domingo, 20 de maio de 2018

FIRMINO BEVILÁQUA - TRAFICANTE DE ESCRAVOS

Fonte: vermelho.org.br

Em várias postagens abordamos o tema da escravidão em nosso município, seja no trabalho escravo no porto, no aspecto das leis e na abolição e ações de liberdade escrava. Mas quem eram os traficantes de escravos?
Os jornais da época trazem vários nomes. Para nossa região, o principal deles recai sobre o nome de Firmino Beviláqua, provavelmente nascido em Viçosa do Ceará. Em estudo sobre a "Sociedade Escravocrata de Sobral", o historiador Pe. Lira destaca Firmino Beviláqua como sendo o principal de uma rede de negociantes de escravos, "abrangendo as cidades de Terezina, Recife, Fortaleza, Sobral, Granja, etc" (Jornal Correio da Semana). 
Tendo como fonte o jornal "O Sobralense", de 1875, o historiador mostra a rede de negócios de Firmino Beviláqua através dos anúncios de fuga de escravos. Ao anunciar a fuga do escravo Antônio, de 26 anos, "provavelmente para os sertões do Piauí",   o traficante indica onde entregar o escravo fujão: "Em Terezina ao Sr. Eugenio Marques de Olinda, nesta província na cidade de Sobral ao Sr. José Firmo Ferreira da Frota; na Granja ao Sr. Antonio Beviláqua..." (O Sobralense, 27 de junho de 1875).
Nossa pesquisa avança e vamos encontrar Firmino Beviláqua sendo denunciado pelo jornal "O Libertador" seis anos depois por espancar cruelmente a escrava Margarida, sob o título "O Antropophago!". Diz a matéria:

"Firmino Beviláqua é hoje um nome execravel entre os cearenses. Quando se procura em todo o paiz se exteminar a barbara lei do dominio illegal do homem sobre seu similhante; [...] esse homem dando largas aos seus instinctos brutaes da paixão dos antropophagos, ceva-se na imbele victima da escravidão; infligindo sevicias em uma pobre mulher escrava". (O Libertador, 1881).

Abolida a escravidão no Ceará, vamos encontrar a figura de Firmino Beviláqua como tendo sofrido um "horrível desastre que mutilou-o irremediavelmente" (Jornal Província de Minas, 1886) tentando vender um trabalho de geografia ao Governo Federal e a vários estados, denominado "Quadro Sinoptico", que trazia as capitais do país, com a diferença de horas entre elas, data de fundação, dados da produção agrícola, etc., pedindo autorização para que o referido trabalho fosse adotado nas escolas do Império.

sábado, 12 de maio de 2018

PORTO DE CAMOCIM NA ROTA DA LIBERDADE ESCRAVA



Vista da orla camocinense. 2018. Foto: Meu Camocim



A história da escravidão em nosso município ainda é um campo a ser bastante pesquisado, mesmo porque, nessa condição administrativa, Camocim passou pouco tempo nesse regime que ainda mancha a história do Brasil. No entanto, como distrito de Granja, nosso porto é muito mais antigo e, com certeza, o trabalho escravo era usado nas suas atividades características.
No entanto,  há que se dizer também do protagonismo da Província do Ceará na libertação dos escravos realizada em 25 de março de 1884, quatro anos antes da data magna de 13 de maio de 1888 com a Lei Áurea que extinguiu a escravidão no Brasil.
Deste modo, é preciso dizer também que antes mesmo destas datas, havia no país duas grandes redes de contatos entre abolicionistas, que facilitavam a fuga de escravos para territórios livres, como a então Província do Ceará. Assim como nos Estados Unidos existia a "Railroad Underground" que utilizava as ferrovias para proporcionar um caminho de liberdade para a população escrava, no Brasil existiram dois grandes "Undergrounds" - o do Rio de Janeiro e o de Pernambuco, utilizando os portos da costa brasileira e de países vizinhos.
É aí que entramos na história. Em recente trabalho organizado pelos professores Daniel Aarão Reis, Ivana Stolze Lima, Keila Grinberg, intitulado Instituições nefandas: o fim da escravidão e da servidão no Brasil, nos Estados Unidos e na Rússia, ficamos sabendo que o Porto de Camocim,  foi rota desses esforços de se libertar os escravos, mesmo depois da abolição. Vejamos um trecho:

"Feita a abolição, com a grande vitória do 13 de Maio, não fazia mais sentido manter os segredos da clandestinidade abolicionista. No final da passeata, que durou horas, subiu ao palanque o orador oficial do Club do Cupim, Dr. Fernando de Castro, e pronunciou uma emocionada e reveladora homenagem de despedida aos “portos gloriosos que recebiam os huguenotes” (isto é, escravos fugidos na linguagem secreta do Underground Pernambuco). A relação dos portos acompanha a rede nacional de telégrafos e impressiona ainda hoje. O Underground pernambucano mantinha contatos operacionais com os portos de Fortaleza, Aracati e Camocim, na província do Ceará; Mossoró, Macau, Natal e Macaíba, na província do Rio Grande do Norte; porto de Belém, na província do Pará; porto de Manaus, na província do Amazonas; porto do Rio de Janeiro, na capital do Império; porto do Rio Grande do Sul; e, finalmente, porto de Montevidéu, capital da República do Uruguai (p.345-6)".

A escravidão foi uma chaga em nossa história, história esta que com o tempo vem sendo revelada para o conhecimento de todos, e supera em muito datas, fatos e heróis.


Fonte: Instituições nefandas [recurso eletrônico] : o fim da escravidão e da servidão no Brasil, nos Estados Unidos e na Rússia / organizadores Ivana Stolze Lima, Keila Grinberg, Daniel Aarão Reis. – Rio de Janeiro : Fundação Casa de Rui Barbosa, 2018.