Antonio Pereira da Silva - Mestre Cazumbi. Foto: camocimonline.com |
Em Kimbundu, língua nativa da Angola, Cazumbi significa um
"pequeno zumbi" ou "filho de Zumbi". É nome também de uma
badalada banda de rock africana. Para nós camocinenses é sinônimo de um pequeno
grande homem que viveu sua simplicidade ao extremo. Ele foi um verdadeiro
Mestre, pois ensinou aos jovens de Camocim, o pouco e o tudo que sabia no
futebol e na música. Tenho para mim que depois que o Campo do Maguary foi
loteado pela especulação imobiliária, Cazumbi começou a morrer aos poucos. Mesmo
assim, fez do Campo do Tapete Verde sua segunda casa. Em 2007 fui entrevistá-lo
em sua casa e o encontrei lavando o uniforme do seu time. Entre lembranças,
momentos de tristeza estampados no rosto, mas também de boas gargalhadas, passamos boa parte da manhã
conversando. Na saída, uma constatação, aquele homem estava precisando de quem
conversasse com ele. Em sua homenagem reproduzimos o que escrevemos naquela
oportunidade e que está no nosso livro "Entre
o Porto e a Estação..." a ser lançado no próximo dia 24 de setembro em
Camocim:
"Antônio Pereira da Silva, o Mestre Cazumbi,
além de músico, tem uma trajetória ligada ao esporte. Hoje aposentado, ainda
tem fôlego para toda semana treinar jovens em campos de terra da periferia.
Contemporâneo de Sebastião Marques, ele fez parte de uma geração onde se
destacaram outros trabalhadores jogadores como Quebrado, Passaqui, Canoé,
Expedito leitão, Zé Olhim, Linha Fina, Zé Maria, Pepeta, dentre outros. Na
saudação de um cronista local, treinado em seus tempos de adolescente pelo
Mestre Cazumbi, constatamos a importância de seu trabalho junto à juventude
camocinense:
'... foi de tudo no futebol: chegou a ser técnico da nossa
seleção, com um desempenho razoável. Quem não passou pelas mãos do velho
Cazumba? Acho que toda garotada teve suas primeiras noções de jogar bola com o
‘Guerreiro’. (...) mas já não tem a mesma garra de outrora, porém continua
sendo um grande exemplo de desportista para os jovens.' [1]
Mesmo no alto de seus
76 anos, quase cego e sem poder andar muito, ainda vamos encontrar o Mestre Cazumbi
tocando sua tuba nos eventos religiosos e festivos da cidade. Duas ou três
vezes na semana, leva seu material de treino para o campo do Tapete Verde para
não deixar o time do Maguary morrer. Mesmo sem o reconhecimento e apoio das
entidades esportivas locais, ele continua sendo aquele tipo de pessoa que
deixou o esporte entranhar nas veias, sendo o faz-tudo do seu time: dono,
treinador e roupeiro."
Ao Mestre Cazumbi, com
carinho... descanse em paz!
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