sábado, 29 de agosto de 2015

O POLO SALINEIRO DE CAMOCIM

Revista Tico Tico. RJ. Março-abril de 1959
No reconhecimento da região de Camocim pelos holandeses no século XVII, as informações sobre nossas salinas já constavam dos documentos como possibilidade de exploração econômica. Desta forma, o sal se constituiu num produto importante na pauta de exportação do nosso município, além do porto de Camocim servir como escoamento da produção de Barroquinha e Chaval.  O sal, portanto se tornou uma crescente indústria em Camocim, favorecida pelos terrenos baixos, próximos ao mar, próprios para a construção de salinas. Hoje, esses antigos espaços são usados para a implantação de fazendas para a criação de camarão e cativeiro. O sal produzido em Camocim era vendido para o norte e sul do país chegando a produzir até 100 mil toneladas/ano. Nos anos 1960 era o principal produto econômico do município, contribuindo com 54,1 % do valor total da produção da cidade e empregava 765 operários em 10 salinas. Com a desativação do ramal ferroviário, a indústria salineira de Camocim teve seu movimento diminuído em cerca de 20%. O preço dos fretes rodoviários era 50% mais caro que o transporte ferroviário, prejudicando produtores e causando desemprego com o fechamento e falência das moageiras de sal. Para termos ideia da produção, no ano de 1983, foram produzidas 30 mil toneladas que foram vendidas ao preço de 255 milhões de cruzeiros. Mesmo não sendo a atividade econômica mais importante, em 2011, produziram-se em Camocim dezenove mil toneladas; vinte mil em Chaval e nove mil em Barroquinha. Segundo dados informados pela Salina Trindade, a única em funcionamento no município, atualmente, a produção dos últimos dois anos variou entre dez e vinte mil toneladas. Ainda está na memória das pessoas nomes de salinas antigas como Martinelli, Porangaba, São Pedro, dentre outras. Como representante dos trabalhadores salineiros, existe o Sindicato dos Trabalhadores da Extração do Sal de Camocim. Na edição de março-abril de 1959, a Revista Tico-Tico do Rio de Janeiro, destacava a produção de sal no nordeste brasileiro e destacava os "portos nordestinos de Camocim, Aracati, Areia Branca e Macau", como os principais exportadores do produto.



quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A EDUCAÇÃO EM CAMOCIM - ESCOLA EUCLIDES PINTO MARTINS

Alunos da Escola Euclides Pinto Martins. Fonte: Revista da Semana. RJ. 01/03/1941, p.13



Na história da educação no Brasil, várias foram as campanhas para a erradicação do analfabetismo. Com a Revolução de 1930 e o Manifesto dos Pioneiros da Educação em 1932, desencadeou-se no país um movimento denominado Cruzada Nacional de Educação, gestada dentro dos princípios ideológicos da ditadura varguista. Com efeito, em  15 de agosto de 1932, o presidente Getúlio Vargas e o ministro da Educação Francisco Campos, assinaram o Decreto nº 21.731, deflagrando em todo o território nacional a campanha contra o analfabetismo, considerado  um problema político e social. Nos artigos do Decreto ficaram definidos que a Cruzada Nacional de Educação seria de utilidade pública e seria criada a Semana de Alfabetização em todo o território nacional de 12 a 19 de outubro, momento ideal para se arrecadar fundos para a manutenção das escolas primárias. No documento O prelúdio das campanhas de alfabetização na era Vargas: a Cruzada Nacional de Educação, datado de 1943, isso pode ser verificado com a Campanha do Tostão - Cruzada Nacional de Educação que pedia a colaboração de todos  os brasileiros e prestava contas até àquela data: instalação de mais de "7.000 escolas, bem como prodigalizar a cerca de 300.00 crianças modesto e completo material didático."  A meta era alcançar 10.000 escolas em todo o território nacional. No entanto, ainda ressalta o documento que, apesar do "resultado bastante compensador do incessante trabalho da Cruzada Nacional de Educação, mas que, não obstante, pouco significa diante do volume de iletrados com que infelizmente, ainda conta o Brasil." Camocim, teve uma dessas escolas, denominada Escola Euclides Pinto Martins, que foi destaque na Revista da Semana, do Rio de Janeiro, no ano de 1941. Na foto, não deu para reconhecer ninguém, nem o local, mas podemos perceber ser uma turma de adultos composta de homens e mulheres. Apesar das campanhas posteriores e das leis e décadas dedicadas à educação nos planos e programas oficiais, o analfabetismo ainda grassa no país.

Fonte: O prelúdio das campanhas de alfabetização na era Vargas: a Cruzada Nacional de Educação.1943.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

OS GRUPOS TEATRAIS DE CAMOCIM

Jornal "O Unitário". Sexta-feira, 16/12/1955.
Quanto mais vasculhamos a nossa história, mais nos surpreendemos com ela. Neste espaço, por exemplo, já falamos dos antigos grupos de teatro formado na cidade, a exemplo do  Grupo de Teatro Amador Pinto Martins, talvez o mais atuante e duradouro grupo de atores que praticaram o teatro em nossa cidade. Em 2012 tive o prazer de ver jovens atores camocinenses da Escola Profissionalizante Monsenhor Expedito da Silveira se apresentando no Theatro São João, de Sobral. denominados de Shadows Life e Art Comedy, mostrando que entre nós esta arte não morreu. Recentemente, estou sendo abastecido de fontes nesta área pelo amigo historiador Edilberto Florêncio. Vez por outra ele me manda uma notícia de jornal que revela o quanto Camocim já teve de grupos teatrais e das companhias de atores que passaram por aqui no início do século XX. Nesta postagem vamos destacar o Grupo Teatral Amador do Comercial Sporting Clube, criado em 1955. Segundo a jornal O Unitário, o referido grupo era formado por "jovens da melhor sociedade local", dentre eles, Osmundo Campos e José Carvalho, que souberam desempenhar-se da melhor maneira possível dos papéis que lhe foram confiados". Na mesma notícia, destaca a estreia do grupo com a peça "Advogado em Apuros", com ótima repercussão na cidade, a ponto de ter sido reprisada e o grupo convidado para se apresentar na vizinha cidade de Granja. O correspondente do jornal em Camocim, José Accioly Maia, felicita a iniciativa do grupo em nome do Sr. Benito Tavares e informa sobre os próximos passos do grupo:  "Dentro de mais alguns dias será levada à cena a comédia 'O Diabo Enloqueceu', de Paulo Magalhães". Dos nomes citados na notícia, destacamos o do Sr. Osmundo Campos, do qual não sabíamos dessa sua faceta, a de ator. Nas edições vindouras, aguardem cenas dos próximos atos.

 Fonte: Jornal "O Unitário", edição de 16/12/1955, gentilmente cedido por Edilberto Florêncio.



sábado, 15 de agosto de 2015

A COMPANHIA NORUEGUESA LORENTZEN EM CAMOCIM



Fonte: arquivo do blog.
                        No porto o perfil alvacente e incaracterístico de uma escuna norueguesa ou o costado sujo de um vapor pernambucano.
 (Trecho de uma carta do poeta Lívio Barreto ao amigo Ulysses, datada de 1894


Entre 1900 e 1914, um capitão norueguês,  chamado M. L. Lorentzen  começou a explorar os serviços de cabotagem entre Camocim e o Estado do Pará. Antes, havia explorado a navegação nos portos do sul. Atraído pelas possibilidades de negócios na região, o referido capitão fez fortuna por aqui, transportando bois e pessoas em seus vapores. A Companhia Lorentzen, além do vapor Rio, se constituía dos vapores Camocim, Sobral, Ipu e Cratheús. A empresa era administrada em Camocim por noruegueses chefiados por Bjorn Bugge, de mesma nacionalidade. Os serviços de frete e capatazia era da responsabilidade da firma camocinense Nicolau & Carneiro. O primeiro desses vapores a operar em Camocim foi o IPU, fabricado em 1905, com capacidade para 700 bois. Depois veio o SOBRAL com data de fabricação de 1908, já com capacidade para 1200 bois. Com o negócio a pleno "vapor", em 1909 chegou o CAMOCIM. No ano de 1910, a firma Nicolau & Carneiro anunciava que o Vapor Camocim (foto) era "[...]melhor aperfeiçoado que o SOBRAL e de marcha mais rápida - 12 knots por hora, illuminado e ventilado á electricidade [...]"(ver foto). Todos estes vapores foram construídos num estaleiro em Oslo, capital da Noruega. No mesmo anúncio, fala-se da construção do CRATHEÚS(1910), que, igualmente aos anteriores, tinha uma capacidade de transporte de 1200 bois. O frete do boi era de 20 mil réis para o Pará e 50 mil réis para o Amazonas. Com o sucesso do empreendimento, a firma norueguesa Lorentzen & Comp. solicita ao Governo Federal a concessão de regalias e vantagens de paquete para os vapores CRATHEÚS e CAMOCIM, concessão esta assinada pelo então Presidente Marechal Hermes da Fonseca pelo Decreto nº 9.725, de 14 de agosto de 1912.
Jornal A Pátria. Sobral-CE. Anno I, nº 26, 03/08/1910
Com a chegada Primeira Guerra Mundial, o capitão norueguês de desfez dos vapores e aplicou o capital numa fábrica de cimento em Oslo. Ficou somente com o vapor Camocim que foi posteriormente vendido para a China. Após a guerra, o capitão norueguês se voltou novamente para a navegação marítima em outros mares.

Fonte: Correio do Ceará, 08 de janeiro de 1970.


segunda-feira, 10 de agosto de 2015

AS FESTAS DA BARROQUINHA

FESTA DE BARROQUINHA TEM NO MÍNIMO 120 ANOS DE HISTÓRIA
Jornal "A Republica". 1896.
Li no facebook do amigo Gouveia Neto que a Festa da Barroquinha estaria na sua centésima primeira edição. Lembrei então que tinha uma fonte sobre a festa mas não tinha atentado para a data. Localizado o jornal, descobri que o mesmo era de 1896. Desta forma, e pela matéria do jornal "A Republica", a festa já acontecia há algum tempo, visto que já era uma festa "tradiccional", portanto, os festejos de Barroquinha tem no mínimo 120 anos de história. Leiam a matéria completa abaixo. Grafia da época e e outros erros foram mantidos como no original:

UMA FESTA NA BARROQUINHA
(COMARCA DE GRANJA)
            Barroquinha, pequena povoação distante de Camocim sete à oito leguas esta assentada n'um terreno plano, meio arenozo secco e quente.
            A planta da povoação, de aspecto agradabilissimo, forma um quadro. Suas casas, modestos abrigos, de construcção singella, indicam a pobresa de seos habitantes. A capella, colocada quasi no centro deste quadro, é pequena e simples mas asseiada e bonitinha.
            Como é bello o amanhecer na Barroquinha! uma legião de passaros diversos fasem um concerto alegre com seus gorgeios poeticos! Como é sublime o reflectir do sol na areia prataeada! Assemelha-se a um oceano de perolas salpicada de pedras preciosas.
            Celebrava-se a festa em honra da padroeira que é N. S. dos Navegantes.
            Não havia uma só casa, barraca ou arvore que não estivesse occupada por diversas familias.
            De todos os logares visinhos, e de todas as direcções avançavam devotos. A Igrejinha que não se feichava antes de hora avançada da noite estava sempre replecta de penitentes.
            O estimavel e digno coronel Zeferino de Veras, protector assiduo de Barroquinha, não poupava esforços afim de abrilhantar esta festinha tradiccional.
            Lindas peças era executadas pela banda de musica do Ipú, dirigida pelo sympathico maestro Ignacio, salientando-se o piston que era tocado divinamente pela exmo sr. D. Maria, dilecta filha do referido maestro.
            Como cantoras da orchestra, tambem salientavam-se D. Izabel e a interessante Nênem, filhas tambem do mesmo maestro.
            Para completar a grande alegria do povo a noite formaram-se diversos bailes, sobresahindo um delles, pelo vestuario das damas e o modo de marcar as quadrilhas pelo mestre-sala que não éra deste mundo.
            O sacerdote foi incansavel no cumprimento de sua missão, pois alem de outros serviços, confessor 465 pessoas,; baptisou 96 crianças; fez doze casamentos e administrou o sacramento da confirmação a 169 pessoas.
            A festa terminou no dia 26 do corrente pela manhã com procissão e missa cantada.
            Agradaveis foram as horas que ahi passei, restando-me ainda uma vez salientar o nome, já bem conhecido do coronel Zeferino de Veras, que com suas virtudes e bons exemplos tem sabido incutir no animo d'aquella bôa gente a ordem, a disciplina e o amor ao trabalho.
Granja, 3 de agosto de 1896
Um hóspede.


            FONTE: Jornal "A Republica". 1896. p.2.

Igreja Matriz de Barroquinha-CE.
NOTA: A atual festa tem mesmo só 101 anos, contados a partir da construção da Igreja que terminou em 1914, segundo o Livro de Tombo da Paróquia, conforme  nos diz o leitor Gouveia Neto. A igreja construída em 1914, no entanto, não existe mais, posto que foi construída uma outra no seu lugar. A festa de que fala o jornal era a que acontecia na antiga capela erguida pelos marinheiros que alcançaram a graça com Nossa Senhora dos Navegantes.

domingo, 2 de agosto de 2015

VENENO DE COBRA FABRICADO EM CAMOCIM - O ESPECÍFICO PESSOA


Fonte: impressoesamazonicas.wordpress.com 
Camocim já foi uma cidade importante na chamada "farmácia oficinal", de que fala o historiador cearense Geraldo Nobre. Essa farmácia explorava preparados medicamentosos que movimentaram a industria farmacêutica até os idos da década de 1940, baseados principalmente na flora local e nos conhecimentos dos indígenas. Alguns destes "preparados" ainda resistem e são objetos de pesquisa científica. 
Já falamos anteriormente neste espaço das famosas "Gottas Arthur de Carvalho ( Leia mais em http://camocimpotedehistorias.blogspot.com.br/search?q=Arthur+de+Carvalho), o famoso digestivo, fabricado em Camocim pelo farmacêutico  Joaquim Arthur de Carvalho. Hoje falaremos do Específico Pessoa, outro medicamento made in Camocim, utilizado contra  picadas de animais peçonhentos, dentre eles,os vários tipos de cobra. Um dos costumes das pessoas de então era bebê-lo antes de ir trabalhar ou caçar no mato. Pois bem, este remédio era preparado em Camocim pelo farmacêutico Torquato Pessoa (daí o nome) e daí vendido para o norte e nordesteprincipalmente, como mostra o anúncio do jornal Nortista(1901), editado em Teresina-PI. Hoje, o princípio ativo do medicamento é o ponto de partida para que pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sintetizem uma substância ativa contra vários tipos de veneno de cobras.