domingo, 18 de novembro de 2012

O ELEITOR MAIS VELHO DE CAMOCIM

Sr. Carlos Salu aguardando o momento de votar. Foto: Francisco Rocha.
Com a colaboração do amigo professor Francisco Rocha, estamos publicando seu texto referente ao Sr. Carlos Salu que, aos 104 de idade compareceu à mesa receptora de votos na última eleição:


A proeza de captar essa imagem exigiu-me muita habilidade, já que as autoridades da mesa (seção eleitoral) não me permitiram registrar o momento em que esse senhor  com 104 anos de história, deu um exemplo de cidadania, comparecendo à seção para votar. Sentado, o Sr. Carlos Salu aguarda com expectativa enquanto a mesária procura seu nome na folha.
Considerado o eleitor mais velho do Brasil, até que se prove o contrário, o Sr. Carlos Gomes de Oliveira - Carlos Salu, foi uma figura emblemática nessas eleições no município de Camocim-CE. No dia 7 de Outubro de 2012, quando compareceu à seção para votar, o mesmo estava com exatos 104 anos, 2 meses e 3 semanas. D.N.: 17/07/1908. Lúcido, apenas com deficiência auditiva, mas com uma visão de criança, assinou seu nome, ficou na cabine eleitoral sozinho, votou certo e consciente, tendo um acompanhante apenas por segurança.
O Sr. Carlos é digno de nosso respeito e admiração pelo seu belo exemplo de cidadania. Enquanto muitos que tem a metade de sua idade não querem mais votar e outros bem mais jovens ainda, que, mal acostumados com a cultura da corrupção, só querem votar se receberem algo em troca, este senhor, agricultor aposentado, viúvo, com 104 anos 2 meses e 21 dias no dia da eleição, morador na localidade de Tapuio, sudoeste do município, distante 36 quilômetros da sede, faz questão de vir exercer seu louvável papel de cidadão, votando em quem acredita ser melhor para dirigir os destinos do município. Acompanhá-lo até a seção foi uma honra! Foi um voto histórico e a proeza que “Seu Carlos”, com mais de um Século de história conseguiu, não é pra qualquer um, e o invejável quadro de saúde que o mesmo apresenta, indica que na próxima eleição teremos um eleitor em Camocim com 106 anos de vida!
Esse registro é uma pequena homenagem que faço a esse mais que merecedor amigo da família, amigo do meu pai e... meu querido, meu velho, meu amigo Carlos Gomes de Oliveira – Carlos Salu!

A MESA DE RENDAS DE CAMOCIM

Agência da Receita Federal em Camocim. Foto: camocimonline.com
A Mesa de Rendas era uma antiga repartição equivalente hoje às Agencias da Receita Federal (foto) no âmbito da União.No estado temos as unidades da Secretaria da Fazenda em várias cidades. Em Camocim, desde 1884 já se tem registro de uma Mesa de Renda, portanto, quase desde que Camocim virou cidade, como informa o site da memória da Receita Federal: "Camocim/Ce (1884-1965) - Mencionada na Decisão n. 198, de 30 de de 1884. Situada no Ceará, foi elevada para a 1a. Ordem pela Lei n. 834, de 30/12/1901. Existia em 1925, quando foi relacionada por Fleiuss."
Nas primeiras décadas do séc.xx Camocim era uma das principais cidades do Ceará e a estrutura de uma Mesa de Rendas era relativamente simples. Abaixo, transcrevemos o corpo institucional de 1913, publicados no Almanack Adminstrativo, Mercantil e industrial do Rio de Janeiro. 1881 a 1940, p.2606. Na referida publicação, além de Fortaleza, poucas cidades do interior tinham essa repartição, como Aracati, Sobral e Camocim:

1913 - REPARTIÇÕES E SERVIÇOS ESTADOAES -
MESA DE RENDAS

ADMINISTRADOR: Francisco Freire Napoleão
FISCAL: Affonso Paulo Bezerra de Albuquerque
ESCRIVÃO: Antonio Marcolino do Prado
AMANUENSE: José Ernesto Galvino
GUARDAS-VIGIAS: João Monteiro Queiroz, José Francisco Alves e Francisco Gonçalves Louzada.


Pela existência do porto, em 1932, o Presidente Getúlio Vargas elevou a Mesa de Rendas de Camocim da categoria de 1ª classe para Mesa de Renda Alfadengada,conforme o decreto abaixo:

Senado Federal
Subsecretaria de Informações
DECRETO N. 21.466 – DE 6 DE JUNHO DE 1932
Eleva à categoria de mesa de rendas alfandegada a atual mesa de rendas de 1ª classe de Comocim
O Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, usando das atribuições que lhe são conferidas pelo art. lº do decreto n. 19.398, de 11 de novembro de 1930,
decreta:
Art. 1º A mesa de rendas de 1ª classe de Camocim, no Estado do Ceará, fica elevada à categoria de mesa da rendas alfandegada, subordinada à Alfândega de Fortaleza, com as atribuições conferidas à mesa de rendas de Antonina pelo art. 130 da “Nova Consolidação das Leis das Alfândegas e Mesas de Rendas da República”, no que lhe forem aplicáveis.
Art. 2º A mesa de rendas alfandegada de Camocim fica equiparada, para todos os efeitos, à de Areia Branca.
Art. 3º Os atuais administrador e escrivão da mesa de rendas de Camocim deverão ser aproveitados noutra qualquer repartição de Fazenda, em lugares de vencimentos equivalentes que não dependam de concurso ou habilitação técnica.
Parágrafo único. O Governo abrirá o crédito necessário à execução deste decreto, revogadas as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 6 de junho de 1932, 111º da Independência e 44º da República.
Getulio VARGAS.  
Oswaldo Aranha.

Finalmente, relacionamos outros administradores da Mesa de Rendas de Camocim:

 -José Joaquim de Oliveira Praxedes (1913)
- Claudiano Cláudio Carneiro da Cunha (1917)
- Bivar Berredo Guimarães (1943)
- Moacir Nogueira Pires (1965)



Fontes: Almanack Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro. 1891 a 1940. p.2606.
Site do Senado Federal
Site da Receita Federal

terça-feira, 13 de novembro de 2012

SERIE MAPAS - OS INDIOS DA IBIAPABA A CAMOCIM

Planta Topográfica da Serra de Ibiapaba. Sede da Grande Nação Tabajara.
O desenho ao lado é uma planta topográfica em forma de mapa que, além das indicações pŕoprias, traz muitas informações em rodapé sobre a nação indígena Tabajara e a descendência de Felipe Camarão, herói na guerra de expulsão dos holandeses de Pernambuco. O documento é de 1897, portanto, já do século XIX, mas, reporta-se ao século XVII e XVIII em suas indicações. Feito pelo desenhista Pedro Ciarlini, e oferecido ao Instituto Histórico do Ceará pelo Coronel Lamartine Nogueira, o mesmo foi publicado pela Revista do Instituto. Além de mostrar os caminhos e os acidentes geográficos, relaciona os principais aldeamentos de índios na região. Destaque-se para o entendimento da nossa região, o aldeamento feito na Fazenda Missão fundado pelo Padre Ascenso Gago em 1694, às margens do Rio Curuayhú (Rio Coreaú), próximo da cidade de Granja. A partir de Granja o mesmo rio, segundo o desenhista, recebe o nome de Rio Camocim, onde é localizado o núcleo da nossa atual cidade e, que naqueles tempos era habitado pelo tabajara, Chefe Ticuna, parente de Felipe Camarão. Ticuna, portanto, por conta das guerras tribais ou dos deslocamentos migratórios da época, pode ter sido um chefe tabajara que habitou com sua tribo o território camocinense, furando a dominação da nação Tremembé, que se espalhava na extensa faixa litorânea dos rios  Mundaú ao Parnaíba.

P.S. Agradeço a cessão do mapa ao Prof. Raimundo Nonato Rodrigues de Sousa do Curso de História da UVA.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

IDAS E VINDAS DA POLITICA CAMOCINENSE

Panfleto cedido pelo Prof. Paulo José. Camocim-CE.
A CHARGE ao lado, que circulou em Camocim na campanha eleitoral de 1975 em forma de panfleto, revela muito da politica camocinense quando a polarização entre as chamadas facções CARA PRETA e FUNDO MOLE era muito intensa. O panfleto, até certo ponto bem humorado, demonstra também  a alternância do poder entre as famílias que dominavam a cena política da época. Com efeito, a Família Aguiar já estava no comando do município hgá 24 anos. A eleição de Edilson Coelho, do grupo FUNDO MOLE,que governou entre 1976 e 1982. pôs fim a este período vencendo o candidato Batista Aguiar, da ala CARA PRETA. Vale salientar que durante este tempo houve uma tentativa de união entre CARAS PRETAS E FUNDO MOLES, com a eleição do Dr. José Maria Primo de Carvalho que exerceu um mandato tampão entre 1971-1972. Com a quebra deste acordo, a família Aguiar elegeu João Paschoal de Melo, que vencera o candidato Dr. Aristóbulo. Nestas idas e vindas do poder entre as duas oligarquias, com a eleição de Edilson Coelho inicia-se um outro período de hegemonia, desta vez com os Veras Coelho, que conseguiu eleger sua sucessora,  Ana Maria Beviláqua Moreira Veras, também por seis anos, perfazendo um total de 12 anos no poder. Esta sequência seria quebrada por Murilo Rocha Aguiar Filho (Murilinho) nas eleições de 1987. Como podemos perceber, embora o poder político em Camocim tenha tido características oligárquicas, como de resto no Brasil, o mesmo trafegou sempre entre estas duas facções políticas, mostrando uma alternância, coisa, por exemplo, que não se constatou por exemplo, na vizinha cidade de Granja, onde Esmerino Arruda e seus aliados mandaram por quase meio século. Fato interessante, pode-se observar depois do advento da reeleição, onde os Aguiar mandaram entre (1996 a 2004) com Sérgio Aguiar e depois perderam a hegemonia para o Francisco Maciel de Oliveira, praticamente neófito na política, ex-aliado dos Aguiar e apoiado nas eleições de 2004 pelo que ainda restava do antigo grupo FUNDO-MOLE, a família Coelho. Chico Vaulino como é mais conhecido também conseguiu se reeleger e marcar por oito anos sua estada no poder, criando também, durante sua passagem pelo executivo camocinense um grupo com as mesmas características das famílias tradicionais no modo de fazer política. Contudo, não conseguiu eleger seu sucessor em 2012. Com um grande leque de apoios, os Aguiar voltam ao poder na figura de Mônica Aguiar, neta do ex-deputado Libório Gomes da Silva, que no longínquo ano de 1981 fora derrotado por Ana Maria Veras, hoje aliada dos Aguiar. Idas e vindas da política camocinense.