Dentro do pacote de crueldades
que se anuncia nos bastidores do governo, a reforma administrativa atingirá em
cheio o funcionalismo público. Não que não haja distorções a serem corrigidas,
mas, ao fim e ao cabo, as várias reformas que já aconteceram no país, sempre
quebram no lado mais fraco, além de áreas importantes da administração pública
ficarem com seus serviços minimizados pela falta, justamente, de funcionários.
Desde a nascente República que
este tema foi sempre recorrente nos anais da História e da Literatura. O sempre
polêmico escritor Lima Barreto, em 1915, no seu conto “Projeto de Lei”,
alfinetava o crescente cabide de empregos em que se tornara o novo regime, sem
perder o tom irônico na fala de um deputado personagem:
“Meus senhores. A pátria este em
perigo; o Tesouro está exausto; os recursos da nação estão esgotados. Urge que
tomemos providências, a fim de evitar a bancarrota. O que mais pesa no nosso
orçamento são os funcionários públicos. É preciso acabar com essa chaga que
corrói o organismo do país. Eles podem muito bem ir plantar batatas”.
Por outro lado, voltando no
tempo, a Câmara Municipal de Camocim e a Intendência Municipal nos idos de 1898
também reclamava por sua vez, da falta de verbas para manter seus poucos
funcionários e manter as despesas da Municipalidade. Se naquela época o serviço
público “inchava” também por culpa dos próprios políticos, atualmente, quando
se quer “enxugar” os gastos com a máquina pública, os políticos elegem o funcionalismo
como a fonte dos seus males.
Para efeito de comparação, na
virada do século XIX para o vinte, existiam em Camocim apenas 17 funcionários:
cinco municipais (destes, dois lotados na Câmara, um deles o próprio
Presidente) e outros doze, distribuídos nas funções de prático de barra,
oficial de justiça, carcereiro, telegrafista. Os oito restantes tinham apenas a
especificação de “funcionário público”, sem uma função definida.
Fontes
Texto: Alistamento dos Eleitores
do Município de Camocim. 10 de abril de 1898. Disponível em: portal.ceara.pro.br.
Texto: SCHWARCZ, Lilia. (Org.). Contos completos de Lima Barreto. São Paulo: Companhia das Letras, p.403.
Imagem: asmetro.org.br
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