sexta-feira, 21 de novembro de 2025

O PRIMEIRO HINO MUNICIPAL DE CAMOCIM. 1909

    


Vista aérea de Camocim. 1945. Colorizada por IA. Acervo: Francisco Olivar  
F

    O hino de um município, como sabemos, é um dos símbolos de sua identidade. Geralmente traduz em sua letra e música, a cultura e os valores locais. Executado quase sempre em cerimônias oficiais, evoca formas de respeito e reverência ao país e ao próprio município, preserva aspectos culturais e fortalece as noções de progresso e ordem, além de remeter aos processos históricos daquele lugar.

    A maioria dos camocinenses conhecem o HINO DO MUNICÍPIO DE CAMOCIM, de autoria (letra e música) do Prof. Francisco Valmir Rocha, obra composta em 16 de setembro de 1964, quando o município se preparava para os festejos daquele ano. Segundo o próprio autor: "A música despontou em mim, dando colorido e exaltação às primeiras palavras do poema, que nascia também. De sorte que letra e música surgiram num mesmo ímpeto de exaltação à terra. Elas se casam. A música vívida e marcial vem justamente levar mais alto a empolgação por esta terrinha que Deus plantou à beira do oceano – o meu Camocim, o nosso Camocim. (ROCHA, Francisco Valmir. O Hino de Camocim.  “O Literário”. Ano III, edição 20. Março de 2002. Camocim-CE, p. 2).

    Daí por diante, ficou difícil não se emocionar quando se entoa: "Quem viu tuas praias de alvura sem par/ Pede a Deus te conserve formosa; Sempre airosa. 'princesa do mar'/Quem viu tuas velas vogando ao luar/Tem vontade de sempre te amar/ Sempre, sempre 'Rainha do Mar'/"  (Hino do Município de Camocim).

    Mas, se um hino é parte simbólica constituinte de um município, e Camocim tem este estatuto desde 29 de setembro de 1879, e o atual hino é de 1964, não se teria uma composição anterior a esta? É o que nos esclarece a obra do historiador Renato Braga em seu Dicionário Geográfico e Histórico do Ceará, p. 216-217. Pois é, Camocim teve sim um HINO MUNICIPAL oficializado pela Câmara Municipal de Camocim, através da Lei nº 51 de 4 de julho de 1909. À época o prefeito era Tomaz Zeferino Veras. Segue a letra. Mantivemos a ortografa original: 


HINO MUNICIPAL


Nosso canto que os mêdos desterra

Entoemos vibrante e vivaz,

Ou feroces nos transes de guerra,

Ou benignos no seio da paz.


 Nós, que além do porvir caminhamos

 Confiantes, galhardos, louçãos,

 Nossas vozes contentes ergamos

 No ardoroso concêrto de irmãos.


  De uma extensa, infindável cadeia,

  Simples elo, imantado fuzil,

  Somos parte integrante na teia

  Dêste imenso colosso – o Brasil.


  Sempre há meio de a Pátria ser útil

  Que extremosa em seus braços nos cerra,

  Ou da paz no azul manto inconsútil

  Ou nos campos sangrenta da guerra.


De uma extensa, infindável cadeia, etc...


Porfiando em qual mais idolatre-a

Não devemos contudo esquecer,

Que se honroso é viver pela pátria

Mais honroso é por ela morrer.


 De uma extensa, infindável cadeia, etc...


  Pelotões! Bravas hostes formemos

  Quando às armas a Pátria bradar,

  E aguerridas colunas cerremos

  A seus brios com fé sustentar.


   De uma extensa, infindável cadeia, etc...


   Pela paz em que todos se irmanam,

   De áureas leis o mais vasto sucesso,

    Nossos votos ergamos, que emanam

    Da paz – ordem, da ordem – progresso.

    

     De uma extensa, infindável cadeia, etc.


JOSÉ FORTUNATO BRANDÃO.


      Quanto ao autor do hino, José Fortunato Brandão, não obtivemos maiores informações e nem a sua partitura musical. 

    No que diz respeito ao texto, o interessante é que em nenhum momento o autor se refere a Camocim, propriamente, no entanto, pode-se perceber uma forte influência da poesia lírica patriótica, típica dos hinos cívicos brasileiros, com bastante intensidade emocional, imagens amplas, simbólicas e heroicas, próprias do vocabulário do início do século XX, com acentuado tom antigo e erudito. Deste modo, o nosso HINO MUNICIPAL de 1909 se aproxima do parnasianismo, do romantismo cívico no contexto de pós-proclamação da república, apelando para a identidade nacional.


Nota: Quero agradecer a indicação bibliográfica do historiador granjense Everton Oliveira para a realização desta postagem.




Nenhum comentário:

Postar um comentário