quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O PORTO DE CAMOCIM NA VISÃO DO HISTORIADOR FRANCÊS

Capa da obra Brésil au xx' siècle de Pierre Denis
. Fonte: ebay.fr
Muito já falamos sobre o Porto de Camocim e sua importância para o desenvolvimento da economia regional para a zona norte do Ceará no final do século XIX e primeiras décadas do século XX. Com efeito, a historiografia sobre o período sempre destacou esta peculiaridade. Deste modo, para efeito de ilustração, trazemos á lume um trecho da obra Le Brésil au XX" Siècle, do historiador francês Pierre Denis:
Chose étrange, le sertaon, pays d'élevage, ne consomme pas de viande ; et dans Ia serra, pays agricole,où l'élevage est inconnu, l'usage en est general. Sur le nombre des boeufs amenés aux foires de Baturite, les plus importantes de toutes, un tiers sert à l'approvisionnement de Ie capitale; un autre tiers est emmené par les chemins du plateau jusqu'au port de Camocim, oú il est embarque à destination du Para; le dernier tiers enfin est destine à Ia serra de Baturite. Les serras, les provinces de l' Amazone, et Fortaleza, tels sont les principaux clients des éleveurs du sertaon.
Porto de Camocim.
 Fonte: camocimpotedehistorais.blogspot.com.br

Numa tradução livre teríamos o seguinte:

Estranhamente, o sertão, país gado, não consome carne; a serra, país agrícola, onde o gado é desconhecido, seu uso é geral. Os bovinos são trazidos para as feiras, onde Baturité é a mais importante de todas; um terço é usado para abastecimento da capital; outro terço é levada das estradas do planalto para o porto de Camocim, onde de lá navegam ao Pará; o último terço é destinado finalmente para Baturité. A Serras, as províncias da Amazônia, e Fortaleza, estes são os principais clientes dos criadores do sertão.


Fonte: DENIS, Pierre. Le Brésil au XX'.Sixieme Edition. Librairie Colin, Paris. 1921.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

O INICIO EMPRESARIAL DOS MACEDO EM CAMOCIM

 
Jornal A Pátria. Anno VI, Nº 248, p.3. 27 de janeiro de 1915.

Atualmente propaga-se mais uma crise financeira internacional. Dizem também que são nos momentos de crise que os mais arrojados se superam. Isso explica, de certo modo, a longevidade de grandes grupos empresariais que, nestes momentos de dificuldades, sabem contornar os problemas e até saírem mais fortes das crises. Todos sabem, por exemplo, da grandiosidade do Grupo J. Macedo no cenário empresarial que neste ano completa 77 anos e de que seu atual capitão de indústria José Dias Macedo nasceu ali naquela casa da Rua da Independência onde hoje se acha o Colégio Georgina Leitão Macedo, aliás, em homenagem à sua genitora e esposa de quem começou a saga dos Macedo no comércio - Manoel Dias Macedo, sobre o qual versa esta postagem.
O início do ano de 1915 parecia confirmar o ápice daquele período de estiagem que ficaria célebre na fortuna literária de Raquel de Queiroz (o romance "O Quinze"). Portanto, chegava a hora de redimensionar as finanças. Manoel Dias Macedo então toma algumas providências e trata de publicizá-las no jornal A Pátria, órgão do então Partido Republicano Conservador do Ceará.
Conforme a nota, ele "previne aos Snrs. Collectores Federal e Estadual, para o fim de evitar o lançamentos indevidos" em seu nome, visto que, pela referida nota, ele estava deixando de "negociar no anno de 1915 com fazendas, deixando também de funccionar sua salgadeira e carroça". Portanto, nota-se aí os efeitos da seca, visto que o negócio de vendas de tecidos (as fazendas) não ia bem, nem tampouco uma salgadeira de peles e couros, também atingida pela estiagem com reflexos na criação de animais. Desta forma, avisava Manoel Dias Macedo, seus negocios estavam restritos ao seu "estabelecimento de vender molhados e generos do paiz, a travessa da Independencia".
O grande império que é hoje o Grupo J. Macedo, portanto, teve seu início entre o acanhado Mercado Público de Camocim e a Rua da Independência






Fonte: Hemeroteca da Biblioteca Nacional. Jornal A Pátria.Anno VI, Nº 248, p.3. 27 de janeiro de 1915.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

AS DOENÇAS E AS CURAS SOFRIDOS PELOS CAMOCINENSES

Revista Careta. Rio de Janeiro, 05 de outubro de 1918, nº537, p.35.
Interessante este mundo da propaganda de remédios. As notícias de hoje dão conta de que a indústria farmacêutica não investe em pesquisa de medicamentos que curariam certas doenças porque não dão lucros satisfatórios, preferindo outros menos eficazes para que as pessoas fiquem sempre comprando até morrerem. Por outro lado, nas primeiras décadas do século XX, os antigos medicamentos e seus respectivos detentores das fórmulas, utilizavam-se de depoimentos de usuários para atestarem sua eficácia, aliando ao testemunho, a foto das pessoas que fizeram uso do medicamento na cura das mais diversas moléstias que iam da sífilis, passando por males do fígado, feridas, etc. A exemplo disso, temos o depoimento do advogado, jornalista e poeta camocinense Raul Rocha em outubro de 1917 fornecido à Revista Careta, do Rio de Janeiro, que exaltava os efeitos curativos do ELIXIR DE NOGUEIRA. Dizia ele:
"Illmos.Srs. VIUVA SILVEIRA & FILHO
Rio de Janeiro
Soffrendo de horríveis coceiras produzidas por eczemas em diversas partes do corpo, especialmente nos pés, sujeitei-me a tratamento rigoroso, ingerindo preparados especia, encontrando porém, sempre resultado negativo.
Aconselhado os preparados mercuriaes, recusei-os, por julgal-os prejudiciaes; resolvi usar o universal medicamento ELIXIR DE NOGUEIRA do Pharmaceutico Chimico Joao da Silva Silveira de abencoada memoria e com poucos vidros, senti-me radicalmente curado.
Pelo benefico resultado obtido attesto conscienciosamente, sua maravilhosa efficacia".
Camocim (Ceará), 14 de outubro de 1917
Raul Rocha
(Advogado e jornalista).
Estes documentos, além de revelarem os tipos de doenças do começo do século XX. oferece algumas fotografias de diversas pessoas que tiveram algum destaque na sociedade camocinense.