Jornal O Ceará. Fortaleza, 12/03/1928, p.7 |
Não
é de hoje que os ditos "homens de imprensa" são vítimas
da violência. O preceito constitucional da livre expressão quase
sempre era soterrado pela lei do mais forte ou como sugere a matéria
jornalística aqui apresentada, pela "lei da bala".
Voltemos pois, aos acontecimentos em Camocim no ano de 1928. Era
tempo de eleição e o jornalista Francisco Theodoro Rodrigues (Chico
Teodoro) com seu jornal "O Operário", fazia campanha para
eleger uma representação dos trabalhadores à Câmara Municipal.
Naquela época, o sistema eleitoral permitia que os partidos
políticos distribuíssem as cédulas já votadas para os eleitores,
que só tinham o trabalho de ir á seção para depositá-la na urna.
Deste modo, o jornalista denuncia em carta para outro jornal, "O
Ceará", como as coisas se sucederam em Camocim quando ele e
outros companheiros tentaram fazer uma reunião com os sócios da
Sociedade Deus e Mar para distribuir as cédulas, que naquela época
congregava portuários e estivadores, principalmente. Vejamos trechos
dessa carta: "Na
hora em que íamos abrir a porta do edificio em que funcciona esta
sociedade, o delegado de polícia local, á frente de um contigente
de soldados armados nos intimou a abandonarmos a idéa da alludida
reunião. Allegamos que tanto os estatutos de nossa sociedade como a
Constituição da Republica nos garantia esse direito, tendo como
resposta, de um sobrinho do delegado, o sr. José Carlos Véras, que
a lei era bala (bala nelles!) [...] Hoje, quando se começava a
distribuir as chapas eu, apezar e socio da "Deus e Mar",
fui, injustificavelmente e violentamente, preso, conduzido ao xadrez
e conservado incommunicavel. A maioria do eleitorado aqui é operária
e a victoria dos nossos candidatos seria certa se a lei do "bala
nelles", não imperasse, irritantemente com ostensivo menosprezo
a todas as garantia e direitos eleitoraes. [..] Nem esta carta
saberei se chegará à vossas mãos. São nove horas e a luz do
cubiculo é pessima.
O
director de "O OPERARIO"
Estamos
em pleno século XXI, mas, de vez em quando, por este e outros
motivos, uma voz se cala.
Fonte:
Jornal "O Ceará". Sexta-feira, 12 de
março de 1928, p.7.
Nenhum comentário:
Postar um comentário