Casa que abrigou o ateliê de Raimundo Cela. Rua General Tibúrcio. Camocim-CE. 2019. Foto: arquivo do blog.
Quem passa pela Rua General Tibúrcio, entre as ruas Santos Dumont e 24 de Maio, mal sabe que aqueles casarões já abrigaram a casa e o ateliê do renomado artista plástico cearense Raimundo Cela. Nascido em Sobral em 19 de julho de 1890, já aos quatro anos, a família se transferiu para Camocim, por causa da profissão do pai, o espanhol José Maria Cela Mosquera, ele era mecânico e veio trabalhar na estrada de ferro. A mãe era professora sobralense Maria Carolina Brandão Cela, que garantiu o ensinamento das primeiras letras ao futuro artista.
Segundo estudiosos da vida e obra de Raimundo Cela, a transferência da família foi duplamente benéfica para todos: "No novo meio, Camocim, no qual Cela passou a viver, no aspecto climático, físico e humano, ambiente onde Cela completaria sua infância e adolescência, diferente do anterior, deve ter tocado a sensibilidade, aberta à vida, de Raimundo Brandão Cela. Em Sobral, o calor era agressivo, o horizonte geologicamente fechado. Em Camocim, o clima ameno e suavizado pela brisa e perfume marinho. [...] As praias bonitas com seus recantos e ilhas, os barcos insinuando viagens longínquas, sonhos, desejos e o porto tentando com seu movimento de chegada e saída dos barcos. O horizonte abria-se pra tudo. O caminho se fazia. se mostrava para todos os lados. Camocim aconteceu na sua vida". (FIRMEZA, Nilo de Brito. (Estrigas). Raimundo Cela. A arte e o tempo. In: Raimundo Cela. 1890-1954. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 2004, p. 16-7).
Praia de Camocim. 1933. Raimundo Cela
Raimundo Cela sai de Camocim para estudar em Fortaleza e, posteriormente, Rio de Janeiro, onde se torna engenheiro geográfico. De lá vai para a Europa em 1920 para aprimorar seus dotes artísticos na França e Espanha. Com problemas de saúde retorna ao Brasil em 1922 e o local mais aprazível para cuidar da sua saúde foi Camocim:
"Preferiu ir para Camocim onde tinha a família perto. Lá, Cela, com a qualificação de engenheiro, assumiu a direção da usina que gerava energia elétrica para a cidade". (Idem, p-28).
A tal usina era a Companhia de Força e Luz de Camocim - CFLC, que fica na esquina da rua General Tibúrcio com 24 de Maio. Afora os trabalhos da usina, Raimundo Cela dedicou-se à sua obra em seu ateliê que ficava atrás dela. Fora dos meios artísticos, pensaram até que ele tinha morrido. Foi redescoberto por Otacílio de Azevedo que esteve em Camocim em 1933 e se maravilhou com o resultado de dez anos de atividade do pintor em Camocim.
Casou-se em Camocim em 1934 aos 44 anos, com a amazonense Eunice Medeiros, de 21. Mudou-se novamente para Fortaleza em 1938 com a família. Em 1945 muda-se novamente para o Rio de Janeiro onde veio a falecer em 1954.
Portanto, quando você estiver comendo espetinhos no Aurélio, saiba que naquele local, este grande nome das artes no Brasil, ali viveu na sua infância e adolescência, com certeza brincou naquele quintal, cresceu e pintou boa parte de sua obra.
Fonte:FIRMEZA, Nilo de Brito. (Estrigas). Raimundo Cela. A arte e o tempo. In: Raimundo Cela. 1890-1954. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 2004
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