terça-feira, 11 de setembro de 2012

II SC - A SECA E OS SAQUES EM CAMOCIM - Nº 5

 
Estação Ferroviária de Camocim. Uma das obras contra a seca realizadas pelo Governo Imperial no final do séc. XIX.

Estamos vivendo mais um período de seca. Na história do município os períodos de estiagem eram momentos em que se recebia levas de retirantes procurando amenizar seus sofrimentos. Com efeito, as regiões litorâneas sempre serviram como pólos de atração dessa massa faminta. Por outro lado, essa população adventícia provocava temores na sociedade local. O medo que as populações tangidas pela seca provocavam não era somente o de trazer com elas as doenças. A possibilidade de saques contra o comércio e as repartições públicas também foi uma constante. 
Na década de 1950, algumas ações e tentativas dessa natureza foram registradas. Em janeiro de 1950, a cidade foi invadida por 300 retirantes que ameaçaram “atacar o comércio”, face a pouca assistência prestada e a iminência de perda da produção agrícola. Este número aumenta para 500 flagelados numa outra ação em que efetivamente houve um arrombamento do “depósito da Prefeitura, julgando haver algum gênero armazenado”. Em abril de 1953, outro saque aconteceu onde um grupo de flagelados carregou “parte da mercadoria existente”. Na grande seca de 1958, novamente, a cidade é invadida por retirantes em busca de trabalho e comida. São, portanto, ações da multidão varrida pelo flagelo da fome no Ceará, geradora de vários conflitos com os moradores das cidades, muito bem analisadas pelo historiador Frederico de Castro Neves.1
Exemplos destes conflitos estão documentados nos arquivos da Associação Commercial de Camocim. No ofício enviado à autoridade policial em junho de 1919, (já reproduzido no blog em postagem anterior) fica claro a defesa dos interesses dos comerciantes sobre os demais, como o direito de ir e vir, além de uma certa institucionalização da atividade comercial como o “Commercio” (grafado com letra maiúscula, a letra m dobrada e sem acento), o que de antemão já sugere uma divisão entre os que trabalham, ou melhor, entre a sociedade do trabalho e a ociosidade, vista por estes homens como a mãe de todos os vícios. 
1 
Fontes:

1 NEVES, Frederico de Castro. A Multidão e a História: saques e outras ações de massas no Ceará. Rio de Janeiro: Relume Dumará. Fortaleza, CE: Secretaria de Cultura e Desporto, 2000, pp. 166, 168,185. 
Foto: Blog Ipugrande. 

2 comentários:

  1. obs. Magalhães Nogueira neto está contido nesta foto anexo, com as mãos na cintura

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  2. Essa seca de 1958 foi muito marcante pra minha família, pois minha família pelo lado do meu pai foi pra Goiás; a da minha mãe, pro Maranhão.
    Foi um tempo difícil, que os velhos não se esqueceram.

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