sexta-feira, 30 de setembro de 2022

PINTO MARTINS. CEM ANOS DO VOO PIONEIRO. (XII SETEMBRO CAMOCIM. 2022. Nº 10).

 Fechando mais um Setembro Camocim, finalizamos com o cordel PINTO MARTINS. CEM ANOS DO VOO PIONEIRO, do historiador e cordelista Francisco Rocha Pereira, uma bela homenagem à data centenária do voo pioneiro New-York - Rio de Janeiro, realizado em 1922-23.

Pinto Martins/Pote. Márcio Caetano. Camocim. 2022. Desenho.

I

Amigos camocinenses

Que amam literatura

A todos peço licença

Pra narrar uma aventura

De um conterrâneo ilustre

Que teve força e bravura.

II

Antes peço à mão divina

Que me sopre das alturas

Inspiração pra falar

Desta nobre criatura

Que já nasceu com a sina

De voar num asa dura.

III

Não podia ser de outra

Pessoa que estou falando

Se não do aviador

O nosso herói soberano

Euclydes Pinto Martins

Do hidroavião biplano.

IV

No fim do oitocentismo

Constatou-se pesquisando

Ano dois, da última década

Quando o abril foi meando

Em Camocim nasceria

O rei do aeroplano.

V

Seus pais, Antônio e Maria

Celebrarem seu natal

Com poucos meses partiram

Lá pras bandas de Natal

Batizaram o primogênito

Na igreja de Macau.

VI

Pinto Martins já nascera

Com traços de homem forte

Estudou quando criança

No Rio Grande do Norte

Superando em aprendizagem

Os pequenos de seu porte.

VII

Com vocação para ser

Pessoa extraordinária

Logo jovem trabalhou

Na Rede Ferroviária

Mas seu talento pedia

Pra explorar outra área.

VIII

Por isso o pai decidiu

Investir na sua sorte

Mandou o filho estudar

Lá na América do Norte

Engenharia Mecânica

Graduação de seu forte.

IX

Foi Cônsul em Nova Iorque

Depois de fazer vagão

Por onde andou demonstrou

Inteligência e ação

Mas seu grande intento era

Investir na aviação.

X

Pra realizar seu sonho

Martins estudou bastante

Depois de Santos Dumont

Compatriota brilhante

Ele colocava em prática

Seu projeto fascinante.

XI

Grande idealizador

Do voo que seria raro

Associado com outros

Que lhe serviam de amparo

Pois voar naquele tempo

Era perigoso e caro.

XII

Pra ligar as três Américas

Era essa a empreitada

Idealizou a rota

Chamou Walter o camarada

Para então darem início

Aquela grande jornada.

XIII

Quando levantaram voo

Para o Sul deixando o Norte

Caíram no mar de Cuba

Numa tempestade forte

Por sorte sobreviveram

Para um retorno mais forte.

XIV

Recomeçaram os trabalhos

Entusiasmados, pois

Agilmente construíram

O Sampaio Corrêa Dois

O raid Nova Iorque-Rio

Não ficaria pra depois.

XV

Os tripulantes passaram

Por muita dificuldade

Enfrentando imprevistos

De chuva e tempestade

Até chegar ao Brasil

Passando em nossa cidade.

XVI

Deixemos Pinto Martins

Com a difícil missão

Para falar como estava

Aqui a população

Fazendo os preparativos

Pra sua recepção.

XVII

Por eles o povo esperou

Com as ruas enfeitadas

Desde o cais até o centro

Calçadas ornamentadas

Para saldar os rapazes

Heróis daquela jornada.

XVIII

No ano de Vinte e Dois

Do Século próximo passado

Dezenove de dezembro

Aqui foi amerissado

O Sampaio Corrêa Dois

Com Pinto e seus comandados.

XIX

Aquele hidroavião

Vindo daqueles confins

Sob o comando do ilustre

Euclydes Pinto Martins

Enche o peito de orgulho

Do povo de Camocim

XX

Era o voo inaugural

Da história, era o primeiro

Interligando as Américas

Depois o Brasil inteiro

Voando de Nova Iorque

Até o Rio de Janeiro

XXI

Nosso grande aviador

Ilustre camocinense

Envaideceu o Brasil

E o povo cearense

Devido seu feito inédito

Com emoção e suspense.

XXII

Quando o Sampaio Corrêa

Liberou seus tripulantes

Liderados por Euclides

Jubilosos, triunfantes

Andaram pela cidade

Garbosos e festejantes.

XXIII

Todos foram recebidos

Com uma festa de gala

No chiquíssimo Sport Club

Com o qual nada se iguala

Foi um baile refinado

Com requintes e regala.

XXIV

Ilustre camocinense

Cearense e nordestino

Brasileiro de respaldo

Americano e latino

Destacado em todo o mundo

Por sua astúcia e seu tino.

XXV

Depois de seu grande feito

Ficou no país natal

Pensando em outro projeto

Que seria mais genial

Prospectar o petróleo

Com futuro triunfal.

XXVI

Mas parece que a sorte

Ou azar pra mais de mil

Depois de tanta alegria

De voltar para o Brasil

Chegou para atrapalhar

Os planos do varonil.

XXVII

A busca do ouro negro

Foi um sonho interrompido

Numa noite amargurante

Escutou-se um estampido

Depois do tiro encontraram

Euclydes já falecido.

XXVIII

Motivo de sua morte

Nunca foi bem decifrado

Para uns foi suicídio

Para outros foi mandado

E a dúvida permanece

Se, matou-se ou foi matado.

XXIX

O petróleo como sempre

Foi cobiça do Império

Grande riqueza do mundo

Maior que qualquer minério

Quiçá, tenha ligação

À causa deste impropério.

XXX

Teria sido ganância

Ou inveja do brasileiro?

Só sabemos que o petróleo

Motiva o interesseiro

A causar muita matança

E guerras no mundo inteiro.

XXXI

O ouro negro motiva

Conflito no mundo inteiro

Potências gananciosas

Governantes carniceiros

Invadem, matam inocentes

Por cobiça e por dinheiro.

XXXII

Assim foi por água abaixo

O plano do engenheiro

Prospecção de petróleo

Para o povo brasileiro

Alçar o padrão de vida

Através do petroleiro.

XXXIII

O sonho de Euclydes era

Encontrar o mineral

Para elevar o Brasil

À potência mundial

Mas o plano do patriota

Finda de forma brutal

XXXIV

Pinto Martins foi um gênio

Homem íntegro, nobre e forte

Visionário do mundo

Foi buscar a própria sorte

Teria feito muito mais

Não fosse a precoce morte.

XXXV

Dedicou a sua vida

Somente por causa nobre

Queria um país mais justo

Sua luta ninguém encobre

Pra transformar o Brasil

Numa Nação menos pobre.

XXXVI

Pinto hoje é patrimônio

Do povo de Camocim

Um herói quase esquecido

Pelo poder e por mim

Mas o seu valor histórico

É coisa que não tem fim.

XXXVII

Em dois mil e vinte e dois

Recontamos sua história

Um século já se passou

De seu momento de glória

Aqui vai nosso tributo

Em honra a sua memória.

XXXVIII

Assim homenageamos

Euclydes Pinto Martins

O Centenário de seu voo

Vamos comemorar sim

Porém, merecia mais

Está escrito nos anais

Da história de Camocim.

 



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