sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A FERROVIA E A URBANIZAÇÃO DE CAMOCIM

Fonte: IPHAN/Superintendência do Ceará.
A foto acima mostra o quanto um empreendimento pode influir na urbanização de uma cidade. Foi o caso da construção da Estrada de Ferro de Sobral iniciada no então distrito da Barra do Camocim no ano de 1877. Naquele momento pertencíamos ao município de Granja, mas, tínhamos um porto que era uma das mais importantes portas de entrada do estado do Ceará. Com a intenção de ligar o nosso porto ao mais importante centro comercial da região, Sobral, ponto de confluência dos sertões de Crateús e da Serra da Ibiapaba, a ferrovia proporcionou um crescimento urbano sem precedentes na história de Camocim. 
Na foto acima temos duas plantas que refletem esse crescimento urbanístico. Como podemos perceber, no ano de 1878 (planta inferior) os pontos em negrito se resume a uma mancha residencial que não ultrapassa a três quarteirões e mesmo assim com muitos espaços em branco, revelando o que éramos naquele ano, além do porto, uma aldeia de pescadores. Já na planta superior, datada do ano de 1880, apenas dois anos depois, o adensamento urbano apresenta um volume quase duplicado, diminuindo os espaços em branco próximo ao porto e à estação ferroviária, o que demonstra que foi em torno deste espaço de trabalho - o porto e a ferrovia, que se desenvolveu a cidade de Camocim. Por outro lado, vale destacar que já em 1879, o distrito de Barra do Camocim já se desmembrava de Granja e se transformava no município de Camocim. 
Estas imagens foram usadas recentemente num documentário para mostrar a importância das estradas de ferro no desenvolvimento do Ceará, notadamente a Estrada de Ferro de Sobral para a nossa região.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

PINTO MARTINS - O AVIADOR DE CAMOCIM

Fonte: putegi.blogspot.com
Hoje é Dia do Aviador e da Aviação. Em Camocim a relação com o pioneirismo de Pinto Martins deveria ser automática. Contudo, muita gente ainda não faz a devida correspondência do nome com o fato ocorrido em 1922, quando o camocinense Euclydes Pinto Martins, juntamente com aviadores americanos singraram os ares ligando Nova Iorque ao Rio de Janeiro, abrindo perspectivas para a aviação comercial entre as duas Américas.
Em sua memória temos o aeroporto local e o internacional de Fortaleza, a Biblioteca Municipal, uma comenda e o seu dia, 15 de abril - alusão a data do seu nascimento, além da Praça Pinto Martins onde encontra-se uma estátua de corpo inteiro e um avião-caça da Força Aérea Brasileira (FAB). São peças que vão se integrando num espaço em tempos e intenções diferentes, que vão ganhando ares de pequeno museu a céu aberto. Desta forma um dia botei na cabeça e imaginei ver este espaço de memória ampliado ao modo de um memorial e publiquei artigo neste sentido no extinto "O Literário". Reproduzo e repito a ideia novamente:

[...] a proposta é deveras simples e pode ser executada com recursos do IPTU. Trata-se de construir no perímetro da Praça Pinto Martins (já aproveitando a Estátua de Pinto Martins e o Avião) um memorial a céu aberto (como gostam os aviadores). Constará de [...] colunas distribuídas por toda a praça. A cada coluna será afixada uma placa de acrílico (ou outro material) contendo a reprodução de uma obra de arte e um texto resumo de artistas e escritores locais sobre o "Voo de Pinto Martins". Sugiro logo os nomes. Para escrever a saga do voo. Convidem: Raimundo Silva Cavalcante,  Artur Queirós, Valmir Rocha, Cardeal, Sotero, Inácio Santos, Avelar Santos, Fernando Veras e Aradi Silva. Para pintar a saga do voo, convidem: Totõe, Mauro Viana, Eglauber, Kadal, Francisco Carlos, Eduardo, Catarina, Batista Senna e mais três revelações do último salão de artes. Encimando cada coluna uma miniatura do biplano Sampaio Correia feita por Romilson Lopes. Para finalizar, promover uma revitalização em torno da estátua de Pinto Martins, iluminando-a e ajardinando o pedestal, além de colocar placas comemorativas. Claro que outros artistas e escritores poderão participar deste projeto e melhorá-lo com outras sugestões. Feito isto teríamos uma sala de aula ao ar livre onde os professores poderiam levar seus alunos para conhecerem a história da genialidade de Pinto Martins, além de um ponto turístico de qualidade".

Como se diz hoje: fica a dica!

terça-feira, 7 de outubro de 2014

CAMOCIM E AS ELEIÇÕES Á BICO DE PENA


            Passada a primeira etapa das eleições de 2014, cada vez mais a tecnologia toma conta do embate eleitoral. No mesmo dia temos os resultados das urnas e vitoriosos e derrotados não são expostos à uma tensão maior de espera dos seus esforços de campanha. Os eleitores já estão sendo identificados pela biometria diminuindo sensivelmente as fraudes. Mas, nem sempre foi assim. Sou do tempo em que a vitória ou a derrota dos partidos e candidatos só era conhecida após três dias, no caso de Camocim. A central de apuração era no então prédio do INPS e a contagem era feita voto a voto, nas cédulas de papel, e as diferenças transmitidas por meio de bilhetes jogados do alto para a população que se aglomerava nas imediações ou então pelos informes dos repórteres das rádios ligadas aos grupos políticos Cara Preta e Fundo Mole - Radio União e Pinto Martins, respectivamente. Quando um partido se distanciava na contagem, o desânimo tomava conta dos radialistas do partido que estava perdendo e as atualizações dos resultados para estes, eram um verdadeiro calvário a ponto de desistirem antes de finda a apuração. Mas se voltarmos ao inicio do século XX, as eleições não tinham essa exploração midiática. Os resultados eram praticamente feitos nas alcovas das repartições públicas, à bico de pena, como se dizia antigamente, por pessoas ligadas ao partido que estava no poder. Embora com caráter anedótico, o jornal A Esquerda de Fortaleza de 1928, traz um episódio escrito na coluna Respingos, assinada por um certo H.M, que ilustra bem como foi decidido os destinos políticos de Camocim naquele ano, mas que serve para qualquer lugar. Diz o nosso colunista:
 - Senhor coronel o homem foi derrotado barbaramente: gemeu o escriba.
-Quantos votos a mais?
-Duzentos, afora as cédulas rasgadas.
-E você fez o que seu palerma.
- O que pude. O pessoal do cemitério votou todo, mas falta ainda gente e a cabeça não ajudou.
- Tolice homem. Vamos. Escreva lá: João Silva.
- Já votou: Tartamudeou o outro.
- Pancrácio Pimenta.
- Serve.
            Os nomes sucederam-se numa cantilena monótona até de manhã quando o coronel inquiriu:
- Uns dois,
- Ponha lá!
- Não posso mais estou com a munheca dormente.
            O coronel escreveu os nomes restantes e o candidato situacionista foi eleito...

            Se pudessem, com certeza ainda haveria políticos que usariam deste expediente.

Fonte: Jornal A Esquerda. Fortaleza-CE. 31 de julho de 1929, ed. 91, p.6.