Orlando Cantuário não é um escritor camocinense, mas, mora e trabalha em Camocim no Campus do IFCE e, além do mais ja comeu e chupou a cabeça de um coró e, portanto, já está irremediavelmente enfeitiçado. Sua obra em grande parte se inspira em Camocim e por isso está na seção "Escritores de Camocim".
Capa de "Cebolas para Chantilly". Orlando Cantuário. 2017. |
Ir ao IFCE - Campus Camocim além de ser sempre um prazer é sinônimo de "ganhar presentes". Da última vez que estive lá não foi diferente. Além do calor humano, acabo sempre trazendo algo interessante para casa. Desta vez trouxe uma "refeição" completa em forma de livro: "Cebolas para Chantilly", do chef e professor Orlando Cantuário.
Trata-se não somente de "Poemas de cozinha experimental", onde o saber gastronômico tempera a têmpera poética do autor, mas, é um livro onde a poesia "experimenta" seus inesgotáveis sabores em variados "pratos" que revelam um poeta, antes de tudo.
Por outro lado, o discurso poético não deixa de ser denunciador da nossa realidade camocinense. Os pescadores, a beira do cais, os peixes não trazem apenas o cheiro de maresia, mas, contém uma crítica social, como se fossem "Vísceras expostas/No tronco á beira mar", quer tornam "O cais cúmplice/ Da despesca/ De homens e mulheres/ Á beir mar", como se fossem "vidas ressequidas/ largadas/Como peixe-gatos", que, no entanto, "... enriquece tão poucos/Que não sabem pescar".
Enfim, o poeta vai filetando versos como quem destrincha uma pescada amarela à moda Tremembé, observando o riso da amada que contém "Os açucares/Extrovertidos/ Que caramelizam/ O dia". Há muito não lia algo em poesia tão gostoso com todos os sentidos do gostar. Não podia ser diferente, pois, como o próprio autor nos diz em "Lavrador", que me lembrou "Cio da Terra" de Milton Nascimento:
"COZINHEIRO É QUEM POETIZA GRÃOS".
Serviço:
Livro: Cebolas para Chantilly
Autor: Orlando Cantuário
Ano: 2017
Editora: Nova Aliança. Teresina-PI.
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