FESTA DE BARROQUINHA TEM NO MÍNIMO
120 ANOS DE HISTÓRIA
Jornal "A Republica". 1896. |
Li no facebook do amigo Gouveia Neto que a Festa da
Barroquinha estaria na sua centésima primeira edição. Lembrei então que tinha
uma fonte sobre a festa mas não tinha atentado para a data. Localizado o
jornal, descobri que o mesmo era de 1896. Desta forma, e pela matéria do jornal
"A Republica", a festa já acontecia há algum tempo, visto que já era
uma festa "tradiccional", portanto, os festejos de Barroquinha tem no
mínimo 120 anos de história. Leiam a matéria completa abaixo. Grafia da época e
e outros erros foram mantidos como no original:
UMA FESTA NA
BARROQUINHA
(COMARCA DE GRANJA)
Barroquinha,
pequena povoação distante de Camocim sete à oito leguas esta assentada n'um
terreno plano, meio arenozo secco e quente.
A
planta da povoação, de aspecto agradabilissimo, forma um quadro. Suas casas,
modestos abrigos, de construcção singella, indicam a pobresa de seos
habitantes. A capella, colocada quasi no centro deste quadro, é pequena e
simples mas asseiada e bonitinha.
Como
é bello o amanhecer na Barroquinha! uma legião de passaros diversos fasem um
concerto alegre com seus gorgeios poeticos! Como é sublime o reflectir do sol
na areia prataeada! Assemelha-se a um oceano de perolas salpicada de pedras preciosas.
Celebrava-se
a festa em honra da padroeira que é N. S. dos Navegantes.
Não
havia uma só casa, barraca ou arvore que não estivesse occupada por diversas
familias.
De
todos os logares visinhos, e de todas as direcções avançavam devotos. A Igrejinha
que não se feichava antes de hora avançada da noite estava sempre replecta de
penitentes.
O
estimavel e digno coronel Zeferino de Veras, protector assiduo de Barroquinha,
não poupava esforços afim de abrilhantar esta festinha tradiccional.
Lindas
peças era executadas pela banda de musica do Ipú, dirigida pelo sympathico
maestro Ignacio, salientando-se o piston que era tocado divinamente pela exmo
sr. D. Maria, dilecta filha do referido maestro.
Como
cantoras da orchestra, tambem salientavam-se D. Izabel e a interessante Nênem,
filhas tambem do mesmo maestro.
Para
completar a grande alegria do povo a noite formaram-se diversos bailes,
sobresahindo um delles, pelo vestuario das damas e o modo de marcar as
quadrilhas pelo mestre-sala que não éra deste mundo.
O
sacerdote foi incansavel no cumprimento de sua missão, pois alem de outros
serviços, confessor 465 pessoas,; baptisou 96 crianças; fez doze casamentos e
administrou o sacramento da confirmação a 169 pessoas.
A
festa terminou no dia 26 do corrente pela manhã com procissão e missa cantada.
Agradaveis
foram as horas que ahi passei, restando-me ainda uma vez salientar o nome, já
bem conhecido do coronel Zeferino de Veras, que com suas virtudes e bons
exemplos tem sabido incutir no animo d'aquella bôa gente a ordem, a disciplina
e o amor ao trabalho.
Granja, 3 de agosto de 1896
Um hóspede.
FONTE:
Jornal "A Republica". 1896. p.2.
Igreja Matriz de Barroquinha-CE. |
NOTA: A atual festa tem mesmo só 101 anos, contados a partir da construção da Igreja que terminou em 1914, segundo o Livro de Tombo da Paróquia, conforme nos diz o leitor Gouveia Neto. A igreja construída em 1914, no entanto, não existe mais, posto que foi construída uma outra no seu lugar. A festa de que fala o jornal era a que acontecia na antiga capela erguida pelos marinheiros que alcançaram a graça com Nossa Senhora dos Navegantes.
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