terça-feira, 28 de abril de 2015

A FÁBRICA DE MOSAICO DE CAMOCIM

Mosaicos. Fonte: portuguese.alibaba.com
Navegando pelo facebook deparei-me com um vídeo que mostrava uma fábrica de mosaico que ainda resiste na cidade de Barbalha-CE. Imediatamente, veio-me a lembrança da nossa fábrica que ficava na confluência das ruas da Independência, Paissandu e Marechal Deodoro da Fonseca, ali nas "seis bocas", bem no lugar onde hoje está localizada a Pousada Tropical do nosso amigo Magazine. Durante a semana, passava por lá, posto que era meu caminho rumo ao então Colégio Estadual Padre Anchieta (CEPA), hoje Colégio Estadual Professor Ivan (CEPI). Invariavelmente lançava um olhar para o interior cinzento da pequena fábrica, onde homens de torsos nus manejavam tornos, formas, tinta e cimento. Na sarjeta da casa acanhada que abrigava a fábrica deste ofício que virou arte, uma água colorida pelas tintas usadas para realçar os desenhos dos mosaicos, escorria ao longo da rua, revelando os tons usados no dia, assim como a falta de saneamento básico no final dos 1970 em Camocim.
            Os mosaicos fazem parte das minhas lembranças de adolescente, num tempo em que ter uma casa com mosaico era sinal de status. Quando minha família mudou-se para a Rua do Egito (atua Rua 24 de Maio) em meados da década de 1970, contavam-se nos dedos as casas que tinham ao menos uma sala "emosaicada". A maioria das casas tinham como piso uma espécie de tijolo quadrado, que alguns chamavam de ladrilhos. Quando meu pai melhorou de situação financeira, tratou logo de colocar mosaicos na casa, feitos na fábrica acida referida, com desenhos simples e duros de "dar brilho". Quando mamãe cismava de dar um trato no piso, a operação tomava um dia inteiro de trabalho envolvendo os membros da família e vizinhos. Lavava-se a casa com muita água, sabão e outros produtos ácidos. Depois, era um tal de passar Cera Cachoupa (acho que era assim que se escrevia) com panos de flanela por toda a casa. Á falta de enceradeira, improvisava-se o polimento com panos de sacos maiores onde as crianças menores sentavam em cima e eram puxados pelos maiores. O atrito do pano com o peso da pessoa funcionava como polidor. Era um serviço puxado, mas também de brincadeiras, de apostas das duplas para quem chegava primeiro no final marcado.
            Mas o que me impressionava mesmo era o piso da Igreja Matriz, com seus mosaicos bem trabalhados e rebuscadas formas. Quase sempre me perdia naqueles labirintos de desenhos, buscando conexões geométricas outras, para além do que estava disposto, desde que o Monsenhor José Augusto da Silva deu por terminada nossa Matriz, na primeira década do século XX. Passou-se o tempo do mosaico, ou melhor, outros tipos de piso entraram em moda, facilitando a limpeza e inaugurando outros gostos fundamentados em lajotas monocromáticas e esmaltados brilhantes. Veio um frade que transformou tudo aquilo em pó, retirou o teto de madeira e substitui por PVC e ainda mudou a data da festa do nosso padroeiro Bom Jesus dos Navegantes com a conivência dos conselheiros e dos fieis paroquianos.
            Mas essa crônica quer falar de mosaicos... Ainda bem que em Barbalha, essa arte e ofício não morreu e continua resistente.


quarta-feira, 15 de abril de 2015

PINTO MARTINS - O HERÓI E A COMENDA



Euclides Pinto Martins FONTE:http://www.fernandomachado.blog.br/novo/categoria/de-volta-para-o-passado/page/82/
            Falar sobre os feitos heroicos de Pinto : Martins na aviação, o filho ilustre da nossa terra, seria repetitivo. Gostaríamos portanto, de abordar uma outra questão: a memória e a preservação dela como elemento da nossa identidade.
            Pensando nisso, fizemos uma série de denúncias nos jornais locais feitas por nós, sobre o abandono do monumento e a biblioteca que levam o nome de Pinto Martins. Sensibilizada com a questão, imagino, a administração de então no ano de 2008, resolveu instituir a criação do Dia de Pinto Martins e a Comenda Pinto Martins, em homenagem ao nosso ilustre aviador. Como se pode ver, a importância de uma figura histórica para uma comunidade pode ser medida quando, em nome dela, se homenageiam outras tantas. No entanto, isso parece ser mais uma iniciativa ou obra que está indo para aquele quadro do "já teve".       
            Em 2008 estivemos na solenidade inaugural para falarmos sobre o feito aeronáutico de Pinto Martins e a tripulação americana do voo pioneiro entre Nova Iorque e Rio de Janeiro em 1922. Entre os agraciados da noite com a Comenda Pinto Martins estava um sobrinho neto do aviador que veio do Rio de Janeiro para receber a honraria, o Professor Valmir Rocha, autor do Hino à Camocim e o ex-prefeito Dr. José Maria Primo de Carvalho.  De 2008 até 2011, várias pessoas, camocinenses ou não foram agraciadas com o que se chamava na época a maior comenda do município, como podemos conferir na lista abaixo:

Ano de 2009 - Dr. Raimundo Silva Cavalcante - Advogado, Raimundo Bento Sotero - Escritor e Poeta, José Osvaldo Angelim - Comerciante e na época Presidente da Associação Comercial.

Ano de 2010 - Dr. Fernando Luiz Pinheiro - Juiz de Direito, Dra. Sônia Cahu Beltrão - Médica ginecologista, Instituto São José - Instituição de Ensino - representada pela diretora Irmã Dulcinda de Jesus.

Ano de 2011- Benedito Genésio Ferreira - Professor Universitário, Tânia Pessoa Navarro Veras - Advogada, Dom Francisco Javier Hernandez Arnedo - Bispo da Diocese de Tianguá.

            Inexplicavelmente, a mesma administração que criou a Comenda Pinto Martins não a outorgou em 2012 e, a partir de então, há um silêncio com relação a isso e a memória do 15 de Abril parece se resumir às atividades escolares de pesquisa, desenho e semelhantes.


segunda-feira, 6 de abril de 2015

A MARIA FUMAÇA NOS TRILHOS DA MEMÓRIA


Outro dia vendo imagens antigas sobre nossa cidade num estabelecimento comercial local, discutíamos com outra pessoa sobre a localização das fotos. A imagem abaixo foi motivo de discordância quando disse que a localização exata dela era a cidade do Ipu, posto que já tinha vista sua referência como sendo do arquivo do historiador e memorialista ipuense, Prof. Francisco de Assis (Professor Melo), que. assim como eu, mantém um blog sobre a história da sua cidade. A Maria Fumaça era de toda a Estrada de Ferro de Sobral, o instantâneo, no entanto, flagra-a em algum momento de sua passagem por aquela aprazível cidade. Aproveitamos e divulgamos uma interessante crônica do Professor Melo em sua página do facebook para evidenciar e esclarecer a questão acima colocada, assim como para a relembrança dos nostálgicos de sempre,  


A Máquina Maria Fumaça! 
(Nº 118)

“Café com Pão Bolacha Não”. Era o barulho provocado pelo andamento de uma carruagem comandada por uma Locomotiva movida a fogo e água mantinha esse reboliço que conhecemos na nossa tenra idade das nossas inesquecíveis Máquinas de trem chamadas Maria Fumaça. 
Ainda hoje perdura vivamente em nossas mentes aquela locomotiva preta com letreiros brancos indicando R.V.C. - Rede Viação Cearense e bem na sua Tromba o Nº da Balduína que aqui nos referimos a de Nº 118 por ter servido de antonomásia para certa mulher que convivia no nosso meio social servindo como doméstica de certa residência e que quando andava por ser muito alta e forte e não muito gorda, era rapidamente a sua marcha e quando partia para o andar mais veloz tinha-se a impressão de uma das arrancas das nossas M.F.

Devido a sua manutenção ser a água e a lenha em cada estação existiam várias caixas d’água para o abastecimento das mesmas. Quando as mesmas estavam se abastecendo dizíamos: “O trem está tomando água”, era a Maria Fumaça que estava enchendo o seu tanque para continuar viagem.
Era o trem mais demorado, o que dava tempo para o embarque dos passageiros e desembarque, para descargas de encomendas e para os famosos bate-papos com os viajantes conhecidos que por aqui passavam.

Não tardava e um apito fino, agudo era ouvido. Era o primeiro sinal que Máquina estava abastecida e pronta para seguir viagem. 
Todos se apressavam para tomar os seus assentos e continuar viajando naquela bucólica “Café com Pão Bolacha Não” até o seu final destino. 
Antes soltava o jato de fumaça que cobria quase toda praça. Era um espetáculo a parte e o medo para criançada que assistiam o fumaceiro. 
Mas outros apitos e comboio eram sacudidos com forma de se aprumar e seguir o seu destino. O agente da estação dava a partida final e o trem ia embora, deixando até hoje saudades imorredouras das manhãs, das tardes que consideramos fagueiras, ditosas e benditas para nós ipuenses que amamos verdadeiramente a nossa terra e que valorizamos e sentimos o valor de cada episódio por nós vividos.

Acabou-se o Trem com a nossa Maria Fumaça e a nossa Máquina a Óleo.