domingo, 1 de maio de 2011

O PRIMEIRO DE MAIO EM CAMOCIM


Até dez anos atrás, o Primeiro de Maio em Camocim tinha para mim alguma atração do ponto de vista simbólico. Acordava cedo para acompanhar as manifestações anunciadas. Mesmo quando a data se tornou moeda política, era interessante ver e analisar como os grupos políticos faziam uso da data. Reporto-me agora ao que recolhi em minhas pesquisas. Velamos o depoimento de João Ricardo, comunista e ateu convicto sobre o primeiro de maio de antanho:

Naquele tempo nós nos reuníamos para discutir os problemas dos outros. O sindicalismo aqui em Camocim era organizado. Nós éramos convidados para assistir as reuniões de outros sindicatos e associações. Quando um tinha uma questão para ser resolvida a gente dava opinião e fazia um movimento para encontrar uma solução. Os desfiles de Primeiro de maio eram muito bonitos, a passeata ia em todas as sedes dos sindicatos e associações e todo mundo participava. Hoje não, cada um cuida de si e até atrapalham os outros".

Como se sabe, tradicionalmente, o Primeiro de Maio
está intimamente ligado com a história do movimento operário pela conquista do limite de oito horas de trabalho diário, regulamentação do trabalho feminino e de menores, luta por melhores condições de trabalho nas fábricas, dentre outras. A data, por exemplo, é uma alusão a um dos eventos que simbolizou essa luta, o Massacre de Chicago, ocorrido em 1886, onde vários operários foram mortos pela polícia numa manifestação pelo limite de oito horas de trabalho.

A propósito disso, em 1948, as atas da Sociedade Beneficente Ferroviária registram a inicativa do sócio Osvaldo Jorge de Aragão daquelqa entidade adquirir o quadro "Os Oito Mártires de Chigaco" (foto),
cuja compra foi efetuada pela SBF somente em março de 1949 A compra talvez se explique, para além do significado que tal obra, fato e data representam para os trabalhadores do mundo inteiro, a vanguarda da Sociedade Beneficente Ferroviária em promover e articular as festividades do Primeiro de Maio em Camocim.

Contudo, hoje, as comemorações do Primeiro de Maio se ressentem da falta desse aspecto combativo e festivo de outrora. Quando a data recai em algum momento político importante, nacional ou local, as entidades tentam ainda realizar algum desfile. O desfile representa, hoje, não a festa ou a reivindicação do trabalhador, mas o desfilar burocrático das realizações de cada secretaria do governo municipal e das várias escolas “homenageando” um trabalhador sem rosto e sem nome. Outras vezes, organiza-se uma prestação de serviços básicos (medição da pressão arterial, expedição de carteira de identidade, corte de cabelo etc.) numa praça principal e uma disputa de algumas modalidades esportivas. Os sindicatos e associações fazem um caminho inverso, realizando alguma atividade alusiva à data em recinto fechado. Uma alvorada aqui, uma palestra ali, e o Primeiro de Maio vai perdendo seu conteúdo simbólico, sendo um mero feriado.


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