terça-feira, 12 de dezembro de 2017

A GREVE DOS FERROVIÁRIOS DE CAMOCIM EM 1914

Jornal  "A Lucta". Sobral-CE. 07/05/1914
Uma pesquisa nunca termina. Um texto nunca fica pronto definitivamente. Os fatos históricos nunca são estanques no tempo. Em 2000 escrevi sobre a Greve de 1914 ocorrida em Camocim, na Estrada de Ferro de Sobral, naquela época arrendada pelos ingleses, fundamentado naquilo que o jornalista Lustosa da Costa escreveu no Diário do Nordeste em 04/09/1996 em sua coluna diária, sob o tópico "Greve", no livro Cidade Vermelha:
 
"Os ferroviários, antes da fundação do Partido Comunista em Camocim em 1928, já tinham experimentado uma greve em 1914, contra a arrendatária inglesa da Estrada de Ferro de Sobral -The South American Railway Construction Limited que pretendia pagar somente três dias pelo trabalho de uma semana. A greve é vencedora e o pagamento integral restabelecido.Neste episódio,podem estar as condições que iriam gerar no seio da categoria dos ferroviários uma consciência de luta por seus direitos, que brotariam em outros momentos onde as relações de trabalho na ferrovia se tornavam adversas".

Com efeito, um jornal da época, editado em Sobral, denominado "A Lucta", na edição de 07 de maio de 1914, esclarece melhor o conflito:

"Tendo o administrador da estrada de ferro resumido para dois dias na semana, o trabalho nas officinas e suas dependencias, o operariado em numero de 75, se manifestou em greve pacifica, exigindo trabalho para a semana inteira. Hontem, por intermedeio do fiscal dr. Propercio Balieiro, que muito trabalhou em favor dos grevistas, conseguiu o trabalho para 4 dias na semana, solução esta aceita pelos operarios que já voltaram ao serviço.
Por esse motivo, houve hontem à noite, uma concorrida passeata, acompanhada por uma banda de musica, sendo erguido muitos vivas ao dr. Balieiro e o operariado camocinense.
Hoje ás 9 horas da noite, um filho de Raymundo Gomes, phaloreiro da barra, e outros, aggrediram o sr. Julio Morel, socio da importante firma desta praça, Albuquerque & Comp. esse cavalheiro, para atemorizar os seus agressores, saccou de um revolver, disparando-o para o ar. Por esse motivo foi o sr. Morel preso e recolhido ao quartel da força federal, aqui estacionada, em quanto os aggressores nada sofreram porque gosam da immunidade da intervensão. 
6-4=914.  (manteve-se a grafia da época).

Percebemos dois aspectos com a nota do jornal: a ideia de amenidade no conflito resolvida pelo fiscal, não se configurando com a típica "semana inglesa" de trabalho, posto que a ideia dos arrendatários era diminuir o tempo de serviço, e, consequentemente os salários dos operários, além de se criticar o momento político sob a responsabilidade do interventor de plantão, defendendo-se um comerciante. 
Por essas e por outras é que a história precisa sempre ser reescrita.

Um comentário:

  1. Gostaria de entrar em contato com o autor do blog. Tenho fotos antigas de Camocim que gostaria de tornar públicas ou encaminhar para alguém que tenha interesse. Meu e-mail: wilson.raimundo1@gmail.com ou wilsonraimundo2@hotmail.com

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