terça-feira, 5 de abril de 2011

A RUA E O SENADOR


Vista da Rua Senador Jaguaribe, atual José Maria Veras. Destaque para a casa do Coronel João da Silva Ramos (esquina do lado direito-demolida) e o sobrado defronte da mesma, do lado esquerdo, também demolido, local onde o comunista Francisco Theodoro Rodrigues ficou preso antes de ser mandado para o Rio de Janeiro por ocasião da repressão do Golpe de 1930.

Já me reportei algumas vezes sobre a maneira às vezes descuidada e interesseira como se nomeiam ruas e logradouros em Camocim. Diante da provocação sobre quem teria sido e o que tinha feito um tal Senador Jaguaribe por Camocim, fui aos arquivos. De antemão, esclareço que não tenho nada contra quem nomeia ou quem é homenageado. Só não concordo com o avivamento da memória de alguém em detrimento de outra. Confesso que não tinha maiores informações sobre o aludido personagem, porém, com um pouco de persistência e sorte na pesquisa, encontrei alguns dados sobre o referido senador que talvez sensibilizaram os legisladores camocinenses de então para homenageá-lo. Domingos José Nogueira Jaguaribe nasceu em Aracati em 14/9/1820 e faleceu em 5/6/1890. Detentor do título de Visconde de Jaguaribe formou-se em Direito, exercendo a magistratura como juiz de direito em Inhamuns, Crato e Sobral (nesta cidade também foi promotor, além de Fortaleza). Foi Ministro de Estado da Guerra, Chefe de Polícia do Ceará e atuou como desembargador do Tribunal da Relação de Pernambuco e Rio de Janeiro. Exerceu ainda o cargo de Procurador Fiscal da Tesouraria Provincial e Presidente da Assembléia Legislativa Provincial do Ceará.

Bastante eclético, o Senador Jaguaribe, além da magistratura, exerceu profissionalmente o magistério, a advocacia, o jornalismo, o serviço público e teve mais de uma dezena de obras publicadas. Na política foi deputado provincial de 1850 a 1851, deputado geral de 1853 a 1870 (cinco mandatos) e senador de 1870 a 1889. Mas, o leitor pode perguntar: o que tem a ver o currículo do polivalente senador com Camocim. Acreditamos que a ligação está relacionada com a Estrada de Ferro de Sobral. É que nos intensos debates no parlamento nacional sobre as soluções para minorar as agruras da seca de 1877, o senador defendeu os interesses dos comerciantes cearenses que queriam ver implantados aqui “sistemas alternativos de transportes de víveres e nos benefícios do prolongamento da ferrovia cearense para se debelar os prejuízos”. (CÃNDIDO, 2005, p.49). Efetivamente, além do prolongamento da Estrada de Ferro de Baturité, foi autorizada pelo mesmo decreto (Nº 6.918 de 1º de junho de 1878) a construção da Estrada de Ferro de Sobral, no Ceará e a de Paulo Afonso, ligando o médio e baixo rio São Francisco. (CÃNDIDO, 2005, P.57). Como podemos observar, a homenagem ao Senador Jaguaribe não era assim tão descontextualizada e inadequada com relação à nossa história, pois os homens são filhos do seu tempo.

Foto: Arquivo do Blog

3 comentários:

  1. Seguindo suas palavras, as autoridades da cidade se descuidam e se desinteressam com os nomes das ruas e logradouros em Camocim, como exemplo, não existe o General Tiburcio Cavalcante que tem nome de rua na cidade,talvez quisessem homenagear o General Antonio TIBURCIO Ferreira de Sousa, filho de Viçosa do Ceará e herói da Guerra do Paraguai.

    ResponderExcluir
  2. Pacelli, já denunciei isso na Câmara Municipal, mas, fizeram ouvidos de mercador.

    ResponderExcluir
  3. Professor, você esclareceu-me uma dúvida que tinha há tempos: quem era o Senador Jaguaribe? Obrigado.

    ResponderExcluir