"Durante a campanha para prefeito de Camocim, em 1950, foi realizado um comício na Amplificadora Pinto Martins, onde estavam presentes os líderes e opositores da política local, Murilo Rocha Aguiar e Alfredo Coelho. No desenrolar dos acontecimentos, os líderes políticos acabaram desentendendo-se e provocando certo tumulto na Praça Pinto Martins, acirrando a disputa pela Prefeitura Municipal. O Sr. Orion Menezes narra o fato:
A disputa política foi o seguinte, isso eu sei contar bem direitim: o Alfredo Coelho era compadre do Murilo Aguiar, (...) eles eram muito amigos, todos dois comerciantes do alto comércio aqui de Camocim, Alfredo Othon Coelho e Murilo Rocha Aguiar, já veio do Vicente Aguiar que começou o comércio. (...) aí veio a política, o Alfredo Coelho era da UDN e o Murilo do PSD, aí eu sei que o Murilo ficou arrepiado com o compadre que era o Alfredo Coelho, aí o Alfredo lançou a candidatura de João Colares Filho pra prefeito de Camocim. (...) Pois bom, aí o resultado foi que eu estava lá no comício quando o Sr. Murilo foi falar, aí eles não deixaram o Murilo Aguiar falar, eles tomaram o microfone; aí quando botaram pro João Colares Filho, o Pascoal puxou pelo canivete e cortou o fio do microfone, foi uma confusão danada e o povo estava era aí, com a língua horrível, né? Aí o resultado, o Murilo Aguiar disse: “quem for do meu lado me acompanhe até a praça”, hoje a Praça da Estação; aí menino, ficou pouca gente lá no palanque do Alfredo Coelho, pouca gente; a multidãozona acompanhou o Murilo Aguiar. Começou a partida política dele desde esse tempo. Aí o Murilo Aguiar disse: “vou lançar um candidato, o Vaqueiro da Esperança, Setembrino Veras”. Ele estava lá nas Amarelas, no terreno dele lá, ele vivia mais no interior. (...) O Murilo Aguiar lançou a candidatura dele, quando foi no outro dia o Setembrino entrou aqui no carro, foi foguete, às sete horas da noite. Vaqueiro da Esperança, botaram o apelido dele, aí o Setembrino ganhou a prefeitura, aí meteu o pau no outro candidato, ajeitou a cidade, aí começou a intriga do Alfredo Coelho com o Murilo Aguiar. Foi o rompimento. 1
A briga política dos líderes partidários provocou uma divisão no cenário político de Camocim. A atitude e a frase emblemática do Sr. Murilo Aguiar, “quem for do meu lado me acompanhe até a praça” sinalizava muito mais que um rompimento político, era o nascimento de duas facções que durante logos disputariam o poder local e, em alguns momentos, se alternariam na gestão da cidade. De um lado estava o grupo político alcunhado de “Cara Preta”, sob a liderança de Murilo Aguiar, do outro, “Fundo Mole”, liderado por Alfredo Coelho".
1 Entrevista com o Sr. Orion Menezes, funcionário público aposentado, 73 anos, realizado em 04/03/2008, em sua residência, situado à Rua José Maria Veras, nº. 30, Camocim-Ceará.
Fonte: NASCIMENTO, Carlos Manuel.
Ao ler o texto fiquei emocionado pois não só conheci os dois lideres como por muitas vezes quando adolescente acompanhei meu pai Piragibe Melo-que era cara preta,depois virou fundo mole- aos comícios do seu Murilo, certa vez em Barroquinha que na época era Distrito de Camocim arranjei até uma namorada, que legal eram verdadeiras aventuras viajar pelo interior do município e aqui acolá até tocar o coração das nativas. Bons tempos aqueles.
ResponderExcluirProf.Dr. Carlos Augusto parabéns pelo trabalho.
Um abraço!
Minha lembrança de Barroquinha foi a batalha, melhor dizendo. o tiroteio onde o Sr. Murilo e o Carasco foram atingidos de parte a parte. Acho que isso merece até uma postagem. Meu pai, que sempre foi Cara Preta, havia me levado à então festa....
ResponderExcluiroi , carlos augusto, não querendo corrigí-lo, pois essa matéria vc já recebeu de outra pessoa, mas nossa família é menezes com z.
ResponderExcluirObrigado Priscila pela correção! Vou retificar! Grande abraço e continue nos acessando...
ResponderExcluirO atual prefeito é fundo mole ??
ResponderExcluirÉ interessante saber que os "cara-preta" e os "fundo-mole" eram um só lado político.
ResponderExcluirNossa e muito bom saber sobre a História de minha querida cidade. Seria bom ler a historia do Tiroteio de Barroquinha. Um Forte abraço.
ResponderExcluirTambém tenho um livro seu. A Casa do povo e por sinal e muito interessante já li varias vezes.