"QUEM É CATHOLICO NÃO PODE SER ESCRAVOCRATA"
Esta era a máxima da campanha abolicionista nos idos de 1881 levada a efeito pelo jornal abolicionista cearense "O Libertador". Seria como dizer hoje: "Quem é cristão não pode apoiar a tortura, a morte, etc", embora, hordas de matizes religiosas várias estejam a fazer o contrário, engrossando narrativas fanáticas país afora. Mas, vamos ao foco da data de hoje: abolição da escravatura. A Província do Ceará, como registra os anais da história, foi a primeira a proclamar a extinção da escravidão, (25/03/1884), cinco antes da data nacional da Lei Áurea, 13/05/1888. No entanto, para nossa região ainda é preciso muita pesquisa para compreendermos como a escravização se deu, por exemplo, nas atividades do nosso porto e na construção da estrada de ferro, por exemplo. Mais próximo de nós, as fontes apontam para um traficante (ou comerciante) de escravos: FIRMINO BEVILÁQUA, oriundo dos Beviláquas de Viçosa do Ceará, provavelmente. Ele tinha uma rede de apoiadores no comércio de escravos, que também funcionava como ponto de entrega de escravizados fujões em Teresina-PI (Sr. Eugenio Marques de Olinda); Sobral (Sr. José Firmo Ferreira da Frota); Granja(Sr. Antonio Beviláqua, provavelmente seu parente) e Fortaleza (Angêlo Beviláqua, idem). Apresentado o mercador de escravizados, quem era a escrava em questão? O jornal "O Libertador" a expõe através do perfil violento do seu algoz:
"UM ANTROPOPHAGO
Firmino Beviláqua é um nome hoje execrável entre os cearenses. Quando se procura ern todo o paiz exterminar a barbara lei do dominio illegal do homem sobre seu similhante; quando o espirito cearense banha-se no orvalho lúcido do supremo pensamento da Liberdade e da igualdade — esse homem dando largas aos instinctos brutaes da paixão dos antropophagos, ceva-se na imbele victima da escravidão; inflingindo sevicias em uma pobre mulher escrava!
Castigando-a barbaramente por um frivolo motivo esse feroz senhor tornou-se pocesso, por lhe ter o nosso digno 1º Vice-Presidente observado o escândalo de que foram testemunhas diversas pessoas—e .todo o seu ódio recahe sobre a mísera escrava que recebe novo e atroz supplicio.
[...] A escrava Margarida é hoje a victima da vossa ferocidade ; mas nós havemos de cumprir o nosso dever, illustre negreiro".
Cinco anos depois do acontecido, vamos encontrar FIRMINO BEVILÁQUA sendo noticiado pelo fato de ter sofrido um "horrível desastre que mutilou-o irremediavelmente" .
Fontes:
Jornal "O Libertador", Fortaleza-CE, 1881. anno I, 16 de agosto de 1881, p.1.
Jornal "O Sobralense, 27 de junho de 1875).
Jornal "Província de Minas", 1886.
Imagem: Escravidão no Brasil, Jean-Baptiste Debret (1768-1848).
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