terça-feira, 22 de junho de 2021

A VACINAÇÃO EM CAMOCIM.

 

Atestado de Vacinação Antivariolica de Maria Alves da Silva. Camocim-CE. 1946. Fonte: Arquivo do CPH.


Em tempos de pandemia do Covid-19, as redes sociais estampam fotos de imunizados (na primeira ou segunda doses, seja de Coronavac, Astrazeneca ou Pfizer), agradecendo a Deus e a ciência ou protestando contra o governo, além de outras manifestações. Passada a fase de imunização da população até frear o avanço do vírus, no futuro teremos que voltar aos postos de vacinação para continuar o controle da pandemia até ser considerada extinta.
Para termos uma ideia da longevidade das pandemias, a varíola. que teve surto no Brasil nas primeiras décadas do século XX, só foi considerada extinta em 1980.
Este procedimento é o que permite entrever o documento acima referido. Num sábado ensolarado (muito provavelmente), Maria Alves Silva, uma morena de 35 anos dirigiu-se à Delegacia de Higiene de Camocim à época dirigida pelo Dr. Jaime Correia e tomou duas injeções no braço esquerdo. Parece ter sido as últimas. visto que no campo onde deveria constar o retorno, o mesmo ficou em branco.
No momento em que o Brasil ultrapassa o número absurdo de 500.000 mortes, vacinar-se é o melhor remédio. Portanto, não deixe de tomar sua dose se ela está disponível.
 


quinta-feira, 27 de maio de 2021

RESIDENCIAL BONITO III. O MAIS NOVO CONJUNTO HABITACIONAL DE CAMOCIM

 

Residencial Bonito III. Camocim-CE. 2021. Fonte: Camocimmotovlog088.

 

Em postagens anteriores já historiamos os vários conjuntos habitacionais em Camocim, desde a famosa Vila Falcão. Com terminologia diferente, os conglomerados habitacionais agora recebem o nome de "Residenciais". A "casa de conjunto" ficou para trás. Os novos projetos contemplam espaços para futuras mudanças e reformas, para que a casa fique de acordo com as condições e posses de seus moradores, sem falar da construção de espaços comuns de reunião e recreação, com infraestrutura de água, esgoto, energia elétrica e de casas adaptadas para pessoas com deficiência. O Residencial Bonito III em Camocim, atende a estes requisitos básicos.~

Residencial Bonito III. Camocim-CE. 2021. Fonte: Camocimmotovlog088.

 

Mas o que é uma casa? Principalmente para quem não tinha uma ou vivia em condições precárias de moradia? pára o filósofo Gaston Bachelard a casa é "o nosso primeiro universo", "um grande berço", se apresentando como proteção, estabilidade, e sossego (BACHELARD, 1989, P.358).

Depois de entregues fui presenciar a chegadas dos moradores beneficiados. No semblante de cada um percebi a alegria daqueles que chegavam com seus móveis, tralhas e antenas parabólicas. Fiquei a pensar em como se processava na cabeça de cada um aquilo que o escritor moçambicano Mia Couto diz em um dos seus romances: "O Importante não é a casa onde moramos. Mas, onde em nós, a casa mora" (COUTO, 2003, p.54).

 

A partir de agora aquele espaço pertence a estes novos moradores que o transformarão com certeza, fazendo dele seu novo universo. O tempo mostrará. Neste sentido, já propus acompanharmos estas mudanças, a começar por historiar as trajetórias destas famílias que agora habitam o Residencial Bonito III.


Fontes: 

Camocimmotovlog0088.

BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São paulo: Martins Fontes. 1989.

COUTO, Mia. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

 

 

 

 


 

sexta-feira, 30 de abril de 2021

UM FERROVIÁRIO MAIS DO QUE CENTENÁRIO

José Ferreira dos Santos aos 102 anos. 2016. Fonte: Camocim Online.



Hoje 30 de abril comemora-se o Dia do Ferroviário. Como uma cidade que já foi ferroviária, Camocim tem uma grande memória dos "tempos do trem", seja pela íntima relação que a história do município associada à Estrada de Ferro de Sobral, seja pelas lembranças dos habitantes que viveram neste tempo e, principalmente, dos ferroviários que trabalharam nesta estrada por quase um século.
Neste sentido, por ocasião da data comemorativa, o nosso dever de sempre lembrar dos tempos idos se irmana com a trajetória de vida de um destes guerreiros dos caminhos de ferro - José Ferreira dos Santos (1914-2000), mais conhecido entre nós como o Sr. Zé dos Santos.
Coincidentemente, hoje, chafurdando nos arquivos em busca de fontes sobre a militância integralista na cidade, deparei-me com uma nota do ano de 1937 no jornal A Razão, publicado em Fortaleza, onde o nosso longevo ferroviário aparece como secretário da Sociedade Ferroviária de Camocim, mostrando que o mesmo estava envolvido não somente em desenvolver a contento seu trabalho na ferrovia, mas, também antenado com a perspectiva de melhores condições que poderiam advir com o associativismo dos trabalhadores



A  nota, assinada pelo secretário, Sr. José Ferreira dos Santos, logicamente se refere à Associação Beneficente Ferroviária que tinha sido fundada em 1932 que, naquele ano de 1937, informava sobre a posse da nova diretoria da associação para o biênio 1937-1938, que ficou assim constituída:

Presidente: Lamberto de Oliveira Sales.
Vice-presidente: Manoel Pinheiro da Rocha
Secretário: José Ferreira dos Santos
2º Secretário: Luis Gonzaga Viana.
Tesoureiro:  José Araújo Tavares.
2º Tesoureiro: Francisco Xavier Fontenele.

A todos os ferroviários a nossa homenagem!!!

Fonte: 
Jornal A Razão. Fortaleza-CE. 1937. edição 194, p.05.







 


 

sábado, 17 de abril de 2021

NOSSOS LUGARES ANTIGOS. CAMOCIM HOTEL

 


Ruínas do antigo "Camocim Hotel". Camocim-CE. 2018. Fonte. https://www.google.com/maps.


Quem passa hoje pela rua Engenheiro Privat em Camocim, defronte ao número 174, dependendo de quem for, terá recordações diferentes. Pode ir desde a sensação de descaso com o patrimônio material da cidade, da situação de um terreno central inaproveitado, ou mesmo, associar o antigo "Camocim Hotel", com a figura de sua proprietária, Dona Ambrosina Félix, que por muito tempo foi empresária no ramo da hotelaria na cidade, oriunda do então distrito de Barroquinha. 

Recibo de estadia no Camocim Hotel. 1972. Fonte: Arquivo do blog.

Por outro lado, as fontes históricas permitem afirmar e imaginar narrativas múltiplas sobre a história de qualquer objeto de pesquisa. Se a simples análise do recibo acima não nos permite saber quem era ou o que estava fazendo em Camocim durante os dias 22 a 25 de maio de 1972 o inspetor Alberto Barboza de Moura, pode-se afirmar que a autoridade fazia questão de associar seu nome à função policial. Sua rubrica no recibo, endossando  a despesa, sugere que a proprietária deveria receber o valor correspondente de alguém ou de uma entidade, como a Câmara ou a Prefeitura Muncipal. Uma coisa é certa, a diária no melhor hotel da cidade, que nesta época se situava defronte do local que hoje se encontra em ruínas (nº 101), custava Cr$ 15,00 (quinze cruzeiros). É um pequeno registro do cotidiano que pode levar a outras histórias.

Fonte: google.com/maps.

quinta-feira, 15 de abril de 2021

O CENTENÁRIO DO VOO PIONEIRO DE PINTO MARTINS


Capa do cordel"O Voo do nosso herói. Vitória Clemente da Costa e Vitória Caroline Delmito. Escola Fco. Ottoni Coerlho. Professor Orientador: Eudivan Teixeira.


"Euclydes Pinto Martins/ Filho de Antônio e Maria/ Nasce em quinze de abril/ Numa grande calmaria/ O nosso super-herói/ que aos céus voaria". 

129 anos atrás, nascia em Camocim, Euclydes Pinto Martins. Trinta anos depois, em 1922 ele desceria à sua terra natal como tripulante do avião Sampaio Correia II no voo pioneiro entre Nova Iorque - Rio de Janeiro. Com esta atitude, Pinto Martins inscreveu na história dois fatos: conhecer a terra onde nascera  (ainda récem-nascido sua família emigrara para o Rio Grande do Norte) e colocar Camocim no mapa da história da aviação brasileira.

A memória do feito do avidor camocinense ganhou as páginas de jornais e revistas do país. Depois da sua morte, essa memória denominou grupos, ruas, escolas, campos de pouso e aeroportos. Em 1952 o aeroporto de Fortaleza passou a denominar-se AEROPORTO PINTO MARTINS, depois, com a internacionalização, AEROPORTO INTERNACIONAL PINTO MARTINS. Atualmente, a empresa alemã que administra o aeroporto, num ataque à história cearense e brasileira, retirou o nome e as poucas reações não deram em nada.

Cópia da lei que denomina de Aeroporto Pinto Martins, o aeroporto do

 Cocorote, em Fortaleza-CE.

Em Camocim, foi instituído por Lei do Executivo, o 15 de abril como DIA DE PINTO MARTINS. Geralmente na semana em que ocorre a data referida, as escolas do município realizam atividades referente ao ilustre conterrâneo e ao feito aeronáutico. Nestes tempos de pandemia, não sei se foram ou se serão realizados algo semelhante. Por outro lado, já há algum tempo, a praça Pinto Martins está tomada pelos permissionários do Mercado Público que está em reformas e, até mesmo, a estátua, se encontra cercada por boxes improvisados.

Afora as disputas e negação da memória em torno de Pinto Martins no Ceará, uma outra efeméride se avizinha, que é O CENTENÁRIO DO VOO PIONEIRO NOVA IORQUE-RIO DE JANEIRO a ser celebrado no próximo ano. Pensamos que desde já, pode-se planejar uma série de eventos que marcarão a data ligada à Pinto Martins em nosso município. Já fizemos algumas gestões ao poder municipal no sentido de bem comemorarmos este marco da aviação brasileira, com sugestões de atividades oriundas do Coletivo de Historiadores de Camocim, que durante este mês serão melhor explicitadas.

Fontes: 

1. Cordel. O Voo do nosso herói. Vitória Clemente da Costa e Vitória Caroline Delmito. Escola Fco. Ottoni Coerlho. Professor Orientador: Eudivan Teixeira.

2. Fotografia: Capa do cordel O Voo do nosso herói. Vitória Clemente da Costa e Vitória Caroline Delmito. Escola Fco. Ottoni Coerlho. Professor Orientador: Eudivan Teixeira.

3. Documento: Cópia da lei que ednomina de "Aeroporto Pinto Martins", o aeroporto do Cocorote em Fortaleza. Fonte: Câmara dos Deputados. PL. 361.1951.

domingo, 14 de março de 2021

NOSSOS LUGARES ANTIGOS. BAIUCA

 

Proximidades da antiga Baiúca. Camocim-CE. Fonte: Google Maps.


Na postagem anterior quando me referi ao meu caminho de vaqueiro que me levava ao São Brás. falei in passant de um local chamado Baiúca. Pois bem, a Baiúca era nada mais do que uma casa simples caiada de branco e de duas portas verdes (ou eram azuis), que tinham na frente dois pés de "Ficus benjamim", ou "pé de figo", como costumamos chamar, árvore que já teve seus tempos áureos na zona urbana de Camocim, tragados pela ação do tempo ou mesmo pelos novos traçados das construções. Atualmente, ainda podemos ver dois exemplares que ainda resistem na rua 24 de Maio, em frente da residência do Sr. Quinca Veras, dentre outros, espalhados pela cidade.

Mas, voltando à Baiúca, era me dito que eu nunca deveria passar em frente desta casa, até mesmo para não me desviar, e a vaca, do caminho do São Brás. Quando voltava do pasto, sempre a via fechada, nas primeiras horas matinais. Daí nunca entender aquela proibição. A vaca acabou sendo vendida e eu nunca mais arrastei os quinaipes prá banda de lá.

A Baiúca, portanto, se localizava na rua João Pessoa, quase esquina com a rua General Tibúrcio  e só muito tempo depois, quando a tal casa deixou de existir com a sua finalidade principal, vim a entender o nome e a circunstâncias daquelas proibições. Num sentido pejorativo, quer dizer, bodega, local sem higiene e mal frequentado. Pode ser também um local de jogo e prostíbulo. Pois é, aquela casa rústica e pequena  podia ser tudo isso, mas, acabei por saber tardiamente, que era um "cabaré", ou para ser mais polido, uma "casa de tolerância", que também funcionava como referência geográfica para quem se deslocava para o lado sul da cidade.  

Fonte: Google Maps.


sábado, 20 de fevereiro de 2021

NOSSOS LUGARES ANTIGOS. SÃO BRÁS.

Entrada antiga do São Brás, atualmente Rua Primeiro de Maio. Fonte: Google Maps. 

Meados da década de 1970,  num tempo em que o lado oeste da cidade era limitado pela "Carroçal" que era a estrada Camocim-Granja, hoje Rua Antonio Zeferino Veras, que já foi 03 de Outubro, havia uma grande faixa de mata fechada, que vinha desde a Rua Perimetral até o Campo da Aviação, singrada de pequenos caminhos que então chamávamos de "veredas".

A faixa de terra, que até outro dia pontificava o então Hospital São Francisco, era chamada de São Brás. Da "Carroçal" iniciava-se uma vereda que dava num córrego. que na sua extensão ia dar no Lago Seco. Toda essa área era usada como pasto para animais de pequenos criadores, como o meu pai, dono de uma única vaca, comprada com o objetivo de suprir a carência de leite da sua prole.

Eu era o vaqueiro da nossa fonte de leite "mugido" e coalhada. servida à tardinha com açúcar e farinha. Todo dia eu tinha essa missão de, após a ordenha, conduzir a vaca até a mata do São Brás, com a recomendação de não sair do trajeto - rua General Tibúrcio, passando pela Baiúca, hoje trecho da rua João Pessoa, atravessar a "carroçal" e adentrar na mata, sem jamais se aproximar de uma casa em meio à mata que diziam ser de um macumbeiro local.

Todas estas recordações me vieram à mente ontem, quando atravessei toda essa faixa de terra. loteada e sendo urbanizada com residências, oficinas e até academia.

Em tempo: São Brás nasceu na Armênia e antes de se consagrar na vida religiosa, foi um médico muito requisitado. "São Brás foi preso e sofreu muitas chantagens para que renunciasse à fé. Mas, por amor a Cristo e pela Igreja preferiu renunciar à própria vida. Em 316 foi degolado".

Coincidência ou não, O lugar chamado São Brás, que era médico, foi palco de um sonho de outro médico, Dr. Wilson que denominou seu hospital com o nome do santo de sua devoção: São Francisco, hoje, infelizmente, em ruínas.

Fonte: https://santo.cancaonova.com/santo/sao-bras-medico-e-pastor-das-almas/

domingo, 17 de janeiro de 2021

ESTRADA DE FERRO DE SOBRAL. 140 ANOS DO TRECHO CAMOCIM-GRANJA

 

Mapa da Estrada de Ferro de Sobral. Fonte: Bcm 012.


Anteontem, 15 de janeiro de 2021, a cronologia marcou os 140 anos do início da operação da Estrada de Ferro de Sobral (EFS), iniciado com a inauguração do trecho Camocim-Granja em 15 de janeiro de 1881, com a extensão de 24,5 km de trilhos e as duas respectivas estações. Deste dia até o fatídico 24 de agosto de 1977, quando o Sr. Raimundo Nonato de Castro (Bolô), tendo como auxiliar o Sr. Aragão, conduziu o último trem partindo para Sobral, foi quase um século de existência (96 anos, para ser mais exato) de serviços prestados pela ferrovia à população da então zona norte do Ceará.
Por conta da efeméride redonda, há muito me fiz um desafio que pretendo concluir ainda neste ano - uma obra que conte a história da Estrada de Ferro de Sobral sob a perspectiva da História Social. Para isso, venho ao longo do tempo orientando alunos nesta temática, explorando a documentação sobre os diversos lugres por onde a ferrovia passou, recolhendo testemunhos de ex-ferroviários, de pessoas que viveram e viram esta época do trem que marcava o cotidiano das pessoas com suas chegadas e partidas.
Aqui mesmo, neste blog, ou em publicações anteriores como "A Nostalgia dos Apitos", que publicamos em 2017 e que marcou os 40 anos de desativação do ramal ferroviário Sobral-Camocim, já venho realizando este trabalho.
Buscando ampliar este esforço, atualmente oriento um projeto de iniciação científica na UVA denominado: "A História não perdeu o trem. História Social da Estrada de Ferro de Sobral", para dar conta deste desafio maior, que é parar em todas as estações e buscar contar um pouco da história destes lugares que o mapa acima demarca a partir da presença da EFS. Esperamos que este trem não atrase!

Fonte: 

OLIVEIRA, André Frota de. Estrada de Ferro de Sobral.. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 1994.

SANTOS, Carlos Augusto P. dos. A Nostalgia dos Apitos. Sobral: Edições UVA, 2017.