sexta-feira, 12 de abril de 2013

A GREVE DOS FERROVIÁRIOS EM CAMOCIM


Entre novembro de 1949 e janeiro de 1950 a população de Camocim viveu um fato inusitado em sua história - uma greve de ferroviários com reflexos na população e outro setores da cidade que protestavam contra a saída dos trens e das oficinas de manutenção da cidade para outros locais. Como grande fonte empregadora de mão-de-obra - a ferrovia chegou a ter cerca de 800 funcionários no seu quadro distribuídos nas várias seções. A transferência de funcionários para outras cidades, o sucateamento do material rodante que não tinha reposição, acenderam o sinal de alerta entre os ferroviários que viram neste conjunto de fatores uma forma de pouco a pouco ir desestabilizando o ramal ferroviário Camocim-Sobral, o que aconteceria realmente em 1977.No entanto, os trabalhadores reagiram e escreveram uma página de resistência de seus postos de trabalho como mostra a documentação da época, quando foi preciso a vinda do representante do Ministro de Obras e Viação e do Governador do Estado para acalmar os ânimos do povo. Vejamos como isso aconteceu: 
População defronte da Associação Comercial. Foto: Arquivo Elda Aguiar
Os telegramas trocados entre a Associação Commercial, que se achava em sessão permanente, e a direção da Rede de Viação Cearense eram analisados pelo povo, que insistentemente ficava de prontidão em seus arredores. Neles, algumas passagens mostram o caráter resoluto da população na defesa da manutenção das oficinas e funcionários em Camocim:
“A cidade, não obstante não haver-se registrado nenhum incidente, ainda permanece sob intensa exaltação. A massa popular continua vibrante e entusiasmada, com o propósito de obter o cancelamento da ordem de saída de qualquer operário. Acredito que somente a vinda do ministro da Viação conseguirá normalizar a situação....  Saudações.”       
Capitão Assis Pereira Delegado Especial.
“Em resposta ao seu radiograma, informamos que estamos empregando todos os esforços no sentido de que a tranqüilidade volte a reinar em nossa terra. O povo, entretanto, continua intransigente, com o objetivo de conseguir um pronunciamento definitivo do sr. Ministro da Viação sobre a permanência das oficinas da Estrada de Ferro, (...) Toda a população, sem distinção de classe ou de credos, percorre as rua da cidade, numa demonstração evidente de que pretende fazer valer os seus direitos. Logo mais, daremos melhores informações sobre os resultados que estamos empregando.                                  Abraços.”       
Murilo Aguiar e Alfredo Coelho.
Continuamos a empregar grandes esforços no sentido de conseguir que o povo aceite a solução contida no telegrama do Dr. Hugo Rocha. Entretanto, consideramo-nos impotentes, dada a exaltação do povo. Abraços.
                       Murilo Aguiar, Alfredo Coelho e José Coelho.”.[1]
Como se percebe, povo, associações de classe e políticos deram as mãos e fizeram esforços no sentido de manter os postos de trabalho na ferrovia. Um simples exemplo de como as coisas podem ser resolvidas em prol da comunidade e sem vaidades políticas. Fica o exemplo! 

FONTE: "Cidade Vermelha - a militância comunista nos espaços de trabalho. 1927-1970"


[1] Telegramas publicados em Janeiro de 1950 no Jornal “O Povo”, Fortaleza-CE. Apud OLIVEIRA, André Frota de. Op. cit., p.105-6

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