Estação Ferroviária de Sobral. Fonte: sobral24horas.com |
Falamos em postagens anteriores sobre a escravidão em Camocim no
contexto do abolicionismo do estado do Ceará, cuja data magna se deu em 25 de
março de 1884. No entanto, esse movimento já vinha mostrando algumas ações de
alforria de escravos em anos anteriores. Com o começo da construção da Estrada
de Ferro de Sobral no início da década de 1880, é possível que se tenha
utilizado mão-de-obra escrava na ferrovia, por alguns indícios que apontaremos
mais adiante. Maria Lúcia Lamounier escreveu um livro
intitulado Entre a escravidão e o trabalho livre. Escravos e imigrantes
nas obras de construção das ferrovias no Brasil no século XIX, onde
aborda o assunto. Embora não tenhamos certeza desse uso na Estrada de Ferro de
Sobral, sintomático são os registros da inaguração da Estação Ferroviária de Sobral em 31
de dezembro de 1882, portanto, dois anos antes da declaração de abolição dos
escravos na Província do Ceará. Vejamos o que escreveu o Bispo Dom José
Tupinambá da Frota em sua obra História de Sobral.
"Presente um
numeroso concurso de pessoas desta cidade, de Granja, Camocim, Palma, Santanna,
Ipu, Santa Quitéria e outros lugares vizinhos, o Sr engenheiro em chefe, Dr.
João da Cunha Beltrão d Araújo Pereira convidou ao Sr Comedador José Tomé da Silva,
Presidente da Câmara Municipal para inaugurar a seção, o que fez S.S proferindo
uma alocução. (...) Antonio Ibiapina que num eloquente discurso sobre a
escravidão entregou as cartas de liberdade de 05 escravos, sendo todos os
oradores calorosamente aplaudidos. Imediatamente os Srs Major Mendes da Rocha e
o Capitão Joaquim Ribeiro de Morais, de Granja, declararam livres os seus
escravos Rafael, José e João."
Portanto, 08 escravos foram alforriados na ocasião. Note-se que apenas
três são nominados. Na escrita histórica do período, os escravizados continuam
quase invisíveis, sobressaindo-se a ação dos senhores que naquele momento
ofereciam como "dádiva" a liberdade a estes homens. Embora não
sabendo que essas ações decorreram da onda abolicionista que se apresentava
naqueles anos ou se foram em troca do trabalho exercido na ferrovia, estes são
acontecimentos que remetem para o nosso passado escravista.
Fontes:
LAMOUNIER, Maria Lúcia. Entre a escravidão e o trabalho
livre. Escravos e imigrantes nas obras de construção das ferrovias no Brasil no
século XIX.
FROTA, Dom José Tupinambá da. História de Sobral
Olá C.Augusto! sou um leitor do seu blog e sempre estou atendo as novas postagens gosto de todas em especial as que retratam as histórias da estrada de ferro. Baseado nisso gostaria de saber e de ler um pouco da história da RFFSA, rede ferroviária federal, que era detentora de grande parte da malha ferroviária brasileira durante muitos anos e que muitos funcionários se aposentaram trabalhando nela. Gostaria de saber como é que está a sua situação atual e como é que está a situação também das faixas de terra que a mesma possuía inclusive o espaço que fica por trás da estação ferroviária descendo até o bairro dos coqueiros que até os dias de hoje pareçe está abandonado.
ResponderExcluirAtt. Danilo Araújo