual, o feliz casal tomou o avião para Fortaleza de onde se transportará ao Balneario Hotel, em Pirapora, com a idéa de ali gosar a sua Lua de Mel. Os nubentes pertencem à duas tradicionais famílias desta zona, são pessôas altamente relacionadas e gosam da maior estima em nosso meio.

Murilo Aguiar faleceu em 28 de fevereiro de 1985, depois de uma disputa de eleição para a presidência da Assembleia Legislativa do  Estado do Ceará, dois anos antes de completar Bodas de Ouro de casamento.


Fonte: No Lar e na Sociedade. Jornal "A Razão". Fortaleza-CE, Ano I, 18 de maio de 1937, nº 290, p. 02.
Fonte: Livro "Murilo Rocha Aguiar. Amor à política por toda a vida. 1914-2014".

quarta-feira, 13 de maio de 2020

O TRAFICANTE E A ESCRAVA

Escravidão no Brasil. Jean Baptiste Debret. 
"QUEM É CATHOLICO NÃO PODE SER ESCRAVOCRATA"
Esta era a máxima da campanha abolicionista nos idos de 1881 levada a efeito pelo jornal abolicionista cearense "O Libertador". Seria como dizer hoje: "Quem é cristão não pode apoiar a tortura, a morte, etc", embora, hordas de matizes religiosas várias estejam a fazer o contrário, engrossando narrativas fanáticas país afora. Mas, vamos ao foco da data de hoje: abolição da escravatura. A Província do Ceará, como registra os anais da história, foi a primeira a proclamar a extinção da escravidão, (25/03/1884), cinco antes da data nacional da Lei Áurea, 13/05/1888. No entanto, para nossa região ainda é preciso muita pesquisa para compreendermos como a escravização se deu, por exemplo, nas atividades do nosso porto e na construção da estrada de ferro, por exemplo. Mais próximo de nós, as fontes apontam para um traficante (ou comerciante) de escravos: FIRMINO BEVILÁQUA, oriundo dos Beviláquas de Viçosa do Ceará, provavelmente. Ele tinha uma rede de apoiadores no comércio de escravos, que também funcionava como ponto de entrega de escravizados fujões em Teresina-PI (Sr. Eugenio Marques de Olinda); Sobral (Sr. José Firmo Ferreira da Frota); Granja(Sr. Antonio Beviláqua, provavelmente seu parente) e Fortaleza (Angêlo Beviláqua, idem). Apresentado o mercador de escravizados, quem era a escrava em questão? O jornal "O Libertador" a expõe através do perfil violento do seu algoz:

"UM ANTROPOPHAGO
Firmino Beviláqua é um nome hoje execrável entre os cearenses. Quando se procura ern todo o paiz exterminar a barbara lei do dominio illegal do homem sobre seu similhante; quando o espirito cearense banha-se no orvalho lúcido do supremo pensamento da Liberdade e da igualdade — esse homem dando largas aos instinctos brutaes da paixão dos antropophagos, ceva-se na imbele victima da escravidão; inflingindo sevicias em uma pobre mulher escrava!
Castigando-a barbaramente por um frivolo motivo esse feroz senhor tornou-se pocesso, por lhe ter o nosso digno 1º Vice-Presidente observado o escândalo de que foram testemunhas diversas pessoas—e .todo o seu ódio recahe sobre a mísera escrava que recebe novo e atroz supplicio.
[...] A escrava Margarida é hoje a victima da vossa ferocidade ; mas nós havemos de cumprir o nosso dever, illustre negreiro".

Cinco anos depois do acontecido, vamos encontrar FIRMINO BEVILÁQUA sendo noticiado pelo fato de ter sofrido um "horrível desastre que mutilou-o irremediavelmente" .

OBS: Manteve-se a grafia da época.

Fontes:
Jornal "O Libertador", Fortaleza-CE, 1881. anno I, 16 de agosto de 1881, p.1.
Jornal "O Sobralense, 27 de junho de 1875).
Jornal "Província de Minas", 1886.
Imagem: Escravidão no Brasil, Jean-Baptiste Debret (1768-1848).